quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

REVENDO PEDRO II






31 de janeiro   Diário Incontínuo


REVENDO PEDRO II

Elmar Carvalho

Sete anos atrás, quando eu era o titular da Comarca de Capitão de Campos, o irmão Francisco José Sousa, eminente grão mestre do Grande Oriente do Brasil – Piauí,  sob o argumento de que eu estava trabalhando relativamente perto de sua terra natal, Pedro II, colocou sua casa nessa cidade à minha disposição, para ali passar alguns dias. Quando o reencontrava, em algumas ocasiões, perguntava se a oferta ainda estava valendo, respondendo-me ele sempre afirmativamente.

Não querendo abusar de sua generosidade, somente agora resolvi lhe solicitar a casa, como um apoio logístico a um passeio que faria com alguns familiares, entre os quais minha mulher, meus pais, minha filha, duas irmãs e alguns sobrinhos. Ao todo, éramos doze pessoas. Prontamente, o nobre irmão Francisco José cedeu a casa, fornecendo-me um mapa com endereço e telefone de pessoas amigas. Recomendou-me não deixasse de visitar o Museu da Roça, cujo proprietário é o irmão maçom Mundote Galvão, pai do magistrado Olímpio José Passos Galvão, também membro da sublime Ordem.

Quando eu já chegava ao Posto da Polícia Rodoviária Federal em Piripiri, meu celular tocou, tendo sido atendido pela Fátima. Era o meu irmão Antônio José, nos avisando que ele e os demais membros de nossa comitiva familiar já se encontravam no Museu da Roça, onde nos aguardariam. Ele, meus pais, meus irmãos e meus sobrinhos chegaram a Pedro II na parte da manhã, e à tarde foram conhecer esse importante ponto cultural, que fica a poucos quilômetros da cidade.

Sem necessidade de ultrapassar a velocidade máxima permitida, cheguei ao local em aproximadamente meia hora. Logo notei que o museu era bem cuidado, com pequenas trilhas sinalizadas, arcos de ramos e flores e caramanchões. Existiam muitas pequenas placas, com frases educativas, de temáticas ecológicas, e outras, reflexivas, contendo sabedoria de vida. Quando cheguei até onde se encontrava o patriarca Mundote Galvão, já ele havia entretido uma longa conversa com meu pai, que tem a sua idade, ou seja, 87 anos.

Na prática que teve comigo e com meus familiares, disse que o segredo de sua boa saúde e longevidade é não pensar em doença, e em comer rapadura diariamente, seja escoteira, seja com comida, seja para adoçar suco ou café. Também disse não gostar de usar medicamentos, exceto, de forma muito moderada, os naturais, feitos com ervas e plantas. Após algum tempo, perguntou-me se eu desejava tomar uma cerveja. Respondi-lhe que sim. Ele mesmo colocou a bebida nos copos de meu irmão, de meu sobrinho e no meu.


Somente quando pedi para pagar a garrafa de cerveja (que, aliás, ele não me permitiu fazê-lo), é que soube que ele nada tomara. Indagado a respeito, respondeu que bebera apenas algumas poucas vezes em sua juventude, mas descobrira que bebida não lhe servia para nada, porquanto bebera para esquecer as suas paixões juvenis, mas o efeito foi que ficara mais apaixonado ainda. Como ele tem senso de humor, e falava com disfarçado sorriso, não sei ao certo se brincava ou se falava para valer.

Mundote Galvão, pelo que percebi de nossa conversa, e pelas informações que tenho sobre ele, é um bom cidadão, um homem de boa-vontade e um maçom dedicado e cheio de entusiasmo, e que soube desbastar, lavrando-a com afinco, a pedra bruta que existe em todos nós. Ao lhe indagar se fora ele o idealizador e criador do museu, disse que fora uma de suas filhas, Inês Passos Galvão, que muito se empenhava em mantê-lo e conservá-lo. Não sei se em sua resposta houve um excesso de modéstia, mas o certo é que se notava, pela arrumação e limpeza do lugar, que havia o zelo de uma mulher dedicada e detalhista.

Conheci a imperial cidade de Pedro II mais de 32 anos atrás, quando eu, além de jovem, ainda morava em Parnaíba. Nesse tempo, a Fátima, então minha namorada, fora tirar as férias de uma colega dos Correios. Após tomar alguns copos de cerveja com o amigo Reginaldo Costa, no povoado Morros da Mariana, hoje cidade de Ilha Grande, num impulso, já à boca da noite, convidei-o a irmos a Pedro II. A juventude é, muitas vezes, afoita e atrevida, e o Reginaldo imediatamente aceitou o convite temerário.

Seguimos para Parnaíba, com o objetivo de nos prepararmos para a viagem. Fomos em nossas motocicletas, naquela mesma noite. Dispenso-me de contar detalhes dessa longa e estafante viagem, que não aconselho ninguém a fazer à noite, em veículo de apenas duas rodas. Paramos em alguns pontos, para nos aliviarmos do cansaço. Chegamos numa fria madrugada. Nessa época, Pedro II era uma típica e ainda acanhada cidade interiorana, de poucos milhares de habitantes. Não havia um único estabelecimento comercial aberto.

Apenas o hospital da cidade mantinha a porta de entrada aberta, com o hall iluminado. Entramos. Não havia ninguém a quem pudéssemos pedir alguma informação ou auxílio. Ali ficamos até de manhã cedo, para fugirmos do frio, que nos fazia tiritar, recostados contra a parede, na tentativa de tirarmos um breve cochilo. Umas pessoas, acho que funcionários e enfermeiras, nos abordaram ao amanhecer, com certo receio, pois certamente nos classificaram como sendo “forasteiros”. Respondemos às perguntas que nos fizeram, apresentando as nossas explicações e justificativas, e nos identificando, de modo que tudo terminou a contento. A seguir, localizamos a pousada onde a Fátima se encontrava hospedada.

Retornando aos dias de hoje, devo dizer que as circunstâncias e o panorama foram muito diferentes. De imediato, notei que a urbe havia crescido bastante, com o surgimento de grandes casas comerciais, inclusive supermercados, lojas, restaurantes, postos de combustíveis, hotéis e outros estabelecimentos empresariais. Foram erguidos vários prédios de andares, além da construção de outras praças. A avenida formada pela BR é toda asfaltada, da entrada até a saída da cidade.

Ao conversarmos com a senhora, que tinha a guarda da chave da residência, em que ficamos bem acomodados, ela nos disse que a visão noturna do Mirante do Gritador era bonita, com a vista das luzes dos povoados ao longe. Como era época de lua cheia, resolvi seguir para o mirante nessa mesma noite, após fazermos a refeição e nos instalarmos. Contudo, o tempo se manteve nublado, e o nosso satélite não deu o ar de sua graça, de forma que não pude ver a paisagem noturna da serrania, dos vales e morros, exceto as luzes elétricas das casas, ao pé do despenhadeiro.

Dizem que o socavão produz eco, donde o nome Gritador. Entretanto, por mais que eu e meus acompanhantes gritássemos, não obtivemos retorno. Cheguei a pedir para que o “Mister Eco” nos respondesse, porém ele fez ouvido de mercador ao meu pedido. Acho que, por falta do plenilúnio, ele fora dormir mais cedo. Mas essa justificativa também não condiz com a realidade, pois no dia seguinte ele também não ecoou. Talvez não tenhamos direcionado a voz para o local adequado. Fiquei levemente frustado pela falta da lua cheia e do eco, que não se fizeram presentes ao belo Mirante do Gritador.

Na manhã seguinte, a ala feminina da comitiva foi fazer compra de produtos do rico artesanato local, sobretudo peças de tecelagem. Eu, meu pai, meu irmão, dois sobrinhos (Almeida Neto e Josélia) e minha filha Elmara fomos conhecer o centro histórico de Pedro II, e tirar algumas fotografias. Admiramos seus belos casarões e as suas duas bonitas praças. Pude constatar que os moradores, descendentes de velhas estirpes pedrossegundenses, cuidam bem dos velhos solares avoengos, conscientes de que devem preservá-los independentemente de leis de tombamento.

A imperial cidade, por ocasião do centenário do status de vila, ergueu um monumento em homenagem ao imperador Dom Pedro II, que além de ser considerado sábio, foi poeta e mecenas, além de cultor da ciência. Dizia ele que, se não fosse monarca, gostaria de ser professor, o que revela a sua personalidade de amante das artes e da cultura. No pedestal do imponente busto, encontra-se breve cronologia dos principais fatos da história do município.

Alguns dos casarões ostentam placas, nas quais são nomeados os patriarcas das famílias que neles residem ou residiram. Assim, uma delas indicava o nome do coronel Domingos Mourão Filho, que residiu no Solar da Estrela Marrom, cuja biografia foi narrada pelo jornalista e escritor José Eduardo Pereira em memorial álbum; outra, referia o casarão haver pertencido à família Gomes Campelo, da qual faz parte o desembargador Tomaz Gomes Campelo, que sempre comparece aos importantes eventos culturais da cidade.

Encerramos o nosso périplo turístico no Mirante do Gritador, de onde se tem uma deslumbrante visão do abismo e dos morros adjacentes, além das casas e quintais, que se erguem no vale. Embora, como dito, o eco estivesse de folga ou de greve, o mesmo não aconteceu com o vento, que nos devolveu os objetos leves, que lançamos ao precipício.

Acredito que o despenhadeiro do Gritador seja um boqueirão dos ventos, que, ao baterem na fralda do morro, erguem-se em busca de saída para sua desenfreada e incansável correria, devolvendo esses objetos, como se eles fossem um bumerangue. Saquei um potente binóculo e trouxe para mais perto de mim a beleza da paisagem serrana, que se erguia ao longe, e a trouxe comigo, no embornal de minha memória, e no cartão de memória da máquina fotográfica.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

COMO DIZER TUDO, ESCREVENDO POUCO



José Maria Vasconcelos
josemaria001@hotmail.com



O médico Gisleno enviou uma matéria produzida por Maria Sidalina Gouveia, Supervisora Pedagógica de Língua Portuguesa, do Instituto de Qualidade no Ensino. Serve para professores, estudantes e comunicadores:
O resumo é um dos gêneros de texto mais importantes nas atividades escolares, sendo pedido por professores das diferentes disciplinas, porém poucos são os docentes que se dedicam a ensiná-lo. Isso acontece porque, infelizmente, sobrevive a crença de que há uma capacidade geral para a escrita, que permite aos alunos produzir, adequadamente, textos de qualquer natureza, isto é, de qualquer gênero. Há, ainda, quem acredite que o ensino da estrutura mais comum dos textos — narração, descrição e dissertação — seja suficiente para que todos produzam bons textos, ou seja, enunciados adequados aos propósitos comunicativos de seu autor e leitor. Entretanto, a “história” não é tão simples assim...
Como os professores podem contribuir para o desenvolvimento das habilidades necessárias à produção de um resumo de um texto, ou de um evento do qual os estudantes participaram, ou a que assistiram? O que pode ser feito, em sala de aula, para que os alunos não precisem aprender a produzir o gênero resumo intuitivamente?
O primeiro passo é compreender o resumo como um gênero, ou seja, observar o modo como os resumos são expressos por palavras. Isso significa que, ao ler um trecho, como “Leonardo Boff começa o artigo ‘A cultura da paz’, ressaltando que vivemos em uma sociedade caracterizada fundamentalmente pela violência”, devemos ser capazes de reconhecê-lo como o fragmento de um texto pertencente a um determinado gênero — resumo — e o propósito comunicativo de seu autor — expor, resumidamente, o conteúdo do artigo de Boff —, pois conseguimos observar, nesse e em outros resumos, alguns dos elementos próprios a esse gênero: correção gramatical e vocabulário adequado à situação escolar, seleção de informações relevantes do texto original, indicação de dados sobre o texto resumido, manifestação da compreensão do texto lido e resumido.
O reconhecimento dos elementos que caracterizam um gênero facilita enormemente tarefas fundamentais, como ler, interpretar, sumarizar e resumir. A “dificuldade” fica por conta da compreensão do tema do texto a ser resumido, mas esse aspecto fica para um próximo artigo.
O desenvolvimento das habilidades de leitura e de produção pode não ser um processo dos mais ligeiros, mas é necessário e, dependendo do empenho do estudante, pode ser mais ou menos rápido. Lembremo-nos de que ler e escrever são práticas articuladas entre si, e a melhor forma de ensinar e de aprender uma prática é praticar. Para concluir, vale citar Júlio Dantas (autor de “Como redigir”): “O que é difícil não é escrever muito; é dizer tudo, escrevendo pouco”.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Evangelistas de novos créditos



Fonseca Neto

Desde a década de 40 do século passado, somente cresceu, em nomes, estabelecimentos e diversidade de ramos, o empreendedorismo comercial dos Evangelista na capital do Piauí. Né Evangelista, o pioneiro da família por estas bandas, é esse abridor de portas do qual tanto se tem falado.Casado em 1936 com a prima Maria Doralice, seus primeiros filhosnasceram no Maranhão e os demais em Teresina: Maria Esperança, Manoel Filho, Maria Erlinda, Maria Eva, Lidinalva, Josué, Eva Maria, Adalberto, Reginaldo, Lindalva, Humberto, Maria Doralice.

De chegada, Neto Rêgo e seu amigo Né se fazem sócios, em “A Brasileira”, uma loja de variedades, de Teresina, que seria a mãe dos negócios de um e de outro. Separam-se, depois, ficando o segundo com a loja fantasiada com esse nome, enquanto Neto constituiria a sua, chamada “A Nacional”, depois e até hoje reconstituída como “Casa Regente”.

É pertinente lembrar que dos filhos dos patoenses Narcisa e Torquato – Manoel, Maria, Almira, Rosa, Cornélio, Alzira e José Sobrinho –, além do próprio Né, seu irmão, Cornélio Evangelista da Costa, seria mais tarde uma conhecida referência no comércio do centro de Teresina, inicialmente titular do bazar Tupã, depois, inspirado por sua mulher, Adélia Murad (de Coroatá, MA) de uma lanchonetetipificada por seu pão com queijo. E são vários dos filhos de Né, além de primos, sobrinhos, cunhados e genros, com envolvimento na atividade mercantil, mantendo essa família em seu senhorio o lugar da Malhada d’Areia, com a parentela que por lá ficou.

São João dos Patos da infância, juventude e primeiras aventuras de Né, é um próspero município no contexto daquela nesga de sertão dos Pastos Bons primevo, colada ao Parnaíba e assim parte de sua calha de mais de mil quilômetros. Município constituído em 1892 – separado do de Passagem Franca –, mesmo ano de nascimento de Joana da Rocha Santos, “Dona Noca”, que, em 1933, ascende ao poder municipal, líder forte e laboriosa prefeita, cuja família também teve na indústria e no comércio um diferencial naquele meio social em que predominava o latifúndio da roça agregada e do curral de bois olhando a si mesmos. Nesse sentido, Noca e Né, mais que simbolizando, encarnam, um diferencial de positiva ruptura na vida local, baldadas certas altercações entre ambos. Em certo momento da intensa luta política dos Patos, Né se aproxima do capitão Antonio dos Reis da Fonseca, de nutrida obstinação anti-Noca.

Além da Malhada, Porto Seguro, Várzea do Meio e Teresina, sempre com um pé na Fazenda e mão na Loja, Né expandiu seus negócios ao município de Caxias, com usinagem, erguendo um animador ponto de trocas no lugar “Paiol”, porto fluvial no rio Itapecuru. Na própria Teresina, assinalando essa dupla paixão – terra/gado e praça de comércio –, foi proprietário do sítio “Redonda”, margem direita do Poti, então zona rural da capital, hoje área urbana, com conjuntos habitacionais –Parque Jurema, e vilas de nome Manoel Evangelista I e II, um com o qual a capital o homenageia.

Bem posto com negócios em Teresina, e prova de seu apego à terra natal, Né será um fator agregador de conterrâneos migrados para cá, bastando registrar que nos empreendimentos dos Evangelista, em geral, há um predomínio de colaboradores patoenses. Aliás, nesse propósito, intencionado no congraçamento dos conterrâneos aqui moradores,concorre decisivamente para viabilizar a iniciativa de criar, em 1957, uma associação representativa deles,a Colônia Patoense de Teresina, de relevantes serviços prestados, da qual é o presidente de honra.

Convém também anotar que, além dos Evangelista, mais negociantes oriundos do citado município ergueram seus empreendimentos, aqui e em Timon, invariavelmente no ramo dos tratos comerciais: mais conhecidos, Augusto Ferro (pioneiro do bairro-feira do Mafuá); Abrahão Gama; Sabino Porto; Napoleão Guimarães (este da Sucupira do Riachão, estabelecido em Timon) e seu filho Paulo Delfino.

Diz-nos Adalberto Evangelista, filho de Né, sero seu pai “um homem simples, humilde, sem muita instrução, mas que soube se fazer na vida, deixando todos os filhos bem encaminhados, não lhes deixando faltar nada: VEIO AO MUNDO NÃO POR PASSEIO, MAS A SERVIÇO”.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

OS MILAGRES DA INTERNET


Prof. Iweltman Mendes
Elmar, Rubem Freitas e Antônio Gallas Pimentel

Prof. Antônio Gallas

Abençoada seja para sempre a bendita e “santa” Internet. É através dela que daqui da terra do Tio Sam tomo conhecimento das coisas e dos fatos que acontecem no meu país e no Estado através dos blogs que leio diariamente, até mesmo para matar a saudade do Brasil. Foi através da internet que daqui dos Estados Unidos tomei conhecimento do falecimento e das homenagens que foram prestadas ao colega professor e ex- vereador Iweltman Mendes. Uma grande perda para Parnaíba, para sua família e para os seus amigos. Através da internet busco e encontro amigos que estão distantes, como os parnaibanos José Fialho da Silva, Gilson Costa (o Gilson do Curso Tomorrow), Erna Bauer, a campomaiorense Daniela Tereshchuk (Daniela Nascimento) minha amiga e professora que mora no Canadá (idealizadora do Brazil/ Canada Project for Teachers Development, do qual participei) e muitos outros amigos espalhados por este “mundão” afora.

Foi a santa e bendita Internet que me proporcionou a maior alegria do ano de 2012. É dito que "quem encontra um amigo, encontra um tesouro". E o meu presente de fim de ano foi reencontrar uma pessoa amiga que tentava, sem êxito, há 38 anos. Aliás, mais do que uma pessoa amiga, digamos assim um “unforgetable love” (um amor inesquecível). Tudo isso graças, repito, à santa e bendita Internet que me permite ler os blogs da minha cidade, do meu estado, e deleitar-me às vezes com algumas crônicas, como foi o caso de “Navegando o Velho Monge” do meu amigo poeta e magistrado Elmar Carvalho na qual ele demonstra mais uma vez seu conhecimento sobre fatos da história do Piauí, como citou as pontes do engenheiro Antônio Noronha .

Nessa crônica do Elmar algo chamou minha atenção. Foi o nome por ele dado à expedição: lírico-etílico- ecológica. Gostei do Termo! Mas essa é uma maneira peculiar do poeta/escritor Elmar Carvalho. Suas crônicas sempre trazem expressões que tornam agradáveis a leitura. Outra peculiaridade do escritor Elmar é a modéstia, como ele cita que tentou improvisar um poema para homenagear o velho monge. Todos sabem que sua verve poética vem desde a infância e que ele seria capaz, mesmo no fervor da juventude, de fazer versos brilhantes em homenagem ao Parnaíba, tal qual os fez Antônio da Costa e Silva.

Agora voltando à Internet: muitos pensam que sua criação é algo novo, da tecnologia moderna, mas na realidade ela surgiu nos anos 60 durante a guerra fria entre os Estados Unidos e União Soviética. Temendo um ataque russo ás bases militares americanas, o que poderia trazer a público informações sigilosas e tornar os Estados Unidos vulneráveis, o governo americano então decide idealizar e criar um modelo de troca e informações sigilosas entre os militares americanos. Foi criada então a ARPA, sigla de Advanced Research Projects Agency (Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas) que mais tarde tornou-se ARPANET com a finalidade maior de guardar as informações sigilosas e caso houvesse um ataque aos Estados Unidos as informações armazenadas na ARPANET não seriam perdidas. Mais tarde, no final do século XX a Internet popularizou-se, expandiu-se pelo mundo todo, e hoje está aí, prestando um grande serviço para toda a humanidade.

É por isso que não me canso de dizer: abençoada seja para sempre a bendita e santa Internet!

domingo, 27 de janeiro de 2013

Seleta Piauiense - Clóvis Moura



O Rio Parnaíba

Clóvis Moura (1925 - 2003)

Gargarejo de mortes de afogados
e brilho de luar sobre o silêncio
ruídos sem barulho de asas brancas
invisíveis na esteira do mistério.

Embarcações fantasmas com seus remos
violando o espelho da corrente
e a história dos antigos moradores
que perlustraram a estrada do degredo.

Nas margens as perguntas os inquéritos
o tiro a interjeição e a morte cinza:
gargalhada de álcool nas bodegas.

A indiferença escorre como gosma
e o rio na derrota da incerteza
leva faunas estranhas no seu ventre.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Da Malhada às praças de comércio



Fonseca Neto

NÉ-EVANGELISTA: este nome é uma marca muito distinta na atividade comercial entre Maranhão e Piauí nas últimas oito décadas. 
Manoel Evangelista de Sousa (seu nome completo) é, hoje, o comerciante mais idoso de Teresina, tendo completado 100 anos neste sábado, dia 19 de janeiro de 2013. A vida comercial da capital do Piauí tem nele uma referência de respeitabilidade, assim também em relação ao cidadão e ao pai de família, de prole numerosa, enleada no mundo mercantil local e em vários outros fazeres da vida social teresinense.
Claro que a história de um homem assim é exemplar e faz bem seja divulgada para que tenha muitos seguidores. Né Evangelista é filho sanguíneo de Narcisa Pereira da Costa e Torquato Evangelista de Sousa, sitiantes e moradores da Malhada d’Areia, município de São João dos Patos, Maranhão, a pouca distância do rio Parnaíba. Nasceu numa fazenda nova-iorquense dos avós maternos, chamada Mucambinho, vizinha da Malhada, para esta vindo aos trinta dias de vida –era costume as filhas irem “descansar” sob o abrigo da casa de suas mães. 
1913, anos anteriores e posteriores:pela navegação a vapor, o rio Parnaíba é, nesse tempo, um fator de dinamização da economia local e do próprio Piauí. É o ambiente macro dos primeiros anos de Né. O ambiente micro é o curral, as quintas, além do alfabetizador Heitor Barreto que o desasnou. Faz o Primário na sede municipal patoense. E diga-se que essas são experiências que parece viver ele com grande intensidade– inclusive ensaia-se como professor –, uma vez que, aos 19 anos é, já, um empreendedor comercial autônomo, após emprego na firma de Cristino Castro, na cidade vizinha de Floriano. Esta cidade do Piauí, então, era o núcleo interiorano mais avançado do Médio-Alto Parnaíba, um centro de importação de todo produto manufaturado do comércio mundial, inclusive de caminhões, e outros automóveis (anos 30), os quais eram montados em oficina especializada, dali partindo os primeiros deles que rodaram por aqueles sertões. 
A montante de Floriano, e antes dos encachoeirados da Boa Esperança, outro ponto de animação de trocas comerciais se constituíra e prosperara por aquele tempo, o Porto Seguro, no município da velha Nova Iorque – submerso nos anos 1960. O lugar desse porto fluvial será justamente a base do Né empreendedor comercial e seu movimento certamente enseja-lhe conhecer por completo o circuito mercantil do tempo, valendo lembrar que somente após 1930 seriam abertas as estradas de rodagem.
Entre os anos 30 e 40, baseado no Porto Seguro, depois na Várzea do Meio, e Poço Verde, Né se torna um dos mais prósperos negociantes da região, casando a tradição da produção primária com a atividade do comercio de exportação/importação, não sem uma força motriz essencial naquele tempo que antecede o transporte em massa por caminhão: uma tropa de jumentos e mulas, somando às dezenas de cabeças. É uma espécie de fazendeiro de nova cepa, algo moderno, detentor de uma compreensão mais abrangente do fenômeno da criação e circulação da riqueza no corpo da nação e do mundo. Ele compreende perfeitamente o fenômeno agregador de valor aos bens primários, no Parnaíba subindo os “secos” da produção industrial e descendo os “molhados” das lavras sertanejas, e criações animais, incluindo produtos extrativos, tipo borracha de maniçoba, bagas de babaçu, entre outros. 
Naquelas três/quatro primeiras décadas do século passado, já o dissemos, acima, esse grande rio potencializa negócios e Né aproveita as oportunidades, inclusive de descer o seu curso e, em pouco tempo, como se verá, estabelecer-se na capital piauiense – criada, no Oitocentos, tendo em vista exatamente a economia dos fluxos comerciais. Conhece por então, por lá, outra figura de negociante, de perfil algo parecido com o seu, representante comercial naqueles ermos, chamado Sérgio Fernandes do Rego Neto, o “Neto Rego”. Este, já conhecedor da respectiva praça de negócios – além de Floriano –, convence o malhadino a se estabelecer em Teresina,em sociedade com ele. 
Neto e Né estarão, a partir de 1946, fixados na capital do Piauí e aqui  protagonizariam outros capítulos de suas laboriosas vidas. (Voltaremos ao assunto).

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

"Não me toques, Madalena!"



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Na televisão, ele é craque em anunciar venda de automóveis. Membro do conselho paroquial, o jovem marqueteiro encontrou-me no shopping. O papo desembocou em questão bíblica. O rapaz entende bem de Jesus Cristo, mas baseado na literatura cinematográfica e de ficção.
Há anos, episódios históricos têm servido de inspiração a obras de caráter ficcional, como romance. O real manipulado. O feijão com arroz condimentado com molho apetitoso. Relação afetuosa de Jesus Cristo para com Maria Madalena, segundo os evangelistas, apimentada de paixão sexual por romancistas. Judas, tesoureiro, ladrão das ofertas, traidor e suicida, conforme relato do evangelista João, virou herói em defesa do Mestre, na imaginação de escritores.
Muita gente põe fé em "O CÓDIGO DA VINCI", na "ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO", no MANTO DE CRISTO, mas não lê os quatro evangelhos canônicos. Sequer estuda um livro da Bíblia. Vive antenada à literatura do fantástico e imaginário. Uma espécie de tribo nerd, apaixonada por desenhos animados, filmes de realismo mágico, avatares e ficção científica. E se comportam como existissem.
O livro "O CÓDIGO DA VINCI", lançado em filme, cativou a atenção de milhões de leitores, enricou o autor. Uma excitante história de incursão pela Europa, em que personagens procuram a verdadeira identidade de Jesus Cristo, começando pela tela, "A Ceia", de Leonardo da Vinci. O livro provocou uma onda de turistas aos locais narrados, utilizados para ficção.
Jesus, gerado sem intervenção masculina, encantava pelo intenso afeto a indigentes, leprosos, cegos, prostitutas e excluídos da opinião pública, inclusive autoridades romanas e pagãos. Deixou-se tocar ("Quem me tocou?") por uma senhora com câncer no útero, e foi curada. Recebeu o beijo indigno de Judas. Fitou o covarde Pedro, que "chorou amargamente". Tocou numa falecida adolescente e ressuscitou-a. Lavou os pés dos apóstolos("Que vos ameis uns aos outros"). Abraçou crianças. Permitiu que Maria(que não se tratava de Madalena, mas a irmã de Lázaro), lavasse-lhe os pés com raro perfume. Madalena não é a prostituta condenada a apedrejamento. Evangelhos não a retratam prostituta, porém dela Jesus expulsara sete demônios. Na ficção inescrupulosa de romancistas, serve de inspiração carnal e marital a Jesus Cristo.
Apóstolos e mulheres, entre as quais três marias, acompanhavam Jesus e o serviam nas longas viagens de curas e pregação. Maria Madalena (e outras mulheres) assistiu o Mestre até o Calvário, preparou-lhe o sepultamento. Dois dias depois, saiu com Maria, mãe de Tiago, e Salomé, a fim de comprar unguentos para embalsamar o corpo de Cristo (Marcos, 16). João, 20, descreve Maria Madalena, sozinha, frente a frente a Jesus ressuscitado. Feliz, grita:"Rabôni!"(Mestre!), corre para abraçá-lo, ouve enigmática advertência: "Não me toques!" As igrejas católica, luterana e ortodoxa festejam-na Santa Maria Madalena.
Jesus, belo, afetuoso ao extremo, tocava, beijava e curava, parece mandar um recado à maldade e irreverência com o sagrado: "Não me toques, não me usem como produto comercial de ficção!"

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

NAVEGANDO O VELHO MONGE

Fotos: Antônio José de Mélo Carvalho


24 de janeiro

NAVEGANDO O VELHO MONGE

Elmar Carvalho

No domingo, minha filha Elmara Cristina, cedo da manhã, fugindo ao seu hábito de dormir até mais tarde, me recomendou tivesse cuidado no passeio a barco que iria fazer, navegando o Parnaíba. Disse-lhe para não ter preocupação, pois eu sabia nadar razoavelmente ou mais. Ela retrucou, jogando uma ducha de água gelada no meu entusiasmo algo fanfarrão:
- Pai, o senhor já está velho...

Em companhia de Antônio José, meu irmão, que foi o repórter fotográfico da expedição lírico-etílico-ecológica e do amigo Zé Francisco Marques, cheguei ao IATE às 10 horas em ponto, conforme havia combinado com o delegado Roberto Carlos, que já se encontrava no local, juntamente com seu amigo Valério Freitas Mendes, procurador da Fazenda Nacional. Após os cumprimentos e apresentações iniciais, posto que alguns de nós não nos conhecíamos pessoalmente, desatracamos o barco e começamos o passeio, seguindo em direção à estação de captação d' água de Teresina, para fugirmos da poluição dos esgotos, cujos dejetos são lançados diretamente ao rio, sem nenhuma forma de tratamento.

Disse ao Valério que havia sido aluno de seu tio, o juiz aposentado Anchieta Mendes, em Parnaíba, no curso de Administração de Empresas. Recordei que o seu pai, o professor universitário Noé Mendes fora um grande ativista da cultura piauiense, e dirigira a Fundação Cultural Monsenhor Chaves; fora também um notável folclorista e um defensor da ecologia piauiense, tendo participado de uma expedição que percorrera o rio Parnaíba (salvo engano, desde as nascentes até o delta), no intuito de verificar o seu estado de assoreamento e de degradação de suas nascentes e matas ciliares. A embarcação recebera o nome bem humorado de Barca de Noé.


Quando chegamos perto da bela e elegante ponte metálica, o motor de popa deu sinais de que iria falhar, e efetivamente falhou. Ficamos à deriva por breve momento, mas não perdemos a calma e nem a compostura. O Valério, que pilotava a embarcação, fez imediatas tentativas de ligar o motor, vindo ele a funcionar com toda desenvoltura, enfrentando bravamente a forte correnteza, uma vez que o volume d' água do Parnaíba aumentara de forma considerável, com as recentes chuvas a montante de Teresina, sobretudo na região de suas nascentes. Tanto que quase todas as coroas já estavam completamente submersas, e a corrente fazia rolar touceiras de capim, troncos, galhos e pedaços de ribanceiras.

No percurso, vimos as várias bocas de esgotos que emporcalham o rio, o que nos causa viva repulsa, nos tempos ecológicos de hoje. Pude notar que, em certos trechos, a mata ciliar se mostra relativamente bem conservada, o que impede ou diminui o assoreamento e dá beleza à paisagem ribeirinha. Em meados da década de 70, participei de piquenique na floresta que havia perto da ponte metálica, do lado de Timon, com o Otaviano, o Pinto e umas amigas. Umas imensas mangueiras davam sombra e beleza ao aprazível local. No início dos anos 80, ainda curti as coroas de areia, e nadei em suas proximidades, sem medo e sem nojo de eventual poluição, que já deveria existir na época.


Ao nos aproximarmos da chamada Ponte da Amizade, o Valério e o Roberto nos chamaram a atenção para a estrutura e o acabamento dela, e para que depois fizéssemos a comparação com a denominada Ponte Nova, que na verdade já é uma das mais velhas pontes de Teresina, cujo nome oficial é Ponte Engenheiro Antônio Alves Noronha, piauiense, que projetou várias obras importantes, como pontes, edifícios e viadutos. Foi ele uma das mais altas autoridades do Brasil na área de cimento armado. É de sua autoria o projeto da Ponte das Antas e do arsenal da Marinha, na ilha das Cobras. Integrou a equipe responsável pelo projeto do Estádio Maracanã. De fato (fechando o parêntese de homenagem ao engenheiro Noronha), é notória a diferença estrutural entre uma e outra ponte; a da Amizade parece esquelética e trôpega, ao passo que a segunda se mostra robusta, com boa aparência externa, o que parece denotar um serviço bem executado e de acordo com as especificações técnicas, além da utilização de material de boa qualidade.

Ao contemplar a Ponte Engenheiro Antônio Noronha, me recordei de que a atravessei quando eu tinha 16/17 anos de idade, de carona em uma bicicleta, em companhia dos amigos Otaviano Furtado do Vale e Carlos Cardoso, como se fosse uma grande aventura e travessura, para irmos conhecer a cidade de Timon. No mais alto da curvatura da ponte e do alto de minha bisonhice de adolescente, lembrando-me dos magistrais versos de Da Costa e Silva, tentei improvisar um poema, que assim começava: Ó Velho Monge...


Ainda bem que esse poema se perdeu nos cafundós de minha memória. Não era digno do rio, não era digno do excelso poeta, e nem mesmo de mim. De qualquer sorte, celebrava o Parnaíba, cantava-lhe as águas, as matas ribeirinhas, as praias, as ilhas fluviais. Talvez para compensar essa imprudente e afoita verve poética juvenil, escrevi, na maturidade, o poema Amarante, que teve boa acolhida por parte de amarantinos e de críticos literários, o que me redime do cometimento daqueles versos que para sempre se perderam no esquecimento, afogados nas águas barrentas do Velho Monge, retratado em sua beleza pelo bardo amarantino, que deu a esses versos telúricos o sutil veneno da suave melancolia e saudade que lhe inundavam a alma.


Quando nos aproximamos da estação de tratamento d' água da Agespisa, avistamos uma grande e copada árvore, que debruçava os seus galhos/braços para o rio, como se estivesse a nos chamar. Entendemos que ali seria o nosso porto seguro, e ali atracamos o barco. A árvore nos deu sombra, encanto e beleza, e o rio nos deu um banho gostoso, sem poluição, embora (ou por isso mesmo) a correnteza estivesse forte, e as águas profundas. O retorno foi uma outra grande aventura e ventura, mas me dispenso do trabalho de enfadar o leitor com a sua narrativa.


O bravo Roberto Carlos conduzia uma tarrafa, e a lançou ao rio. Talvez tenha sido uma exímia tarrafada, mas a rede ficou presa nas raízes das árvores ribeirinhas. Desenganchar uma armadilha desse tipo é perigoso, e requer experiência e habilidade, pois a pessoa pode enredar-se nas malhas. Um pescador, que se encontrava providencialmente perto, mergulhou nas fundas e barrentas águas, e a retirou. Constatei, então, que o Roberto Carlos é um grande delegado de Polícia, um bom amigo, um piloto de longo curso e de invulgar competência, mas como pescador é um grande contador de história. 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Posse de Homero Castelo Branco na ALBEARTES


ACADEMIA DE LETRAS E BELAS – ARTES DE FLORIANO E VALE DO PARNAIBA – ALBEARTES

CONVITE

A ACADEMIA DE LETRAS E BELAS – ARTES DE FLORIANO E VALE DO PARNAIBA – ALBEARTES, têm o prazer de convidar V. Sª. e distinta família para abrilhantarem com as suas honrosas presenças, à sessão solene de posse do notável escritor, ex-deputado Dr. Homero Ferreira Castelo Branco Neto, na qualificação de sócio efetivo da cadeira 36, que tem como patrono Dr. Francisco Parentes.
O novel imortal será saudado pelo grande escritor acadêmico Dr. Antenor de Castro Rego Filho.
Ao término da solenidade será oferecido aos convidados um jantar típico da região.
A DIRETORIA

Programação:
Data: 26 de janeiro de 2013
Horário: 20:00 horas
Local: Sede da ALBEARTES
Rua Padre Reis, 950 – Bairro Sambaíba - Floriano-PI
e-mail: albeartes@hotmail.com - Tel. (89) 9985.3320 / 3522.3335

SEX-APPEAL



SEX-APPEAL

Elmar Carvalho

Movo até o teu
meu amoroso coração
- ânfora de lágrimas e solidão.

Teu olhar me revida
com uma impressentida carícia
referta de promessas e delícia.

Teus olhos escorregam macios
das penumbras dos cílios armados em cios
e afagam minha pele
eriçada em arrepios.

Meus anseios
desvelam tuas vestes
e revelam os empinados penedos
sedosos de teus seios,
sem medos
e sem receios,
e devassam em
tênues e tímidos acessos
os teus mais secretos
úmidos e diletos recessos.

E eu te desejo mais que tudo,
mas me contenho e me abstenho
e me deixo ficar inerte e mudo...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Sem assunto: uma homenagem a Rubem Braga



Cunha e Silva Filho


Hoje, desde parte da manhã, estive chateado comigo mesmo. Necessitando de encontrar um livro, um opúsculo do filólogo e gramático Evanildo Bechara, publicado pela Nova Fronteira, e seguramente bem vendido pelo país afora, opúsculo destinado a atualizar o usuário de língua portuguesa. Não havia meio de encontrá-lo, pois é um livro fininho, por isso opúsculo. Ora, um tipo de livros desses é fácil perder no emaranhado de papéis em que frequentemente me encontro diante do computador. Pode ser que tenha se infiltrado no meio de páginas de uma revista de tamanho maior, ou que tenha , sem que eu percebesse se intrometido em jornais que se acumulam sem ordem e que, para ganhar espaço na mesa do computador, coloco em cima de uma lixeira de papéis. Minha mulher, que, ao contrário de mim, é muito organizada e gosta de tudo no seu devido lugar, me acompanhava com um olhar de reprovação.

No entanto, sem dar importância às reclamações dela, continuei procurado: primeiro nas estantes da sala do apartamento; segundo, nas estantes que ficam nas dependências, onde a bagunça é geral e onde guardo uma boa quantidade de recortes de jornais, apontamentos, artigos de meu pai, artigos meus, cópias de  trabalhos monográficos do tempo do mestrado e doutorado, alguns materiais da graduação, material de língua inglesa do meu tempo de professor do Colégio Militar do Rio de Janeiro, com textos e exercícios de múltipla escolha ou objetivos, en fim , a papelada é grande e insuportável aos olhos de quem não a conhece na condição de arquivos.

Continuei na procura do livrinho citado. Agora, veja, ao procurar o livrinho, me lembrei de que precisava de ver se uma obra sobre o Simbolismo de Massaud Moisés e outra organizada por Antonio Candido e José Aderaldo Castelo sobre o Modernismo estavam ao meu alcance. Qual nada! Não encontrei igualmente ambas. Meu alvoroço cresceu, a chateação, idem. Tive que fazer uma longa e demorada peregrinação nas estantes para ver se encontrava tais obras. Perguntei a meu filho Alexandre e à minha esposa se eles haviam visto esses livros todos. Ninguém viu. Estava perdido e mal pago! Ia, em cada prateleira de cada estante, olhando com todo o cuidado se conseguia localizar as obras. E nada de aparecerem. Duvidei até que as tivesse. Veja como se encontrava a minha cabeça. Esfalfado, não desisti. Olhei para um ponto fixo, o canto esquerdo de livros enfileirados numas  das prateleiras.  Erro grosseiro de perspectiva! Oh, como nos engana um ângulo errado de perspectiva! Lá estava o volume sobre o Modernismo! Faltavam os de Bechara e de Massaud Moisés. Olhei, de novo, para outra prateleira e, de repente, vi um volume com capa de papel A4, paradinho, no meio de outra prateleira da sala. Era mesmo o de Massaud Moisés. Faltava só o livrinho da Reforma Ortográfica...

Sempre que perco algum objeto dentro de casa, apelo pra São Longuinho, o santo que encontra as coisas e objetos perdidos. Mas, não sei explicar, não apelei hoje para o bendito santo. Quis porque quis encontrar sozinho , sem a ajuda de mais ninguém, nem mesmo dos familiares. Já passou a manhã. Almocei às pressas. Necessitava de  retomar a peregrinação a fim de achar o livrinho do Bechara. Minha mulher saiu com meu filho e eu fiquei, já  era o período da tarde, vasculhando, ora a sala, ora as dependências. Perdi meu dia. Bem feito! Quem sabe, não foi porque não pedi a ajuda de São Longuinho. Prometi a mim que não iria a uma livraria comprar outro volume do livrinho da Reforma. Tenho que pagar pela minha falta de cuidado e ordem. Amanhã, talvez, eu peça ajuda a São Longuinho. Ele é batata. Sem ele, o livrinho não aparecerá.

Peço, agora, desculpas ao leitor pela falta de assunto. Me contento porque até o mineiro Rubem Braga (1913- 1990), que este ano será homenageado pelos cem anos de  nascimento, já tinha sido o primeiro talvez a falar de crônica feita "sem assunto", no que foi imitado por muitos outros bons cronistas brasileiros.

Braga é considerado pela crítica como o mais importante cronista brasileiro. Segundo me informei, o cronista escreveu em vida umas quinze mil crônicas. É o suficiente para que com merecimento o festejemos. O “velho” Braga, como a si mesmo gostava de chamar-se, precisa de ser relido e debatido não só nos meios acadêmicos universitários, mas também  em outras instituições culturais, nas escolas do ensino  médio, pela sua contribuição ao nível de grandeza estética a que ele elevou no país o gênero crônica, não como um subgênero da prosa, segundo pretendem alguns teóricos classificarem esta forma literária, mas como uma espécie de gênero autônomo, com as suas características específicas, seu valor artístico, sobretudo quando tangencia a linguagem poética fundindo realidade e invenção, gênero, sim, híbrido no que concerne à linguagem, à composição de suas formas, à seleção de temas, à visão da vida, dos homens e da Natureza.

Valendo-se principalmente da memória, da observação dos fatos cotidianos, da história pessoal do cronista, dos fatos imaginados, que dela o fazem uma concorrente da ficção, ou de fatos concretos sobre assunto vário, como a crônica política, esportiva, científica, social, policial, econômica etc, o gênero crônica, a despeito por vezes, nem sempre, de sua efemeridade se estabeleceu na história da literatura brasileira, a qual pode contar com uma plêiade de grandes cronistas tanto do passado quanto do presente. Quem puder, pois, leia ou releia obras dele como O conde e o passarinho (1936), Morro do isolamento (1944), Ai de ti, Copacabana (1962) etc.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Seleta Piauiense - Newton Freitas



Belo Exemplo

Newton Freitas (1920 - 1940)



Olho a serra apontando para o céu

com os braços grandes dos seus picos,

com os dedos verdes das suas árvores.

Mas bem que ela não esquece os humildes,

nem o chão, nem as pedras que jazem a seus pés.


E pelo abismo, vinda das alturas,

como se fosse um véu de rendas,

como se fosse prata liquefeita,

salta a linda cascata,

borbulhando eternal.


Ouço. A água geme entre as pedras lodosas,

canta e murmura, ou será que soluça?

Esse barulho de água beijando os penhascos

deve ser um poema de amor

que a serra sabe de cor para dizer ao chão...


Bendito o Deus-poeta que te fez, cascata!

Bendita a Natureza onde palpitam sonhos,

sonhos de amor, belezas, ilusões,

em todos os recantos, até nos abismos!

Cascata, és um sonho líquido e sublime.


De dia o sol se veste de ouro para contemplar-te,

de noite a lua e as estrelas te namoram sorrindo.

Tu vens do coração profundo das montanhas

e és um beijo eterno da nobreza da serra

à humilde chã das campinas sem glórias.


Quando os homens passarem a teus pés,

quando os homens te contemplarem,

os deslumbrados e os indiferentes,

ensina a eles o teu exemplo de fraternidade,

mostra-lhes a tua lição, cascata!

sábado, 19 de janeiro de 2013

Lançamento de "Vultos e Fatos da História de Campo Maior"


O escritor e historiador João Alves Filho convida o interessado em cultura e história para o lançamento de seu livro Vultos e Fatos da História de Campo Maior, cuja recepção estará sob a responsabilidade do Lions Clube Universitário de Campo Maior.

Data: 01.02.2013
Horário: 19:30 horas
Local: Salão Paroquial “Monsenhor Matheus”


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

BUCHADA DE BODE NA FAZENDA DO ROCIO






17 de janeiro   Diário Incontínuo

BUCHADA DE BODE NA FAZENDA DO ROCIO

Elmar Carvalho



No dia do lançamento de meu livro Bernardo de Carvalho – O Fundador de Bitorocara, encontrei-me com o amigo João Luís Queiroz. É ele médico veterinário e dono de uma loja de produtos destinados à agricultura e à pecuária. Fundou, juntamente com Elton Andrade e outros companheiros, a Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Campo Maior – Ascamcco, que funciona na antiga sede da Fazenda Rocio, no Bairro São João, no local onde outrora eram realizadas as exposições agropecuárias.

Em presença do professor Zé Francisco Marques, disse-lhe que minha mãe havia descoberto uma senhora que era uma exímia preparadora de buchada de bode, e que eu iria encomendar essa iguaria por ocasião de minha próxima visita a meus pais. O João Luís ficou interessado e me perguntou a data de minha vinda. Em seguida, disse que ele mesmo iria mandar preparar uma buchada, a ser feita com bode de seu próprio rebanho. Marcamos a data e o local do repasto.



No domingo agendado, nos encontramos na casa grande da extinta Fazenda do Rocio. Ficamos no alpendre que possibilitava a visão de umas árvores frondosas e de uma nesga do tabuleiro campomaiorense, apesar de o imóvel ficar atualmente encravado em área urbana. Fizeram parte do ágape, além do anfitrião, o Zé Francisco, o professor Neto Chuíba, senhor feudal do sítio Carajás, o universitário Guilherme Queiroz, filho do João Luís, e este cronista.

Além do multicitado quitute, vieram outras iguarias, entre as quais um delicioso sarapatel. Tudo foi preparado pela moradora da sede da Acampi, que se esmerou no preparo do repasto, que além de farto foi supimpa. Todos fomos unânimes em reconhecer a qualidade gastronômica dos pratos ofertados, que deglutimos com muito brio e entusiasmo, em meio a alegre e descontraída libação. Sendo João Luís Queiroz um grande apreciador da cultura nordestina, sobretudo das cantorias, dos desafios de repentistas, dos poemas de cordel e do autêntico forró nordestino, nos brindou com belíssima camisa em homenagem a Luiz Gonzaga, o insuperável e eterno Rei do Baião, que passamos a envergar imediatamente. Parecíamos estar em sua fazenda do Exu. Ao final, fomos enquadrados pelo meu irmão Antônio José, que como um legítimo cangaceiro virtual nos colocou sob a mira de uma câmera fotográfica.



Como é de minha praxe, propus que fizéssemos uma rodada do que chamo de discursos-relâmpagos, referentes ao evento. Para dar o exemplo e estimular os demais amigos, iniciei a peroração. Enalteci as qualidades e virtudes de cada um dos presentes. Recordei que quase oito anos atrás, a saudosa mãe do João Luís, a pedido de meu pai, orou por minha saúde, e me enviou um escapulário, que me acompanhou durante muitos anos, em sinal de Fé e de agradecimento pela minha cura. Seus pais, Francisco e Nazaré, foram amigos dos meus. A seguir fiz a louvação da bela paisagem do entorno, ainda um tanto bucólica, o que mais se acentuou com a presença de algumas reses bovinas, que coroaram a festa, dando-lhe um aspecto também pastoril. Alinhavei considerações sobre o histórico da velha fazenda do Rocio, mormente a respeito dos familiares de seus antigos proprietários.

Disse que ela pertencera à família do grande teatrólogo Francisco Pereira da Silva, um dos maiores do Brasil, filho ilustre de Campo Maior, que teve a peça Chapéu de Sebo encenada, durante vários anos, em Berlim, na Alemanha. Falei de minha amizade com os filhos dos saudosos João Capucho do Vale e dona Consolação. Recordei que no início da década de 70, quando eu tinha 16 ou 17 anos de idade, o poeta Odylo Costa, filho, e sua mulher, a pintora campomaiorense Maria de Nazareth (irmã de Chico Pereira), visitaram Campo Maior. Cheguei a ver o casal na casa do senhor João Capucho, situada perto do Centro Operário.

A minha timidez da época e de sempre não me deixou cumprimentar Odylo, e lhe dizer que eu também fazia versos, ainda que tortos ou capengas. De qualquer sorte, pedi emprestado, através do Otaviano Furtado do Vale, o seu livro Cantiga Incompleta, que ele autografara para os seus parentes João Capucho e dona Consolação, pais do meu amigo. O poeta era sabidamente um mestre na arte da convivência, e soube construir e conservar belas amizades, entre as quais as dos bardos Carlos Drummond de Andrade, Ribeiro Couto e Manuel Bandeira, que foram seus padrinhos de casamento. Por sinal, esses vates são de minha admiração, e de todos eles tenho livros em minhas estantes.

A minha retração me impediu de ganhar – quem sabe? – um exemplar de Cantiga Incompleta, autografado pelo autor, mas hoje tenho a sua Poesia Completa, edição organizada por Virgílio Costa, seu filho, em lugar de honra em minha biblioteca, que fui forçado a “enxugar” bastante no ano passado, por falta de espaço físico. Para minha maior satisfação, na oportunidade em que consegui essa obra, adquiri também os três volumes de Teatro Completo de Francisco Pereira da Silva, publicados pela Funarte em 2009, igualmente organizados pelo Virgílio Costa, que é escritor, historiador e pintor.

Na apresentação da obra, que enfeixa 32 peças, o Ministro da Cultura, Juca Ferreira, diz que o grande dramaturgo “fez da pobreza e da secura do Nordeste sua temática principal e formou, com Ariano Suassuna e Osman Lins, uma tríade de expoentes da dramaturgia regionalista”, mas reconhece a universalidade de FPS quando diz que a sua obra “extrapola os temas regionais e, em muitos casos, se volta para a realidade cultural do país”. Grandes diretores e atores, entre os quais Gianni Ratto, Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Francisco Cuoco, Zilka Salaberry, Maria Gladys, José Wilker e Sérgio Britto, encenaram obras de sua autoria. Uma de suas peças foi transformada em filme. Não obstante tudo isso, Sérgio Mamberti, em nota introdutória, reconhece que Chico Pereira foi um artista extremamente modesto. Sua timidez já me fora relatada pelo ator Tarciso Prado, que foi seu amigo e lhe tinha profunda admiração.

Ele era tio de Olavo Pereira da Silva Filho, arquiteto, um dos mais destacados lutadores da preservação arquitetônica do Piauí, autor de importantes obras sobre os velhos solares do Piauí e do Maranhão, e que arrebatou um dos maiores prêmios nacionais dessa área cultural. Era primo de Abdias Silva, campomaiorense, com quem tive a honra de me corresponder, que foi um dos maiores jornalista do país, e do memorialista Francisco Cardoso da Silva.

A alta qualidade de sua obra, o seu estilo apurado, a sua técnica esmerada, no momento em que o teatro nacional enveredou pelo experimentalismo e em busca de pretensas ou verdadeiras vanguardas, fez com que a sua fatura teatral, embora bem recebida pela crítica, fosse “bastante ignorada pelo público”, segundo foi observado na cronologia, na qual consta que sua dramaturgia fora escrita numa hora errada, ipso facto, além de haver encontrado “certa hostilidade da elite sulista à cultura e ao desnudamento da pobreza nordestina”, de onde o dramaturgo teria extraído sua principal temática.

Ao contemplar a velha sede da Fazenda do Rocio, não pude deixar de me lembrar dos versos em que o poeta H. Dobal disse ali haver tomado banho de leite. E não pude deixar de lamentar que o notável teatrólogo campomaiorense pouco seja lembrado e festejado em sua terra natal, apesar de há muitos anos uma lei estadual ter determinado a criação do Memorial Francisco Pereira da Silva. Até hoje essa lei nunca foi executada. Não sei o que impede a criação desse Memorial, uma vez que o autor já é falecido e é um dos maiores teatrólogos brasileiros.