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Canto da Terra Mártire
Martins Vieira (1905 - 1984)
VII
Ai dos vencidos
Ó pai do Céu, dizei se é lá possível
nome
Que represente a dor de ver
morrer à fome
Um filho pequenino, esfarrapado e
doente,
Se aquele ser franzino é o mesmo
ser da gente,
Um eu que se desdobra e fica
preso ainda
Ao ente original... um espelho em
que se brinda
Aquilo que se foi... uma
esperança avante
Da prole continuada, em busca de
algo errante?...
Marcai, ó sorte ingrata, a rubro
ferro em brasa,
À testa de um proscrito o selo
que o arrasa;
Roubai do seio nu da mãe que o
amamenta
O infante que ali dorme, ao colo
que o sustenta,
Mas, deixa-lo morrer, mil vezes
não,
Sem força, para erguer a voz
pedindo o pão,
Enquanto vê pender do ventre
pavoroso
Da pobre mãe o irmão, como um
fruto nodoso!?...
Ó almas infantis de corpos
calejados,
Que não sabeis chorar, provando
os maus bocados,
Que não usais tremer em face do
perigo;
Ó nômades reais, cumprindo um
fado antigo
De andar, a cada passo,
esfarrapado e só
Na triste inexpressão da
pouquidão de um Jó,
Por que, nascendo livre e ousado
como o vento,
Vos pesa a vida assim num mundo
de tormento
E tendes, Prometeu mulato, preso
ao chão,
Fisgado ao vosso berço – o próprio
coração?...
Ó almas que buscais, no bojo das
violas
O que não conheceis bebido nas
escolas,
Que faz tonalizar o brando
sentimento...
Ó filhos do Sertão, aos quais um
juramento
Sagrado foi, pois Deus
testemunhou – presente
E que se vai cumprir – um dente
por um dente...
Ó desnuda legião de atletas e de heróis,
Capaz de desafiar os mais severos
sóis,
Por que, se sucumbis aos golpes
da peleja,
Vendo a fome chegar à terra
sertaneja,
Permaneceis tão só, desamparada e
nua,
Se é grande a vossa messe e o
vosso peito estua
Do mais sublime amor de paz e de
concórdia...
Por que não mereceis sequer
misericórdia?...
(Canto da Terra Mártire, 3ª edição, 2005, Editora Gráfica Expansão)
bom ter acesso a esses tetos
ResponderExcluirO Brasil e seus eternos sertões, não só áridos mas, centros de metrópoles que antes repudiavam os sertanejos. Triste Brasil.
ResponderExcluirMuito obrigado meus amigos, pela visita e pelo comentário.
ResponderExcluirParabéns, ilustre, temas sempre universais? Não são? Reflexões profundas de um Brasil que necessita de desenvolvimento sustentável... Até breve.
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