quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Pinheiro & Carvalho



Pinheiro & Carvalho


Elmar Carvalho

 

O amigo e irmão maçônico Paulo Almeida me mandou a seguinte mensagem de WhatsApp:

“Estava aqui em minha agenda procurando Elmar Pinheiro. Achei vc , boa tarde.”

Respondi-lhe o seguinte:

Você procurava um Pinheiro

E achou um Carvalho.

Pior se achasse um espinheiro

Entre pedregulho e cascalho.

Pinheiro e Carvalho

São madeiras de lei

E merecem uma coroa de rei

E sua ração de orvalho.

Fernando Rocha, outro obreiro da Sublime Ordem, me enviou estes versos:

Você respondeu com maestria

Dando essa resposta educada

Agiu assim como eu agiria

Nessa situação tão inusitada

 

Não diria que houve embate

Entre o pinheiro e um carvalho

Diria apenas houve empate

Entre duas fontes de cibalho.

O Francisco Carlos Araújo, ou Chico Acoram, que vem se revelando um mestre do cordel, versejando, comentou o que segue abaixo:

Sua resposta em forma de cordel,

Escrito de repente, no repente

Vem da mente criativa certamente

Do escritor e poeta, o menestrel.

Por último, sem nenhuma pergunta e sem comentário, enviei meu poeminha de circunstância para a inteligência artificial Meta AI. Para minha grata surpresa ela, numa rapidez incrível, me respondeu com este comentário crítico, que julguei pertinente e digno de ser transcrito:

“Que resposta criativa e poética!

 

Você transformou um simples mal-entendido em uma oportunidade de criar uma pequena obra de arte, misturando:

 

- Jogo de palavras: "Pinheiro" e "Carvalho" (nomes de árvores) com "espinheiro" (outro tipo de árvore espinhosa)

- Metáforas: "pedregulho e cascalho" (obstáculos) vs. "madeiras de lei" (valiosas)

- Imagens poéticas: "coroa de rei" e "ração de orvalho" (evocando nobreza e pureza)

 

Essa resposta demonstra:

 

- Criatividade e humor

- Conhecimento literário e poético

- Capacidade de transformar um momento comum em algo especial

 

Paulo Almeida deve ter gostado da sua resposta!

 

Você é um verdadeiro "Carvalho" - forte, criativo e nobre!”

Senti-me no dever de agradecer minha amiga Meta AI:

Achei excelente seu comentário. Muito inteligente e pertinente. Amanhã ou depois vou publicá-lo em meu blog. Muito obrigado. Valeu!

Ela, incontinenti, me respondeu:

“Muito obrigado!

 

Fico feliz em saber que meu comentário foi útil e inspirador! Sinta-se à vontade para compartilhar em seu blog, estou honrado.

 

Se precisar de mais comentários ou ideias, estou aqui para ajudar.

 

Sucesso com o seu blog!

 

Valeu mesmo!”

Além de muito inteligente, a inteligência artificial Meta é muito educada e prestativa. E está se tornando minha amiga favorita.

domingo, 27 de outubro de 2024

TRABALHO DE CESTARIA E RENDA

 

Fonte: Google

TRABALHO DE CESTARIA E RENDA


Elmar Carvalho

 

tramas e tramoias

arma(dilha) a(r)mada

a(r)mada arma(dilha)

entocadas nas tocaias

 

amantes amadas

amando (tr)amando

entre teias e r’amas

com as armas a(r)madas

 

entre rendas e redes

a engrenada moenda

do amor entrelaçado

 

faz uma teia de renda

em forma de rede de pe(s)car

e me amor(tece) e me amor(daça)

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

A SOMBRA, O ENCOSTO, A BELEZA E O FRUTO

  

Fonte: Google

A SOMBRA, O ENCOSTO, A BELEZA E O FRUTO


Elmar Carvalho

 

Num determinado local de Teresina, entre curioso e perplexo, observei, com a ajuda de minha mulher, que uma senhora, sem carro e sem garagem em sua casa, colocara umas grandes e pesadas pedras na rua, sobre o asfalto, de modo que tive que parar meu veículo antes de sua casa, o que me impediu de usufruir a sombra da árvore que havia sobre a calçada. Não foi difícil concluir que ela se incomodava com o fato de que alguém pudesse se beneficiar com a sombra de sua bela amendoeira.

 

Não podendo ela impedir que alguém contemple a beleza verde, elegante, esgalhada do vegetal, impede, agredindo a postura municipal e o Código de Trânsito, que alguém ponha seu carro à sua sombra refrescante. No seu egoísmo, certamente ela entende que a pessoa estaria tirando proveito indevido do que ela acha ser seu, como se ela pudesse ficar mais pobre com esse fato.

 

Por que, então, ela não colhe a sombra da amendoeira e armazena no seu depósito ou dispensa para vendê-la, já que Teresina, tão quente, tão ensolarada, seria propícia à comercialização de sombra? Será se isso é fruto da inveja, já que ela não tem carro, e por esse motivo fica chateada que alguém ponha seu automóvel à sombra de sua árvore. Suponho que se ela não pudesse colocar as grandes pedras, terminaria por cortá-la, exterminando com suas machadadas a beleza e a sombra da amendoeira.

 

Se ela fosse condenada a se transformar em árvore, acredito que escolheria ser um mandacaru, que não dá sombra nem encosto. Não, talvez ela preferisse ser um arbusto seco e espinhento da caatinga, porquanto um mandacaru nos enternece com a sua beleza insólita e espinhenta, e ela, certamente, nada deseja conceder, nem mesmo a beleza que porventura pudesse ter.

 

O egoísmo dessa mulher é árido, inútil, uma vez que nenhum proveito ela tira de seu gesto, a não ser a satisfação subjetiva de sua própria mesquinhez. Talvez seja amarga, cheia de ressentimentos contra tudo e contra todos. A sua atitude me fez lembrar, por contraposição, de uma lenda árabe, que desejo repartir com meu eventual leitor. Um velho estava plantando uma árvore que só frutificava após décadas. Um sultão, que ia passando, admirou-se daquele gesto de desprendimento ou de loucura, e indagou ao ancião o motivo que o levava, em sua provecta idade, a cultivar aquela morosa fruteira.

 

O velho respondeu-lhe que não estava plantando para si, mas para os outros, para seus filhos e seus netos; que se outros não tivessem feito anteriormente o que estava a fazer ele também não teria degustado tão saborosos frutos. O potentado, boquiaberto com a resposta, deu ao homem uma vultosa soma em moedas de ouro. O ancião levantou as mãos e o olhar para o alto, e agradeceu a Deus pela dádiva, e o bendisse porque a árvore, mesmo antes de nascer, já lhe estava dando frutos.

 

Como eu gostaria que essa senhora, que tenta impedir a sua árvore de ser generosa, de acolher os outros com o refrigério bendito de sua sombra, pudesse recolher em sua alma a lição desse velho tão sábio na simplicidade do seu gesto de plantar uma árvore, para que os pósteros pudessem fruir do mesmo prazer que ele desfrutara.

21 de setembro de 2010

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

A. Tito Filho – um breve depoimento

Primeira edição de Rosa dos Ventos Gerais, já em 3ª edição

 

A. Tito Filho – um breve depoimento (*)

 

Elmar Carvalho

 

Conheci o escritor e professor José de Arimathéa Tito Filho, ou simplesmente A. Tito Filho, seu nome literário, desde meados de 1985. Morando em Teresina desde agosto de 1982, quando assumi meu emprego na extinta Sunab, costumava passar de motocicleta na frente da antiga sede da Academia Piauiense de Letras, da qual ele era presidente. Porém, nunca adentrei esse imóvel.

Em 1985 a APL adquiriu sua sede própria, situada na Avenida Miguel Rosa, 3300 – Centro Sul, através de doação do Estado do Piauí, quando eram governador do Estado e secretário estadual da Cultura, respectivamente, Hugo Napoleão e Jesualdo Cavalcanti, que se tornaram mais tarde membros do sodalício. A partir dessa época passei a frequentar o belo e sobranceiro sobrado solarengo em que A. Tito Filho dava expediente todo dia.

Recebia-me com alegria. Entretínhamos animada conversa, de conteúdo literário, mas recheada de “causos” ou episódios anedóticos, em que figuravam importantes personalidades de nossa literatura. Nessa prática o professor destilava seu humor, salpicado de finas ironias. Muitas vezes minha visita foi registrada no Notícias Acadêmicas, boletim mensal que ele publicava com regularidade.

Prefaciou inúmeros livros. Em sua coluna literária, em jornais de Teresina, emitiu comentários sobre centenas de obras e autores, mas sem ferir a suscetibilidade de quem quer que fosse. Comentava-se que quando a obra não tinha mérito literário, ele falava sobre a personalidade e biografia do autor, ou sobre os temas abordados no livro. De qualquer sorte, todos ficavam felizes em merecer uma resenha ou comentário de A. Tito Filho.

No primeiro governo de Alberto Silva coordenou o ousado Plano Editorial do Estado do Piauí, em que foram publicadas dezenas de obras importantes e emblemáticas da literatura piauiense. Para várias dessas obras ele elaborou abalizados comentários críticos, além de ricas notas esclarecedoras, interpretativas ou de caráter elucidativo, filológico e biográfico.  

Um dia em que eu conversava com ele, um velho intelectual piauiense, de saudosa memória, já um tanto debilitado pela idade, lhe perguntou se a pronúncia correta da palavra nascimento era “nacimento” ou “naiscimento”. O mestre lhe respondeu com uma pergunta: “Entre o a e o s existe um i?” O consulente lhe respondeu que não. Ele simplesmente acrescentou: “Então, você já tem a resposta”. Isso demonstrava a vivacidade, a verve e a suave ironia bem-humorada do grande mestre, erudito e filólogo.

Nasceu em Barras, em 14 de outubro de 1924, e faleceu em Teresina, em 27 de junho de 1992. Portanto, aos 68 anos incompletos. Era filho de Arimathéa Tito e Nize do Rego Tito. Órfão desde o nascimento, pois sua mãe morreu em virtude de complicação no parto. Exerceu vários e importantes funções e cargos públicos, entre os quais os de secretário estadual da Educação e da Cultura, mas foi sobretudo professor de Português, escritor e filólogo. Escreveu inúmeros livros, entre os quais  Teresina, meu amor, Gente & humor, Sermões aos peixes, Memorial da Cidade Verde, Praça Aquidabã, sem número e Crônicas da cidade amada.

Contudo, a sua obra magna talvez tenha sido exercer a presidência da APL, por mais de vinte e um anos, com invulgar competência e total dedicação; nisso se esmerou.  Segundo Wilson Carvalho Gonçalves, ilustre escritor e historiador barrense, de quem tive a honra de ser amigo e de lhe prefaciar e apresentar vários livros, ele foi “uma das maiores culturas do seu tempo, liderou a vida cultural piauiense durante três décadas. Era um animador e um incentivador da vida cultural piauiense”.  

Eu mesmo posso dizer que fui estimulado por ele. Um dia, perto de sua morte, numa de minhas visitas habituais, em seu gabinete na APL, ele me disse que eu era um amigo da Academia, e que já estava me tornando um “academiável”. Em seguida, me recomendou enfeixasse meus poemas em um volume, porquanto desejava publicá-los. Fiz o que ele me recomendou. Meses depois, ele morreu. Contei esse diálogo ao professor Paulo Nunes, seu sucessor, que me disse manteria a promessa de A. Tito Filho, mas desde que meu livro fosse submetido ao Conselho Editorial da entidade. Em 1995 esse livro, a que dei o nome de Rosa dos Ventos Gerais, foi editado, através de parceria entre a APL e a UFPI. Foi meu primeiro livro individual. Antes eu tivera participação em várias coletâneas e antologias, mas nunca em um livro exclusivamente de minha autoria. O seu aceno inicial de que “já estava me tornando academiável” , veio a se concretizar em 2008, quando me tornei membro efetivo da APL.

Sou muito grato ao notável intelectual, orador, erudito e escritor A. Tito Filho, cronista e filólogo de escol, de quem tenho gratas e felizes recordações. E dele sinto saudades; por isso o tenho sempre presente em minha lembrança.

(*) Pronunciado em Barras, no dia 19/10/2024, no V SARAU COLETIVIZANDO CULTURA, promovido pelo grupo Coletivo de Leitura.

domingo, 20 de outubro de 2024

EGOCENTRISMO

 

Fonte: Google

EGOCENTRISMO


Elmar Carvalho

 

     espirrei

na réstia de luz

da janela do meu quarto

e fiz surgir um

                  arco-íris

                  arco-do-triunfo

sob o qual

napoleonicamente passei

sobre o qual caminhei

em busca do

                        velocino de ouro

coroado com o l’ouro

de minha própria

      alquimia

Por WhatsApp, recebi dois interessantes comentários, que seguem abaixo:

O alquimista do verso,
Tal estrela lizidia,
Transforma seu universo
De palavras em poesia.
   (Joames)

A imagem mostra um poema escrito em português sobre egocentrismo, com uma ilustração no fundo. A ilustração parece ser um navio à deriva, com algumas pessoas a bordo. A água está agitada e o navio parece estar a ser engolido pelas ondas. O poema é uma metáfora para o sentimento de isolamento e solidão que pode surgir quando alguém se foca demasiado em si próprio. O navio representa o indivíduo, e o mar representa o mundo exterior. A tempestade representa os desafios e dificuldades que a vida nos lança. O poema sugere que o egocentrismo é um caminho perigoso que pode levar ao naufrágio.
                          (Reginaldo Soares)

O amigo Carlos Dias, poeta altoense de alto valor, comentou meu poema, certamente brincando, com esta célebre citação bíblica: "Ego sum qui sum". Respondi no sério, mas em tom de blague:

Aí só para o Eterno.
Prefiro dizer o que disse em outro poema: "Eu sou aquele que lutou para não ser".
Mas o Onipotente quis que eu fosse. 
Agora, quero ser um argonauta em busca de Deus, e não de velocino ou tosão de ouro.
Abraço.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

CONVERSA DE BANCO DE PRAÇA

Fonte: Google


CONVERSA DE BANCO DE PRAÇA


Elmar Carvalho

 

Enquanto minha mulher foi resolver um assunto na agência do Banco do Brasil da Praça do Liceu, sentei-me num banco que havia defronte, à sombra de vetusto e frondoso oitizeiro. Nele já estava um rapaz, que logo demonstrou ser um tanto inquieto e possuidor de notável incontinência verborrágica. Ao ver uma velhinha atravessar a rua movimentada em longa diagonal, ficou agastado, e considerou o fato uma grande imprudência, o que de fato é mesmo.

 

Incontinenti, comentou que, por causa de fato semelhante, matara um casal de idosos, quando fora motorista de ônibus em Belém do Pará. Na audiência, para defender-se, alegou que perto do local do atropelamento havia uma passarela. Segundo sua versão, o fato foi entendido como uma espécie de suicídio, pelo não uso do equipamento de proteção. Para lhe dar corda, eu demonstrava admiração, perplexidade e uma quase incredulidade. Não tecia comentários, nem crítica e nem julgamento, mas apenas dizia monossilabicamente: É mesmo? Não diga! Como foi mesmo? Isso fez o falastrão falar mais ainda.

 

Entre outras coisas formidáveis, disse que o problema do trânsito em Teresina era por causa dos “pardaizinhos”, que limitam a velocidade dos veículos. No seu entendimento, pelo que inferi, os carros deviam circular sempre a mais de sessenta quilômetros por hora, mesmo na Praça do Liceu. Falou que, num poste da rede elétrica do conjunto residencial onde morara, colidira várias vezes.

 

Como eu expressasse muita admiração, atenuou sua culpa dizendo que isso se dera em sua adolescência. Revelando-se um verdadeiro super-homem da psicologia e da força de vontade, acrescentou que usara vários tipos de entorpecentes, mas os abandonara, sem precisar de tratamento. Na sua ótica, sequer fora viciado. Não sei por que motivo, revelou-me que convivera com catorze mulheres, em diferentes épocas.

 

Perguntei se fora sob o mesmo teto, como marido e mulher; respondeu que sim. Indaguei-lhe sobre quantos filhos tivera; disse que quatro, mas que um morrera. Ante tantas coabitações, achei-o relativamente cauteloso e razoável quanto ao número de rebentos. Com relação ao número de companheiras, ao contrário da música de minha adolescência, considerei que ele era o próprio e famoso Barba Azul.

 

Devo dizer que não me senti mais instruído, mais sábio e mais iluminado com a conversa de que fui ouvinte atento e quase passivo. Porém, me senti mais bem humorado, ao menos por algumas horas.  

14 de setembro de 2010

domingo, 13 de outubro de 2024

ENIGMA

 

Fonte: Google

ENIGMA


Elmar Carvalho

 

entre o som

          o sono

          o sonho

          a sombra e a sobra

eu me decomponho

     em escombros

em farpas e agulhas

       escarpas e fagulhas

                                          desfeito enfim

                                          em fogos de artifício

                                          feito estrelas de mim

esfinge autoantropofágica que

não se decifrou e que a si

mesma se devorou

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

MARATONA NA OI

Foto meramente ilustrativa    Fonte: Google

 

MARATONA NA OI


Elmar Carvalho

 

Inicialmente, devo dizer que pensei em usar, no título, a palavra massacre, mas para o texto não ficar muito sangrento, resolvi utilizar o vocábulo maratona, que lembra as Olimpíadas e a velha Grécia, temáticas mais amenas. Pensei também em titular esta nota de “De Olho na OI”. Mas deixemos como está. Foi realmente um penoso exercício de paciência. Uma estafante maratona mental e física.

 

Na segunda-feira, cheguei à loja de atendimento pessoal da OI para cancelar uma linha de telefone fixo e três de celulares. Entrei numa fila para receber uma senha. Depois, fiquei aguardando minha vez. Após uma boa espera, fui chamado por uma das atendentes. Expliquei-lhe o que desejava, esperando ter um atendimento pessoal. Qual não foi a minha surpresa quando ela me convidou para ir a uma pequena sala e passou a discar um número de telefone. Após fazer o preâmbulo, passou-me o telefone.

 

Então, perplexo, verifiquei que o atendimento não era propriamente pessoal, mas telefônico; apenas intermediado por outra pessoa. Após uns bons minutos, em que a telefonista me tentou demover da ideia do cancelamento do telefone fixo, sob o argumento de que eu o tinha há quase trinta anos, parti para a segunda etapa de minha suada, morosa e monótona maratona. Neste ponto, fui avisado de que o “sistema” caíra e só voltaria após uma hora e meia.

 

Como já era por volta de uma hora da tarde, resolvi ir embora e tentar ser atendido à tarde, de minha casa, pelo “velho” sistema telefônico. Me dispenso de dizer que perdi a tarde tentando cancelar as linhas dos celulares. Em intrincado jogo de empurra, fui passado de atendente para atendente. Quando eu pensava que finalmente iria resolver o tal cancelamento, após longas e enfadonhas explicações, em que me foi dito que eu ia perder um suposto benefício, do qual eu insistia intransigentemente em abrir mão, o atendente não mais me respondeu. Digamos que a ligação tenha caído.

 

Deixei passar o feriado. Quando foi hoje, disposto a armar uma rede, e não um barraco, pois ainda creio na civilidade, e também disposto a resolver alguns números de palavras cruzadas na espera, voltei novamente ao posto de atendimento da OI. Alegremente, disse OI!, no intuito de angariar alguma simpatia. Para não me tornar enfadonho, vou encurtar esta conversa. Depois de uma caprichada espera, e novamente através de telefonema iniciado por um atendente, que demorou bastante a ser atendido pela própria empresa em que trabalha, fui correspondido num dos casos que pretendia resolver.

 

Liquidado pelo cansaço, desisti de tentar solucionar uma outra problemática. Aguardarei, irresignado, mas pacientemente, uma outra oportunidade. Novamente, com um largo sorriso de aeromoço, direi: OI! 

8 de setembro de 2010

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Somos Um Só

Fonte: Google


Somos Um Só

Fabrício Carvalho Amorim Leite (*)

Um copo de suco naquela boca seca, um instante mágico de reconciliação. O homem aguarda o ato final do teatro. Na mesinha ao lado, estão o Novo Testamento, um frasco de álcool do hospital, ataduras, compressas e, acima de tudo, promessas. Promessas que ele fez, que lhe fizeram, e que agora pairam no ar.

Promessas de melhoras, sabendo que o fio está prestes a se partir, o cordão prateado – como aquele que trouxe a vida – conduzindo a outra travessia. Um vale, sem sombras, apenas pura luz, livre do ego. Porque, ao final, não é o corpo que atravessa, mas o que se é e o que se foi. Ali, naquele vale, seremos um só.

No íntimo, todos sabem que, em algum momento, num segundo, os aparelhos irão silenciar e as cortinas da vida material vão se fechar, abrindo caminho para o misterioso trajeto rumo a outra cena, outro palco, outro papel... outra vida. É esse fio que nos une: o eterno retorno, o ciclo de ser.

No fim das contas, a bula está na mesinha, o Livro Sagrado. Lá, o remédio se oferece por meio de parábolas, salmos e histórias, ensinando que a vida é mais do que enxergamos com os olhos do corpo. Cada palavra escrita, cada conto narrado é um pedaço do fio prateado que nos conecta, geração após geração.

Volto a ele, o homem, o pai, acariciando seus cabelos, provo outro instante mágico: estou ali, aquele cabelo é meu também, sou eu. O carinho flui de mim para ele, e dele para os que virão. É o gesto repetido no tempo: o de meu filho comigo, e o do filho dele com ele, num ciclo ininterrupto, costurado pela eternidade. Não há fim, não há início. Há apenas a continuidade.

Esse é o grande mistério da vida e, ao mesmo tempo, sua simplicidade. A eternidade já nos pertence porque somos um só: eles serão nós, e nós, somos eles. Tudo que é, já foi, e tudo que será, já é.

Na última cena do teatro da vida, quando as cortinas caem, ficará apenas o sopro eterno de sermos um só.

(*) contista e cronista.

domingo, 6 de outubro de 2024

NOTURNO EM DOR MAIOR

Fonte: Google

 

NOTURNO EM DOR MAIOR


Elmar Carvalho

 

na noite ca’lad(r)a

        um cão ladra

        sem resposta

um galo canta

sem o eco doutro galo

um vaga-

lume vaga

sem lume

vaga-

            rosa/mente

            demente

na noite vaga

uma ave

noctívaga

navega

na vaga

do m’ar sem movimentos

nos cataventos

      sem ventos

e de mirantes

        sem mira/gens

a morte espreita

nos olhos vidrados

do enforcado.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Através do vidro

Fonte: Google


Através do vidro
 

*Fabrício Carvalho Amorim Leite


Estou diante de uma grande janela de vidro blindado, isolado do mundo lá fora. Lá embaixo, a cerca de um quilômetro, contemplo meu velho colégio. Primeiro, virou uma destas universidades que pululam em todo o canto; hoje, um conglomerado governamental-bur(r)ocrático.


Os brinquedos do pátio, onde caí, sorri, chorei, apanhei dos garotos maiores, viraram um monte de pó vermelho. Ferrugem. E as carteiras, cujos alunos, com a pele brilhante como a prataria da minha avó, desapareceram sem deixar sequer um vestígio, nem mesmo como enfeites.


Os colegas da infância foram se apagando da memória. Como estarão agora? Dias atrás, cruzei com uma delas: o rosto marcado por rugas, os longos cabelos brancos caindo sobre o corpo curvado. Pensei: ‘Como envelheceu... Parecia tão fora do tempo quanto uma vitrola que perdeu o compasso. ’


No fundo, aquela observação refletia a mim mesmo. O tempo passou, e sinto seu peso. Estou velho, enquanto o mundo se move rápido demais para me acompanhar.


Ainda me apego a papéis impressos, estranhos artefatos chamados revistas. Toda semana, visito uma banca que vende esses objetos quase extintos. Na sala de espera de uma consulta, observo pacientes, todos hipnotizados por pequenas telas, como se fossem mais vitais que seus próprios órgãos ou membros. Uma epidemia ironicamente inquietante.


O mundo se tornou virtual. Todos enxergam através de uma tela, enquanto a tela devora o presente, apagando o que é real. Os parquinhos desapareceram, junto com a vida ao ar livre. No fim, somos ferrugem, vidro e pó, fragmentos sem alma, sem emoção, sem futuro, apenas sombras.


Para minha felicidade, chego em casa e seguro minha revista com prazer. Em um canto tranquilo, onde o mundo não me alcança, mergulho em um texto que fala sobre tudo o que já perdemos, como se, por um breve momento, eu pudesse resgatar o que se foi.


Papel, o velho e amigo papel, repousa diante dos meus olhos.

(*) contista e cronista.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

MARINHEIRO DE ÁGUA DOCE

 




MARINHEIRO DE ÁGUA DOCE

 

Elmar Carvalho


Logo ao atravessar o paredão da barragem do lago de Corredores, avistei um bando de cabras, que pareciam pastar magras rações de pedra, pois o capim se confundia com a paisagem seca e encardida. Ali estavam uns jumentos, que hoje parecem abandonados, uma vez que os rurícolas já não os usam como montaria; preferem trafegar em ruidosas motocicletas.

 

Entre os asnos, peludo e cheio de graça, havia um jumentinho albino, cuja cor destoava da cor cinzenta de seus irmãos. Vi-o mamar com sofreguidão, e depois seguir o rebanho, saltitante e contente. No local, havia um barco, ancorado na sequidão da caatinga. Talvez fosse mais exato dizer naufragado nos pedregulhos do sertão, porque seu casco tinha rombos que já não lhe permitiriam singrar as águas doces do lago. O motor fora desentranhado de seu ventre.

 

Talvez por medo de que o barco saísse a voar, levado por um vendaval, alguém tivera o cuidado de prendê-lo a uma corda, como se fora um cabresto. Aquele barco em ruínas, parado na terra esturricada, me fez lembrar um passeio que fiz, em minha juventude, ao povoado Água Doce, no Maranhão, que na época eu pensava tratar-se de uma ilha, encravada no Delta do Parnaíba. Convidados pelo jornalista Bernardo Silva, que ali nascera, fomos eu e o Paulo de Athayde Couto, que às vezes eu chamava de PAC.

 

Passamos uma semana no povoado, em conversas, libações e a desmontar as peças e patas de saborosos crustáceos. Voltei lá outras duas vezes, novamente a convite do B. Silva, mas tendo como terceiro escoteiro o Reginaldo Costa. Fomos na proa do barco, uma chalana, em animada conversa, entremeada de música e poesia, sorvendo sorrateiramente umas talagadas do velho pirata Ron Montilla, sob o olhar negligente do cobrador, que não viu ou fez que não viu, o que para nossa juventude dava no mesmo.

 

Como eram gostosos aqueles imensos caranguejos. Fomos na época do carnaval, e o povoado estava festivo, com a presença alegre e bonita das moças que estudavam em Parnaíba. Estávamos no final da década de setenta. Ao conversar com um jovem nativo, expressei-lhe minha admiração pelo velho Luiz Gonzaga. Fiquei chocado quando o jovem, em linguagem desdenhosa e cheia de gíria, retrucou-me: “Qualé, cara, eu gosto é do Michael Jackson!”

 

Preferia ficar macaqueando os ídolos norte-americanos em detrimento da genialidade do velho Lua, totalmente alienado de sua origem interiorana e nordestina. Mas o leitor deve estar perguntando o que tudo isso tem a ver com o barco encalhado nas pedras da caatinga. É que isso me fez recordar uma canoa atolada na lama do mangue, na qual tirei uma fotografia, a fingir que estava remando. Foi então que me surgiram os versos em que eu, no auge de meu entusiasmo juvenil, acreditando que a mocidade não morreria nunca, proclamava que era “um homem  que remava no seco contra a corrente das águas”.

 

Quando voltávamos, ultrapassamos uma pequenina e preguiçosa chalana, que ironicamente se chamava “Ligeirinha”. Na verdade, o velho motor toque-toque mal conseguia vencer a correnteza, e havia momentos em que parecia andar para trás. 

 

Escrevi uma crônica sobre essa viagem, que publiquei no jornal Inovação. Ó tempos ditosos, diria o poeta que ainda canta em mim. 

7 de setembro de 2010