30 de julho
FLAGRANTES NO CÉU
ELMAR CARVALHO
Estive literalmente no céu. Mais precisamente no restaurante do Zé Nilson, situado na região da Fazenda Céu. De fato, a paisagem é paradisíaca. Quando fui para a beira-rio, para melhor contemplar a beleza ímpar do Parnaíba, uma ave canora, ou anjo – nunca se sabe ao certo as verdades limítrofes deste mundo e do outro – desatou umas notas musicais de inefável beleza. Disse que poderia ser um ente do outro mundo uma vez que o canto não era de nenhum pássaro do meu conhecimento. Com certeza, não era sabiá, nem corrupião, nem chico preto, as criaturas aladas de mais belo canto que conheço.
Dois homens falavam placidamente de negócios e serviços, enquanto tomavam banho, com certeza delicioso, sob o testemunho de um menino. Estavam à sombra de uma árvore ribeirinha, que lentamente amadurecia seus tenros frutos. A conversa só foi interrompida por uma canoa que passou perto deles, deslizando suavemente contra a corrente. O rio se embarreirava largamente, na bela, porém triste degradação ambiental, que lenta, mas inexoravelmente poderá conduzi-lo à morte de há muito anunciada.
À sombra de copada árvore, uma vaca, que mais parecia uma gorda e maternal matrona, ruminava preguiçosamente. Parecia ruminar o próprio tempo, que parecia não passar, como as águas do rio, que rolavam lentamente para o Atlântico. Voltei para a churrascaria do Zé Nilson, onde comi muito vagarosamente uma gostosa galinha caipira, à sombra do teto e de uma imensa árvore, que parecia sair do galpão. Na verdade, o telheiro nascera em seu derredor, servindo-lhe o tronco grosso e anoso de esteio e decoração. Não fiz nenhuma viagem mística, não precisei morrer, mas estive literalmente no céu.
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