sábado, 17 de julho de 2010

IN VINO VERITAS

Pádua Santos (*)

Charge: Fernando Antônio de Castro

“Três mil anos de história nos contemplam hoje, na cidade onde as bênçãos dos sacerdotes judeus misturam-se aos chamados dos muezins mulçumanos e os sinos das igrejas cristãs; onde em cada alameda e em cada casa de pedra foram ouvidas as admoestações dos profetas; cujas torres viram nações se erguerem e caírem – e Jerusalém permanece para sempre.”

Esta citação, que fala da eterna capital de Israel, foi lida pelo Presidente da Academia Parnaibana de Letras na posse do Padre Francisco Assis Soares, em data de 04 de fevereiro do corrente ano de 2010, e foi garimpada da vasta obra de Russel Norman Champlin, religioso e escritor norte-americano que atualmente reside no Brasil, em São Paulo, e tem vários livros publicados em português e em inglês.
Este grande estudioso da Bíblia nos fala de recente descoberta de arqueólogos israelenses dando conta da existência de aproximadamente 480 sinagogas em Jerusalém, no tempo de Cristo, e informa que Jesus freqüentava, assiduamente, tais templos.
É importante frisar que Jesus Cristo, segundo seus apóstolos, fez o sermão da Montanha (maior comício da história da humanidade) sobre um monte, daí o nome; também não utilizou qualquer sinagoga para a realização da célebre Ceia Mística – aquela onde foi instituída a Eucaristia. Preferiu o subúrbio da grande cidade, o Monte Cião.
O Padre Soares, que tem no seu nome o Assis do milagroso e humilde Giovanni di Pietro di Bernardone, e também por sua condição de padre – religioso que tem o dever de ensinar o evangelho, assim como Cristo, também se afastou dos pomposos salões e auditórios ricos ao preferir fazer sua festa de posse, como novo ocupante da cadeira de número 8, em uma simples churrascaria.
Os acadêmicos mais ortodoxos, aqueles acostumados com o feitio de posses anteriores, geralmente realizadas em salões nobres, com o Capitão dos Portos no meio da grande mesa ornada de flores importadas e servida por secretárias risonhas, estranharam a escolha de tal local.
Mas graças a Deus, e Deus parece que nunca esquece de ajudar os padres honestos, a solenidade foi, do começo ao fim, uma sucessão de sucessos.
Compareceram muitos acadêmicos, além de um expressivo número de senhoras e senhores da sociedade – até mesmo da “sociedade fashion” - como diriam os ilustres cronistas sociais se estivessem redigindo esta crônica. Fizeram-se presentes vários pastores católicos, ali liderados pelo Senhor Bispo Diocesano de Parnaíba, Dom Alfredo Scháffler. E como que completando aquele respeitável cenário religioso, também compareceu, representando o Instituto Histórico da vizinha cidade de Buriti dos Lopes, o seu Presidente, que tem no seu nome nada menos que o nome de um santo seguido de dois apóstolos – o convidado bom e amigo Doutor Bernardo Lucas Matheus.
O discurso de recepção, feito pelo confrade Carlos Araken Correia Rodrigues, nada deixou a desejar. Constituiu-se de peça bem elaborada, instruída com generosos conceitos de amizade, sem esquecer o necessário elogio acadêmico que se pode ouvir quando o sensível orador manifestou-se sobre o campo de ação do recém-empossado: “Atuou em todas as áreas possíveis e imagináveis, sem nunca perder a humildade e a sabedoria que são dois dos seus maiores predicados que tão bem o caracterizam. Pés no chão e olhos nas estrelas.”
O novel acadêmico, em efusivo discurso poético-filosófico, contundente e verdadeiro como suas constantes homilias; manso e fértil como os remansos do Longá – doce rio por ele invocado na oração – deixou evidenciado o seu contentamento ao dizer sem tergiversar: “Canta a alegria em suas nuanças prateadas de luar, doiradas de sol, bafejadas do aroma da vida de cada um de nós e que dentro de mim grita bem alto porque realizado que estou, pelo fato de que, neste momento, sou elevado ao “Podium imortalitatis” (“à Glória da Imortalidade”).”
Para finalizar a bela festa literária que, além dos méritos citados, festejou o final do tormentoso impasse criado para escolher um digno ocupante para a cadeira vaga com a morte do jurista, político e poeta Chagas Rodrigues, e porque “ninguém é de ferro”, todos foram convidados para um memorável coquetel oferecido pelo próprio imortal.
Coquetel bem aceito por todos os presentes! E não podia ser o contrário. Ali se discutiu e se concluiu harmoniosamente que pode sim, sem qualquer prejuízo à cultura parnaibana, uma posse acadêmica acontecer em uma churrascaria onde se come, conversa e bebe vinho. O mesmo vinho que Cristo transubstanciou em seu próprio corpo, no banquete da Última Ceia, para salvação dos mais diversos pecadores.
O sempre lembrado vinho. O vinho invocado pelos velhos romanos que um dia disseram com invulgar sabedoria: “In Vino Veritas” (No vinho está a verdade).

(*) O autor é o atual presidente da Academia Parnaibana de Letras (APAL) e ocupante da cadeira nº 1.

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