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Variações sobre o Noturno do Cemitério Velho
Elmar Carvalho
Em 1990, escrevi o poema Noturno de Oeiras,
que foi publicado na revista do Instituto Histórico de Oeiras e foi bem
acolhido pelos oeirenses. Esse poema foi publicado em livro, estampado em
placas metálicas, recitado dentro da catedral, em seu adro e no Cine Teatro
Oeiras, e foi transformado em vídeos, disponíveis no You Tube.
Alguém o enviou para o advogado Talver Mendes de Carvalho,
que me enviou uma simpática carta manuscrita, em que fez encorajadoras
manifestações elogiosas. Contudo, fez uma ressalva; disse haver sentido falta
dos sons maviosos de bandolim e de referência ao cemitério velho. Comecei a
fazer ruminações sobre essa “cobrança” e nos dias 13/14.10.1994, me senti
inspirado para escrever o Noturno do Cemitério Velho de Oeiras. Esse poema foi
publicado na mesma revista do IHO e em livros, e igualmente caiu no agrado dos
oeirenses.
Devo ter agregado a essa composição outras lembranças
antigas, do velho cemitério de minha terra, onde já não se enterra ninguém, há
várias décadas, e de um velho cemitério de São Pedro do Piauí, que vi em minha
adolescência, da janela do ônibus, quando fui passar uns três ou quatro dias em Regeneração. Fiz um
poema inspirado nessa viagem, quando eu tinha 16 ou 17 anos. O poema se perdeu
no desvão do tempo e no esquecimento de uma esconsa gaveta, que de há muito já
não existe. Desse poema me ficaram as imagens de uma cruz partida e de um anjo
de asas quebradas, bem como um verso que ainda ecoa em minha memória: “agre e
agressivo agreste”. E nada mais.
Recentemente republiquei o Noturno do Cemitério Velho de
Oeiras em meu blog, e divulguei o seu link através da mídia internética. Vários
amigos se manifestaram sobre ele, em belas e desvanecedoras palavras.
Dagoberto Carvalho Jr., oeirense de quatro costados, autor do
canônico Passeio a Oeiras, de que tive a honra de fazer o prefácio à sua 6ª
edição, meu confrade na Academia Piauiense de Letras, disse por WhatsApp: “Li e
reli, religiosamente, seu 'Noturno do Cemitério Velho de Oeiras'. A cidadela é
mágica, mesmo. Encanta até na nostalgia de que se deixam 'contaminar' bons
poetas, como você”. Como não poderia deixar de ser, lhe agradeci as
elogiosas palavras.
Meu amigo e parente Frederico Rebelo Torres, que chamo de Dom
Frederico de Las Altas Torres Ebúrneas, me enviou a seguinte mensagem whatsappiana:
“Um dos seus mais bem elaborados poemas da sua engenharia emocional. Um
belo epitáfio! Para um grande poeta! Para todos e qualquer poeta!” Dei-lhe
a seguinte resposta:
“Gostei desse ‘belo epitáfio’, conquanto epitáfio seja
associado ao evento morte. Mas, considerando que todos somos mortais e que a
morte é um portal para uma vida mais plena e melhor, fico regozijado com esse ‘belo
epitáfio’, ainda mais porque você o reservou para um grande poeta e ‘para todo
e qualquer poeta’. Assim, fico de peito lavado, enxaguado e lustrado.
Muito obrigado, grande condor, grande cantor dos Andes de Miguel Alves!”
No mesmo passo, sem perder o compasso, o Comandante Jônathas
Nunes, distinto confrade da APL, postou o seguinte comentário sobre o referido
poema:
“Noite de preamar!
Bom dia, Comandante Elmar,
O poema do amigo – NOTURNO DO CEMITÉRIO VELHO DE OEIRAS – é
recheado de construções do mais puro lirismo. É indiscutível a veia poética que
brota da leitura de seu poema. Li e reli. Três vezes. Já no entardecer da vida,
a mente me socorre nessas horas e o POEMA do amigo me leva aos idos da
adolescência quando guiado pela clarividência de minha irmã Amália, me chega às
mãos o poema: O Noivado do Sepulcro, de Soares Passos. [Transcreveu o poema].
Desde os idos da mocidade, fui vendo que cada país tem seu
Hino Nacional, o National Anthem. Aprendi assim a cantar o Hino Nacional
Brasileiro, e também o American National Anthem, o da Inglaterra, da Alemanha,
da França, de Angola, etc. E acredite
Comandante Elmar, formou-se na minha mente desde ainda jovem a ideia de que o
POEMA – NOIVADO DO SEPULCRO, de Soares de Passos, é uma espécie de HINO
NACIONAL DO CEMITÉRIO.
Ao ler hoje seu Poema - NOTURNO DO CEMITÉRIO VELHO DE OEIRAS
– vi que o mesmo é de igual quilate do Noivado do Sepulcro. Examinando
um e outro, observo que eles refletem, no entanto, o sabor literário de épocas
diferentes: Soares de Passos no Romantismo e Elmar Carvalho no
pós-modernismo.
Dei-me ao trabalho de imaginar então, como ficaria o Poema de Elmar –
Noturno do Cemitério Velho de Oeiras – na matriz do Romantismo de Soares de
Passos. Tomei os últimos dez versos do Poema do amigo e com pequeno rearranjo,
salvo melhor juízo, penso seria mais ou menos assim:
Cemitério de uma morte
Absoluta e sem fim
Como se fosse uma música
Sublime de bandolim,
Tangido por dedo mágico
De Arcanjo ou Serafim.
Não mais que mero deleite da imaginação.”
Que mais me resta dizer ou acrescentar? Nada, exceto
agradecer: meus estimados amigos, Deus lhes pague!
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