segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
DIÁRIO INCONTÍNUO
Na primeira foto, o professor Paulo Nunes, no alpendre de sua casa. Na segunda, Revista Presença, editada pelo Conselho Estadual de Cultura, e criada na curta e paradigmática gestão do professor Paulo Nunes, como secretário de Estado da Cultura. As matérias de capa, sobre os 100 do Arquivo Público do Piauí, se devem a Paulo Machado, Cineas Santos, Síria Emerenciana Nepomuceno Borges e Paulo Nunes.
01 de fevereiro de 2010
Estive, na parte da manhã, com o professor Paulo Nunes. Fui conhecer as novas instalações do Conselho Estadual de Cultura, que ele preside com muita dedicação e competência. Foi ele um dinâmico e profícuo presidente da Academia Piauiense de Letras. Mostrou-me o amplo e bem dividido prédio, inclusive a sala de reunião do Conselho, o auditório/teatro e uma sala que está destinada às aulas de computador. Falou-me de seus projetos e metas. Aproveitei para lhe dar duas sugestões: que as aulas de informática não sejam apenas sobre o básico, mas que ensinem também computação gráfica, editoração de livro, manejo de fotografia, criação de blog etc., e reivindiquei a promoção de um sarau, talvez poético e musical, nas noites de plenilúnio, para usar uma palavra tão do gosto dos simbolistas, no amplo espaço aberto do prédio, que bem se presta a essa finalidade. Nessa visita revi o poeta Jonas Piauí, que me deu o mais recente número da revista Presença, editada pelo Conselho, que por sinal foi criada pelo professor Paulo, em sua curta, porém profícua gestão de secretário de Cultura do Estado. Disse ao poeta, em tom de blague, que ele era o mais piauiense dos piauienses, pois trazia o nome do Estado em seu próprio nome. Quando estávamos em meio à conversa, chegou meu velho conhecido e amigo Fonseca Neto, futuro confrade na APL. Na agradável conversa, o mestre Paulo nos contou que o seu pai, Francisco de Paulo Teixeira Nunes, era um verdadeiro ecologista, pois, como prefeito de Regeneração, combatia a prática das queimadas, tão praticada pelos nossos rurícolas. Só que, para minha tristeza, vejo hoje grandes empresários da chamada agroindústria destruírem vastas glebas de floresta, da noite para o dia, para transformar tudo em carvão, na ganância desmedida do lucro fácil e imediato, sem nenhuma criatividade e empreendedorismo. Contou-nos Paulo Nunes que um caboclo, de nome Mariano, um pernóstico inocente e bisonho, dissera ao alcaide que, por não conhecer sua ordem, fizera uma grande queimada “aritmética portuguesa areoplana”, o que nos provocou boas gargalhadas. Dina, mulher desse homem simplório, foi convidada para a inauguração do campo de aviação, construído pelo pai do professor Paulo, oportunidade em que um avião pousou e decolou. Perguntada sobre o que achara da operação aeronáutica, disse que não achara vantagem alguma, pois o avião descera e subira inteiriço, sem bater as asas. Sem dúvida, essa mulher simples tinha um olhar de poeta, e viu o aeroplano como uma grande ave metálica e de asas duras. Novamente, gargalhamos a valer.
Na conversa, o professor Fonseca Neto nos contou que ontem, domingo, em Parnaíba, o secretário estadual da Educação, Antônio José Medeiros, disse para o ex-ministro José Dirceu que em 1979 o presidente Lula estivera naquela cidade, em sua luta para criação do Partido dos Trabalhadores, hóspede do Reginaldo Costa, que juntamente com Franzé Ribeiro, fundara o combativo jornal Inovação, de que fizemos parte Canindé Correia, Vicente de Paula (o Potência), Bernardo Silva, Danilo Melo, Mário Carvalho, João Maria Madeira Basto, Jonas Carvalho, Ednólia Fontenele, este escriba e vários outros intelectuais. Aliás, foi o grupo desse jornal, mormente o Reginaldo e o Canindé, que organizou o comício, realizado no bairro Guarita, na carroceria de um caminhão, no qual discursei, na qualidade de presidente do Diretório Acadêmico “3 de Março”, Campus Ministro Reis Velloso, Universidade Federal do Piauí. Naqueles idos, tirar fotografia não tinha a facilidade oferecida pelas máquinas digitais de hoje, cujas imagens logo podem ser transmitidas pela internet e até mesmo por telefone celular. Por esse motivo e também porque não soubemos adivinhar que o Lula, um torneiro mecânico, iria chegar à presidência da República, não registramos o comício em fotografia. Assim também não ficou registrada fotograficamente a minha participação no grande comício do retorno de Chagas Rodrigues ao Piauí e à política, após dez anos de ausência no Distrito Federal, que acontecera um pouco antes, no coreto da bela Praça da Graça, onde morei por vários anos. Fui convidado igualmente pelo fato de ser o presidente do diretório acadêmico, pois nunca fui filiado a nenhum partido político, porquanto sempre achei que um poeta não deveria pertencer a nenhuma agremiação política, devendo ser um franco atirador, a fustigar as mazelas da sociedade e da política, sem tomar partido de nenhum partido, para fazer um trocadilho cretino. Contou-nos Fonseca Neto que o Lula visitou oito cidades nessa viagem ao Piauí, e que pernoitou, numa dessas visitas, em Campo Maior. Por essa razão, ele foi, juntamente com o Antônio José Medeiros e Altino Dantas, vereador de São Paulo, buscá-lo nessa cidade, para ele embarcar no aeroporto de Teresina, de volta à paulicéia. Quando o fusquinha estava a 20 quilômetros de Teresina, já se aproximando do posto da Polícia Rodoviária Federal, um dos pneus estourou, terminando o veículo por fazer o chamado “cavalo de pau”, ao girar sobre si mesmo. Lula se propôs a trocá-lo e foi retirar o estepe. Lamentavelmente, para surpresa dos passageiros, o pneu estava vazio. Mas o professor Fonseca Neto foi reconhecido por um seu aluno, que ia passando, e deu carona ao Lula. Ironicamente, esse aluno foi repreendido severamente por seu pai, por ter dado carona a um estranho. Um estranho que hoje é o presidente da República Federativa do Brasil.
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