JOSUÉ MONTELLO
No entender deste velho amigo, o homem nasce para testemunhar a glória de Deus, e por fim volver ao silêncio e ao nada. Somente nós, com a nossa consciência adiantada, podemos reconhecer que tudo quanto nos cerca é obra de Deus. A imensidão. O céu estrelado. Os olhos de uma criança. O amor. A beleza. A bondade. Um por-de-sol no verão. O mundo florido na primavera. A neve caindo. Uma linda mulher nua. A obra de arte. A vagarosa conquista do homem desvendando os segredos da natureza. O canto dos pássaros. A música de Mozart. Os prelúdios de Chopin. As sonatas de Beethoven. A beleza frágil das borboletas. O contraste de uma garça e de um rinoceronte. Tudo obra de Deus. Testemunhado pelo homem. Este existiria para testemunhar.
E o amigo concluía, já apoiado em sua bengala:
- Por isso me ajoelho. E rezo. E dou graças a Deus. Por ter tido a oportunidade de ver tantas maravilhas. Contento-me com o que pude admirar. Gratíssimo. Volto ao nada, que é também obra de Deus. Porque só Deus pode fazer um punhado de terra. E transformar um pouco de terra em ser vivo. Como eu. Como você.
Insisti:
- E se Deus lhe desse outra vida?
Olhou-me. Sorriu. Permaneceu em silêncio. Depois, lembrado certamente de tudo quanto a vida lhe dera, como experiência profunda, baixou a cabeça, conseguindo dizer, humildemente, reconhecidamente:
- Não exijo. Não peço. Sou grato pelo que recebi.
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