sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

PARA QUE OUVIDOS?

Charge: Gervásio Castro

ALCIONE PESSOA LIMA

Desde quando aprendi a falar que exercito mais a oratória. Meus ouvidos não foram educados a escutar. E sempre faço cursos para melhorar a minha condição de orador. E a vaidade busca intensamente trilhar pelos caminhos da fala.
O ego resmunga: ouvir para que? Desconhece a sutileza da audição.  O mundo somente quer aprender a falar. Daí, diz Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”.
Sinto, assim, uma dificuldade tremenda em ouvir, pois prefiro trilhar na tagarelice e se não prevalecerem os meus argumentos, que a minha falação preencha o vazio da dos outros. Um discurso pronto ou por acabar, desde que sob o comando do meu ponto de vista.
Muitas vezes em reuniões com amigos ou familiares, ou mesmo colegas de trabalho, percebo todo o burburinho, onde todos falam de uma vez só, chegando alguns aos gritos, para expressarem os seus pontos de vistas. Não seria melhor ouvir o outro e depois expor nossas argumentações? Bem, seria, mas se todos soubessem ouvir também. Até por que tudo é questão de educação mesmo.
O problema, com certeza, de agirmos assim, é um puro reflexo de nosso egoísmo/egocentrismo, pois sempre achamos que a nossa opinião ou experiência é  melhor que a do outro e não aceitamos nem ouvi-la.
E tudo vai se tornando em um comportamento generalizado. Uma babel sem tamanho em que as pessoas já não se entendem mais.  Reflexos dessas atitudes são ostensivos no trânsito, em locais onde as pessoas abrem os sons de seus carros e disputam o prêmio imaginário de quem provoca maior poluição sonora...
Parece incrível, mas fico feliz quando tenho problema de garganta e, sob recomendação médica, tenho que baixar o tom da voz ou mesmo calar. Ainda bem que, segundo a última consulta à fonoaudióloga, não tenho qualquer problema de audição. Então, um ótimo motivo para aceitar aquela máxima popular: boca calada não entra mosca!

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