terça-feira, 30 de junho de 2020

Salvador Dalí e um corona surreal





DIÁRIO
[Salvador Dalí e um corona surreal]

Elmar Carvalho

30/06/2020

            Tirei este domingo, pela manhã, para mais uma vez folhear o livro “Dalí: the paintings”, de Robert Descharnes e Gilles Néret, editado em 2018 por Taschen (Bibliotheca Universalis). Quando cheguei à página 608, me deparei com uma pintura que me chamou deveras a atenção, tanto por suas próprias qualidades, como também por motivos particulares meus, sobre a qual mais adiante falarei.

            Desde o início de minha juventude, mais precisamente desde a segunda metade da década de setenta, tenho visto e revisto várias reproduções de suas telas mais famosas, e outras nem tanto, sempre com a mesma admiração e encantamento, tanto através de livros/álbuns, como através de cd’s e, depois, da internet. Desde então, fiz vários poemas de feição surrealista, muitos inspirados em obras de sua autoria.

            Na segunda metade da década de oitenta, já morando em Teresina desde 1982, fui vizinho do pintor Francisco Siqueira Santos (PBA, 14/07/1951 - BSB, 31/10/2017), ou apenas Siqueira, que adotara o nome artístico de Sica. Natural de Parnaíba, ele era agente da Polícia Federal, e também admirava o surrealismo, sobretudo o de Salvador Dalí, tendo ele próprio  produzido algumas pinturas surrealistas de alta qualidade. Um ano ou menos depois foi transferido para Brasília, e agora eu soube, pelo seu colega Odon Baltazar Nobre, que ele faleceu há cerca de três anos.

Nessa época eu já vinha acumulando algumas ideias para escrever um poema épico moderno baseado na vida e na obra do grande surrealista espanhol, titulado Dalilíada. Falei desse projeto ao Sica, e lhe preveni que no dia que me viesse o estalo ou insight eu o procuraria para que me emprestasse os grandes álbuns que ele tinha, em que estavam estampadas as pinturas do mestre do surrealismo, que além de tudo era um grande histrião e falastrão, marqueteiro de suas obras.

E assim, em certa tarde, me surgiu uma forte compulsão para escrever esse poema anunciado e esperado. Corri à procura do Sica, que felizmente se encontrava em sua residência, e me forneceu os livros, conforme prometera.


Siqueira, ou apenas Sica

De imediato, na mesa de minha sala, como se estivesse sob atuação mediúnica ou automática, sem procurar lógica ou sentido no que escrevia, folheando freneticamente os livros que trouxera, por vezes misturando as ideias de duas ou mais telas, algumas vezes me utilizando também dos títulos, escrevi quase de um só fôlego ou jato esse longo poema; longo, claro, para os padrões de hoje.

Mas, como disse, já escrevera antes alguns poemas surrealistas, vários inspirados em pinturas de Dalí, inclusive um baseado numa tela que, de certa forma, guarda alguma semelhança com a que me referi no início deste registro. Eis o poema, que por sinal faz parte do aludido épico Dalilíada:

           XXXVII

O discóbolo do cosmo

em vigorosa e rigorosa torção

arremessa o disco do Sol

para uma outra desconhecida dimensão.

 

Retomando o perdido fio inicial da meada, quando cheguei à página 608 vi a pintura que me causou surpresa e admiração. Tinha o título grafado em inglês, que em minha rústica tradução converti para “jogadores de basquetebol metamorfoseados em anjos”. Integrando um conjunto antigo de três poemas, creio que da década de 1970 ou 80, sob o título geral de “No reino do surreal”, encontrei o seguinte:

          

II – BASQUETEBOL

tomaram-me

            tudo inclusive

            o óbolo inútil

            o bolo indigesto

            a bola murcha

            a bala de festim

            a balada calada

                              alada

            mas sem voo

mas ainda me sobrou

            cabeça para arrancá-la

            e enfiá-la

            na cesta

 

Contudo, o atleta mais visível do quadro de jogadores de basquete metamorfoseados em criaturas angélicas mais me pareceu um goleiro, em espetacular e espetaculosa “voada”, a espalmar o planeta Terra para longe de sua meta. Um goleiro surreal que parecia ter a ousadia maluca, performática e exótica de Higuita e a eficiência e elasticidade felina e elegante de Yashin.

E a bola, na verdade o nosso terráqueo planeta, tinha umas espécies de pinos, que me fizeram lembrar a imagem ampliada do famigerado coronavírus. Um bisonho observador poderia achar que fora uma premonição. Eu prefiro nada achar, exceto beleza na pintura.  

Não querendo ser um cabotino e tampouco um narcisista, e muito menos ainda um ególatra, mas tendo sido um goleiro em minha adolescência, prefiro encerrar esta crônica algo memorialística, com pitadas de gênese literária, com a seguinte frase de José Francisco Marques, extraída de seu texto “Quem te ensinou a voar?”, que me vale como um certificado e consagração:

“Elmar era de fato um goleiro diferenciado. Elegante em suas defesas e de uma agilidade impressionante, pois muitas vezes arrancava aplausos (fato raríssimo entre expectadores desse nível futebolístico), da plateia que o assistia.”

segunda-feira, 29 de junho de 2020

O estudo de Literatura Piauiense nas escolas






DIÁRIO
[O estudo de Literatura Piauiense nas escolas]

Elmar Carvalho

29/06/2020

            Em nossa última reunião online, o presidente Zózimo Tavares nos anunciou que neste sábado, dia 27, o Prof. Dr. Francisco Soares Santos Filho, presidente do Conselho Estadual de Educação – CEE, iria proferir uma palestra denominada “Ensino médio pós-BNCC: tem vaga para literatura piauiense?”, através da tecnologia de videoconferência.

            Abrindo a reunião virtual, o presidente da APL nos explicou que a palestra duraria cerca de dez minutos, e que, após, cada um dos acadêmicos teria direito a fazer breves considerações e perguntas. O presidente do CEE, Francisco Soares Filho, foi exemplar, porque foi claro, objetivo, didático, elucidativo e teve notável capacidade de síntese. Usou cartelas esquemáticas e infográficos em sua explanação, de modo a atrair mais ainda a atenção dos virtuais participantes.

            Disse que foi muito importante a reunião, em 13 de fevereiro, da Comissão de nossa Academia, composta por Zózimo Tavares, Magno Pires, Dílson Lages Monteiro e Elmar Carvalho, com os membros do Conselho Estadual de Educação, para que o ensino de Literatura Piauiense passe a ser posto em prática, como determina o artigo 226 de nossa Constituição Estadual, que lhe instituiu a obrigatoriedade. Disse também ter sido da mais alta relevância a audiência pública realizada em 20/02 para esse objetivo, da qual participou a nossa Academia Piauiense de Letras, representada pelo seu presidente, o confrade Zózimo Tavares. 

            Em sua elucidativa explanação, o professor Soares Filho falou dos objetivos e diretrizes da Base Nacional Comum Curricular – BNCC, de seus garantidores legais, além de ter se referido a outros dispositivos legais, que fundamentaram juridicamente a tese de sua palestra. Explicou que a BNCC buscou a equidade, que é a sua palavra chave. Ilustrou e reforçou sua abordagem com infográficos e dados estatísticos.

Explicitou que a BNCC comporta o percentual de 40% para a parte diversificada; que dentro dessa significativa fatia cabem disciplinas de caráter regional (estadual), entre as quais Literatura, Geografia, História e Outros aspectos da Cultura Local.

Dessa forma, ante esse cenário de abertura para a cultura do Estado, o professor Soares Filho, na sua qualidade de presidente do Conselho Estadual de Educação entende que a Literatura do Piauí pode e deve ser matéria curricular obrigatória em nosso estado, e está adotando todas as providências necessárias para que esse sonho dos poetas e escritores piauienses se concretize, finalmente pondo em prática o que determina o artigo 226 de nossa Constituição Estadual, promulgada e publicada em 1989.   

Além desse dispositivo constitucional, que determina ser obrigatório, nas escolas públicas e particulares, o ensino de literatura piauiense, o professor Francisco Soares Santos Filho também invocou a Lei Estadual nº 6.563/2014, que “dispõe sobre a preferência pela adoção de autores piauienses”. A propósito desta Lei, relembro que outrora, no tempo dos célebres e fatigantes vestibulares, alguns autores piauienses eram estudados em sala de aula, sempre os mesmos, e que não passavam de meia dúzia. Mesmo assim, isso contribuía para uma maior divulgação e estudo de nossa literatura.

Mas, não bastasse o permissivo legal da BNCC e dos diplomas legais referidos, o ilustre palestrante ainda invocou várias outras razões para o ensino de literatura piauiense, tais como: 1) “A literatura é a manifestação da cultura de um povo na forma de expressões faladas ou escritas.” 2) “Exprime o perfil cultural de uma sociedade.” 3) “É a expressão da sociedade, como a palavra é a expressão do homem (Louis Bonald).”

Por fim, Soares Filho proclamou, de forma muito clara, enfática e peremptória, que não há nenhuma desculpa para que não seja implementado na forma insculpida no texto constitucional o ensino de Literatura Piauiense.

No debate, em suas considerações, todos os acadêmicos elogiaram a palestra, o esforço e o zelo do professor Soares Filho em acatar o pleito da gestão do presidente Zózimo Tavares, no objetivo de que o ensino de nossa literatura seja efetivamente implementado nas escolas, e deixe de ser uma letra morta de nossa Constituição piauiense. Participaram do debate virtual, além deste cronista e do presidente Zózimo, os acadêmicos Felipe Mendes, Paulo Nunes, Nildomar da Silveira Soares, Itamar Abreu Costa, Jônathas Nunes,  Oton Lustosa, Fonseca Neto, Francisco Miguel de Moura, Socorro Rios Magalhães, Dílson Lages Monteiro e Plínio Macedo.

Aproveito a deixa, para expandir (aqui) o que disse de forma sintética em minha participação no debate, quando me foi facultada a palavra.

Parabenizei o Prof. Dr. Francisco Soares Santos Filho por sua excelente palestra e por seu zelo e dedicação no exercício de seu cargo público, e sobretudo por ter acolhido essa importantíssima meta da gestão do presidente Zózimo Tavares. E por isso mesmo sugeri lhe seja concedida nossa honraria máxima, a Medalha do Mérito Lucídio Freitas, e, se ainda houver disponível, a do Centenário.

Disse que em meu biênio na presidência na União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE/PI (1988/2000), sucedendo Francisco Miguel de Moura (1986/1988), tive como principal desiderato conseguir fosse insculpida no texto da Constituição Estadual de 1989 a obrigatoriedade do ensino de Literatura Piauiense. Inclusive consegui produzir um abaixo-assinado, com mais de quinhentas assinaturas, reivindicando a inclusão desse pleito em nossa Carta Magna. Tive o apoio dos colegas de diretoria e dos sócios mais assíduos a nossas reuniões semanais, cujos nomes passo a citar: Francisco Miguel de Moura, Hardi Filho, Adrião Neto, Rubervam Du Nascimento, Herculano Moraes, José Pereira Bezerra, Bezerra Filho, Osvaldo Monteiro, fora outros que não recordo no momento.

Contudo, o que foi decisivo para a consecução desse objetivo foi meu contato e de minha diretoria, além de outros membros da UBE/PI, com o ilustre deputado Humberto Reis da Silveira, que era o relator-geral da Constituinte. Ele achou uma excelente ideia, e a adotou quase como de sua iniciativa, passando a tomar todas as providências cabíveis e necessárias para que nosso sonho se tornasse realidade, não poupando nenhum esforço para isso. Mas não foi uma tarefa fácil.

No início mantive contato com presidentes de entidades afins, que não demonstraram o menor interesse pela causa. Talvez porque a ideia não fora sua, ou talvez porque a achassem desnecessária ou pequena. Também alguns políticos, deles alguns vinculados à cultura, não lhe deram importância e mesmo a julgaram indigna de ser posta em dispositivo constitucional. Tanto que o dispositivo foi rechaçado no primeiro turno.

Todavia, Humberto Reis da Silveira, na condição de relator-geral, tinha a prerrogativa de poder reapresentá-lo para discussão e votação em segundo turno, e assim o fez, conseguindo afinal a sua inclusão na Carta Magna, cuja redação, na época, se não estou enganado, continha apenas a obrigatoriedade do ensino de literatura piauiense.

Por seu interesse, zelo e esforço na consecução desse objetivo, homenageei Humberto Reis com os Diplomas do Mérito Da Costa e Silva e de Sócio Honorário (ou benemérito) da UBE/PI, honrarias criadas em minha gestão, e que ele mantinha expostas, em lugar de honra, em seu gabinete, em que cheguei a ver vários livros e antologias de nossa literatura.

Logo no primeiro encontro que tive com ele, contei-lhe que meu pai, Miguel Arcângelo de Deus Carvalho, natural de Barras, havia sido seu colega no Colégio Diocesano, nos idos de 1939/1940. Imediatamente seu semblante mudou, e ele se tornou ainda mais cordial para comigo.

Iniciamos uma forte amizade, que perdurou até seu falecimento. Promovi o encontro dele com meu pai. Em resumo e para finalizar, sua amizade para comigo se tornou tão sólida, que basta que eu conte o seguinte: quando fiz a cirurgia, em virtude de meu primeiro CA, durante duas semanas, todo dia ele ia me visitar no apartamento do hospital, o que muito me sensibilizou, bem como minha mulher, Fátima, e meus pais. Foi um político probo, que em mais de 50 anos de vida parlamentar não amealhou cabedais.

Apesar do meu esforço pessoal e de outros valorosos companheiros, infelizmente o mandamento constitucional se tornou uma verdadeira letra morta, nunca vindo a ser implementado, exceto por iniciativa pessoal dos dirigentes de algumas escolas. Quando ingressei em nossa Academia, em 19/11/2008, em algumas reuniões, inclusive em meu discurso de posse, tratei desse assunto, tendo o acolhimento solidário de vários colegas, que reconheceram o alto valor da colocação em prática desse dispositivo, entre os quais Herculano Moraes.

Quando Zózimo Tavares, com o seu carisma, simpatia, amizades pessoais e esforço, no começo deste ano, assumiu a presidência da Academia Piauiense de Letras, colocou como sua meta principal o cumprimento efetivo do artigo 226 de nossa Constituição Estadual, na parte referente ao ensino de Literatura Piauiense.

Adotou as providências já referidas acima e partiu para a luta, porque teve a compreensão da importância e alcance dessa desejada conquista. Fez desse objetivo um verdadeiro cavalo de batalha. E tudo indica, pelo que já expus, que essa meta de sua gestão já está quase alcançada. Como na parábola de Cristo, foi uma semente que caiu em terreno fértil, e o terreno fecundo foram a vontade, a persistência e o trabalho bem organizado de Zózimo Tavares e de Soares Filho.

Na minha opinião, será a mais importante conquista da Literatura Piauiense, e consequentemente de nossos escritores. Porque a nossa literatura se tornará mais conhecida, e porque nossos escritores serão lidos por mais e novos leitores, muitos dos quais serão formados a partir dessa implementação.   

domingo, 28 de junho de 2020

A CASA NO TEMPO

Fonte: Google



A CASA NO TEMPO

Elmar Carvalho

A casa vive em mim
com os seus grandes medos
e grandes sobressaltos
com os seus porões
e os seus alçapões cheios de ratos
e gradeados por grandes teias de aranha.

A casa vive em mim
com seus insetos nojentos
e com suas aranhas
desenhando circunlóquios
através das circunferências das teias
repletas de arabescos e rococós.
A casa vive em mim.

Vive em mim
com seus gemidos
de fantasmas que
arrastam correntes
por entre ais doloridos.

Vive em mim
com suas lamentações de suicidas
que gemem e gemem.

Vive em mim
com os ruídos de passos misteriosos
com suas portas e
janelas que se abrem
e fecham por mãos invisíveis.

Vive em mim
com os ruídos cadenciados
de botas que passam
passam no limiar
do grande mistério
entre o ser e o
não ser.

A casa é um navio fantasma
que navega no tempo e na memória
com seus pios de corujas
e seus arrepios de
esvoaçantes morcegos e
esgarçantes rasga-mortalhas.

Ai, casa dolorosa
de infinitas recordações
do não acontecido e
do não vivido.

Casa que não existiu
mas que permanece de pé
em minha lembrança
com seus escombros
com tuas teias de aranhas
com seus lodos desbotados
e com suas heras que se fecham
como dedos, tentáculos ou raízes
para que ela permaneça para sempre
com seus sustos, com suas angústias
e seus medos.

A casa sempre persistirá
nas músicas passionais de algum boteco
criando ressonâncias que repercutem
insistentemente como eco. 

sábado, 27 de junho de 2020

SOBRE A OPINIÃO




SOBRE A OPINIÃO

Antônio Francisco Sousa
Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)          

             “Liberdade de ter e adotar, como verdadeiras, preferências e convicções religiosas e políticas, a despeito de estarem sujeitas a dúvidas e questionamentos sobre sua validade e seus pressupostos”. Este é um conceito filosófico de opinião.

                Partindo dele, há que se aceitar como tal, quando alguém diz serem míopes e astigmáticos mais inteligentes que os demais. Seria por que veem tudo melhor bem de perto, ou com auxílio de equipamentos oftalmológicos? Hum!

                E, claro, tomar por uma, a de quem fala que curral eleitoral não mais existe em plagas mafrensinas (e tupiniquins?). Difícil é aceitar-se tal coisa. Como explicar o fato de filhos, sobrinhos, netos, tios, irmãos, esposos, desconhecidos, inexperientes, sem qualquer prévio preparo ou mesmo desejo, qual jabutis, serem alçados a cargos parlamentares ou governamentais, senão, partindo-se do pressuposto de que teriam sido os votos aos mesmos transferidos pelos donos dos eleitorados (e da vontade dos eleitores) que os elegeram? Empatia dos votantes para com os nomes a eles ofertados por aqueles em quem a vida inteira votaram ou foram obrigados a eleger é que não foi? Cabresto, e curto, dos sabidos ou havidos por poderosos em toleirões e maria vai com as outras.

                Opinião pura e simples de quem não viu nada errado, nenhuma excepcionalidade, maracutaia ou escamoteação, no mínimo antiética, imoral e de precedência perigosa, no acesso daquele ministro governamental - já praticamente, expurgado, exonerado, por manifesta vontade do chefe do governo, anunciada havia menos de quarenta e oito horas de sua entrada - em um país, cujo ingresso de cidadãos comuns provenientes do país de onde partira o executivo estava terminantemente proibido. Acesso tal, facilitado pelo fato de a figura ainda continuar, formalmente, na condição de ministro de estado em atividade, portanto, com passaporte diplomático vigente. O status de ex-ministro somente ganharia após confirmada sua chegada ao local aonde estaria impedido de ingressar, com a publicação no diário oficial da nação, enfim, de sua demissão, porém, não por vontade e decisão do governante, mas a pedido do defenestrado. Na verdade, seu ex-chefe o que fez mesmo foi premiá-lo - certamente, por conta dos bons serviços que julgou o mesmo haver prestado à nação - com emprego cujo salário, superior a cem mil reais mensais, não figura nem nos mais surreais sonhos de centenas de milhões de brasileiros. Resta saber se os empregadores e o presidente do país invadido comungam da opinião do presidente tupiniquim, ou se o defenestrarão de volta para casa.

                Entrando, agora, em campo minado, mas ainda comentando sobre opinião. Estas vêm, praticamente, ipsis litteris, de um teólogo exegeta canadense, já falecido, e discorrem a respeito do evangelho do reino e da salvação. Segundo ele, o quadro chega a ser sombrio, porém, é o que se deve esperar de uma era sob o governo dos líderes deste mundo das trevas. Os escritos apocalípticos judaicos da época do Novo Testamento conceberam uma era totalmente sob o controle do mal. Naqueles escritos, Deus se afasta da participação ativa nos assuntos do homem; a salvação pertence apenas ao futuro, a quando Seu Reino vier em glória. O tempo presente testemunharia apenas tristeza e sofrimento. O Diabo é o deus desta era e, portanto, o povo de Deus não poderá esperar, nela, além de mal e de derrota. A palavra de Deus, na verdade, ensina que haverá intensificação do mal no fim desta era, pois, afinal, Satanás continua sendo o deus dela. Até o retorno de Cristo, os cristãos devem lutar uma batalha perdida. Hermenêutica e exegese à parte, opinião é opinião.

                A partir da menção do teólogo, em textos, de que o retorno de Cristo, o que representará o fim dos tempos, acontecerá quando discípulos Seus houverem dado testemunho do evangelho em todas as nações, quando, enfim, for o evangelismo um fenômeno universal, diria que poucas são as pistas ou sinais de que não veremos muita maldade, violência, sofrimento e dor ainda assolando cristãos e filhos de Deus até o final desta era governada pelo Demônio. Levando em consideração o que disse Leonardo da Vinci a respeito do tema, “de que não há coisa que mais nos engane do que a nossa opinião”, concluiria augurando estar inteiramente equivocado.    

Academia de Letras de Parnaíba realiza sua primeira eleição virtual em junho



A Academia Parnaibana de Letras realiza pela primeira vez em seus trinta e sete anos de existência uma eleição diferente do rito tradicional para preenchimento de uma cadeira vaga. No dia 4 de julho a partir das quinze horas será aberto o processo de eleição virtual.

Este processo, segundo anunciou a presidência da entidade nessa sexta-feira dia 26 de junho, cumpre as recomendações das autoridades sanitárias sobre reuniões em lugares fechados, principalmente para uma entidade com a maioria dos membros dentro do chamado grupo de risco.

O candidato único é o desembargador José James Gomes Pereira, parnaibano e que exerce a presidência do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí, coautor do livro Pluralismo e Democracia, Desafios para o Constitucionalismo Contemporâneo, lançado em novembro de 2019.

A cadeira número 9 da Academia Parnaibana de Letras tem como patrono R. Petit e seus últimos ocupantes foram Alberto Silva e José de Nicodemos Alves Ramos.

Fonte: APAL. Foto: APAL/CV. Edição: APM Notícias.  

Café de dias amargos




Café de dias amargos

Pádua Marques
Romancista, cronista e contista

Seu Belarmino agora era de pouco sair de casa, mas naquele sábado de abril de 1942 deu vontade de ir até o Mercado Central, ali perto da sua casa na Marquês do Herval, próximo da praça de Santo Antonio. Era cedo da manhã e ele com a criada Buita, andando dois passos atrás, ia seguindo naquele silêncio quebrado pelo canto de algum passarinho vindo dos fundos da casa do coronel Epaminondas. Mas o antigo corretor de cera de carnaúba e de coco babaçu, no porto Salgado, ficava pelo caminho esperando algum conhecido pra puxar conversa. E esse conhecido naquele dia foi Mundico Castro.

Mundico Castro, o Mundico Caroba, homem de boa altura, pele queimada, cabelos ficando brancos, ia concordando aqui e ali, metia a opinião nesse ou naquele assunto. Seu Belarmino depois de ter chegado em frente ao armazém de seu Antonio Thomaz da Costa, com o dono se pôs a falar dos tempos passados em que tentou meter na cabeça da gente rica da Parnaíba, agora afundando em dívidas, que desde 1930 a cera de carnaúba e o babaçu estavam sendo rejeitados e caindo no mercado internacional, mas ninguém deu ouvidos.

Passou um conhecido e seu Belarmino lembrou os tempos de Pena Boto, o capitão da Marinha, que sempre falou mal da Parnaíba e da teimosia de seu Josias Moraes Correia sobre o porto de Amarração. Depois veio aquele trabalho todo com o canal de São José, a briga pra ficar com a Tutoia, a questão do Figueiroa, os navios perdidos. Brigas entre as famílias ricas que até deram em intrigas pra vida toda.

Belarmino e a criada iam caminhando devagar, olhando e esticando o pescoço pra esta ou aquela mercadoria, cutucando as frutas, as verduras, perguntando o preço do marisco, da farinha, do feijão e da fava. E ele ia mandando que ela comprasse e fosse botando esta ou aquela verdura ou fruta na sacola.

Ozita, a mulher gorda e pesada, ficou em casa esperando, pois nunca gostou de meio de rua, muito menos cheiro de mercado, com aqueles negros, homens, mulheres e meninos fedendo a peixe, suados e com as roupas remendadas e de tamancos. Mal saía pra assistir a missa na igreja de Nossa Senhora da Graça, ali perto. Mas naquele dia pediu à criada que lhe trouxesse jerimum e maxixes. Enquanto isso o marido vinha caminhando bem devagar e com Mundico Caroba enveredava a conversa sobre a qualidade da cera de carnaúba que as indústrias passaram a beneficiar.

Certa vez chegou a falar grosso com o pessoal do Zeca Correia alertando que aquilo não estava certo. A Parnaíba corria o risco de afundar e levar junto muita gente, principalmente uns que nunca tinham pegado em dinheiro e que agora viviam importando tudo o que era luxo, carros de passeio, caminhões, máquinas pesadas e que pelo andar da coisa, uma guerra na Europa, em breve tudo aquilo ficaria sem serventia. Dizia que se aquelas paredes do Cassino tivessem boca diriam que ele estava falando a verdade.

Belarmino agora entrava no mercado de carnes e de peixes. O dono de um quiosque logo na frente, seu conhecido, o Pompeu, depois de limpar com um pedaço de pano trouxe um tamborete pra que ele se sentasse. O velho corretor, amigo e conhecido de todo mundo ali no mercado, se empolgava ao ver crescendo aquela gente humilde fazer roda pra ouvir suas histórias, sua raiva contra esse ou aquele. Batia os nós dos dedos na cadeira, falava mal de Getúlio, de Landri Sales e de Leônidas Melo, os dois últimos, interventores e que tudo fizeram pra prejudicar a Parnaíba.

Belarmino até podia estar exagerando, caducando, mas nas suas lembranças de tempos passados havia muita coisa verdadeira. E aqueles homens cheirando a rapé, a cachimbo, a aguardente, ficavam encantados ali ouvindo.  Ele lembrava agora dos dois filhos, Belarmino Filho, advogado em São Luís, no Maranhão, e da filha, Violeta, casada com um médico e morando no Rio de Janeiro. Era ela quem mandava dizer pra ele tudo aquilo que estava acontecendo no Brasil e mundo. E ele era também de ouvir a Rádio Educadora.

Pra aquele homem já passando dos setenta anos e que ainda tinha forças pra de vez em quando se levantar e naquele mesmo passo amiudado ir até o fundo do alpendre pra conversar com o xexéu, cantadorzinho que era danado e presente de um compadre e primo de Buriti dos Lopes, a riqueza na Parnaíba estava mudando de mãos e dentro de pouco seria a vez de muita gente correr pra política! Getúlio Vargas e os seus aliados não eram de confiança!

Mundico Caroba, o camarada de conversa, agora olhava pra criada Buita ali ao lado, querendo dizer pra ela que pela hora e o sol alto no céu, queria ir embora, mas Belarmino puxava mais conversa com este ou aquele e as pessoas vinham ver e ouvir aquele homem rico, amigo de poderosos como seu Roland Jacob e Zeca Correia, que morava em casa de palacete na Marquês do Herval, tinha rádio e luz elétrica, filha casada com doutor e filho advogado, andava bem vestido, banho tomado e cheirando a lavanda, estava no meio do povo.

E um ou outro vinha apertar sua mão, trazer um menino pra lhe pedir a bênção com a intenção oculta de que ele abrisse a carteira e dali saísse uma moeda. Belarmino falava agora sem dizer nomes, de uma gente na Parnaíba naquele ano de 1942 que agora vivia até comprando avião, dando festas no Cassino num momento de dificuldades com uma guerra na Europa e tudo o mais! Essas pessoas não mediam carreira e achavam que a riqueza delas seria pra toda a vida. Quando falava aquilo até tremia os beiços.

Na volta pra casa Belarmino mandou que a criada Buita pegasse alguma coisa na cozinha e desse pra aquele homem pobre e que lhe deu o prazer de companhia naquela viagem ao Mercado Central. Benedita foi e veio numa pisada só, com uma tigela de arroz com pedaços de peixes fritos e deu pra Mundico Caroba. Aquela comida era sobra de janta de Ozita, sua mulher. Ozita gostava de peixe de água salgada e feito frito. Mas antes de Mundico apertar sua mão pra ir embora de vez, Belarmino meteu a mão no bolso e tirou uma moeda. Aquele agrado era pra ele tomar um café.     

quinta-feira, 25 de junho de 2020

A poética alma de Alcenor Candeira Filho!

Alcenor visto por Fernando di Castro


A poética alma de Alcenor Candeira Filho!

Claucio Ciarlini

Nos últimos 23 anos, ou seja, pouco mais da metade da minha vida, eu ouço falar, seja da boca de professores, colegas e amigos, do grande escritor parnaibano Alcenor Candeira Filho, nascido em 10 de fevereiro de 1947, que, para muitos (e me incluo), é um dos poetas mais talentosos e produtivos de nosso Estado. Em razão de minha admiração por sua escrita, sigo numa busca incansável para encontrar os livros que ainda me restam de sua vasta coleção, tanto de obras de sua autoria, como de coletâneas que participou. A minha coleção teve inicio desde que o conheci pessoalmente, em 2005, após meu retorno à Parnaíba após os estudos de graduação em terras sobralenses. De lá pra cá, tive o prazer de reencontrá-lo em diversos eventos, especialmente os que envolvem literatura, além da honra do seu apoio e participação nestes 12 anos de Piaguí.

             Das conversas que tive com Alcenor, eu pude perceber o seu grande intelecto… Através de suas obras, eu consegui enxergar o seu coração… Mas confesso que foi nesta entrevista, gentilmente concedida por ele em sua residência, que pude visualizar, ou melhor, sentir a sua alma… Quando com o brilho no olhar, e depois de uma rápida viagem ao passado, ele passou a mostrar, a rica e bem organizada coleção de livros, principalmente de autores do Piauí, e como ele bem falou: Ano após ano, durante décadas, fui adquirindo, por isso tenho essa quantidade.

             Durante as lembranças do passado, ele discorreu sobre uma infância repleta de momentos maravilhosos, eu nasci e me criei numa casa grande, ali, na Avenida Presidente Vargas… Eu tive uma infância muito feliz, até porque a garotada, ali vizinha, terminava se reunindo no quintal lá de casa para jogar uma pelada, jogar isso ou aquilo… Alcenor também comenta o seu feliz inicio de contato com a literatura: Dei a sorte de nascer e crescer em uma casa que tinha vários livros, que eram do meu pai e da minha mãe, e desde muito jovem, eu passei a gostar de livros… Dostoiévski, Machado de Assis, Hemingway, Euclides da Cunha, José de Alencar e muitos outros. Até hoje eu tenho uma paixão por leitura… É difícil o dia que vá dormir sem ter lido algo, preferencialmente literatura, história e política.

             O Escritor Alcenor só viria surgir em meados da década de 60, quando da sua estadia no Rio de Janeiro (por ocasião dos estudos de direito), porém o Poeta já despertava bem mais cedo, ainda nos tempos de escola: eu lembro dos primeiros poemas que declamei na vida, ainda no curso primário numa festinha da escola Santa Maria Gorete, dirigido pelas professores Assunção Freitas e Helena Freitas, dois poemas de um escritor romântico cearense, chamado Juvenal Galeno… Ainda me lembro dos versos iniciais de cada um destes poemas:

 Minha jangada de vela,

 Que vento queres levar?

 Tu queres vento de terra,

 Ou queres vento do mar?

 Cajueiro pequenino,

 Carregadinho de flor,

 À sombra das tuas folhas

 Venho cantar meu amor,

 Acompanhado somente

 Da brisa pelo rumor,

 Cajueiro pequenino,

 Carregadinho de flor.

             Porém, aos 12 anos, o seu universo de brincadeiras, jogos e livros foi estupidamente perturbado em razão da trágica morte do pai, assassinado em 11 de outubro de 1959: a partir daí, começaram os problemas existenciais, que persistem até hoje, porque é um trauma, que por mais que você esteja aberto ao perdão, como é o meu caso e de minha família… Estão todos perdoados… Mas o trauma fica… A pessoa morre com isso!

             Em meio à dor e ao luto, a vida teve que seguir, mesmo que de forma mais amarga, porém a sua capacidade de resiliência, acrescida da força da literatura (sempre presente em sua vida) o fez terminar os estudos e ter uma brilhante atuação acadêmica e profissional.

             A escrita poética teve inicio ainda no Rio, mas depois continuei a fazer um poema aqui, outro acolá, sem muita pressa, porque eu nunca provoquei o poema, o poema é que me provoca… Não é que eu acredite muito em inspiração, eu acredito no trabalho, na expiração, como dizia João Cabral de Melo Neto… Mas o ideal mesmo é juntar as duas coisas: um pouco de inspiração, a motivação de escrever sobre aquele tema, e o trabalho, pois a poesia dá muito trabalho! Pelo menos para mim… A fim de alcançar os efeitos estéticos, estilísticos, que são indispensáveis para conferir aos versos a dignidade verdadeira… E sem nenhuma pretensão, eu busco alcançar esse objetivo.

 Alcenor retorna para Parnaíba, em 71, terra de onde nunca mais saiu, e por poucas vezes esteve longe, como me relatou, e a partir de então passou a atuar em campanhas políticas e em jornais e livros lançados na cidade e em nível de Piauí, seja à frente ou como participante, e dentre os jornais, cabe ressaltar o “Linguinha”: na passagem de 71 para 72, nós fizemos aqui,  com uns amigos, um jornalzinho chamado Linguinha, jornal alternativo… E esse jornal, que não tinha pretensão nenhuma, e nem foi importante, mas de qualquer maneira está nos registros da história piauiense, como o primeiro jornal marginal ou alternativo do Piauí…

 Em 1977 surge o jornal Inovação (que teve 15 anos de circulação e recentemente um retorno em edição especial), Alcenor comenta: sem dúvida, o grande jornal da década de 70, o Inovação, que desempenhou, no meu entender, um papel muito importante na área política, social, cultural, educacional… Era um jornal que focalizava todos esses assuntos de interesse da comunidade. Os grandes líderes deste jornal foram Reginaldo Costa e Franzé Ribeiro, e outros que se juntaram a estes grandes idealistas, Elmar Carvalho, Canindé Correia, Olavo Rebelo, esses nomes foram os que participaram comigo destas lutas sociais e políticas.

             O poeta, advogado e professor comentou sobre o cenário político da época, de censuras, ameaças e perseguição, mas ressaltou que não se deixou esmorecer no que condiz aos seus ideais: Eu sempre procuro votar segundo minhas convicções, sem nunca ter me considerado “dono da verdade”, mas sou dono dos meus princípios, eu não abro mão deles. Politicamente eu sigo mais uma linha de esquerda, do que de centro, e principalmente do que de direita… Sempre mantive essa postura, embora nunca tenha sido comunista ou filiado ao partido comunista… Também nunca fui filiado ao PT, e sim ao PTB, partido trabalhista brasileiro, que era o partido de que meu pai fazia parte, até quando foi assassinado. Mas tenho amigos que são do PT, e temos uma boa convivência, sem problema algum.

 Ainda na década de 70, Alcenor lembra do triste acontecimento que foi a destruição da Praça da Graça: evento que marcou muito, não só minha geração, mas a Parnaíba como um todo… foi um ato muito doido… infeliz mesmo, do Batista Silva (prefeito na época), e até hoje nós pagamos por isso e vamos pagar o resto da vida… pois não há como restabelecer a Praça anterior.

 Sobre os dias atuais, a Parnaíba tem investido muito na área de serviços de educação e saúde e isso foi muito bom, porque se ela não recuperou, o prestigio que tinha na área industrial e comercial, ela avançou bastante na saúde e educação… Haja vista, esses setores são hoje referências do estado e cidades circunvizinhas.

             Sobre as gerações literárias: sempre surgem e surgirão os representantes da cultura, que representam a esperança da cultura em nossa cidade, foi assim na minha geração, a de 70, também foi assim em 80, em 90 e agora 2000, que veio você e o pessoal que você reuniu em torno da coletânea Versania.

             O amor de Alcenor Candeira Filho por Parnaíba é notório, tanto na sua atuação todas essas décadas em prol da cidade, em várias esferas, e principalmente visível em suas obras, “Parnaíba, meu Universo e o Crime da Praça da Graça”: fora isso, eu tenho um livro inédito, Estudos de literatura parnaibana, que um dia será publicado, se Deus quiser!

 E foi com o espírito enriquecido de literatura e esperança, que me despedi deste grande escritor, cuja amizade muito me honra e de quem pude aprender bastante, não só através de sua inspirada literatura, mas de sua alma de leitor e colecionador… Um ser humano que ama sua terra, um poeta ainda vivo, mas que já alcançou a eternidade, através de sua criatividade e talento sem limites.

 Fonte: site da Academia Parnaibana de Letras. Texto de 2019.     

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Novos livros disponíveis para downloads no site Entretextos



A seção Livros Online de Entretextos prepara um conjunto de livros para downloads gratuitos. Entre eles, estão não apenas livros de domínio público, mas também obras de visível valor estético cedidas por autores contemporâneos. Nesta semana, estão disponíveis duas obras do escritor Elmar Carvalho, da Academia Piauiense de Letras, o romance "Histórias de Évora" e o livro de crônicas "Confissões de um juiz", além de nova versão de estudo sobre Bernardo Carvalho de Aguiar, o fundador de Campo Maior-PI.

Livros Online de Entretextos disponibilizou  também "Roteiro de Leitura de O morro da casa-grande (40 questões com subitens)", acrescido de Fortuna Crítica. A novela, de autoria de Dílson Lages Monteiro, que recentemente narrou cada capítulo no Soundclound, e Histórias de Évora, de Elmar Carvalho, compõem obras editadas pela Academia Piauiense de Letras em 2019. Nesta semana, novas obras serão postadas, entre as quais os estudos sobre a família Castello Branco, uma das pioneiras na colonização do Piauí, de autoria do escritor Homero Ferreira Castello Branco.

A seção ganhou buscador alfabético por autor, facilitando a consulta.

Acesse!

Kenard Kruel vai tomar posse na APAL e lançar livro sobre Chagas Rodrigue



Marcada para o dia 5 de novembro deste ano de 2020 a posse do escritor Kenard Kruel Fagundes na Academia Parnaibana de Letras, cadeira número 8 e que teve como patrono Antonio Otávio de Melo e como os dois últimos ocupantes, o ex-governador do Piauí e ex-senador Francisco das Chagas Rodrigues e o padre Francisco de Assis Soares.

O anúncio foi feito pelo próprio escritor Kenard Kruel Fagundes nas redes sociais nessa sexta-feira dia 19 de junho. A recepção ao novo acadêmico será feita pelo poeta Alcenor Candeira Filho. Na ocasião será lançado pelo novo imortal o livro Chagas Rodrigues, Estrangeiro na própria Pátria.

Fonte: KKF. Foto: acessepiaui. Edição: APM Notícias.  

terça-feira, 23 de junho de 2020

Uma reunião virtual e virtuosa da APL






DIÁRIO
[Uma reunião virtual e virtuosa da APL]

Elmar Carvalho

22/06/2020

       Pela primeira vez, neste sábado, dia 29, das 10 às 11 horas, participei de uma reunião virtual ou telerreunião. Desde a segunda quinzena de março, quando começou em Teresina a quarentena da covid-19, que não nos reunimos na sede da APL, conforme ficou deliberado em Assembleia dos acadêmicos. No sábado, dia 13, foi a primeira reunião online, da qual não participei. Ao receber hoje, por WhatsApp, uma foto de minha atuação na Assembleia, enviada pelo Zózimo Tavares, respondi-lhe que me sentira um galã da velha guarda.

            Todos os confrades acharam a telerreunião um fato histórico importante de nossa Academia, e todos se sentiram honrados e gratificados de participarem dela. Estiveram presentes na telessala os seguintes confrades: Paulo Nunes, Celso Barros Coelho, Jônathas Nunes, Felipe Mendes, Reginaldo Miranda, Dílson Lages Monteiro, Oton Lustosa, Plínio Macedo, Ribamar Garcia, Itamar Abreu Costa, Francisco Miguel de Moura, Moisés Reis, Socorro Rios Magalhães, Hugo Napoleão, este diarista e o presidente Zózimo Tavares. Ribamar Garcia e Hugo Napoleão puderam participar, respectivamente, do Rio de Janeiro e de Brasília, onde residem.

            Zózimo Tavares, após suas considerações iniciais, explicou como a Assembleia virtual se processaria. Cada acadêmico teria, de início, direito a um minuto para cumprimentar os colegas, e, numa segunda rodada de participações, teria mais três, para abordar os assuntos que mais lhe interessassem. Foi pedido que todos os colegas mantivessem os microfones de seus dispositivos desligados, exceto o que estivesse com a palavra, para evitar ruídos que pudessem prejudicar a boa audição de cada discurso.

            Falou inicialmente o confrade Fonseca Neto, que, na qualidade de 1º secretário, leu a ata da seção anterior e apresentou as efemérides, com a citação dos nomes de aniversariantes, alusão a centenários de morte ou nascimento de acadêmicos, bem como referência a fatos históricos importantes de nossa Academia.

Em seguida todos os colegas falaram com fluência e desenvoltura, sendo que alguns ressaltaram eventuais dificuldades técnicas que teríamos, no período inicial da implantação de nossas reuniões à distância. Foi levantada a possibilidade de que, mesmo após o fim da quarentena covidiana, fizéssemos uma reunião online por mês para que os colegas que residem em outras cidades pudessem participar de nossa vida acadêmica.

O acadêmico Moisés Reis, com força e entusiasmo, reiterou ao presidente que estava ainda mais disposto a prestar sua colaboração para que fosse colocado em Oeiras um busto ou estátua do nunca assaz exaltado O. G. Rego de Carvalho, logo cessasse o atual período de distanciamento social.

O confrade Francisco Miguel de Moura se referiu a sua importante Antologia Poemas e Poetas Mais Amados (ensaios, poesias e biobibliografias), editada no final da gestão de Nelson Nery Costa, e ainda não lançada, em virtude da pandemia, em que as aglomerações foram proibidas pelo poder público. Tenho certeza de que, tão logo passe o pandemônio da pandemia, o nosso dinâmico presidente Zózimo Tavares fará o seu lançamento com toda a pompa e circunstâncias que a seleta merece.

Como o nome e o subtítulo estão a sugerir, a obra contém uma seleção de poemas de autores estrangeiros, nacionais e piauienses (portanto, poetas internacionais, federais, estaduais e municipais), ensaios sobre a gênese poética, sobre inspiração e transpiração (ou trabalho), sobre a arte de fazer versos, em que discorre sobre ritmos, rimas, métricas, figuras de estilo, sonoridades, além de outros truques, dicas e recursos, e a antologia propriamente dita, que é organizada em várias partes, com denominações próprias; no final, encontra-se a síntese biográfica de cada poeta, com a enumeração de suas principais obras.

Em minha fala inicial de um minuto, após cumprimentar e abraçar virtualmente os confrades, e falar da importância histórica da implantação da sistemática de reunião virtual, justifiquei minha ausência à primeira experiência, ocorrida no dia 13, sábado, em virtude de não ter recebido a comunicação em tempo hábil. Aduzi que, atendendo recomendação do presidente Zózimo, havia retirado de meu “cenário” uma rede, para que não pairasse sobre mim um clima sugestivo de preguiça e inércia.

Quando usei da palavra, na sequência de três minutos, disse que, apesar do confinamento em que me encontro, imposto pela covid-19, ainda mais por fazer parte de quatro grupos de risco, vinha me mantendo bem ativo em termos literários, pois havia publicado vários livros de minha autoria no formato virtual ou e-book, tanto na Amazon/KDP como no importante site cultural Entretextos, cujo titular é o confrade Dílson Lages Monteiro.

Esclareci que na publicação independente na Amazon publiquei livros tanto na modalidade virtual como na impressa. Exibi quatro dentre os que publicara na segunda versão, quais sejam: Poemas Escolhidos, Amar Amarante, Na Toca do Velho Monge e outros textos ambientais e meu romance Histórias de Évora.

Comentei que havia tido a satisfação de haver recebido exemplares de meu livro História e Vida Literária: as Atas da APL, integrante da Coleção Centenário, editado no final da gestão de Nelson Nery Costa, mas ainda não lançado, em virtude do isolamento provocado pela pandemia. Trata-se de um livro de 750 páginas, que reúne as atas dos 10 anos em que estiveram na presidência da Academia os acadêmicos Reginaldo Miranda (duas gestões) e Nelson Nery Costa (três mandatos). As atas, em sua maioria, foram lavradas por mim, em razão de haver exercido nesse período o cargo de 1º secretário.

Para esse livro escrevi um longo estudo introdutório, um verdadeiro livro dentro do livro, em que discorri sobre nossas reuniões, comentei fatos marcantes de nossa vida acadêmica e da história da APL, em que me referi aos nossos principais eventos e publicações, além de me ter referido a episódios anedóticos de nossa convivência literária.

Na Introdução prestei homenagem aos acadêmicos que mais contribuíram para a História da Literatura Piauiense e de nossa agremiação literária, bem como aos que mais escreveram sobre nossas obras literárias e sobre a memória de nossos acadêmicos, seja em trabalhos de história ou de crítica literária.

Tenho certeza de que o aguerrido presidente Zózimo Tavares, logo retornemos à normalidade de fato normal (e não à chamada nova normalidade) fará o seu lançamento festivo, uma vez que ele conta, pelo menos é o que acho, muito da história de nossa academia e de nossos confrades, assim como de nossa convivência fraterna, cordial e entusiasmada.

Por fim, sugeri ao presidente retomássemos a realização de nossa Oficina Literária, com uma palestra de Fonseca Neto, já anteriormente agendada, sobre a instituição e instalação da Universidade Federal do Piauí – UFPI, no período em que se comemora o seu meio século de fundação, e a possibilidade de que as nossas reuniões online sejam postadas no You Tube, para a posteridade, ou, como se diz no velho jargão, ad perpetuam rei memoriam.

Quem sabe esta última sugestão não possa ser o passo inicial para a criação de nosso Museu da Imagem e do Som?!...    

domingo, 21 de junho de 2020

Seleta Piauiense - V. de Araújo

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Reminiscência

                               Ao poeta Alcenor Candeira Filho

V. de Araújo (1950)

A casa está vazia...
a varanda,
o quarto,
a sala...
onde está o quadro,
o sorriso parado de meu pai?

A cama está vazia...
onde está a dama
que dormia na cama,
que beijava o rosto cansado,
o rosto sem mácula do meu pai?

O jarro está vazio...
onde está a flor,
a margarida tão bela,
que ornamentava a janela
da sala de estudo do meu pai?

A praça está vazia...
o coreto,
o passeio,
o aquário,
o banco...
onde está a Banda
que tocava samba,
batuque de breque,
alegrando meu pai?

A casa,
              a cama,
                              o samba,
                                                a praça (lutuosa e bela)
reminiscências de um gênio que se foi.

Fonte: Poemágico, 1985