segunda-feira, 30 de maio de 2022

Lançamento do 73° Almanaque da Parnaíba

 



Lançamento do 73° Almanaque da Parnaíba

 

                Na noite de ontem (27), foi lançada a 73° edição do Almanaque da Parnaíba. O evento, ocorrido no SENAC (BR-343), teve início às 19 horas, reunindo membros da Academia Parnaibana de Letras (APAL), vencedores do Concurso Literário promovido pela academia e convidados.

        Na mesa de honra, estavam: O presidente da Academia Parnaibana de Letras, jornalista José Luiz de Carvalho; Arlindo Ferreira Gomes Neto, o Arlindo Leão, Superintendente Municipal de Cultura da Parnaíba, representando o Prefeito da Parnaíba, Acadêmico Francisco de Assis de Moraes Souza; Carlson Pessoa, Presidente da Câmara Municipal da Parnaíba; Primeira Tenente Maira Silva, da Capitania dos Portos do Piauí, representando o Capitão de Mar e Guerra, Maxwell Denigres; Acadêmico Claucio Ciarlini, Antônio Gallas Pimentel, Antônio de Pádua Marques Silva, Maria Dilma Ponte de Brito e Roberto Cajubá da Costa Britto; Além da Doutora Maria Fernanda Brito do Amaral, representando a Ordem dos Advogados do Brasil do Piauí (OAB-PI).

                A solenidade teve início com as palavras do presidente da APAL, o jornalista e escritor, José Luiz de Carvalho, que agradeceu a todos que apoiaram e os que se faziam presentes. Na sequência, o poeta e também acadêmico Diego Mendes Sousa (*) discursou sobre a história do Almanaque e prestou bela homenagem a Assis Brasil (capa da edição) e Mestre Ageu. Em seguida, houve a apresentação do Almanaque em questão, pelo acadêmico e escritor Claucio Ciarlini. O jornalista e membro da APAL, Antonio Gallas Pimentel também fez uso da fala, onde discursou sobre o Projeto Academia Viva.

                Por fim, os vencedores do Concurso foram chamados por categoria para receberem o diploma de mérito literário, como também os merecidos aplausos da plateia que contou com mais de 150 pessoas, que, concluída a solenidade, puderam apreciar um farto coquetel regado a fotos e confraternização.

 

                Abaixo, segue a apresentação do 73° Almanaque da Parnaíba, por Claucio Ciarlini:

 

Boa noite, confrades e amigos! E a todos aqui presentes!

 

                Cumprimento os componentes da mesa de honra, através de nosso Presidente José Luiz de Carvalho e já inicio agradecendo a Deus, que nos concedeu a dádiva de estarmos todos aqui, principalmente depois de dois anos de pandemia, que nos levaram tantos amigos, escritores, jornalistas, músicos, professores, dentre muitas outras categorias igualmente importantes para nossa cidade.

                 Em segundo, gostaria de agradecer em nome da comissão organizadora do nosso almanaque, àquele, que algumas vezes já falei, mas aqui novamente repito... Nosso apoiador, o maior Mecenas que a Parnaíba já viu: o confrade e amigo, Francisco Valdeci Cavalcante!

                Agradecemos também nosso presidente da APAL, José Luiz de Carvalho, um incansável na batalha pela cultura, que me fez o convite no princípio de 2020, para que eu fizesse parte desta importante comissão organizadora composta por grandes nomes da Literatura Piauiense: Antonio Gallas, Diego Mendes Sousa, José Wilton Porto e Maria Dilma Ponte de Brito. Além de nosso presidente, José Luiz de Carvalho, que apesar de não constar o seu nome entre os organizadores, está sempre ali, nos ajudando.

                Agradeço também em nome da comissão, a todos acadêmicos que colaboraram nesta edição, abrilhantando-a com sua escrita e arte.

                Aos vencedores do Concurso Literário, nosso acalorado aplauso, além de nossa profunda gratidão! Saibam que os vossos textos vieram somar, e muito, para com esta edição. E não falo apenas em termos de volume, mas principalmente de extrema qualidade! A poesia, o conto, a crônica e o artigo, tudo em grande excelência. Agradecemos à comissão julgadora do concurso, composta por Maria Dilma Ponte de Brito, Maria do Rosário Pessoa Nascimento, Altevir Esteves, Antônio de Pádua Ribeiro dos Santos, Antônio de Pádua Marques, Wilton Porto, Elmar Carvalho e Diego Mendes Sousa.

                Uma edição mais que especial, e que, infelizmente, só não será totalmente festiva, por conta do luto que nós, acadêmicos, e toda a cidade de Parnaíba ficamos, devido à perda de grandes cidadãos que muito fizeram por nossa sociedade, por nossa história, por nossa escrita, dentre outros aspectos, no que inicio uma afetiva homenagem, um tanto poética, porém humilde, no instante em que digo que...

 

Tem algo de diferente neste Almanaque.

As cores azul e branca estão aqui, como de costume,

Porém carregam certo tom nostálgico,

Misto de saudade e silêncio. Ainda que em celebração e ternura.

 

A poesia foi forte neste Almanaque.

A prosa não fez por menos.

24 acadêmicos emprestaram sua escrita.

Somados aos 18 do Concurso Literário,

Quarenta e dois talentos.

Todavia, um deles nos deixou.

Confrade Renato Bacellar. Um enorme coração,

Em meio a estas páginas que agora pulsam.

Ele representava o melhor de nós. A Parnaíba em luto.

Assim como em luto ficou, diante da partida de outro importante filho:

Dr. Francisco de Assis Cajubá. Homem dos mais íntegros deste estado.

 

Homenagens merecidas foram feitas neste Almanaque.

O núcleo gestor escolheu Assis Brasil como capa.

Confrade Diego Mendes Sousa foi escalado para tão nobre missão.

Para nossa tristeza, o autor de Beira Rio, Beira Vida abandonou este plano.

Uma homenagem em vida se tornou póstuma.

O mesmo ocorreu com o Mestre Ageu.

Diego o homenageou em vida,mas não houve tempo.

Tornou-se história, antes que a sua fosse impressa.

Alguns já tinham nos deixado,

o amigo Canindé Correia e o poeta Jorge Carvalho.

Que receberam importante homenagem,

vinda de nosso confrade e amigo Elmar Carvalho.

Cidadãos que a nossa cidade perdeu,

Em meio a um período tão tenebroso.

 

Porém entre as homenagens,

há uma que carrega apenas a leveza da alegria,

 

A de Maria Dilma Ponte de Brito e seus filhos, Dante e Breno,

Que construíram um passeio literário à Parnaíba. E dos mais felizes.

 

Também falei de nossa cidade,

mas através dos meus lugares de memória.

 

Artigos também foram inseridos neste Almanaque.

Pesquisas que percorreram pontos de cultura e memória,

registros de diferentes cidades do nosso Piauí.

Os eventos de uma Academia cada vez mais viva

a atualização de membros e suas respectivas cadeiras

numa revisão bem mais minuciosa

organização sempre muito comprometida

diagramação e impressão

de extrema qualidade.

Obra prima da Sieart.

 

No que é preciso declarar a minha imensa gratidão

por mais essa oportunidade,

de estar entre aqueles

 

que atuam na produção deste,

que é o mais importante periódico

de nossa história e da nossa literatura

Obra cuja existência desta,

e de edições anteriores,

se deve a ao nosso mecenas: Valdeci Cavalcante.

 

E gostaria de encerrar minha fala,

homenageando as produções

que venceram um concurso,

pra lá de disputado, quando:

 

Eu digo que a literatura venceu

E a história também

No momento em que nasceu

Um Almanaque

 

Onde se visita

Serra do Morcego,

Com suas pinturas e lendas

A nos encantar

Vila dos Morenos

Seu povo e suas histórias

A se eternizar

Templo de Frecheiras

De fé, natureza e mistérios

A se registrar

 

Em seguida, de um banco sem banco

Logo passar a observar

Amor à primeira vista

Da Espinha Dorsal da Cidade

Vislumbrar,

Junto dos vizinhos

A megalomania de um famigeraldo

 

Para depois, entre vozes e passos da Graça

Com o braço direito erguido

Profundo amor à vida

Tenta-se sobreviver, ao clima, consumo e ego

Em meio àquela saudade... Com gosto de vó!

 

E por fim... Ou melhor, depois do fim

Se encontrar

Com a boa e amiga poesia

Para se contar

As lendas de um bairro,

Que costuma se dizer, que com um sopro

Consegue-se revelar,

Tudo! Até mesmo a geografia de Vênus!

 

E por último, sim, a literatura venceu!

E a história também!

É hora de celebrar...

O nascimento de um Almanaque

Que com certeza, jamais será esquecido!

 

Muito obrigado!

 

Claucio Ciarlini, 27 de maio de 2022.

 

(*) Para conferir discurso do poeta Diego Mendes Sousa, basta clicar em: https://www.portalentretextos.com.br/post/lancamento-do-almanaque-da-parnaiba-discurso-de-diego-mendes-sousa    

FATOS, LOAS OU BOATOS QUE AS MÍDIAS NÃO ESCONDEM

 

Fonte: Google/Blog do AFTM

FATOS, LOAS OU BOATOS QUE AS MÍDIAS NÃO ESCONDEM


Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com

 

                Disse o candidato da oposição ao governo, em relação ao vice da chapa situacionista: fica fácil para eles conseguirem o que quiserem; o cidadão é oculto, não aparece porque prefere ficar onde as decisões legais são tomadas.

                Teria a figura, um auxiliar governamental, sonhado ou tido um pesadelo tributário? De onde viria, qual a base de cálculo para o tal ICMS da saúde que, segundo a figura, reforçaria o orçamento dos municípios e permitiria novos investimentos naquela área? Fatos indicam que o que poderá ocorrer, contrariamente, caso seja criado um teto em percentual bem menor do que o que, atualmente, incide sobre a circulação e consumo de diversos bens e serviços, hoje, bons geradores do imposto, será um baque na arrecadação, com reflexo imediato no montante dos recursos dos estados e, consequentemente, dos municípios, a propósito, já diminuídos em razão da isenção ou redução promovida pelo governo federal em tributos de sua competência, dos quais, parte compõe os fundos de participação transferidos a estados e municípios. Ou o boato é somente conversa para enganar eleitor desavisado, bravata que, logo, logo o próprio propagador já a terá esquecido ou trocado por outra? Um auxiliar do porte do que publicou tal anacoluto, será que teria condições ou poder para se intrometer em assunto desse teor?  E se apenas estivesse sendo boquirroto, transferindo à mídia factoide, boato de que nem seria o autor?  Um novo demagogo, infelizmente, estaria vindo à tona?

                A quem cabe punir empresas aéreas que arrecadam dos clientes valores cobrados a título de taxas e outros recursos, incidentes sobre passagens, encomendas e que tais, mas não os repassam à empresa brasileira de infraestrutura aeroportuária (INFRAERO)? Quem? Quem, caro jornalista? Raimundo Nonato, diria Aldemar Vigário, da escolinha do Chico Anísio?

                Haveria, de fato, motivos para que médicos reclamassem da obrigatoriedade legal estabelecida por lei estadual, de doulas – sem a devida capacidade técnica comprovada cientificamente para tal intervenção – acompanharem obstetras, anestesiologistas e auxiliares, durante partos por eles realizados nos recintos de hospitais e/ou clínicas obstétricas? E se não fosse mera querela de profissionais que se preparam durante vários anos com estudos científicos, não empíricos, nem baseados em tradições familiares, dispensarem ajuda tão íntima e próxima, enquanto cuidam de assunto sério, delicado e importante, que é trazer à luz, com muito conhecimento e segurança, seres humanos e manter a vida deles e de suas mães?

                Já pensaram? Um governante que chegara ao cargo de maneira inusitada e que, com o passar do tempo, toda a experiência adquirida não o impediu de manter-se ineficiente, improdutivo e teimoso, de repente, acidentalmente, ganhar como colega de andar superior, um noviço, um neófito companheiro de gestão? Do que mais precisa uma nação, um estado ou um município que cai nas garras de um inepto é não ser vítima de outro. Se isso acontecer, não há que se falar em sorte ou azar, mas também não se poderá deixar de culpar quem facilitou ou permitiu a reincidência. Consumado o mal, urge que todos se munam de coragem para tentar minimizar as consequências dos desmandos e estragos impostos pelos escolhidos, e redobrem a atenção e os cuidados, para jamais caírem na mesma esparrela.

                Parlamentar demagogo que, enquanto, hipocritamente, afirmava ter verdadeira vocação para ser representante político daqueles que o escolheram, estranhamente, sub-repticiamente, procurava se afastar do parlamento, sabendo que cederia seu lugar a quem, não obtendo, legitimamente, o direito de ocupá-lo, pois fora rechaçado nas urnas por eleitores conscientes, pôde ver que, graças à sua deserção, obviamente, tramada com seu conhecimento, anuência e conivência, à casa que o eleitor lhe concedera habitar por um tempo, para ocupar seu lugar, chegara, coincidentemente, mas não surpreendentemente, um cidadão que, ante as primeiras atitudes tornadas públicas, deixou claro que fazer desafetos e desrespeitar posicionamentos contrários aos seus serão objetivos político-pessoais que pretende atingir naquele órgão.

                Em resposta aos que o acusavam de, por vezes, falar demais, aquele político matreiro disse: há os que enxergam polêmica em todo lugar; os que acham que tudo tem que ser politicamente correto, e os néscios, que entendem que só deveríamos falar o que eles querem ouvir. Também afirmou, ante a informação obtida de que, em outras praças, seu partido apoiava candidato aos quais se opunha, que não possuía partido, estava filiado a um, mas não era inimigo de todos que preferiam legendas diferentes; e concluiu, irritado: uma tolice que os idiotas gostariam de tornar mantra é achar que todos, aliados e/ou contrários, devem pensar como eles. Ele não se calou, mas eu, sim.     

domingo, 29 de maio de 2022

EPIFANIA E REVELAÇÃO (*)

Fonte: Google

 

EPIFANIA E REVELAÇÃO (*)

 

Elmar Carvalho

 

Ouço ainda

Vinda da infância

A estática do motor do mundo

O som misterioso

E ondulado de micro-ondas

Que se expandia vibrando

No silêncio das madrugadas insones

Oriundo dos confins do tempo-universo

Vestígio vagido musical da explosão

Do átomo primacial.

 

Ouço a melodia

Dos discos dos monturos

Tocados pelos espinhos

Em tempos de ventania.

 

Escuto as vozes e gemidos

Das ranhuras das paredes

E dos cascalhos feridos.

 

Ouço o silêncio

Que sibila nos labirintos

E nos caracóis de meus ouvidos lacrados.

 

Nesse tempo eu via

Anjos nas paredes

Disfarçados em

Cilindros de pura luz

Que se contorciam

Como lagartas de fogo.

 

Um dia tive o êxtase

De minha epifania:

Anjo e irmão

Parente e aderente

Instantânea e simultânea-mente

Entrei na intimidade de todos

Os solares e casebres.

 

Foi apenas um vislumbre ubíquo

Que logo oblíquo se exauriu.

 

Te. 27/05/2022

 

(*) Após mais de ano sem produzir nenhum verso, eis que ontem (27/05/2022), logo após a meia-noite, elaborei este poema. Aliás, de alguns anos para cá, já quase nada produzo, nessa seara literária. Como já não alcanço o nível dos poemas que fiz, em meus melhores momentos, prefiro manter o silêncio; o silêncio que hoje prefiro exercitar como uma disciplina de aperfeiçoamento espiritual.    

sexta-feira, 27 de maio de 2022

O MEMORIAL DE CHICO PEREIRA

Fonte: Google

 

O MEMORIAL DE CHICO PEREIRA


Elmar Carvalho


Na sessão de ontem da APL, exibindo um impresso extraído do Blog do Zan, disse que não desejava  explanar nenhum assunto, mas apenas fazer uma pergunta, dirigida ao presidente da APL, Reginaldo Miranda, e ao presidente do Conselho Estadual de Cultura, professor Paulo Nunes.

Inicialmente, li o seguinte trecho, extraído do aludido blog: “Sábado passado, na residência do deputado Paulo Martins, conversamos eu [Zeferino Alves Neto, o Zan], o médico Domingos José e o gerente do BnB, Gilberto Alves, com a presidente da Fundação Cultural, Sônia Terra, sobre o andamento da concretização da instalação do Memorial [Francisco Pereira da Silva] em Campo Maior, criado pela lei 5.445, de 25 de maio de 2005. Sônia Terra disse que isso está no momento, na dependência das entidades que indicariam os membros que comporiam o Conselho Administrativo. Até o momento, apenas três entidades indicaram seus representantes”.

Isto posto, perguntei ao presidente da APL e ao do Conselho de Cultura se haviam recebido pedido de indicação de representante, tendo ambos respondido que não tinham conhecimento de tal solicitação. O ex-presidente da APL, que passou quatro anos no cargo, também disse não se recordar de tal pedido. Ficou assentado que pedido dessa natureza não tem nenhuma dificuldade em ser deferido.

Algumas observações desejo fazer. A lei já está com cinco anos, e nenhuma providência concreta foi tomada. Mesmo que a solicitação tivesse sido feita, poderia ter sido renovada, e acredito que o Conselho de Cultura e a Academia não iriam ter nenhuma dificuldade em indicar um representante, pois isso não demanda nem tempo, nem dinheiro e nem esforço. Além do mais, salvo melhor juízo, a obra poderia ser tocada sem a necessidade de criação desse Conselho, que segundo a referida lei, tem caráter deliberativo e consultivo, e, por isso mesmo, só seria efetivamente necessário após a criação do Memorial, uma vez que foi previsto para administrá-lo, e não para construí-lo.

Obras muito maiores e mais caras o governo faz sem precisar de conselho nenhum, mas tão somente de sua vontade política e de recurso financeiro. Mas, se a dificuldade é mesmo essa, que se crie logo esse bendito conselho, sem mais delongas. De qualquer sorte, existe um ditado que diz que, quando se quer emperrar alguma coisa, basta que se criem comitês, ou conselhos, o que dá no mesmo. 

21 de março de 2010

quinta-feira, 26 de maio de 2022

A poesia de Gerciane e Dayse: Anotações

 


A poesia de Gerciane e Dayse: Anotações

 

Ernâni Getirana (*)

 

Realiza-se em Teresina, Clube dos Diários, de 24 a 27 de maio, o I SALEM – Salão de Letras da Mulher. Diga-se de passagem, um auspicioso evento, pois a chamada ‘literatura feminina’ está em alta em todo o país já há algum tempo. Nada mais justo. Quem vem acompanhando o debate em torno das questões de gênero sabe que no que diz respeito à literatura, o terreno é íngreme, desafiador, sobretudo quando estão em questão disputas numa sociedade contaminada secularmente por vieses sexistas, machistas e elitistas, dentre outros.

 

Mas não vamos, aqui, tratar propriamente disso. E sim da poesia de duas jovens poetas cuja poesia nos chega geralmente via redes sociais, embora já tenham também publicado em antologias no formato livro físico: Gerciane Lima e Dayse Benício. Não pretendemos fazer propriamente uma análise aprofundada do trabalho poético de ambas, mas tão somente pinçar algumas nervuras para onde sua poesia parece apontar. Trata-se de uma primeira aproximação analítica da escrita poética dessas jovens.

 

Só para situar, Gerciane e Dayse têm raízes familiares no município piauiense de Pedro II, mas nenhuma ali reside. A primeira escreve em sua maioria poemas curtos; ao passo que a segunda, longos. Mas isso em nada breca a poeticidade de ambas. Ao contrário, esse modo de compor os poemas que elas adotam (inconscientemente, diríamos) é mais uma qualidade do que um eventual defeito. O poder de síntese que vemos numa ‘dialoga’ com o modo mais discursivo da outra.

 

Ambas, e é isso o que importa, têm algo fundamental em qualquer poeta que se preze: a preocupação com a linguagem. O uso da linguagem como um esquadrinhador do humano. Ou, em outras palavras, tanto Gerciane quanto Dayse ao fazerem (cada uma a seu modo) uso consciente das possibilidades expressivas da língua portuguesa (ambas são leitoras compulsivas), nos conduzem, seu leitores, a enveredar pelo âmago do Ser, de nós mesmos como participantes da empreitada humana. Estaríamos, aqui, filosoficamente no pensamento de Schopenhauer (1788-1860), para quem “O mundo é minha representação.”

 

Algo que apontaríamos, por outro lado, como peculiar a cada uma das poetas seria isto: enquanto Gerciane, ao abordar o abismo da complexidade humana, por vezes puxa um barbante que nos traz algo entre a ironia fina e o humor; os poemas de Dayse nos apresentam uma realidade humana que nos faz suspender um eventual riso que fosse. Mas, de novo, por uma ou por outra via, são qualidades das poetas citadas ao comporem seus respectivos poemas densamente arraigados (e denunciadores) ao drama humano. Nesse sentido, diremos que elas são herdeiras daquela linhagem de poetas que já superaram a ‘bolha romântica’, termo aqui tomado no sentido trivial e simplório.

 

Quando dizemos que os poemas de Gerciane e de Dayse nos remetem a nós mesmos, pois os questionamentos que trazem são também nossos; que seus poemas são chaves de acesso ao que de outra forma nos escaparia, estamos dizendo que ambas intuem o papel do poeta que é o de apontar, indicar algo que só poderá ser notado, delineado através da leitura dos poemas enquanto índices do humano (no sentido de Pierce (1839-1914)). Elas sabem que a leitura do poema não esgota o que o poema diz. O que o poema se propõe a dizer só ele diz. O poema, ele mesmo é como que um deslizamento da linguagem em si mesma, exatamente no contato das superfícies entre a linguagem e o seu produtor/captador/poeta/leitor. Que as duas poetas estejam no SALEM do ano que vem.

 

(*) Ernâni Getirana é professor, poeta e escritor. É autor de vários livros, dentre eles “Debaixo da Figueira do Meu Avô”. Escreve nesta coluna às quintas-feiras.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

TRIBUTO À INESQUECÍVEL RUA CORONEL ANTÔNIO MARIA

 



O grande goleiro do Caiçara, Coló (último à direita).


TRIBUTO À INESQUECÍVEL RUA CORONEL ANTÔNIO MARIA


José Francisco Marques

Musicista e cronista


HOMENAGENS PÓSTUMAS AOS MORTOS, CADA VEZ MAIS VIVOS EM NOSSAS MEMÓRIAS, QUE POR LÁ HABITARAM.


Rua Coronel Antônio Maria

Quem diria?

Hoje a saudade veio cobrar.

Somos ingratos filhos por ti gerados,

o mesmo feijão com arroz compartilhado. Hoje, compelido de um desejo inexplicável, escrevo sobre ti, responsável por minha base de sustentação social, de minha postura frente à grande aventura à que a vida nos impõe.

A presente narrativa não possui ordem cronológica quanto a citação dos personagens.

Grande e magistral Coló, dono de voos que invejavam os próprios pássaros, grande amigo pessoal. Melinho meu super-herói anônimo, João Agostinho e sua pérola de esposa, dona Zélia de coração tamanho, que de tão imenso subiu ao céu e não mais desceu, Antônio do Monte, meu mestre primeiro, que nas noites ainda ouço o ressoar de seu "soluço do mar", Chichico Baú e a sua voz maviosa a preencher as minhas noites vazias de insônia sem fim, Guilherme Melo e sua pseudossisudez, pois se tratava na verdade de alguém de fino trato, quando era voltado à intimidade pessoal. Foi comerciante e militou certo tempo na política municipal. Sua esposa, dona Anita, tornou-se posteriormente grande amiga de nossa família. Gerson, meu pai, a desfilar outrora em seu cavalo gigante, cowboy numa época de pura magia e sonhos realizáveis, Oswaldo Lobão Filho e a sua assustadora inteligência jurídica, sua mãe dona Margarida a ditar as normas de convivências, Eutrópio e dona Maria, certamente rimaria com serraria a exalar o odor do resto das serragens de grandes troncos de madeira, seus muitos filhos uma amizade ser par, Ulisses Raulino, cuja alma benevolente o transformou em eterno menino a narrar as suas estórias de um reino oculto e tão visível, hoje na saudade presente. Júlio Capucho e sua prole profunda, o inigualável pão cujo odor ainda povoa minhas narinas, dona Celeste, sua companheira, uma mulher celestial, a distribuir simpatia com seus atos sempre amigáveis. Raimundinho Andrade, um gentleman por excelência, um homem cujo legado ainda hoje alimenta o lado raro de políticos honestos, era orgulho dos habitantes locais. Ludgero Raulino e seu português impecável, de tiradas magníficas a narrar aventuras de sua adolescência distante. Zeca Machado e sua humildade latente ao lado de sua querida Filó a exportar caráter através de filhos maravilhosos Brasil afora.

Lázaro Carvalho, bancário e professor, dono de uma elegância admirável ao abraçar seus livros junto ao seu peito, orgulhoso pelo sacerdócio educacional. Nair Sá e sua beleza morena, a desvendar e traduzir a todos nós a curiosidade de uma nova e enigmática língua. Antônio Carlos Cavalcante e sua D'luz, meu padrinho querido e inesquecível, pessoa de uma integridade insuperável e ensinamentos profícuos à minha personalidade, Raimundo Gordinho, baixo e barrigudinho e seu farto comércio, distribuía a simpatia inerente aos donos de bodegas daquela época de ouro, Chico Padeiro: já o identifiquei na terceira idade. Tinha como peça constante um chapéu Panamá à cabeça e invariavelmente calça social sem camisa. Ao lado de fora de seu comércio, funcionava uma espécie de cassino paralelo, onde alguns dos habitantes locais reuniam-se as noites em mesas de baralhos emparelhadas.

Homenagear in memoriam a todas os personagens que habitaram aquela verdadeira sucursal do paraíso até então, me renderiam por certo muitas horas e muitas e muitas laudas nessa crônica saudosa, nesse desabafar de uma alma ansiosa/ciosa de deixar fluir a saudosa e inesquecível aurora de muitas vidas.  

domingo, 22 de maio de 2022

MÚSICA PARA TODOS - 23 ANOS

 


No dia 24, às 19 horas, haverá o Bate Papo Literário, no link abaixo:

https://youtu.be/WBEKRRKX_dM 

sábado, 21 de maio de 2022

A BARRAGEM DE CASTELHANO E A BELA AMARANTE

Fonte: Google

 

A BARRAGEM DE CASTELHANO E A BELA AMARANTE


Elmar Carvalho


Foi muito concorrida e participativa a reunião da APL, de ontem. O acadêmico Paulo Nunes levantou grave questão. Disse que há fortes suspeitas de que a barragem de Castelhano, a ser construída a jusante da cidade de Palmeirais, poderá inundar parte dessa cidade e das cidades de Amarante e São Francisco – MA, e que isso poderia trazer graves consequências ao patrimônio arquitetônico da terra de Da Costa e Silva, que é um dos mais ricos do Piauí.

Na sua opinião, a terra dacostiana é uma das mais bonitas cidades do mundo. Entre outras edificações, seriam atingidas a Casa de Odilon Nunes e a Casa dos Azulejos. A primeira, além do seu valor histórico e arquitetônico, abriga o Museu Odilon Nunes, cujo patrono foi um dos maiores historiadores do Piauí. A segunda, de beleza ímpar, situada na Avenida Desembargador Amaral, tem a sua fachada externa toda revestida de azulejos importados da Europa, salvo engano de Portugal.

Propôs que a Academia realizasse uma audiência pública. Evidentemente, o assunto foi debatido e, por fim, aprovado por unanimidade. O acadêmico Manfredi Cerqueira, com a sua conhecida verve, lembrou o temor que causou a construção da barragem do rio Piracuruca, e disse que esses tipos de obras sempre “algo dão”, e lembrou o recente episódio da barragem de Algodões, que até hoje traumatiza a população ribeirinha dos municípios de Cocal e Buriti dos Lopes.

O acadêmico Jônathas Nunes explicou que barragem pode trazer problema tanto a montante, com as possíveis inundações, como a jusante, com o fantasma do rompimento da parede, que pode ocasionar catástrofe, como a lembrada tragédia de Algodões. Aduziu que a construção de Central Nuclear poderia ser uma alternativa, mas o acadêmico Nelson Nery não achou esta uma boa opção, por causa de possível vazamento radioativo.

A confreira Fides Angélica lembrou outras matrizes energéticas, como a eólica e a solar. O professor Jônathas informou que, com relação à eólica, os ventos somente são suficientemente fortes no litoral e em região do município de Paulistana, e que, quanto à solar, o espaço deverá ser muito grande para uma produção muito pequena de energia.

De qualquer sorte, ficou decidido que a Academia Piauiense de Letras promoverá um grande debate em torno do assunto, sobretudo por causa da possibilidade de inundação de parte da antiga e velha arquitetura da bucólica e bela Amarante.

21 de março de 2010

Cigano

 

Fonte: Google

Cigano 


Sousa Filho

 

Sigamos ciganos!

Sigamos, ciganos!

Se não me engano,

Minha vida nômade

Tem me levado a rincões

Antes, inimagináveis

Sigo sendo cego, sim!

Sou senhor de mim!

Minha cegueira me leva

a enxergar coisas nunca vistas.

Subo serras, desço vales

Sou nômade, libertino

Sou rio; você,  cais

Sorrio; você chora

Sou errante, sou andante

Sou boêmio, ora, ora

Sou passageiro do tempo

Que em breve irá embora.   

terça-feira, 17 de maio de 2022

Caminhões de latas

Fonte: Google



Caminhões de latas


Pádua Marques

Romancista, contista e cronista


Se eu tive em tempo de menino uma paixão, essa paixão foram os carros de lata. Nunca existiram brinquedos mais bonitos, cativantes e com cara de coisa grande do que os carros de lata que eu de início ganhei ou mandei fazer e depois que aprendi a fazer, não larguei mais. Cheguei a ser um dos maiores construtores de meu tempo de menino e da minha rua de caminhões, carros de passeio, tratores e até ônibus feitos de lata. 

Os meninos de meu tempo, desde a rua Sebastião Bastos, Madeira Brandão, Marechal Pires Ferreira e redondezas, da parte de cima do bairro de Fátima, bom que se diga. Essa divisão territorial veio anos depois após uma rusga pelo domínio no mês de maio, mês das procissões de Nossa Senhora de Fátima, entre os seguidores da velha beata dona Onorata. Então passou a se chamar bairro São Benedito. 

Nós aproveitávamos de um tudo nas folgas do Grupo Escolar Epaminondas Castelo Branco pra fazer nossos carros de lata. E cada um menino queria fazer melhor do que o outro a imitação de um ônibus, um automóvel, um caminhão de carga com a carroceria perfeita, os detalhes de retrovisor, faróis, os parachoques. 

Mas essa minha paixão pelos carros de lata veio de longe, de mais de baixo, ainda quando a gente morava na Baixinha, parte do bairro de Fátima entre o estádio Petrônio Portela, antes International, e a rua Tabajara, indo pra beira da linha de ferro no rumo do Cantagalo, onde morava meu amigo de grupo escolar, o Aloísio Rodrigues da Silva, filho de seu Bendito Bonito. Nós éramos alunos de dona Sônia Alelaf e de dona Teresa Barros. 

Tinha um menino, já chegando a rapazinho, o Nilson, irmão do Orismar, filhos de seu Domingos Tachinha, moradores da Armando Burlamaque, em frente da casa de Pedro Agostinho, que fazia os carros de lata mais perfeitos que eu conheci em Parnaíba. Fazia carros grandes, médios e pequenos, de todos os modelos, de bom acabamento e pintura. Chegou a fazer até uma lambreta. Meu irmão Luís tinha uma caminhonete preta feita por ele. Eu não me cansava de olhar aquele carro, uma perfeição absoluta!

Quando nos mudamos pra parte de cima do bairro de Fátima eu e meu irmão Zezinho começamos a fazer nossos próprios carros. Todo menino de meu tempo tinha um carro feito de lata. Carro pra ser companheiro de brincadeiras, de andar com a gente pra cima e pra baixo, acompanhar nos recados da casa, ir comprar sabão, farinha, um mercado de azeite de coco, qualquer coisa na quitanda de seu Zé Maria. E lá ia o menino puxando o carro pelo cordão. 

E a gente nos fins de semana saía a juntar latas de óleo, lata de cera, de querosene, de tinta, fosse o que fosse pra fazer mais um carro. Juntava as ferramentas, os pregos e a madeira que seriam as coberturas e os eixos, pra parte de cima e da frente dos carros de lata. Mas tinha também a dificuldade nalgumas linhas de produção: como encontrar os arcos de barril que seriam empregados nas molas. E falando sobre dificuldade nas ferramentas, uma delas era tirar escondido de minha mãe sua tesoura grande, empregada no corte das peças.

Se a gente conseguisse um trocado aqui ou ali era pra comprar pregos, pagar alguém que vendia o arco de barril das molas. Geralmente esses arcos vinham amarrando as cargas dos armazéns de lá de dentro da rua. Depois era a tinta da pintura, alguma peça, um acessório mais interessante, esse que causaria a diferença e provocaria a admiração dos outros meninos de meu tempo. 

Estudado o modelo do carro, o tamanho e alguns detalhes da lataria, agora era cortar e ir montando. Se houvesse empenho mesmo, dentro de uma semana estaria pronto e desfilando na rua de areia fofa e fazendo inveja nos concorrentes. Depois era só sair brincando pra tudo quanto era lado. E aquele brinquedo todo feito com dedicação e capricho, desde o início, corria as ruas e os quarteirões. 

E aquele cheiro de tinta nova na madeira, a imponência do modelo, a perfeição dos pneus de madeira, os detalhes dos bancos, as molas que inventamos com maior balanço dos eixos,  os faróis feitos com tampas de tubo de pasta de dentes ou tampas de vidro de remédios, o balanço das molas, tudo aquilo nos lembrava um carro de verdade. 

E a gente largava a construir cidades com suas casas, ruas, pontes, rios, fábricas, terrenos, estradas. E a brincadeira até que de vez em quando iria atrair as meninas com suas bonecas de pano ou de plástico. Eu cheguei a ter ônibus Fenemê cara chata, caminhão Chevrolet, ônibus do Marimbá. Fiz um carro tipo pau de arara de seu Roldão que ia pra Buriti dos Lopes, caminhonetes da Ford. E no final de semana todos esses carros de lata vinham pra fora, saídos de uma despensa velha abandonada.  Daquele momento em diante o mundo dos meninos do meu tempo seria outro.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

ETERNO RETORNO

 

Fonte: Google

ETERNO RETORNO


Elmar Carvalho

 

memória:

lâmina de desassossego

cornucópia insana insaciável

a jorrar o passado

que não morre nunca

sempre ressuscitado

no eterno regresso

a nós mesmos.

 

ó emoções redivivas

e ampliadas

das sensações

de nervos expostos

nas carnes pulsantes

de um passado

sempre lembrado.

 

recordações

que dão e são vida

de becos escuros, sem saída

de amores

            hoje boleros

                     bolores em flores

de ilusões perdidas

que se fazem dores

na florida ferida da saudade.

 

evocações

de dribles esquecidos

de gols frustrados e acontecidos

de um jogo que nunca termina

de uma malsinada sina sinuosa

de lágrimas caudalosas

incontidas, vertidas

das vertentes profundas

do peito – porto

sem tino e sem destino

feito somente de desatino.

 

as mulheres amadas

na juventude fugaz

            não envelhecem

            não se corrompem

            não morrem jamais

preservadas intactas e belas

na câmara ardente

incandescente da memória.

 

recordações de fantasmas

que já nos abandonaram

de amigos mortos

que nos acompanham

cada vez mais vivos

de sustos e gritos

de proscritos e malditos

de agouros e assombrações

de desdouros e sombras vãs, malsãs,

oriundos dos porões escavados

nos subterrâneos dos sobrados

       subterfúgios e refúgios

da memória.

 

O passado poderoso e renitente

retorna e continua vívido e presente

se contorcendo se retorcendo

       e se reacontecendo.

 

           Teresina, 23.12.94

sexta-feira, 13 de maio de 2022

A mente embaça

Fonte: Google


A mente embaça


Alcione Pessoa Lima


A mente embaça e os anos nos fazem esquecer

Nomes, rostos e fatos...

Mas, um reencontro - a humildade de assim se declarar,

Aviva a alma e olhares se reconhecem...

Um abraço, que não tem o mesmo vigor; uma gargalhada,

Parecem reconhecer o cheiro que o tempo espalhou há anos...

E cada um conta sua vida...cada estrada, aclives, declives...

E alegrias, e tristezas...Mas, quem não as teve? 

O mundo de cada um é quente, morno, ou frio...

E muitas vezes nos pega sem guarda-sol ou cobertor...


Costuma-se requentar a dor; ou amor; ou a adolescência (tempo de aventuras e coragem...)

É fato que o tempo passa. 

E os cabelos grisalhos; a pele enrugada; a voz, já refletem as marcas comuns aos que vivem...

A peleja enfrentada, é o assunto. 

Para alguns, um monólogo do herói incomum;

Para outros, apenas lutas cravadas na alma.  

quinta-feira, 12 de maio de 2022

REVENDO MEUS MORTOS

Fonte: Google


REVENDO MEUS MORTOS


José Expedito Rêgo


Costumo sonhar com meus parentes falecidos, meu pai, meus tios, meus irmãos. A primeira pessoa que vi morta foi minha irmã Zilda, a primeira do nome, que sucumbiu a uma gastrenterite, com três anos de idade, naqueles tempos funestos em que os médicos prescreviam dieta de fome para curar diarreia. Vi-a no caixãozinho azul, vestida de Santa Teresinha, jamais esqueci. Apareceu-me em sonhos muitas vezes, nos pesadelos de minha infância. Outro irmão, Cláudio, morreu aos seis anos, em consequência de meningoencefalite, sequela de sarampo. Também povoou meus sonhos de aflição. Manoel Felipe, aos vinte e sete anos, foi vítima de brutal acidente rodoviário, parece que provocado intencionalmente por um caminhoneiro irresponsável e de mau caráter. Isto aconteceu em 1960 e, anda hoje, sonho com meu querido irmão. Teve morte cruel. Após o acidente, conduziram-no para casa, aparentemente bem, caminhando com seus próprios pés, consciente, narrou todo o desastre. Uma hora depois, veio a dor de cabeça, os sinais de hemorragia cerebral, a morte inexorável.


Os sonhos com Manoel Felipe voltam frequentemente. Aparenta a mesma idade em que morreu, o ambiente é a velha casa de meu pai, em Oeiras. Ora de fisionomia séria, mais vezes jovial como em vida, palestra alegre com os membros da família, está sempre de visita rápida. Logo deve voltar para o lugar onde mora, ninguém sabe qual seja. No sonho, tomo conhecimento de que ele está morto, mas esse fato não tem a menor importância. Age como se exercesse um emprego, um negócio qualquer, num lugar distante, porém terreno. Nunca pode demorar em nossa companhia. Sua volta ao mundo dos vivos, no sonho, é uma concessão especial.


Os antigos achavam que as pessoas mortas, vistas em sonho, eram espíritos. Ainda hoje, muita gente assim pensa.


Meu pai, pouco meses antes de falecer, dizia ter visto sua mãe, morta há muitos anos, aparecer diante dele, comunicando-lhe que estava no tempo de sua própria viagem. Ele tinha o hábito de cochilar, recostado a uma poltrona de balanço, “assistindo” televisão.


Eu continuo aceitando os ensinamentos do Mestre de Viena, quem melhor já interpretou os sonhos. São no fundo desejos de ter os meus entes queridos de volta ao mundo dos vivos. Desejos muito fortes, inconscientemente satisfeito nos devaneios oníricos. 

quarta-feira, 11 de maio de 2022

CELSO BARROS – TEMPO E MEMÓRIAS POLÍTICAS (*)

 

Flagrante de minha posse na APL, em 19/11/2008. Da esquerda para a direita: Elmar Carvalho, Francisco José de Sousa (GM-GOB/PI), Des. Joaquim Santana, Alcenor Candeira Filho, Des. Manfredi Mendes de Cerqueira, João Féliz (Prefeito de Campo Maior), Des. Tomaz Gomes Campelo e Dr. Celso Barros Coelho (discurso de recepção).


CELSO BARROS – TEMPO E MEMÓRIAS POLÍTICAS (*)


Elmar Carvalho


Não pude comparecer à solenidade de lançamento do livro Política – Tempo e Memória, da autoria de Celso Barros Coelho, ocorrida no dia 8 de maio, a partir das 19:30 horas, como muito gostaria, em virtude de que na mesma data e horário foi lançado o meu livro Confissões de um juiz, em Parnaíba, em evento organizado pelo SESC-PI, ao qual sou grato. Soube, no entanto, que foi uma grandiosa festa literária, abrilhantada pelos discursos do autor da obra, do jornalista e escritor Zózimo Tavares e do empresário e ex-deputado federal Jesus Elias Tajra. Os dois últimos fizeram a apresentação e o prefácio, que ornam e enriquecem essas notáveis memórias.

Conheço o Dr. Celso desde o meado da década de 1980, quando eu exercia o cargo de fiscal da extinta SUNAB, que funcionava no prédio da Delegacia do Ministério da Fazenda, e, portanto, ficava perto de seu escritório, que na época era instalado em prédio situado na rua Álvaro Mendes, por detrás das Lojas Pernambucanas. Depois amiudamos nossa amizade e convivência, quando passei a integrar os quadros da Academia Piauiense de Letras, a partir do dia 19 de novembro de 2008. Foi ele quem nela me recebeu com belíssimo discurso, enfeixado no opúsculo A casa no tempo, de nossa autoria, minha e dele.

Em 19 de maio de 2006, na mesma solenidade em que recebi o honroso título de Cidadão Parnaibano, através de projeto de autoria do vereador João Batista Veras, então presidente da Augusta Câmara Municipal de Parnaíba, lancei o meu livro Lira dos Cinqüentanos, comemorativo, como o nome indica, de meu meio século de vida, cujo discurso de apresentação foi proferido por Celso Barros Coelho, a meu ver o maior orador vivo e o melhor que já conheci, em todos os aspectos, inclusive, voz, entonação, postura e conteúdo. Infelizmente, essa cintilante peça da retórica literária piauiense terminou se perdendo no meio dos papéis de seu autor, o que até hoje lastimo. Almejo que algum dia ela venha a ser encontrada, e assim possa ser publicada.

Ao retornar de Parnaíba, logo na segunda-feira, dia 11, pela manhã, tratei de ir ao escritório do Dr. Celso para adquirir o seu livro. Portanto, no corrente ano, já foram entregues ao público piauiense três livros de memórias: o dele, o do romancista, contista e advogado Ribamar Garcia, titulado “E depois, o trem”, e o deste cronista. Sem a menor sombra de dúvida, os dois primeiros são obras da mais alta relevância literária, e podem ser colocados entre os melhores desse gênero.

Política – Tempo e Memória, além de narrar os principais fatos e atos de sua rica trajetória política, também termina por expor outros episódios notáveis ou interessantes de sua vida, alguns remontando à sua meninice e juventude. Além de ter muito que contar, soube fazê-lo em diamantino e lapidar estilo, de frases elegantes, contudo concisas e claras, em que a beleza muitas vezes se reveste de genuína simplicidade.

O livro me revelou o que eu já aquilatava de sua personalidade, através de nossas conversas e da leitura de outros textos de sua lavra. Transparecem em suas páginas a ética e a cidadania do memorialista. Mesmo diante de perseguições e percalços, manteve a sua coerência e os seus princípios morais, sem se curvar às injunções circunstanciais da baixa política e sem lançar mão de oportunismos, que o momento ditatorial poderia ensejar ou suscitar.

Eventualmente traído por correligionários e “amigos”, que fraquejaram nos primeiros acenos da adversidade, optou por não conspurcar o seu mandato de deputado estadual, preferindo vê-lo cassado no dia 8 de maio de 1964, a ver manchada a sua biografia de homem público e de cidadão. Preferiu manter-se fiel a si mesmo e ao seu ideário de democracia e de liberdade, e à sua opção pelos mais pobres e mais humildes.

Em seus dois mandatos de deputado federal, que veio a exercer, participou de várias e importantes comissões, sobretudo as que tratavam de assuntos jurídicos e culturais. Teve a oportunidade de prestar relevantes serviços à legislação pátria, na condição de relator de importantes projetos, que se converteram em paradigmáticos diplomas legais, que o imortalizaram como jurista e legislador. Mesmo não tendo sido parlamentar constituinte, prestou notável contribuição à Constituição Federal de 1988, através de participação nos debates de convocação da Constituinte.

Em suas memórias, elucida e ilumina fatos e atos (e até mesmo omissões), da história do Piauí, sobretudo do início da década de 1960 a esta parte. Conquanto de forma sintética, delineia os perfis de importantes figuras políticas do Brasil e do nosso estado, lhes registrando não apenas fatos e dados biográficos, mas traçando-lhes o retrato espiritual, fixando-lhes as ideias e virtudes, e eventualmente as fraquezas, ainda que circunstanciais ou momentâneas. Alguns desses perfis são antológicos, pela emoção e pela beleza que transmitem, pela captação do momento solar dessas personalidades.

Celso Barros Coelho poderia ter mantido o seu mandato de deputado estadual, injustamente cassado pela ditadura militar. Acenaram-lhe com essa possibilidade. Mas, como dito, ele preferiu não corromper o seu mandato. Optou por ser um legítimo "ficha limpa", guardião da democracia, da liberdade e da cidadania. Não vendeu os correligionários, e nem tampouco se vendeu. Não expôs o seu mandato, que lhe foi outorgado pelo povo, em balcões de negócios espúrios.

Teve a “loucura” de se manter fiel a si mesmo e a seu ideário político e humanista. Buscou a grandeza da Política com P maiúsculo, e não as bijuterias, benesses e ouropéis da politicanalhice, sabedor, como o poeta Fernando Pessoa, de que “Sem a loucura que é o homem / Mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria?”

(*) Texto de 21 de maio de 2010, publicado na internet, e que faz parte do meu livro Diário Incontínuo, disponível na Amazon, publicação independente. Tive a honra de ser recebido na Academia Piauiense de Letras em 19/11/2008, com um magnífico discurso de recepção do Dr. Celso Barros Barros, que recebeu o título de A casa no tempo. A republicação na data de hoje é uma homenagem ao impoluto homem público, em seu Centenário.