Membros do Jornal Inovação, sob o cajueiro de Humberto de Campos, vendo-se, da esquerda para a direita, no 1º plano: Bartolomeu Martins, Vicente de Paula (Potência), Elmar Carvalho e Canindé Correia; 2º plano: Danilo Melo, Francisco (Neco) Carvalho, Diderot Mavignier, Franzé Ribeiro, Sólima Genuína, Bernardo Silva, Reginaldo Costa e Paulo Martins; 3º plano: Jonas Carvalho, Israel Correia, Porfírio Carvalho, Wilton Porto, Alcenor Candeira Filho e Flamarion Mesquita. Percebe-se, nesta fotografia, a felicidade dos retratados com esse reencontro, posto que vários moravam em outros estados e municípios. Hoje, a maioria já não reside em Parnaíba
Entre os movimentos populares que surgiram em Parnaíba, o de maior repercussão – não há o que questionar – foi o Movimento Social e Cultural Inovação, que veio a lume pelas mentes de Reginaldo Ferreira da Costa e Francisco José de Souza Ribeiro e serviu de esteio para o advento do Jornal Inovação.
O poeta Elmar Carvalho, em depoimento publicado no livro “A Poesia Parnaibana” e também no Google (buscar Jornal Inovação CENAJUS: Jornal Inovação – Um Depoimento), diz na página 223 do livro, terceiro parágrafo: - Em seu primeiro número, já o jornal, em edição mimeografada, tipo apostila, delineava a sua linha de ação e editorial, quando denunciava a carência cultural de Parnaíba do final de 1977, ao dizer em sua primeira página: “Somos carentes de bibliotecas, centros culturais de nível mais elevado e tudo que a juventude sinta estar realmente segura, apoiada por órgãos municipais, sociedades filantrópicas e, outros órgãos, deveriam olhar mais pela cultura parnaibana”.
Eu gostaria que atentássemos para a data da circulação do primeiro número do Jornal Inovação: dezembro de 1977. O Movimento, oficializado em 15 de janeiro de 1978, teve o apoio temporário de alguns figurões do MDB a nível estadual, que fizeram oposição ao regime militar, mostrando-se simpáticos ao recém-criado Movimento e este se aliou “àquele partido político, embora o Grupo Inovação não se constituísse num movimento revolucionário, no sentido real da palavra”.
É o que analiso, hoje. Lutava-se por direitos, por espaço, por transformação, por melhoria para todos. Queria-se demonstrar a vontade de fazer, de ajudar a cidade, o Estado e o país desenvolverem-se. Onde quer que se esteja, pode-se emprestar a inteligência nas ações diárias.
No Movimento Social e Cultural Inovação encontravam-se estudiosos, intelectuais, adeptos de várias correntes literárias, gente que amava a liberdade. Com certeza, o reflexo da chamada “geração do silêncio” inquietava o subconsciente desses jovens. Quando despertou a manhã das mudanças, o nó na garganta fora aos poucos se desmanchando e muitos movimentos pipocaram em todo o Brasil. Entre eles, o movimento intelectual parnaibano. Justo isso! Quem sabe falar e está com a garganta travada, na hora que sente a retirada das amarras, faz o grito ecoar no ar. E quem nasceu com a capacidade da oratória e da escrita, discursa, escreve. Se for humanista quer fazer algo pelos sofridos, o que não significa usar dos conhecimentos para fazer baderda. É o caso dos integrantes do Grupo Inovação, que dispunha de sede bem aparelhada com ótimos livros. Ali, diariamente, chegava gente de todos os lugares. O papo rolava solto, em que se discutia de tudo, e estabeleciam-se boas amizades e se penetrava nas profundezas de uma cultura crítica e ansiada por todos. Tanto, que o jornal, apesar de mimeografado, era disputado – a cada edição – pela população de Parnaíba. Logo, ganhou espaço, circulou em outras cidades, embora para os opositores, fosse um jornal “perturbador” – o que gerava perseguições de integrantes do movimento. Lembro-me da ocasião em que o Reginaldo Costa teve que se esconder, sob ameaça de morte.
O jornal Inovação era sustentado pelos seus integrantes e simpatizantes. Essa situação dava condição para que o jornal levantasse críticas necessárias e de forma corajosa, criticas que dificultaram o apoio da classe empresarial e um dos meios para angariar verbas, foi a criação de um novo jornal, com linguajar jovial, cara de cidade litorânea, em que fotos de lindas mulheres curtindo praia, queimadas pelo sol eram estampadas: o “Litoral News”. Com ele se conseguiu dar suporte financeiro a Inovação por algum tempo.
No Inovação, onde todos vibravam ecletismo, qualquer assunto de relevância merecia avaliação e publicação. Ia do social ao religioso. Reginaldo Costa se empenhava para que o jornal saísse de forma plausível. O Movimento como um todo cumpriu o seu papel, no entanto, Reginaldo Costa era incansável, metódico e bom de caneta. Deu muita vida ao Grupo. Mas temos que reconhecer que havia uma equipe coesa, inteligente... E não são poucos os nomes que ainda hoje se destacam em vários campos da atividade humana neste país.
O jornal teve três fases. A primeira, com impressão mimeografada, apostilada. Ao mesmo tempo, tivemos o momento dos poetas que publicavam em mimeógrafos. A segunda, a impressão do jornal em off-set, formato tabloide. A terceira, em off-set, tamanho da grande imprensa, embora com menos páginas.
Como eu disse antes, não se contava com o apoio financeiro suficiente para continuar com as impressões do jornal. O jornal teve que fechar as suas portas. Tristeza. A mente do homem ainda se perde no corredor solitário do egoísmo, já que ele vive atolado no materialismo. Os homens de grandes sonhos nem sempre compactuam com os erros, com o individualismo. E às vezes têm que se sentar numa praça sem flores apenas para relembrar. Salva a certeza de que um dia eles receberão, ao som de muitos violinos, os louros desses sonhos e feitos em prol da humanidade.
O PARTIDO DOS SONHADORES É A VIDA HUMANA
Embora o MDB fosse simpatizante do Movimento, em termos de ideologia não tinha nada a ver com o trabalho desenvolvido pelo grupo do Inovação. O principal líder do MDB em Parnaíba, o prefeito João Batista da Silva, foi o mais criticado pelo jornal. A forma como esse prefeito administrava e o jeito como ele tratou a Praça da Graça, um dos mais belos cartões postais da cidade, mereceram e ferrenhas críticas. E o Inovação não deixou por menos. Por esse motivo, muitas pessoas acreditam que o Grupo ateou fogo nos tapumes da Praça da Graça. Engano.
O jornalista Bernardo Silva publicou artigo, no “Portal Proparnaiba”, onde mantém coluna, informando que a queima dos tapumes da Praça da Graça não partiu dos integrantes do Movimento. Lá estiveram integrantes do Inovação, mas chegaram após a praça estar em chamas. Vejamos o que diz: “Verdadeiramente nenhum integrante do Movimento Cultural e Social Inovação tocou fogo nos tapumes da Praça da Graça. O que ocorreu foi que o jornal do movimento fazia uma violenta oposição ao governo municipal do peemedebista Batista Silva, principalmente por ele haver mandado destruir a Praça da Graça original, cercando-a de madeirite. As obras não tiveram prosseguimento por falta de recursos. Também identificamos, naquele tempo, focos de roubalheira, corrupção, por parte de alguns assessores do prefeito, daí a razão da oposição do jornal Inovação.”
A última edição do jornal fora em janeiro/fevereiro de 1992. E apesar de Reginaldo Costa ter recebido muitos incentivos para trabalhar o retorno do jornal, ele não o fizera: estava desenvolvendo outras tarefas e a realidade para ele era outra. A motivação do passado não possuía a mesma chama no coração desse amigo. Ele estava escrevendo um livro sobre esse movimento. Mas como ele está morando em outro Estado, tem se calado sobre o assunto. Também tem suas decepções com a cultura da cidade. Respeitamos suas decisões.
O LIBERTADOR DE CUBA... ARTIGO NA REVISTA “HISTÓRICA” PERDIDA NA HISTÓRIA
O jornalista Antônio de Pádua Marques Silva, redator da Revista “HSTÓRICA”, do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba (IHGGP), publicou, da autoria dele, um artigo intitulado: “O Libertador de Cuba. O ajuste de contas da juventude transviada” (ver ano II – nº 3: outubro de 2009.
Inicia o artigo dizendo que “Os pretensos heróis da resistência à ditadura em Parnaíba tiveram como único grande feito atearem fogo nos tapumes da quase centenária Praça da Graça...”
Mais adiante, o jornalista revela: “Hoje, esta batalha de paus, pedras e cacos de garrafa , considerada pelos seus protagonistas como a Queda da Bastilha em Parnaíba em pleno Século XX, não chamaria atenção se acontecesse numa cidade mais politizada. Os revolucionários daquele final de agosto de 1979 se mumificaram...”
Constata-se que faltou uma pesquisa apurada da história, por parte do jornalista, a respeito do assunto. Sendo a revista de responsabilidade do IHGGP, em que ele é o Redator, tem que ter cuidado com isso. Conforme o Aurélio, “pretenso” significa suposto, fictício. É um adjetivo.
Apesar do silêncio imposto pelos militares. Onde o medo reinava nas ruas e os líderes da época sofriam perseguições, prisões e as mais horrendas torturas. Os que faziam o Inovação sentiram o reflexo daquele estado de coisas. Porém, eu não concordo quando o autor se refere ao Grupo como “Os pretensos heróis da resistência à ditadura em Parnaíba”. Nenhum integrante do Inovação estava lá com a intenção de ser herói. Nem havia um embate com os ditadores. Cumpria-se o papel de cidadão, que tem direito de defender os impostos pagos; de reclamar das mazelas a que se está atolado. Isso, o grupo o fez. Não eram ficções: o trabalho, as lutas em prol do bem-estar da população; as leituras que enriqueciam; os debates que influenciavam no senso crítico dos jovens. Tanto que, ir ao centro da cidade, e não passar pela sede do Movimento Social e Cultural Inovação, deixava uma lacuna em muita gente.
Ganhou-se respeito em todo o Piauí, pelo fato do “social” e “cultural” terem tido espaço para elevar o espírito de cada parnaibano e de muitos de fora, no tocante a compreender o seu papel na sociedade, a perceber que somos corresponsáveis pela administração púbica e, principalmente, que temos o direito de reclamar – os governantes são nossos funcionários.
Não acredito que alguém se achegou ao Grupo com o desejo de ser “um revolucionário”. Porém, ainda me apegando ao Aurélio Buarque, revolucionário também significa aquele que busca a transformação política, social e econômica. Nem sempre se precisa de armas para isso. O mais espetacular revolucionário que passou pela Terra foi Cristo. Ele dissera: “Se alguém bater na tua face direita, dê também a esquerda...” Pura harmonia. Com Ghandi também fora assim.
Ouço muita gente elogiar e dizer que o que é hoje, deve ao Movimento Social e Cultural Inovação. Isso demonstra que o Movimento marcou história e não precisou de “paus, pedras e cacos de garrafa”.
Não se conseguiu apenas “confusão”. E se tinha os momentos de lazer, em que se tomava uma cerveja, muito mais se tinha em ações planejadas com coerência e colocadas em prática com muita seriedade. Senão, o Movimento não teria alcançado tanta repercussão, a ponto do poeta Elmar Carvalho, respeitado em todo o Piauí, dizer: “Se alguém, algum dia, escrever um ensaio isento e imparcial sobre a cultura parnaibana, não poderá olvidar, jamais, o Jornal Inovação”.
Atentemo-nos para “ensaio isento e imparcial”. Pádua diz: “Os revolucionários daquele final de agosto de 1979 se mumificaram”. O sentido que o jornalista imprime é o da apatia: indiferença; falta de energia; falta de sensibilidade.
A colocação do amigo Pádua perdeu-se na infelicidade. Todos os que tiveram uma ligação mais direta com o Jornal Inovação são cidadãos ativos na sociedade. Prestam serviços de relevância, onde quer que estejam. Não importando a idade. O Danilo Melo desenvolve um trabalho de tanta envergadura, em Palmas, como Secretário de Educação e Cultura, que se lá muda o prefeito, ele continua. Nenhum prefeito quer se desfazer de uma administração que é modelo para o Brasil. Lá estão Reginaldo Costa e Flamarion Mesquita, integrantes também do Jornal Inovação, colaborando nessa administração exemplar.
Jonas Carvalho é jurista respeitado, em Brasília. O Francisco (Neco) realiza trabalho idêntico ao irmão Jonas. João Maria Madeira Basto – outro que também mora em Brasília – octogenário que demonstra lucidez mais que muitos jovens, escrevendo com elegância impressionante. Ainda por lá, temos a poetisa Ednólia Fontenele, que, à distância, luta para o engrandecimento de nossa cultura: recentemente se empenha em prol da melhoria do Jardim dos Poetas. Em Goiânia, Paulo Martins, continua trabalhando com inteligência e não menos criatividade, e, em Santa Catarina, José Luiz Fideles se destaca em empresa privada da construção civil. Existe trabalho mais dignificante do que o do indigianista José Porfírio, que o faz de forma progressista? Preciso falar dos que moram aqui?! – Alcenor Candeira Filho, Israel Correia, Bernardo Silva, Diderot Mavignier, Elmar Carvalho, Canindé Correia, Vicente de Paulo Araújo, Vera Coutinho, Murilo Castro, Inaldo Pereira, José de Meireles Neto, Socorro Cysne, Fernando Holanda, Bartolomeu Martins, Franze Ribeiro, Vanda Souza, Airton Menezes, José da Guia Marques e tantos outros conhecidos nossos?! Seria injusto considerar “múmias”, tanta gente correta, autêntica e em plena atividade?
Jornalista Pádua gosta de polêmica, no intuito de se autopromover, como se as coisas dependessem da vontade de uma única pessoa. Foi infeliz. E temos o compromisso de resgatar a verdade. Isto é fazer HISTÓRIA.
Muito interessante saber um pouco de uma época em que os movimentos literários fervilhavam nas cabeças pensantes do meu Piauí. Década de 70, eu ausente do Piauí e dessas ebulições culturais, visto que escolhera o anseio doméstico para fundamentar o casamento e os filhos. Rita de Cássia Amorim Andrade - romancista.
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