terça-feira, 30 de outubro de 2018

A Beleza e seu Labirinto (*)



A Beleza e seu Labirinto (*)

Elmar Carvalho

Não quero mais a alegria postiça
das bonecas de porcelana.
Tampouco me apraz a beleza fugidia
das lourinhas de farmácia.
Fujo agora dos peitos abundantes
redundantes das bombas de silicone.
Não me comove a simpatia
das meninas amestradas.
Tampouco almejo a presença
das damas ou moças de companhia.
Persigo tuas negras pupilas escondidas
detrás de azuladas lentes de contato.
Já não admiro a beleza
morena da cosmética.
Driblo as armadilhas da sedução
programada das moças de programa.
Descreio da perfeição e juventude
fornecidas por bisturis e botox.
Descarto o sexo sem nexo
solitário das bonecas infláveis.
Me acautelo contra as roupas suntuosas
e joias cintilantes das bonequinhas de luxo.
Não me agradam as cicatrizes florais
de exageradas tatuagens panfletárias.

É que me tornei o anjo da destruição
de todas as lojas de horrores.

Mas, contraditório e viniciano, admito:
a beleza é sempre fundamental.
Ainda quando aperfeiçoando
e amplificando a beleza natural.

(*) Poema inédito, que publico agora a pedido do amigo Cunha e Silva Filho. Após vários anos sem produzir nenhum texto poético, elaborei este poema no dia 05/10/2018, no ensejo da entrevista que concederia ao programa “Justiça às suas ordens”, exibido pela TV Assembleia, no dia 16, cujo vídeo pode ser acessado pelo You Tube ou neste blog.   

domingo, 28 de outubro de 2018

Elmar Carvalho fala sobre literatura e ambientalismo


Julguei oportuno transcrever o comentário abaixo sobre o vídeo supra, da lavra do escritor e  professor universitário Cunha e Silva Filho, mestre, doutor e pós-doutor em Literatura Brasileira:

Meu estimado Elmar Carvalho, amigo de longa data, que vem daquele marco inaugural de amizade vivida a partir de 1990, em Amarante, quando o conheci moço na casa dos trinta, muito motivado a percorrer um caminho trilhado de braços dados com a Poesia, tanto a proveniente das leituras inúmeras de autores e obras que tem feito ao longo da vida quanto da que foi escrita pelo seu talento.

Essa entrevista, que ouvi com interesse, confirma a origem de sua formação intelectual, a qual combina o amor aos estudos, notadamente no campo poético, e o seu pertinaz desvelo pela Natureza, o que não é senão o cuidado com que tem sempre demonstrado não somente nos poemas tematizando o meio ambiente do interior, a flora e a fauna, o seu conhecido amor aos animais tanto quanto vemos em outros autores brasileiros que se distinguiram igualmente pelo amor a todos os seres que compõem o que nós podemos chamar de paisagem vegetal e animal(estou pensando, entre outros, no grande ficcionista Guimarães Rosa, tendo à frente aquela estória extremamente humana do "burrinho pedrês"), aí incluindo os homens de boa vontade, a beleza de tudo o que simboliza a Vida.

A entrevista, considerando essas questões, é mais um passo de um escritor que dá testemunho de sua real preocupação com o meio-ambiente tanto o construído pela poesia e ficção quanto o que provém de seu pensamento sobre questões dessa ordem.

Meus parabéns e meu abraço fraternal.

Cunha e Silva Filho    

Seleta Piauiense - Durvalino Couto Filho



O rei estava ensimesmado

Durvalino Couto Filho (1953 - )

O rei estava ensimesmado,
De sua boca nada se ouvia
– nenhuma ordem para hoje,
nenhum enforcamento.
Não foi cobrado o dízimo da noite.
Um escândalo arrebentou na economia
e não foi liberado o pensamento
porque o rei havia se calado
e o país inteiro adormecia.

O enclausurado urrou por entre as grades.
Mil acidentes com os boias-frias.
O bispo ficou celerado, possesso
e o diabo rezou a ordem do dia.
Na iniciativa privada
forjaram-se falências desastrosas
com a mudez do rei que só ouvia.

Mataram cães de estimação
em mansões de beira-rio.
Comunidades se desintegraram,
crianças tornaram-se desafio
e a nudez das mulheres
virou prato do dia.
Adeus, véus de Alexandria!

Não houve festas nas periferias
e as mentiras aumentaram em abril.
Até que o rei declarou
num assomo de agonia:
“Nada mudou no Brasil.”

Fonte: A poesia Piauiense no Século XX, org. Assis Brasil   

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

FLAGRANTES DE BELÉM


FLAGRANTES DE BELÉM

Elmar Carvalho

              (Reconstituição minimal
               de um poema perdido.)

No lusco-fusco da chuva
intermitente de Belém
um guarda impaciente
envolto na capa e na solidão
aguarda um outro
guarda que não vem
para o ato de rendição.

Um impudente
fauno de pedra de pé mijava.
Uma imprudente
ninfa de cócoras
o cântaro emborcava:
água na água
chuva chovendo no molhado.   

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Cemitério campestre




Cemitério campestre, perto da cidade de Angical do Piauí. Fotos de minha autoria.

Cemitério campestre

Elmar Carvalho

Nesta segunda-feira, de manhã cedo, quando eu vinha de Teresina para Regeneração, resolvi, mais uma vez, dar uma olhada no cemitério campestre, que fica na beira da rodovia, um pouco antes da cidade de Angical. Três ou mais galpões, cobertos de telha, protegem os mortos desse bucólico cemitério.

Dá a impressão de que parentes e amigos, zelosos, cuidadosos, desejavam proteger seus mortos da chuva e do sol. No adro de um desses telheiros, o cruzeiro estendia seus braços bem abertos, como se quisesse abraçá-los. Recordei-me de que, muitos anos atrás, quando eu estava na flor de minha adolescência emotiva e sentimental, fiz esse mesmo percurso, em ônibus da empresa Jurandi, que parava em quase todas as cidades do itinerário, em companhia de meu amigo Otaviano Furtado do Vale, que morara em Regeneração.

Íamos, ali, passar um final de semana.  Fomos antecedidos por uma carta dele, comunicando nossa viagem, e naturalmente solicitando hospedagem aos anfitriões. A missiva tinha uma propaganda enganosa a meu respeito, pois dizia, para a destinatária, filha dos donos da casa, que eu era parecido com famoso galã das telenovelas de então.

De qualquer modo, cumprimos a nossa missão, pois tomamos umas boas talagadas de calibrina, dançamos no clube da cidade, onde hoje está instalada a Câmara Municipal, e terminei conseguindo uma namorada, que a névoa do tempo já esfumaça em minha memória. Nessa viagem, chamou-me a atenção um outro campo santo campesino, com túmulos em ruínas, cruzes decepadas, anjos de asas partidas...

Ao retornar, fiz um poema que falava de um agre e agressivo agreste, de um cemitério abandonado, e da paisagem dos cerrados da Chapada Grande, de beleza ímpar, mas tão diferente dos planos tabuleiros de minha terra natal, respingados de corcovas de cupins e pontilhados de carnaubeiras, sobretudo no inverno, em que a terra se estende como um tapete de gramíneas e babugens.   

23 de fevereiro de 2010   

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

DESVIRTUANDO A DEMOCRÁTICA OBRIGAÇÃO ELEITORAL



DESVIRTUANDO A DEMOCRÁTICA OBRIGAÇÃO ELEITORAL   

Antônio Francisco Sousa -  Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
 
            Mais recorrentemente, durante o último radical, irascível e violento processo eleitoral, em que, apesar da grande votação conseguida nas urnas, os dois candidatos remanescentes na disputa pela presidência da república também foram os que obtiveram os piores índices de rejeição, pensadores, estudiosos e outros iniciados passaram a emitir opiniões, dar seus pontos de vista a respeito do que consideram ou definem como obrigação eleitoral. Para eles, mais que o dever de nos apresentarmos à Justiça eleitoral nas datas estabelecidas para as eleições, nós que vivemos em um país em que normas legais nos coagem, compulsoriamente, a fazer isso, escolher alguém que se coloca à disposição dos eleitores para representá-los nos governos e parlamentos, por pior que seja a figura ou por pior que ela possa ser, constitui-se no cumprimento final e integral daquela obrigação. Para ditos iluminados, anular o voto ou votar em branco seria crime de lesa-pátria. Ou seja, na visão daquela turma, não serve de justificativa aventar a possibilidade de que os postulantes possam parecer desinteressantes ou indignos de receber nosso voto consciente; se eles estão lá, isso basta: só por esse motivo já merecem recebê-lo.  

            A propósito, duvidaria que muitos dos pleiteantes a uma cadeira no parlamento ou no governo, notadamente, os menos preparados, os mais antipáticos, preguiçosos e incompetentes, antes de decidirem postular um cargo eletivo, hajam feito uma espécie de consulta, ao menos entre amigos e familiares, a fim de saberem se poderiam aventurar-se em uma batalha insana e cruel como é o processo eleitoral. Nem sempre é por ideologia que alguns se lançam, mas por vaidade, pretensão tola e descabida, senão, sub-reptícias e escusas intenções; uma vez que, para não poucos, nem no mais remoto de seus sonhos, esperariam chegar lá pelos próprios meios, ou seja, por conta dos votos obtidos.

            É fato que somente nas democracias votar é um direito; todavia, parece mais exigência ditatorial do que democrática, uma espécie de obrigação eleitoral que, não bastasse ser, compulsoriamente, estabelecida pela constituição e por um conjunto de normas específicas, pretendesse induzir o cidadão a, mais que comparecer às urnas, votar, ainda que contra sua vontade, em pessoas das quais discorde ideológica, moral ou eticamente, apenas porque se lançarem na disputa.

Conceitualmente, entendo que há divergências entre o direito ao voto nas democracias tradicionais e no Brasil. Que direito é esse que não usufruído converte-se em obrigação? Mesmo sendo um dever, como, de fato, o é, seu cumprimento se consuma quando, nas datas próprias, vai-se a um posto ou local de votação e ali age conforme determina sua consciência. Votar em branco ou anular o voto, não seria descumprimento do dever, mas, sim, manifestação do direito de questionar ou de não contribuir com a eleição de quem não tenha condição nem capacidade para representá-lo dignamente.

            Independentemente do que possam pensar iluminados que, entendo, tentam desvirtuar o sentido democrático da obrigação eleitoral, considero cumprida a minha quando, após comparecer aos locais de votação, diante dos nomes disponibilizados como postulantes, em não encontrando nenhum que me interesse, anulo meu voto ou voto em branco.  

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Lançamento de livros na APL

Fonte: Google


A Academia Piauiense de Letras tem o prazer de convidar V. Exa. e distinta família para a solenidade de lançamento das obras da Coleção Centenário: Ermelinda,  de Lili Castelo Branco, nº 80;  e Teoria e Realidade da Desobediência Civil, de Nelson Nery Costa, nº 100, bem como Novas Páginas Parnaibanas, de Alcenor Candeira Filho, e, O Cantinho do Poeta, de Jonas Piauí.

                                   
Nelson Nery Costa
Presidente      

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

PARABÉNS PIAUÍ!

Fonte: Google

PARABÉNS PIAUÍ!

Carlos Henriques Araújo
Escritor e poeta

Não somos melhores nem piores do que ninguém. Somos nós, simplesmente, à nossa maneira, com nossas limitações, nossas riquezas, nosso potencial e, principalmente com nossa força de vontade.

Os piauienses resistem a todas as dificuldades que lhes são peculiares, e a outras, que lhes foram impostas no decorrer de várias décadas por razões as mais diversas: históricas, políticas, geográficas, sociais e econômicas.

O Piauí existe sim, apesar da crítica destrutiva, da ignorância de uns e da gozação de outros, com o seu nome e com o seu povo. E resiste a todas as dificuldades que lhes são peculiares, e a outras, que lhes foram impostas no decorrer de várias décadas por políticos inescrupulosos, desonestos e incompetentes.

O Piauí não é mais lembrado como o lugar onde o vento faz a curva ou onde Judas perdeu as botas. O Piauí é um estado rico em potencialidades e em oportunidades.

É o estado que tem a menor faixa litorânea, mas, assim como nos pequenos frascos é que estão os melhores perfumes, no seu litoral estão as praias mais bonitas do Brasil, de águas claras e morna, de areias brancas, sem poluição e recheados de belezas naturais, com ventos adequados para prática de esportes náuticos e geração de energia eólica.

Nele desemboca o rio Parnaíba, o maior delta em mar aberto das Américas e o segundo maior do mundo com 85 ilhas de praias paradisíacas.

No Piauí, o sol do equador brilha mais forte e seu calor proporciona um clima tropical saudável, propenso ao cultivo de frutas tropicais para exportação, e à produção de mel de abelha, com floradas o ano inteiro.

Seu solo é ótimo para o plantio de mamona matéria prima utilizada na produção do biodiesel. Foi o primeiro estado do Brasil a desenvolver esta tecnologia. Seu subsolo foi aquinhoado com os lençóis freático maiores do país, quiçá do mundo.

O Piauí tem o maior rio genuinamente nordestino, inúmeras barragens, lagoas propícias para projetos agrícolas de irrigação, piscicultura, carcinocultura e lazer.

É recordista na produção de grãos e o maior produtor de cera de carnaúba do mundo. É o segundo maior produtor nacional de mel de abelha e tem um dos maiores e melhores rebanhos de caprinos do Brasil.

Na medicina, é uma referência para o Norte e Nordeste. Na cultura, é o berço do homem americano, tem a melhor escola do ensino médio do país e um polo de ensino superior com uma excelente estrutura. Recebe estudantes de todo o Norte e Nordeste que sobressaem nos concursos públicos pelo Brasil afora.

A geografia do estado é privilegiada, tem de tudo: rios, cerrados, agreste, serra, praia, cachoeiras, lagoas mangue, banhado, reservas arqueológicas e formações rochosas.
Na região norte, repousa tranquila e acariciada pelas águas do rio Igaraçú, a cidade de Parnaíba, com um potencial turístico e de geração de energia eólica nos seus 24 km de litoral e principal braço do delta.

A cidade já teve seus tempos áureos, foi a fortaleza da economia piauiense. Hoje, seus monumentos históricos são testemunhos daquela época. Seu conjunto arquitetônico é um espaço cultural de inestimável valor.

Na região do agreste encontramos gente humilde e simples, mas hospitaleira. Na região serrana, o frio acolhedor se mistura com as riquezas das minas de opalas e a habilidade dos artesãos. O Parque Nacional da Sete Cidade é um mergulho no imaginário, com suas formações rochosas de formas espetaculares e inscrições rupestres que nos levam a viajar na história da humanidade.

Na região sul, os aficionados, pesquisadores e paleontólogos poderão se aprofundar nesse mergulho cultural visitando o Museu do Homem Americano, na serra da Capivara, em São Raimundo Nonato.
Na região do Gurguéia, o azul do céu parece tocar o verde das plantações de soja, que enchem os bolsos dos agricultores e fazem a alegria dos trabalhadores com a produção e exportação de grãos e óleo de soja, tornando-se o mais importante polo industrial do estado.

E Teresina, sua capital, é a Mesopotanea do Brasil. Situada entre dois rios: o Parnaíba, que nasce na Serra das Mangabeiras, na fronteira com o Estado de Tocantins, é o segundo maior rio do Nordeste, depois do São Francisco: e o Poti, nascendo na Serra da Joaninha, no Ceará, formado por um pequeno filete d’água que vai tomando corpo, atravessando chapadas e cânions, até se encontrar com o Parnaíba no bairro Poti Velho, no fenomenal Encontro das Águas.

Teresina nasceu urbanisticamente moderna. Foi uma das primeiras cidades do Brasil em que o projeto chegou antes da ocupação do espaço urbano.  A Chapada do Corisco, como ficou conhecida.
Teresina hoje não é lembrada apenas pelo seu calor, mas como um polo turístico de eventos, uma referência em saúde e educação e atende pessoas vindas de cidades dos estados do Tocantins, Pará, Maranhão e Ceará.

O Piauí é uma terra de artistas: músicos, intelectuais, artesãos, humoristas, escritores, poetas, jornalistas e pintores de renome nacional como Carlos Castelo Branco, mestre Dezinho, Evandro de Lins e Silva, Da Costa e Silva, H. Dobal, Mario Faustino, Torquato Neto, João Cláudio Moreno, Clodô, Climério, Luís Paiva, Lina do Carmo e muitos outros.

Por isso é que se diz: “É feliz quem mora aqui”.     

domingo, 21 de outubro de 2018

PAULICEIA

Fonte: Google


PAULICEIA

Elmar Carvalho

Do apartamento
assistia sitiado
a antipanaceia destrambelhada
da Pauliceia Desvairada
escaramuçando e rugindo
lá em cima
                 lá em baixo
para todos os lados,
pela boca fumarenta fedorenta
das chaminés e dos canos de descarga,
pela boca nojenta gosmenta dos esgotos
que escarram e vomitam no Tietê,
pela boca de morte
das sereias angustiadas que gritavam,
pela boca fedida
da namorada que brigava,
pela boca ferida
do namorado que revidava,
pelos braços apressados
que bracejavam elétricos,
pelos passos ansiosos
que esperneavam frenéticos
no dinamismo maluco
da vida fremente premente
que me assustava e angustiava
fechado e fugitivo
no apartormento.    

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Poema em homenagem a Rubervam Du Nascimento (*)

Fonte: Alpharrabio/Google


0709.01

Walter Lima
  
Funcionário público inativo
Protesta no papel escritos
Em linguagem poética

“se sente entende”
Diz seu bordão típico
Abusado do ofício primeiro

Saiu literalmente pela tangente do muro
Pronunciando dia a dia
Antiga herdade das letras
Vindas incrustradas no sangue e suor

Segue seu caminhar
Mesmo que tenha de cavalgar
Cavalos, pular obstáculos do Nada
Compartilhar Peixes com Marco
Para angariar óbolo de Espólio.

W.Lima._
RP, SP, 07.09.2013.  

(*) Rubervam Du Nascimento é auditor fiscal do trabalho inativo e, agora, é poetativo e proativo  em tempo mais que perfeito e integral. Do seu espólio poético fazem parte Espólio; desceu ao reino de Plutão com Marco Lusbel Desce Ao Inferno; poeta amador e profissional de A Profissão Dos Peixes e cavaleiro andante e do Apocalipse em Os Cavalos De Dom Ruffato. (Nota de Elmar Carvalho). 

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

DOM CLIDENOR E DOM QUIXOTE DE LA MANCHA

Fonte: Google
Estátua de Dom Quixote, erguida à frente do prédio do antigo sanatório Meduna. Foto tirada por Elmar.


DOM CLIDENOR E DOM QUIXOTE DE LA MANCHA

Elmar Carvalho

            Na reunião da APL, deste sábado, o acadêmico Humberto Guimarães, que é médico psiquiatra, ao usar da palavra, informou que em breves dias o sanatório Meduna será desativado. Lamentou profundamente o fato. A memória de seu criador, o médico e acadêmico, já falecido, Clidenor Freitas Santos, foi festejada vivamente na sessão. Consta que quando ele retornou, formado, a Teresina, libertou os loucos das correntes e de outros tratamentos desumanos. As correntes estariam enferrujando no fundo do Parnaíba.

            O nome Meduna foi dado em homenagem a um grande psiquiatra francês. O sanatório é uma bela construção, com seus pavilhões brancos, seus alpendres, seus corredores. Fica no centro de um aprazível bosque. Até parece uma aldeia, onde ainda alvejam a casa senhoril e a capelinha branca, sobre suave colina, que compõem o aspecto bucólico do conjunto. Foi uma obra audaciosa para a época, e mesmo nos dias de hoje ainda seria.

            Clidenor, quando o conheci, era um velho de boa estatura, ereto, empinado, elegante, inclusive no modo como se vestia. Usava uma velha Mercedes, em perfeito estado, tão elegante quanto ele. Admirava música erudita, sobretudo Mozart, Bach e Beethoven. Fez seus filhos ouvirem esses grandes compositores, para lhes incutir, desde cedo, o gosto por essa divina arte.

            Tornou-se empresário do ramo da agroindústria, especialmente de álcool combustível. Admirador entusiástico de Cervantes, mormente de sua criatura, o fidalgo, cavaleiro e idealista Dom Quixote de la Mancha. Possuía vários exemplares do livro que narrava suas aventuras, e presenteava amigos com exemplares dessa obra por ele considerada genial. Diria que o Dr. Clidenor era também uma espécie de Quixote, tanto na política como nos seus empreendimentos empresariais, pelo seu idealismo e certo romantismo de sua postura.

            Segundo dizem aqueles que a conheceram, a sua biblioteca seria, talvez, a maior biblioteca particular do Piauí, não só em quantidade de livros, mas também pela excelência e raridade de muitas obras. Era uma figura carismática, a pregar o belo e o bem, com entusiasmo e convicção.

            Ele, que foi quixotesco no bom sentido da palavra, ergueu uma belíssima estátua do “cavaleiro da triste figura” nos portais de sua realização máxima, o sanatório Meduna, que, agora, lamentavelmente será desativado. Mas Dom Quixote, a cavalgar o Rocinante, com a sua lança e o seu escudo, talvez consiga defender essa obra meritória, que relevantes serviços prestou ao estado.    


22 de fevereiro de 2010  

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

1610.1

Fonte: Google


1610.1

Walter Lima

Corria o mês de dezembro, dia 1º
Da era mil novecentos 80 e quatro.

D. Antônia Flor, 80
Anos vividos na terra
De – fendida e fedida
De autoritarismo.

Num instante matinal
  Uns homens desalmados
“Paus-mandados”  do Latifundiário
- Na Gameleira devolvem a tiros
A Flor à flor da terra. Des-Ordem!

(ano 2005: 28 famílias assentadas – Acampamento D. Antônia Flor)
Flor!
  
w.lima_.
RPSP, 16.10.2018.   

Cabra-cega

Fonte: site da APAL


Cabra-cega

Pádua Marques
Jornalista e escritor

Tinha uma brincadeira no meu tempo de menino que ainda me lembro como se fosse hoje, a cabra-cega. Nunca esteve tão próxima e servindo de exemplo pra o que está acontecendo na política. Quem está acima dos 60 anos há de se lembrar que naquele tempo não existia televisão na Parnaíba e à noite as crianças ficavam brincando umas com as outras na porta da rua.

Cabra-cega era brincadeira de meninos e meninas. Começava com uns poucos, mas depois ninguém dava conta. Uma das meninas corria lá dentro de casa procurando um pedaço de pano, uma fralda, um pedaço de saia que fosse e na volta era escolhido aquele que daria a saída. O chefe da brincadeira dava umas rodadas pra ele ficar zonzo, tonto de onde estava. Fosse menino ou menina. Não tinha esse negócio não.

Cabra-cega. Não sei até hoje quem inventou, mas era brincadeira boa dos tempos dos meninos e meninas de meu tempo. Quem brincou nunca há de esquecer. E vinham mais depois outros e mais outros meninos das outras ruas. Vinham atraídos pelos gritos e risadas. Vinham suados, de calção e sem camisas, brigões, meninos feios, fogoiós e até os com cara de china. Vinham das redondezas, de outras brincadeiras de cowboys, de manchas, de pegar no rabo da raposa, do jogo de bola de meia.

E a gente ficava até a hora de se recolher pra dentro de casa nessas brincadeiras de pegar e soltar uns aos outros. Não havia saliência. Os meninos e meninas menores sempre eram os mais fáceis de serem capturados. Caiam na vez de sofrerem por um bom tempo até que passavam pra outros. Na escola era a mesma coisa. Brincadeiras de mancha. Esta agora sem os olhos cobertos por um pano. Valia a resistência.

Era brincadeira de astúcia. Consistia em descobrir e pegar o colega escondido.  Sendo apanhado, era a hora de começar tudo, fazer tudo, usar de todas as formas pra sair do castigo. Outras brincadeiras do meu tempo de criança tinham as mesmas ou quase o mesmo jeito. Eram pra fazer a gente se sair, tentar passar essa dificuldade pro outro. Como é na política.

E a gente no final da noite antes de pegar o rumo de casa, havia mostrado o quanto era esperto e rápido em se livrar de armadilhas. Porque todas aquelas brincadeiras, fosse no meio da rua ou na escola à hora do recreio, tinham essa coisa de nos testar. Essa mesma agilidade que deve ser testada agora nessas eleições pra presidente. Estamos no meio de uma grande brincadeira de cabra-cega.

Só que desta vez são dois homens com panos nos olhos tentando nos pegar. Jair Bolsonaro e Fernando Haddad são as duas cabras-cegas.  E os meninos e meninas se pondo a correr e se esconder pelos cantos e em cima dos muros e das cercas, por detrás dos carros estacionados na rua, na casa dos vizinhos e atrás uns dos outros. Ou somos nós as cabras-cegas?

terça-feira, 16 de outubro de 2018

O Curador e a Violência Política

Praça da matriz de São Sebastião com a mureta original(anos 60)


O Curador e a Violência Política

José Pedro Araújo
Romancista, historiador, contista e cronista

Desde menino ouço falar que, em época de eleições, os ânimos se acirravam no velho Curador, a ponto de amigos fraternos passarem meses sem se cumprimentar. Pior, período de eleições era época de muito choro e ranger de dentes para algumas famílias ao ver a vida de algum dos seus filhos ceifada precocemente. Por esse tempo, quando ainda trajava calças curtas, comecei a ouvir dizer que o Curador já havia passado por um confronto sangrento entre duas das famílias de maior destaque na região. E que do embate,  a vida de alguns dos seus membros fora subtraída. Tudo pelo poder de mando de uma comunidade perdida nos sertões mais profundos do Maranhão. Ouvi, por exemplo, que homens armados e violentos se apossavam da cidade e transformavam a sua calma sertaneja em um campo elétrico, onde o menor contato entre as partes poderia se transformar em um mar de fogo. Fiquei assustado quando minha mãe me falou que, certo dia, houve um tiroteio tão intenso na Rua Grande, que as pessoas, mesmo abrigadas em suas casas, tiveram que se projetar no chão e buscar a proteção dos pés das paredes. Apavoradas com pipocar das armas de fogo, procuravam escapar das balas perdidas que voejavam à procura de uma vítima.

Em um desses dias em que o cheiro de pólvora se espalhava pelo ar, no que pode ser descrito como o maior dos confrontos entre os dois grupos familiares já citados no parágrafo anterior, um primo desse escriba, jovem, ainda imberbe, foi atingido por um balaço que lhe abreviou a vida ainda em flor. Havia o irrequieto rapaz tomado partido por um dos lados em disputa.

Nesse tempo, a grita por segurança bateu às portas do Palácio dos Leões na distante capital, São Luís, e o assunto tomou conta das páginas dos jornais por muitos e muitos dias. A cidade ganhou fama de violenta e sanguinária, e para os Ludovicenses, passamos a ser um povo que cultivava a violência. A má fama nos persegue até os tempos que correm. Por muitas e variadas razões, não podemos nos furtar disso. 

Como ninguém mais aguentava tal situação, o interventor de plantão abriu mão do posto a fim de que o governador do estado pudesse nomear outro mandatário com poderes para pacificar os ânimos durante o pleito eleitoral que se avizinhava. O escolhido foi um Tenente-coronel, ocupante de relevante cargo no âmbito do poder estatal. Este, contudo, mal terminou o período concernente às eleições, retornou para a capital e deixou o velho Curador imerso em suas ensandecidas disputas costumeiras.

No inicio dos anos 60 se instalou na cidade o batalhão de Engenharia e Construção do 2º BEC. Tinha por objetivo a conclusão da BR 226 até chegar ao rio Tocantins. Mas os militares fez muito mais que isto. Debelaram a violência na cidade durante os anos em que ficaram instalados na Praça Biné Soares, em local pertencente à família do senhor Celso Sereno. Patrulhas armadas saíam todas as noites pela cidade com o propósito de proteger a cidade e permitir que os presidutrenses pudessem dormir em paz e segurança. Por esse tempo os políticos também se comportaram e respeitaram as mais básicas regras democráticas.

E foi sempre assim a história política do velho Curador até alguns anos atrás. Como no processo político cabe a apenas um grupo o poder de mando, sempre havia um terrível entrechoque entre aqueles que queriam para si essa primazia. Em épocas nem tão distantes assim, a violência tirou a vida de alguns representantes da mais alta estirpe política local, criando um clima de insegurança que muitos pensavam haver ficado soterrado no passado. Foi, talvez, o período mais doloroso e sangrento desde a época em que o município recebeu a sua emancipação.

Ultimamente as coisas se mostram diferentes. Muito bate-boca toma conta da cidade, que já não é tão pequena assim. E as desavenças, no máximo, chegam aos desforços pessoais, e são resolvidas com alguns murros e bofetões. Mas isso acontece em todo o país. No Brasil, a força da palavra não é o bastante para dissipar as nossas diferenças e/ou desavenças.

No pleito que aconteceu domingo passado, o município elegeu um represente para a Assembleia Legislativa estadual depois de muito tempo. Até onde sei, tudo transcorreu na mais perfeita ordem, na mais absoluta paz. Abandonamos a velha prática curadoense e chegamos, por fim, aos tempos presidutrenses. Que seja assim por séculos e séculos sem fim. Amém!    

Fonte: Blog Folhas Avulsas

domingo, 14 de outubro de 2018

Seleta Piauiense - William Melo Soares

Fonte: Google


Alto Longá

William Melo Soares (1953)

         Em memória do meu pai

eterna em mim
a lembrança dos teus olhos
vagueando
pela imensa brancura
do pendão dos canaviais
de Alto Longá

eternas em mim
as águas do riacho Gameleira
deslizando em paz
com o povo da cidade
navegando no silêncio
de um lugar   

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

A SAGA DE UM ESTRATEGISTA POLÍTICO

Fonte: Google


A SAGA DE UM ESTRATEGISTA POLÍTICO

Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

              A saga do homem começou, ou melhor, recomeçou, quando ele decidiu, mais uma vez, que iria ser governador. Na composição da chapa, com a qual disputaria a próxima eleição, o problema inicial era seu vice: muitos queriam essa posição.

            O sujeito, muito sagaz e esperto, foi deixando o tempo correr: é que o mais interessado, um deputado, não queria dar o braço a torcer.

           A vice-governadora do mandato que ainda transcorria, contava com a preferência de assim continuar, talvez, da maioria. A questão parecia, de fato, confusa: tanta gente para uma função só, que o governador-candidato precisou, antes que fosse tarde, desatar o nó.

           Sacou do bolso uma proposta inusitada: nem a atual vice nem o pretendente: na chapa seria vice uma amiga senadora que, antes, fora sua suplente. Houve um certo chororô, uma espécie de velado desagrado com a decisão: por que mudar, de repente, o que já parecia ser a solução?

Então, se não mais vice-governador, para onde iria o deputado? Senador, nem pensar, o estrategista já tinha algo arquitetado: o ex vice-governador, que nem chegara a ser confirmado, continuaria disputando vaga para o legislativo do estado. Para o lugar da senadora, agora sua vice, o governador julgou ideal convidar um nome forte e de muitos votos: um deputado federal.

Resumo parcial da história, do imbróglio, da arrumação: Ah! A atual vice-governadora, como não poderia ficar na mão, disputaria uma vaga na câmara federal, sem risco de perder a eleição. O ex futuro vice-governador, como paga por tanta resignação, indicaria um filho, também para concorrer como deputado federal, apoiado pelo, então, ora candidato ao senado; palavra dada e ponto final.

Lembrando que, para senador, havia um forte concorrente na oposição, e somente duas vagas estavam em jogo na próxima eleição. O governador-candidato, com a indicação ao senado do deputado federal, pensava em fazer dele, colega de um outro que já estava na casa senatorial; apoiado, a propósito, também por ele, gestor, na disputa por reeleição; bastava, para que tudo desse certo, derrotar o maior nome da oposição.

Arrumada a chapa governamental, com os novos parlamentares que apoiaria, era esperar pela voz das urnas, para ver o que aconteceria. Pairava certa dúvida ao deputado que buscava cadeira no senado, se teria, de fato, chance de derrotar o forte candidato do outro lado. Será que a atual vice-governadora e o filho do quase ex vice futuro, seriam eleitos para a câmara federal, ou teria o governador atirado no escuro?

Chega o dia da eleição geral, votos nas urnas, contagem concluída e o que mais? O governo elege seus dois senadores e dois novos deputados federais. O forte candidato ao senado, pela oposição, foi derrotado, novamente, perdeu; já a bancada da situação no congresso nacional, com as novas caras eleitas, só cresceu.

Não bastasse essa vitória, com gol de letra, de bicicleta, trivela e de calcanhar, na assembleia legislativa, o governo contará com mais deputados do que precisará. Talvez nem seja exagero dizer, pois foi o quadro que restou, findo o pleito eleitoral: quase acabou a oposição ao governo, no estado, na câmara e no senado federal.

Por fim, e respondendo ao que ninguém perguntou: apesar das falcatruas em que, dizem, nelas o estrategista se enredou, o povo, em sua maioria, viu na figura algo que o deixou encantado, e, nas urnas, em sete de outubro de dois mil e dezoito, o atual sagrou-se futuro governador do estado.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

DEPOIMENTO SOBRE ALBERTO SILVA


Fonte: Blog do Pessoa. Em 1973, desembarque do Governador Alberto Silva no aeroporto de Parnaíba, vendo-se, da esquerda para a direita: Vicente Correia, Erick de Carvalho (prsidente da Varig), ministro João Paulo dos Reis Velloso, governador Alberto Silva e a primeira dama Florisa Silva.

DEPOIMENTO SOBRE ALBERTO SILVA

Alcenor Candeira Filho
    
     Embora por circunstâncias partidárias nunca tenha votado em Alberto Tavares Silva, não posso deixar de prestar-lhe justa e merecida homenagem no centenário de seu  nascimento.

     Nasci e cresci em casa onde a política esteve sempre muito presente. As mais remotas lembranças são de 1950, quando com três anos de idade vi bem de perto o então candidato a presidente da república Getúlio Vargas, que se hospedou na residência  do dr. João Orlando de Moraes Correia, que disputava a prefeitura pelo mesmo partido. Tive acesso à casa em que estava hospedado o grande líder trabalhista por ser amigo e vizinho de João Orlando.

     Em 1950 Alberto Silva estava concluindo o mandato de prefeito, iniciado em 1948, e apoiou no pleito municipal o candidato de seu partido Acrísio de  Paiva Furtado (UDN), que foi derrotado  por João Orlando.

     Foi a partir dessa época que comecei a ouvir falar de Alberto Silva e de seu irmão João Silva Filho, também grande líder político na cidade, que administrou por duas vezes com muita competência.

     Há poucos meses, três filhas do dr. João Orlando (Fátima, Francisca e Joana Rita) postaram  nas redes sociais, com ampla repercussão ,  fotografias tiradas durante a histórica visita de Getúlio a Parnaíba, em agosto de 1950. Essas fotos revelam que quatro eminentes brasileiros que viriam a presidir o país estavam presentes no banquete oferecido por João Orlando: Getúlio Vargas (1951-1954), Café  Filho (1954), João Goulart (1961-1964) e Castelo Branco (1964-1967).

        Como prefeito municipal Alberto Silva esteve presente nesse almoço e aparece em vários retratos.

       Recordo-me também  da campanha eleitoral de 1954 em que Alberto Silva, sempre pela UDN, foi eleito novamente prefeito municipal, derrotando o petebista José Alexandre Caldas Rodrigues. Nessa eleição meu pai Alcenor Rodrigues Candeira foi eleito vereador pelo PTB, exercendo o mandato no período da segunda administração  de Alberto Silva (1955-1958).

     Nos anos 50 minha família costumava passar as férias do mês de julho na praia da Pedra do Sal, então um pequeno povoado de pescadores, muita frequentada pela família Silva.  Foi nessa bela praia que passei a conhecer melhor o dr. Alberto.

     A partir de 1959, com o trágico falecimento de meu pai, a política deixou de ser assunto interessante para mim e para minha família.

     Mesmo temporariamente desiludido ,  nunca deixei de acompanhar a vida política da cidade e aplaudir as grandes ideias e obras.

     Em fins de 1965, concluindo o curso científico e com mala arrumada para ir estudar direito no Rio de Janeiro, assisti no auditório do SESC em Parnaíba a um importante debate entre dois grandes engenheiros que viriam a governar seus Estados: César Cals (CE) e Alberto Silva (PI). O cearense achava que o problema da energia elétrica  na cidade seria resolvido com a conclusão das obras da barragem de Boa Esperança, enquanto Alberto Silva entendia que a solução imediata, embora provisória, seria trazer desde logo a energia elétrica de Paulo Afonso, que poderia noutra etapa, como de fato ocorreu, ser substituída pela da Boa Esperança. Com a posição assumida e que acabou prevalecendo, Alberto Silva antecipou em alguns anos a solução do problema.

     De 1966 a 1971 passei a morar no Rio de Janeiro, deixando de acompanhar a vida política de Parnaíba.

     Quando  regressei à terra natal, em 1972, Alberto Silva exercia o primeiro mandato de  governador do Piauí, quando construiu muitas obras em todo o  estado: estradas, escolas, hospitais, instalação do Polo Petroquímico em Teresina,  ampliação do sistema elétrico e da rede de abastecimento de água, Estádio Albertão, Zoobotânico de Teresina, ponte Simplício Dias da Silva em Parnaíba e muitas outras.

     No plano cultural o governo Alberto Silva foi também rico de realizações: instituição do Plano Editorial do Estado, início da reforma e ampliação do Teatro 4 de Setembro, construção do Monumento aos Mortos do Jenipapo e o Museu do Jenipapo, criação da secretaria estadual de cultura.
     
No livro “100 Fatos do Piauí no Século 20”, diz o jornalista e escritor Zózimo Tavares:

                   Com criatividade e arrojo, Alberto Silva realizou
                   um governo desenvolvimentista, aliado a um ambicioso
                   plano de “marketing”. Trabalhou a auto-estima dos
                   piauienses. Tirou o Piauí do anedotário nacional. Ficou
                   conhecido como um tocador de obras e tornou-se um mito
                   político. O Piauí experimentou no seu governo um surto de
                   progresso, embalado pelo chamado “milagre brasileiro”.
                   (...) Seu governo contou com o irrestrito apoio do piauiense
                   Reis Velloso, o então todo-poderoso ministro do
                   planejamento.  
                                               
     Alberto Silva é o político parnaibano recordista no exercício de cargos eletivos, com cerca de 38 anos de mandato:

- prefeito de Parnaíba: 1948-1950 e 1955-1958
- deputado estadual: 1950 (renunciou)
- governador do Piauí: 1971-1975 e 1987-1991
- senador: 1979-1986 e 1999-2006
- deputado federal: 1994-1997 e 2007-2009.

     Se acrescentarmos nessa conta os vários e relevantes cargos públicos não eletivos que desempenhou ( CENORTE, POLONORDESTE, EBTU), concluiremos que Alberto Silva (1918-2009) dedicou-se à vida pública durante quase setenta anos.

     Alberto Silva era casado com dona Florisa com quem teve vários filhos.

     Todas as pessoas, inclusive as que se destacaram em sua época, estão predestinadas ao esquecimento, cabendo ao escritor  ou historiador proclamar e  difundir seus feitos  aos mais jovens, aos que ainda têm o ideal de um destino a ser cumprido.

     Eis, portanto, a razão pela qual presto este depoimento sobre Alberto Silva no centenário de seu nascimento.