segunda-feira, 21 de junho de 2010

ARTE-FATOS ONÍRICOS E OUTROS



O ANJO REBELADO

Elmar Carvalho

O evangélico mais uma vez transmitia seus ensinamentos bíblicos, na periferia da cidade, a um homem simples, que mal sabia ler e escrever. Estavam, como das vezes anteriores, à mesa de jantar, com as Bíblias abertas sobre a mesa. A do instrutor continha notas e estudos aprofundados, e já estava bastante surrada pelo constante manuseio. O estudo daquele dia tratava da expulsão de demônios, operada por Cristo. Mas também fazia remissões ao livro de Gênesis, e abordava o episódio do pecado original, com as explicações sobre a árvore do conhecimento e a tentação perpetrada pela serpente, em que o velho Diabo se metamorfoseara. Como estudo correlato, a tentação de Cristo igualmente foi comentada, para mostrar a ousadia do demônio, que chegara ao ponto de tentar corromper o próprio filho de Deus. Nas vezes anteriores, o dono da casa sempre se mostrara humilde, cordato, de poucas palavras e de difícil entendimento, tendo o instrutor de se esforçar muito para que ele pudesse entender as explicações e exegeses bíblicas, por mais singelas que fossem. Porém, naquele dia, o homem se mostrava loquaz, eloquente mesmo, de argutos e sibilinos raciocínios, chegando inclusive a contraditar o seu instrutor e a questionar as suas explicações e ensinamentos. Parecia ter decorado a Bíblia, pois citava os trechos a que aludia sem o erro de uma única palavra, e indicava os capítulos e versículos com espantosa precisão. Falava com autoridade, como alguém que estivesse muito acima do interlocutor; e mais do que isso, explanava como se fosse testemunha ocular dos fatos narrados na Bíblia. O evangélico notou que ele parecia criticar as obras, os atos, as intenções e o próprio plano de Deus. Parecia ressentido contra o Criador. Construía as frases de forma bem articulada, com absoluta correção gramatical, com pronúncia impecável e com uma clareza inigualável. Embora parecesse sofismar, e por vezes cometer paradoxos, seus argumentos tinham a aparência de profundos e de infensos às dúvidas comuns dos mortais. O instrutor cotejou as citações e os números dos versículos e capítulos e constatou que não havia erro, o que mais ainda aumentou o seu assombro. Quando aquele homem, outrora simplório, mas no momento tão cheio de autoridade e de aparentes certezas e verdades absolutas, falou no caos primordial e em Adão e Eva, narrou fatos que não estavam nas Escrituras, mas que ele parecia haver presenciado, e sempre o fazia de forma maliciosa, como se pretendesse por em dúvida os verdadeiros desideratos do Onipotente. Essa forma de desrespeito ao Senhor, acabou por provocar uma revolta no evangélico, que lhe perguntou como ele poderia ter tanta certeza do que afirmava e como ousava por em dúvida a benevolência de Deus. O homem respondeu de forma tranquila, mas firme e peremptória: – “Porque eu estava lá!” O instrutor arrepiou-se todo. Os cabelos como que se eletrizaram. Um pavor indescritível lhe tomou o ser e a consciência. Não sabe como deixou aquela casa. Quando voltou a si, estava a dois quarteirões de distância, todo trêmulo e ainda com a pele eriçada. E só então se deu conta de que conversara com o próprio Satã, o anjo rebelado.

Um comentário:

  1. Ve-se que és faltoso de conhecimento bíblico e do meio evangélico, eis que aquele que é realmente evangélico jamais fugiria ou se arrepiaria e, correria de satã, demonio, diabo ou lá o que seja manifesto naquele homem simples, que ao ficar possesso se destacou em conhecimento, sendo que o tal é o pai da mentira!E, sendo assim, em nada há o que temer, mas CRER sim no que está escrito na Palavra de Deus!E em nome de Jesus, usar sim a autoridade dada por Deus para expulsar aquele mal daquele homem e ele ( o evangelico), ao dircernir o tal espírito e expulsá-lo dalí ,poder abençoar a todos ali presentes.Não se subestima demonios, eles conhecem sim a biblia, mas MAIOR é Deus e seu poder!Maior o que está em nós do que o que está no mundo.
    Abraços SR Elmar e que Deus o abençõe.

    ResponderExcluir