segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

ARTE-FATOS ONÍRICOS E OUTROS


TRAIÇÃO E MORTE

Elmar Carvalho

Marcos vinha de um casamento fracassado, do qual tivera três filhos. Chegara a suspeitar da mulher, por causa de alguns atrasos no retorno do serviço, de algumas compras demoradas, e de uma vez em que não a encontrara no seu local de trabalho. A mulher tudo explicou, de forma segura, convincente, sustentando-lhe o olhar, sem gagueiras, sem titubeios, sem incoerências e sem contradições. Mesmo assim, desconfiado como era, contratou detetive particular para lhe seguir os passos. Após quatro meses, recebeu circunstanciado relatório em que a fidelidade da mulher lhe foi assegurada. Apesar disso, os desgastes naturais da vida em comum, as incompreensões recíprocas, as rotinas no relacionamento, o minguar da paixão inicial, tudo terminou contribuindo para o divórcio.

Resolveu passar a ter relacionamento esporádicos, e até mesmo recorreu a moças de programas. Contudo, encontrou uma mulher com quem muito se afinava, e que também vinha de um casamento desfeito, felizmente sem filho. No início, se encontravam em lugares públicos e em motéis. Depois, a mulher já pernoitava em seu apartamento, e vice-versa. Com o passar do tempo, passavam os finais de semana na companhia um do outro. Por fim, resolveram morar juntos, e dois anos depois decidiram casar, no religioso e no civil. Marcos disse à mulher não admitir traição, e lhe contou o motivo de sua separação anterior. Creusa, sem ênfase, para não demonstrar ter ficado ofendida, mas com firmeza, lhe respondeu que ficasse despreocupado, quanto a isso, pois o amava, e, além do mais, sua índole não lhe permitiria cometer tal indignidade.

Após uns três meses do casamento, Creusa disse ao marido estar grávida. Estranhou o fato de Marcos não ter demonstrado alegria. Na verdade, notou-lhe certa frieza, e até mesmo contrariedade. Como o homem tenha dito que poderia ela estar enganada, achou que a reação de apatia, senão mesmo de tristeza, poderia vir dessa dúvida. Por isso, disse-lhe que oportunamente repetiria o teste. Mas não precisou fazê-lo, porque em pouco tempo a sua barriga tirou qualquer dúvida por ventura existente. Para sua perplexidade, a tristeza do marido apenas aumentava. Aparentemente não mais a desejava. Aliás, parecia que passara a lhe ter repulsa, e já não mais a procurava, e até se afastava, quando a mulher o acariciava.

Certa noite, quando Creusa retornou da rua, onde fora comprar o enxoval do bebê, encontrou o marido com o aspecto transtornado e o olhar desvairado. Na mesa, ele havia colocado uns papéis, e algo encoberto por um guardanapo. Marcos, sem rodeios e sem meias palavras, falou: “Você é uma vagabunda e cínica. Quanto cinismo e quanto teatro, sua cretina... Nunca eu lhe disse, e isso foi de propósito, mas eu fiz vasectomia, e portanto esse teu filho não é meu filho, sua safada”. A mulher jurou que devia haver um engano, porquanto nunca o traíra, porém o marido foi implacável na acusação, e quanto mais ela lhe jurava fidelidade, mas ódio ele parecia sentir, enquanto exibia o atestado e o laudo de sua vasectomia. Depois, como louco ou possesso, retirou o revólver de debaixo do pano, e matou a mulher com três tiros. Em seguida, se dirigiu à delegacia do bairro, onde tudo confessou, a exibir os documentos da cirurgia, que o tornara impotente para a concepção.

O delegado era experiente e muito criterioso, e não obstante as provas da vasectomia e a confissão firme do autor do crime, mandou fosse feito exame de DNA na falecida, no feto e no homicida. O resultado apontou, com possibilidade quase zero de erro, ser Marcos o pai do menino que estava sendo gerado no ventre de Creusa. Mandou, então, examinar o que ocorrera com a suposta vasectomia. Descobriu-se que o canal deferente se havia restaurado, em caso raro, mas não impossível de acontecer. Marcos ficou como louco, taciturno, calado, com o remorso a lhe corroer a alma. Poucos dias após, foi encontrado morto, pendente de um lençol branco, caprichosamente enrolado como uma corda. O olhar esbugalhado fitava a monotonia da parede branca. Aliás, parecia fitar exatamente um ponto muito pequeno, quase invisível, no qual se lia, em letras de sangue, a palavra perdão.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

ANTOLOGIA DO NETTO

JOÃO DE DEUS NETTO


CUNHA E SILVA FILHO

Doutor em Literatura Brasileira pela UFRJ. Titular de língua inglesa aposentado do Colégio Militar. Lecionou literatura brasileira, língua inglesa no curso de Letras, inglês instrumental nos cursos de Comunicação Social da Universidade Castelo Branco.Ensaísta, crítico literário, cronista, tradutor, colaborador, desde 1963, em jornais e revistas, sobretudo do estado do Piauí. Autor de Da Costa e Silva: uma leitura da saudade (Editora da UFPI/Academia Piauiense de Letras, 1996; Da Costa e Silva: do cânone ao Modernismo. In; SANTOS, Francisco Venceslau dos. Geografias literárias - Confrontos: o local e o nacional. Rio de Janeiro: Editora Caetés, 2003, p. 113-124; Breve introdução ao curso de Letras: uma orientação. Rio de Janeiro: Editora Quártica, 2009. Tem mais três livros, As ideias no tempo, Aquela noite de Shakespeare e A sollidão na terra.Colunnista de Letra Viva, site Entretextos, de Dílson Lages. Colabora para o Diário do Povo, Teresina, Piaui. Seus interesses em literatura brasileira se concentram na relação entre literatura, pobreza e marginalidade.Da União Brasileira de Escritores(Piauí).

sábado, 26 de fevereiro de 2011

RAZÕES DE NÃO SER FICCIONISTA


CUNHA E SILVA FILHO

Uma vez um dos meus filhos, me confessara: “Papai, sou de uma área humanístico-científica, mas, como admiro quem escreve ficção, seja romance, seja, novela, seja conto! E ainda mais, viver apenas do suor da pena, da força da escrita, circunstância feliz que dá a alguém um sensação de liberdade quase absoluta.” Creio que inventar vidas e conflitos seja algo maravilhoso. Extrair do nosso próprio talento situações, tempos, eras, personagens, paisagens, cores, sons, perfumes, cheiros, espaços, ambiências, linguagens, seja em que estilo narrativo for, mas desde que convincente e criativo na harmonia do todo e na capacidade de verossimilhança, de convencimento, de espontaneidade em lidar com fatos e a realidade, sem , contudo, duplicar esta servilmente tentando artificialmente compor histórias forçadas, sem sopro algum de vida e sem personagens de “carne e osso”, como diria o velho e esquecido crítico Agripino Grieco (1888-1973)
Dar vida plena a tudo isso, fazendo com que o leitor, ao abrir as primeiras páginas de uma história, se veja em outra plano de uma existência parecidíssima com o chamado mundo empírico, porém urdido com um convencimento tão notável que, ao fim, faça aquele leitor sentir ser a vida um a realidade bem menos completa e interessante do que a imaginária e, além disso, com aquele poder mágico e encantatório de ser capaz de penetrar no pensamento do personagem ou do narrador. Isso não é grandioso no domínio estético?
“Por que, meu pai, o senhor não se tornou um escritor, quero dizer, um ficcionista?” A estas indagações filiais, responderia que o melhor seria ler o que José de Alencar (1829-1877) e tantos outros escritores têm a afirmar sobre esse questão tão complexa e fascinante ao mesmo tempo.
Até poderia ensaiar alguma ficção com o esforço do intelecto, com a experiência da leitura de grandes autores brasileiros e estrangeiros e com o conhecimento teórico da estrutura do texto ficcional. Entretanto, existe algo mais que inibe a possibilidade de alguém se tornar ficcionista. Esse “algo mais” chamarei simplesmente de talento, um termo antigo, mas ainda bem indicado para essa ideia que tenho de alguém vocacionado para a criação literária.
Se não há talento, espírito inclinado ao ato de “fingere” “modelar, imaginar, fingir, compor” (MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literário. São Paulo : Cultrix, 1992, p. 229), ou a presença da “poesis” (para o poeta Wallace Stevens [1879-1955], “a poesia é a suprema ficção”), ou o uso adequado do mimetismo aristotélico, do “fabbro”, ou ainda a natureza contida na definição magistral de Fernando Pessoa(1888-1935) sobre a figura do poeta, num poema tão conhecido e citado, que é “Autopsicografia”, todo esforço de querer inventar mundos e vidas, intrigas e os chamados “mundos possíveis”, os mundos de papel barthesianos, fazendo a movimentação necessária do desenrolar da narrativa, da representação dramática, do diálogo ou do monólogo exterior ou interior, do trabalho de engenharia no uso do tempo e do espaço, do domínio indispensável da descrição, da narração, tudo isso perderia seu sentido mais elevado e pleno na criação artística. Tudo isso seria fracasso e não construção ficcional.
Se o escritor não reúne atributos inatos no uso da linguagem literária, na habilidade do desenho dos personagens, na construção da trama ou intriga e na expressão de sua cosmovisão, na descrição da natureza, dos objetos concretos, na visualização do ambiente físico ou psicológico dos personagens, no conhecimento perfeito da paisagem, do interior das habitações, do urbano e do campo, na descrição das ações físicas, nas expressões adequadas à situação narrativa, ou seja, se não for equipado com um vasto e variado domínio de vocabulário e o que for de artifício de técnica narrativa, seja por linhas de construção romanesca tradicionais, seja modernas ou pós-modernas, de nada adiantará ao “would be writer” desejar chegar à praia de uma criação literária de qualidade. Neste caso específico, não há oficina de ficção que dê resultados eficazes. Lembre-se o leitor de que aqui se está discutindo o campo da criatividade, da arquitetura do belo, do sensível, do palpável, do pictórico, do lúdico e de outras formas de construir experiências humanas e objetos naturais e culturais paralelos ao mundo físico-existencial, uma forma de idealizar, via emoção e beleza, o mundo imaginário através do chamado “correlativo objetivo” formulado por T.S. Elliot (1888-1965) A vocação é condição sine qua non do surgimento de um escritor verdadeiro.
No Brasil, e certamente em outras países, sempre tivemos exemplos de homens cultos, versados numa dada área, até mesmo associada às letras, que escreveram ficção sem que tivessem nenhuma repercussão, só se restringindo a um pequeno círculo de amigos que a leram e sobre ela se calaram ou fizeram algum comentário critico mais fundado na amizade do que no valor artístico da obra. São inúmeros esses exemplos.
O intelectual deve, portanto, tomar cuidado, auscultar sua consciência, conhecer melhor suas possibilidades e ser, antes de tudo, um severo crítico de si mesmo.
Encontrar o caminho mais afinado com o seu talento - e é aqui que a repercussão dos leitores conhecidos ou desconhecidos – vai jogar um papel decisivo – será a maneira mais correta de o intelectual não se iludir com uma suposta vocação para ficcionista.
Naturalmente, há os talentos múltiplos, que produzem, até em nível acima da mediania, abrangendo gêneros literários diversos. São as exceções. Todavia, mesmo neste caso, o talento múltiplo tem gradações qualitativas e de competência com frequência desigual com relação aos inúmeros gêneros por eles cultivados.
Um mínimo de autocrítica e, sobretudo, estar atento às repercussões dos leitores e de pessoas conhecedoras de literatura, tais como críticos, teóricos, professores de letras, amigos amantes de livros, escritores. Serão estes que servirão de baliza para que o candidato a escritor reconheça suas limitações e se dedique com mais intensidade aos reais talentos com que a natureza o prodigalizou.
Ante todas essas considerações, julgo que de alguma forma respondi à indagação de meu filho e à expectativa de algum leitor.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

FLAGRANTES & INSIGHTS

ELMAR CARVALHO

ECLIPSE

Como não é incomum acontecer nas pequenas cidades interioranas, sobretudo quando chove, a energia elétrica não deu o ar de sua graça, de modo que o motel Eclipse, localizado na margem da BR, estava completamente invisível na escuridão da noite chuvosa. Nunca o seu sugestivo nome foi tão apropriado. O indigitado motel literalmente sofrera um eclipse.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

DALILÍADA - épico moderno baseado na vida e na obra de Dalí

ELMAR CARVALHO


XXII

O tempo se disfarça
de relógio gelatinoso
e lavra os sulcos das rugas
na fina tessitura da
epiderme das mulheres.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

DIÁRIO INCONTÍNUO


23 de fevereiro

AS PERIPÉCIAS DA AUTORIDADE

Elmar Carvalho

No domingo, após o lançamento do livro do Fonseca Neto sobre o padre Vicente de Paula, conversei com o médico Humberto Guimarães. Além de psiquiatra respeitado, é um notável escritor e um agradável contador de histórias, em suas conversas, sempre interessantes. Seu livro Abyssus é uma obra de muito valor, em que ele coligiu pequenos ensaios de natureza biográfica sobre notáveis figuras da cultura universal. São textos densos, recheados de informações curiosas sobre essas personalidades, desfiadas em agradável narrativa, que prendem a atenção do leitor. Esses ensaios lhe revelam a admirável erudição, seu preparo intelectual, e sem dúvida seu enorme trabalho de pesquisa, na busca de coletar essa vasta gama de conhecimento.

Contou-me ele que certa autoridade dos cerrados piauienses tinha o hábito de dançar, para passar o tempo e driblar o tédio de seu insulamento em longínquo rincão. Indo esse homem a uma festa interiorana, tirou certa moça para dançar. Nesses tempos distantes, as mulheres, ao menos as das plagas mais distantes, não tinham elástico em suas calcinhas, que, comparadas às de hoje, seriam “calçonas”. Essas peças íntimas tinham as peças traseiras e frontais ligadas por laços e/ou botões. A nossa brava autoridade tinha uma dança espalhafatosa, em que ele levantava muito um dos braços, fazendo rápidos giros sobre o eixo do próprio corpo, além de se deslocar por todo o salão em vertiginosa velocidade. Com tantos giros e rodopios, com tantas marchas e contramarchas, com tantos requebros, saracoteados e quebra de asas, além do apressado deslocamento, com passos longos e sacudidos, a sua parceira terminou forçando o amarradio da calcinha, vindo esta a lhe cair pelas pernas. A descida da veste íntima funcionou como uma espécie de peia de prender animais, dificultando-lhe os passos e fazendo-a despencar. No seu cinematográfico estabaque, terminou arrastando a intrépida autoridade, que lhe caiu por cima, em pleno salão de dança, o que deve ter sido motivo de risos e chacotas, pois a situação inusitada deve ter sido realmente hilária.

Na localidade, havia uma jovem, muito bela e muito pálida, o que me fez lembrar as monjas maceradas dos poetas simbolistas. Na escola, na qual a autoridade exercia o magistério, invariavelmente o mestre exaltava a beleza da moça, mas sempre ressaltando a sua palidez, com certa ênfase e impertinência. Chegou ao ponto de lhe receitar umas pílulas, então em voga. Pelo visto, o homem, além de pé de valsa e de forró, professor e autoridade, era também uma espécie de facultativo, como se dizia outrora. Como a palidez da bela jovem continuasse, o nosso heroi, em virtude de ela morar em pequena casa, na companhia de um irmão, comentou que ela provavelmente estava sendo “possuída” pelo rapaz, e que sua cor pálida se devia a isso. Ora, naqueles idos, em que as moças se mantinham virgens até o casamento, mormente nos insulados rincões da hinterlândia piauiense, essa suspeita era uma ofensa de extrema gravidade, ainda mais grave por causa do ingrediente da acusação de incesto.

A família da jovem ficou “injuriada”, como se falava no local e na época, e prometeu dar cabo da autoridade. Esta, que morava na dependência de um prédio público, um tanto isolado à noite, ouviu barulhos estranhos, certa madrugada, como se alguém estivesse tentando arrombar a porta. Sem perda de um segundo, fugiu pelos fundos, e saltou o muro do edifício. Em virtude de seu cargo, conseguiu adquirir um revólver na capital, já que se disse ameaçado de morte. Retornando a sua jurisdição, notou certa feita um movimento estranho, perto de um arbusto, ao atravessar a escura praça da cidade, porquanto não havia luz elétrica e nem era noite de plenilúnio. A autoridade não vacilou, e sem delongas atirou contra o vulto. E o viu cair imediatamente. No dia seguinte, na praça central da cidadezinha, foi encontrado morto um inocente e inofensivo jegue, que costumava aparar os capins da pracinha, podendo ser considerado o seu vigia e jardineiro. Se não fosse uma ofensa aos asnos, muitos poderiam perguntar sobre quem era mais jumento, se o próprio, ou se a autoridade que o abateu.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

DIÁRIO INCONTÍNUO



22 de fevereiro

AS PINÇAS DE CÂNCER

Elmar Carvalho

Ontem, a médica Cristiane Napoleão, responsável pela administração da quimioterapia a que me submeti sete anos atrás, disse que eu já posso me considerar curado do tipo de câncer de que fui operado no dia 17 de fevereiro de 2004, pelo cirurgião e oncologista Gil Carlos. Este já me havia dito, algumas semanas antes, que já me posso considerar curado, uma vez que praticamente não há registro de recidiva desse tipo de neoplasia, após sete anos da cirurgia. Em Deus eu já me considerava liberto desse mal.

Creio que no começo de fevereiro de 2004, o cardiologista Francisco José Lima, hoje coronel da Polícia, irmão maçom, descobriu que eu estava acometido de forte anemia, e que, certamente, estava perdendo sangue. Recomendou-me que procurasse meu gastroenterologista para investigar o caso. Procurei o irmão maçom e conterrâneo Valdeci Ribeiro, que detectou o problema, e retirou material para fosse feita a biópsia. Esta descobriu que eu tinha lesões cancerígenas no cólon do intestino grosso. O doutor Valdeci foi direto em dizer-me, na presença de Fátima, minha mulher, de minha irmã Maria José, e de meu cunhado Zé Henrique, que não havia tratamento, e que a única solução era a cirurgia. Era um dia de sexta-feira. Pediu a seu colega Gil Carlos Modesto que desse um jeito de me receber nesse mesmo dia, o que aconteceu. Repetiu-me este médico que a cirurgia era inevitável. Deus me deu forças para não fraquejar nessa adversidade. Assim, diante do inelutável, pedi-lhe, então, que me operasse o mais rápido possível. Ele mandou que eu fizesse determinado exame no sábado, e me internasse no hospital São Marcos, na segunda-feira, que ele faria a cirurgia na terça. Assim aconteceu, e assim foi feita a colectomia parcial.

Nesses momentos difíceis, a pessoa percebe a importância dos familiares mais próximos e dos amigos mais chegados, o consolo das palavras fraternas e o poder das orações. Minha mulher concentrou quase todo o seu esforço e energia na recuperação de minha saúde, quase abdicando de si mesma. Quando meu pai me viu passar na maca, ainda sob o efeito da anestesia, derramou profusas lágrimas, quase desesperado, desamparado, no corredor do hospital. Meu pai, durante os seis meses em que fiz o tratamento quimioterápico, rezava fervorosamente durante longos minutos ou mesmo horas. Não preciso dizer que minha mãe também fazia o mesmo, embora de forma mais contida, como é do seu feitio. Minha irmã Maria José ficou muito abalada quando recebeu a notícia da lesão, no consultório médico. Soube que o seu marido, o saudoso Zé Henrique, aparentemente durão, mas de alma boníssima, também verteu lágrimas, quando foi contar o caso a um amigo comum.

Como reconhecimento e em sinal de minha profunda gratidão, quero citar alguns amigos, entre vários outros, que se excederam em bondade, nessa hora tão difícil. O saudoso deputado Humberto Reis da Silveira, meu amigo, na legítima e pura acepção da palavra, me visitava todo dia, tanto no hospital como em minha casa. Às vezes, para não me cansar, sequer falava comigo, mas perguntava à minha mulher, pessoalmente, e não por telefone, como é que eu estava. O Reginaldo Ferreira da Costa veio passar várias semanas conosco, para ajudar a minha mulher a cuidar de mim, tanto na administração de medicamentos e compressas, como na vigília durante os dez dias em que fiquei internado. Essa demora se deveu ao fato de que rejeitei a comida hospitalar, e o médico disse que só me daria alta quando eu passasse a aceitar a alimentação.

Passei o carnaval de 2004 no hospital, em companhia do Reginaldo, grande admirador da beleza feminina, sobretudo das morenas e das mulatas. Ficava ele a assistir aos desfiles carnavalescos pela televisão, embevecido com os requebros e rebundolâncias faceiras das morenas em flor. Quando, já em minha casa, ele me colocava a compressa, eu via e sentia que ele fechava os olhos e silenciosamente orava. Não quero, nesta oportunidade, usar adjetivos, para qualificar os favores desses amigos; não há dinheiro que os pague e nem palavras que lhes dê a exata dimensão espiritual e sentimental. Vários outros amigos me visitaram e me deram a sua solidariedade. Entre eles, cito a professora Clea Rezende Neves de Melo, que já se preparava para vir me visitar, vinda de Brasília, pois correra o boato de eu fora desenganado pelos médicos. Aliás, chegou mesmo a circular o boato de que eu havia morrido, pois nessa época faleceu o juiz Vilela, daí ocorrendo a confusão. Ó, quão bom é ter bons amigos... Meus amigos, Deus lhes pague!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

PELOS CAMINHOS DE MINAS E DO ESPÍRITO SANTO




ALCIONE PESSOA LIMA

Um dia desses, em que eu estava com o espírito aventureiro aguçado, resolvi sair pelas bandas das Minas Gerais. Logo após adentrar aquelas terras, deliciei-me com a beleza do “Velho Chico”, em tempos de grande enchente. Estava revoltoso como a demonstrar ódio pela destruição do homem ao seu leito e margens. Ali, eu e mais três companheiros, saboreamos um maravilhoso manjar, pescado naquelas águas.

E empós, seguimos viagem rumo à tumultuada, mas encantadora Belo Horizonte ou, como dizem os mineiros, “BH”. Antes, atravessamos Sete Lagoas, e logo me veio à lembrança o seu ilustre e saudoso filho “Zacarias”, comediante, há tempos falecido. Parece até que ouvi a sua maravilhosa risadinha.

Seguindo por aquelas paragens, comparei-me aos aventureiros nordestinos rumo à cidade prometida (São Paulo) e, então, saltou-me à memória os versos do grande patativa do Assaré, na “Triste Partida”:

Por terras alheias.
Nós vamos vagar.
Meu Deus, meu Deus
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Cá e pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar
.”  

O carro a correr a estrada, até que, já cansados, resolvemos pernoitar em João Molevar, uma cidadezinha simples, como é a gente mineira. Após um relaxante banho de piscina, fomos ao restaurante do hotel e tomamos um saboroso café com pão-de-queijo. E como é diferente o que eles fazem por lá!Inigualável!

Atento a cada detalhe, observei a forma como o mineiro fala, o sotaque, daí captei um diálogo entre dois conterrâneos: um ancião  sentado na calçada de sua residência, cumprimenta o vizinho que passa: “Bão, João?”. E outro, sem levantar os olhos, respondeu: “Bão!”. E tudo aquilo sem pressa.

Ao amanhecer, fomos até outra cidadezinha próxima a João Molevar, de nome São Pedro dos Ferros, para uma das companheiras rever uma “ex-sogra” ou mesmo, disfarçadamente, um ex-namorado.

Um dos companheiros sempre ao volante, até porque se trata de um aventureiro, já era acostumado por aquelas terras, como também gostava de dirigir, e ia explicando tudo, tornando, assim, mais interessante o passeio. Eu, somente a fotografar e admirar os vales e montanhas.

Por fim, atravessamos aquele Estado, vindos de Brasília, e fomos conhecendo lugarejos encravados nas serras, deles colonizados por alemães (Domingos Martins), até avistarmos e descansarmos um pouco na encantadora “Serra Azul”. Cenário de cinema! A natureza a nos revelar o seu encanto. Lugar propício a alpinistas, que, pelo simples prazer da aventura, arriscam suas vidas naquelas montanhas. Pareciam lagartixas.

De repente, ao iniciar da tarde, estávamos em Vitória, encantadora capital capixaba. Belas pontes! Uma mini Rio de Janeiro, com suas favelas. Daí, lembrar o grande Chico Buarque: “é gente humilde, que vontade de chorar”.

No alto do morro, o Convento da Penha. Estivemos lá e aproveitamos as belas paisagens daquela cidade.

Seguimos pela translitorânea (BR-101), no sentido Rio-Bahia e ficamos por três dias na cidade de São Mateus, antigo porto de escravos, onde há um rio de águas escuras. Dizem que contém lanolina. Achei que fosse petróleo, mesmo sabendo que não poderia haver uma mistura homogênea com a água.   

Era no período do Natal. Após suas festas, voltamos à Vitória e rumamos para o litoral sul do Espírito Santo, até chegarmos à famosa Guarapari, praia que tem mais mineiro que capixaba.
Pela estrada (privatizada), aproveitamos para comprar panelas de barro para futuras moquecas, obviamente, sem o uso do dendê, característica da moqueca baiana, como dizem os capixabas (e nós, também): “peixada”.

Já de volta a Minas, beirando as terras cariocas, começamos a sentir os ares da história do Brasil. Passamos pelo berço do grande Santos Dumont, que dá nome à cidade. Três Corações também nos fez relembrar outro herói brasileiro, o Rei Pelé. Lamentamos que em sua homenagens haja somente uma pequena e  humilde praça na qual está encrava uma estátua de seu filho ilustre.

Entre serras e vales, com muita plantação de café e desenvolvida pecuária, chegamos a Mariana, com suas igrejas seculares. Lá, ouvimos de um cicerone aulas sobre os ilustres mortos sepultados naqueles templos, construídos no estilo barroco. Ouvimos muito falar em “Aleijadinho”. E o belo passeio de “maria-fumaça”, pela “Estrada Real” (por onde o ouro do Brasil se esvaía) até a histórica Ouro Preto, terra dos inconfidentes? Paisagens inesquecíveis: cachoeiras, rios, túneis etc. Às vezes assustadoras, mas sempre surpreendentes. Lá, dizem os bêbados que ainda ouvem a voz da musa inspiradora de Tomaz Antônio Gonzaga (Marília de Dirceu), a recitar os versos: “Graças, Marília bela, graças à minha Estrela”.

Ao aproximar-se o final do ano, chegamos ao “Circuito das Águas”, região composta, dentre outras cidades, por Caxambu e São Lourenço, onde há águas medicinais e são visitadas por muitos turistas. Um ar bucólico, sentido, principalmente, em passeios de elegantes e exóticas charretes ou na travessia de lagos, através de teleféricos.

Em tudo por aquelas terras há poesia, história, cultura a serem conhecidas e sentidas. Até a maravilhosa Itabira, terra do poeta-maior, Carlos Drumond de Andrade, me inspirou versos nunca d’antes imaginados.
Ao entardecer, já de volta a Brasília, chegamos à romântica
Araxá. E lá estava a nos comover um lindo chalé, onde residiu Chica da Silva. Paramos no pátio do lindo Hotel Termas de Araxá, com sua construção imponente e parque ambiental acolhedor. Voltamos à entrada da cidade e resolvemos ali pernoitar. Não sem antes saboreamos uma maravilhosa picanha, que insisti em patrocinar a todos, principalmente, ao heróico motorista. E de lá não saímos sem comprarmos algumas peças artesanais.

Estávamos, assim, na região do “Triângulo Mineiro”, onde estão encravadas Uberaba, Uberlândia e Araguari. Esta serve de chacotas para os filhos das outras, por ser mais humilde e menos desenvolvida. Dizem, que são os três “B”: “Beraba”, “Berlândia” e a “bosta do Araguarí”. Pura maldade!

O carro a correr a estrada, e avisadamente, pois há ostentosas placas, chegamos pelas terras de Goiás. Lugar, dizem, de mineiros aventureiros que se tornaram os seus filhos, tanto que os sotaques são parecidíssimos.

Enfim, saciados pela aventura, ou mesmo com um disfarçado gostinho de quero mais, sem conseguirmos obliterar aqueles caminhos que tanto nos deram prazer e alegrias, guardados na memória, chegamos ao Distrito Federal, ponto inicial de todo esse trajeto.
 
Saúde, Minas Gerais e Espírito Santo! 

FLAGRANTES & INSIGHTS


SINAL FECHADO

Elmar Carvalho


Percorrendo hoje a avenida Kennedy, no sentido norte-sul, encontrei sempre o sinal de trânsito em luz vermelha. Ora, os semáforos, mormente nos dias de hoje, com a frota de veículos aumentando assustadoramente a cada minuto, deveriam ser sincronizados, de modo que os sinais verdes fossem abrindo, no cruzamento seguinte, alguns segundos após o outro. Mas, hoje, por volta das nove horas, parece que estavam sincronizados às avessas, de maneira que após o verde, no semáforo posterior, abria o vermelho, para exatamente atravancar o trânsito. Como diria Holmes: elementar, caro Watson!...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

FLAGRANTES & INSIGHTS


OLHO DE DEUS

Elmar Carvalho

Recebi e-mail, enviado pelo poeta Francisco Miguel de Moura, encaminhando-me uma fotografia do Olho de Deus. Consta, no anexo, que essa imagem só aparece a cada três mil anos, e que a foto já “produziu milagres em muitas vidas”. Solicita que a pessoa faça um pedido. Por fim, diz que a pessoa verá mudança em sua vida. Na verdade, trata-se de uma fotografia da nebulosa Helix, captada pelo telescópio espacial Hubble e divulgada pela NASA. Não fiz apenas um pedido; fiz vários. Pedi a Deus para me dar paciência, juízo, sabedoria, e que me fizesse um instrumento de sua vontade, mas me desse as qualidades necessárias para isso. Quando, atendendo a recomendação da mensagem, fui enviá-la a várias pessoas, observei que a seta de clicar estava piscando intensa e rapidamente, como nunca eu tinha visto antes. Pensei até que o clique para o repasse do e-mail não iria funcionar, mas funcionou sem nenhum problema. Interpretei esse pisca-pisca como uma sinalização de que Deus me havia escutado. Humildemente, contudo, devo dizer que não sei se Ele irá atender a minha prece, porquanto posso não estar preparado para receber o que pedi. Entretanto, como se diz na linguagem forense, reitero o que pedi e espero deferimento.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

LANÇAMENTO DE HISTÓRIAS DO PADRE VICENTE


DOM JUAREZ SILVA E PADRE VICENTE, NA SOLENIDADE DE POSSE DE FONSECA NETO NA APL

Neste domingo, dia 20, às 10 horas, no auditório da Academia Piauiense de Letras (Av. Miguel Rosa, 3300/Sul) acontecerá a solenidade de lançamento e autógrafo do livro Histórias do Padre Vicente, da autoria do professor e acadêmico Antônio Fonseca dos Santos Neto, cujo convite está sendo feito pela Academia de Letras, História e Ecologia de Pastos Bons e Região Integrada, pela Academia Caxiense de Letras e pela Paróquia de São Sebastião de Passagem Franca. Padre Vicente é vigário de Passagem Franca – MA, terra natal do autor, há vários anos, tendo sido pároco também em Pastos Bons. O livro já foi lançado em Passagem Franca, e será apresentado ao público na cidade de Caxias, sua terra natal, hoje.

RIO PARNAÍBA (VELHO MONGE) PEDE AJUDA (*)



ALBERTO ARAÚJO

Nasço distante
entre rochedos e matagais...
tenho pressa, tenho que correr
preciso dar de comer a quem tem fome
preciso dar de beber a quem tem sede
sei a hora de chegar
sou moço bom, em mim tu podes navegar
tenho nome
identidade
tenho até apelido, na intimidade
tantas e tantas vezes eu choro
quando em mim tu te afogas
pois quisera nesse momento
ter cabelo de Sansão
para te segurar
de mim terás comida
água boa
podem até se banhar
não podes dormir em meu peito
pois é muito profundo o meu leito
no entanto, sou tão indefeso
os covardes
depositam em mim, imundícies-dejetos
todo tipo de lixo
por isso estou eu doente
tenho uma dor no peito
quero ainda ver o teu filho crescer
o teu neto nascer
e compartilharem comigo um sorriso
um abraço forte e sincero
por favor, me ajudem a viver
não quero morrer.

(*) Poema da predileção do autor, que mora atualmente em Niterói-RJ.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

DECÁLOGO

ANTÔNIO ALBERTO ARAÚJO – Nasceu na cidade de Luzilândia-PI. Casado com a psicóloga Shirley S. Lopes. Atualmente reside em Niterói-RJ - poeta, escritor, contabilista, professor, e licenciado em letras/português pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI - desde cedo que escreve poesias, contos, etc. tem um vasto conhecimento na poesia lírica, termo que mais o identifica. Já é muito conhecido pelo o Brasil, e parte do mundo, além deste publicou; “Caminhos percorridos Eu e a Poesia- poemas”. Participou da I Antologia dos poetas contemporâneos do Brasil, pela editora In house, livro que foi lançado na Bienal 2010-São Paulo-SP. Breve publicará o seu terceiro, será um romance. Sua poesia tem também característica social e contemporânea. Assina vários sites e blogs. Em seu site oficial conta-se com mais de 90 mil leituras. As maiorias dos seus trabalhos estão sempre sendo divulgado na Internet, para se ter acesso às sua poesia basta acessar os sites/blogs.
site português: http://www.lusopoemas.net/
blog: http://albertaraujo.blogspot.com/
blog: http://sitedepoesias.com.br
contato - e-mail: alberto_bacana@hotmail.com
a.alberto.sousa@bol.com.br.



ANTÔNIO ALBERTO ARAÚJO

Perguntas formuladas por Elmar Carvalho

1 – Como e quando foi o seu início como leitor de literatura?

R - Com certeza Iniciei aos meus dez anos, foi minha professora de Literatura, que me emprestou o livro "O Guarani" de José de Alencar, lembro que li e reli e fiquei fascinado com a história, e depois li "Iracema", esse livro me fascinou ainda mais, desde então me entreguei a literatura de corpo e alma. Digo sinceramente não consigo ir para a cama sem ler algo literário.

2 – Como e quando começou a sua atividade literária?

R-  há poucos anos, mas desde cedo já escrevia meus textos. E sempre mostrava aos meus amigos. Ainda tenhos todos eles digitados, hoje já são mais de tres mil textos, entre poesias, contos. etc.

3 – Teve influências literárias? Se teve, quais foram essas influências?

R - Sim, digamos um pouco,sempre gostei de autores do meu velho Piauí, Mauro Faustino,Torquato Neto, O.G. Rego,(Rio Suterrâneo, simplesmente genial), Lado da Poesia vem, Da Costa e Silva, H. Dobal, Francisco Miguel de Moura, Alcenor Candeira Filho, Rubervan du Nascimento,(esse é meu amigão, no meu livro tem uma poesia para ele), Elmar Carvalho,são tantos... Esses escritores e poetas eu sempre li, mas,  todos nem sabiam que eu existia é claro, sempre fiquei no anonimato, nunca apareci publicamente, nunca quis isso, somente no ano de 2008, já com 45 anos, que eu me revelei, No encontro de Literatura de Luzilândia que apresentei meu trabalho. Participei do bate papo do SALIPI, Fiz parte da I antologia do poeta contempoâneo do Brasil, que foi lançado na Bienal de São Paulo de 2010, e agora já está na editora o meu segundo livro solo.e vou fazer parte novamente da II antologia do poeta contemporaneo do Brasil, que será lançado na Bienal do Rio de Janeiro 2011. Agora sou muito conhecido por todo o Brasil, e parte do mundo. Assino vários sites e blogs,

4 – Qual o fato mais marcante de sua carreira literária?

R- Quando participei da Bienal 2010 de São Paulo 

5 – Como conseguiu editar seus livros?

R - Minhas reservas, poupando cada centavo. Não recebi ajuda de nenhum orgão publico. Então publiquei meu primeiro livro solo, pela Editora SECCO de Florianópolis-SC, do dinheiro que vou vendendo meus livros juntei novamente e agora estou editando o meu outro livro solo, chamar-se-á "Identidade do Sol" - 196 paginas e sairá pela editora ALL PRINT, uma das editoras mais conceituadas de São Paulo, a mesma editora da escritora Maria Teresa Moreira - de Depressão Surda.

6 – Qual o principal livro e qual o principal texto (conto, crônica, poema, ensaio etc.) de sua autoria?

R -  "Caminhos Percorridos Eu e a Poesia - Poemas" - ANTONIO ALBERTO ARAUJO - este livro pode ser encontrado no Piauí, na Livraria Piauiense -  da Rua Frei Serafim - falar com Jucinéia. 
O principal texto é "O Rio Parnaiba(Velho monge) pede ajuda" - está na página 175 do livro "Caminhos percorridos Eu e a poesia"
este texto fala de um rio sofrido, diante da degradação, dos dejetos que são atirados nele, um texto bastante reflexivo.

7 – Os órgãos oficiais de cultura do Piauí têm cumprido sua finalidade, no tocante à literatura? Comente.

R - Ainda tem muito que se fazer pela a Cultura Piauiense, não resta  dúvidas que é uma das melhores do Brasil, temos muitos autores bons, tantos veteranos como iniciantes,   Há uma deficiencia muito grande na incentivação, por exemplo porque não se coloca nas escolas, uma disciplina que se fale da Literatura Piauiense, digo assim uma disciplina que se aprofunde mais no contexto  biográfico, e obras dos autores, fazer disso a cartilha do aluno. Vejo um lado preconceituoso, a velha história que santo de casa não faz milagre, mero engano.

8 – Em relação ao Brasil, que diria da Literatura Piauiense?

R - Como iniciei anteriormente, a Literatura Piauiense, é uma das melhores do Brasil, e por que não do mundo. Já que temos tantos talentos.

9 – Que importância atribui à internet na divulgação literária?

R - Altamente importante, é aí que se conhece o mundo dos escritores, dos poetas, é aí que se pode ver que todos estão aqui para fazer um mundo mais belo, e retirar dos textos publicados pelos autores as nossas inspirações.

10 – Como e por que se fez literato?

R - A poesia para mim é como o ar que respiro, quando não sou o ator principal sou o coadjuvante.  A literatura foi e será sempre o meu objetivo na vida, viverei para escrever, viverei para ajudar adoçar um pouco mais a vida.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

DIÁRIO INCONTÍNUO

ELMAR CARVALHO

XXI

Nos primeiros dias da primavera
o espectro da tarde me rondava,
enquanto a vertigem da torre
era o vestígio da mulher
que eu amava (e que me amava)
disfarçada em sombra de fantasma
e cabeça de Grifo decepada.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

DIÁRIO INCONTÍNUO



16 de fevereiro

ADOLESCENTES & ABORRECENTES

Elmar Carvalho

Lembrei-me hoje de um conversa que tive com o Ataíde Coelho, fiscal da Fazenda Estadual, durante caminhada no calçadão direito da beira do Poti. Contou-me ele que uma médica da sua amizade havia dito que os filhos, quando bebês, são tão fofos que a pessoa sente vontade de comê-los, creio que pela beleza e pelo cheiro dos pimpolhos, mas que, quando se tornam adolescentes e aborrecentes, a pessoa se arrepende de efetiva e literalmente não os haver comido. Isso me fez lembrar a mitologia greco-romana, em que Saturno devorava os próprios filhos. Também dizem que a venenosíssima cascavel se arrasta a parir, e depois faz o caminho inverso a comer os filhotes. Esse fato, se verdadeiro, seria bom para os outros animais, porquanto o número de animais peçonhentos seria bem menor. O Vinicius de Moraes, que se dizia um homem desprovido de arestas, proclamou, a versejar, que “... Filhos? / Melhor não tê-los! / Mas se não os temos / Como sabê-lo?” Na dúvida, o poetinha, no maior e melhor sentido do diminutivo, preferiu ter a sua cota, pagando o seu tributo à reprodução da espécie.

De qualquer sorte, a problemática da adolescência sempre existiu, só que hoje, com o uso de drogas e com os jovens ingerindo álcool cada vez mais precocemente, parece que os conflitos entre adolescentes e pais se agravaram de forma acentuada. Li, tempos atrás, que o filósofo Sócrates, nascido alguns séculos antes de Cristo, já se inquietava com a rebeldia dos adolescentes. O fato é que a explosão hormonal contribui para que esses jovens se tornem mais desabridos e contestadores, desrespeitando normas, convenções, tabus e os mais velhos, inclusive pais e avós. É como se a geração mais nova, para se firmar, precisasse fustigar a mais velha.

Contudo, é comum vermos os jovens permanecendo por mais tempo a morar no lar paterno, onde têm pão, teto, vestuário, conforto, sem nenhuma despesa e preocupação. Alguns ainda querem constituir família a morar na casa dos pais, com estes sendo os responsáveis pelo sustento dos netos e da nora ou genro, o que afronta o aforismo antigo que dizia que “quem casa quer casa”. Como se tudo isso fosse pouco, vemos garotas, sem nenhum preparo psicológico e financeiro, tendo filhos cada vez mais precocemente, e forçando os pais a criarem os netos, quando eles mais precisam de sossego, tempo e dinheiro para o enfrentamento das mazelas que a velhice impõe. Se Cícero ainda fosse vivo, certamente continuaria a bradar, censurando: Ó tempos! Ó costumes!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

DIÁRIO INCONTÍNUO



15 de fevereiro

A PREGUIÇA E O POSTE ELÉTRICO

Elmar Carvalho

Da janela do apartamento em que moro, no condomínio Pingo d' Água, em Regeneração, acabo de ver a chuva caindo sobre as grandes árvores do quintal em frente. Agora, enquanto dedilho este teclado de computador, escuto a música da água a cair sobre o telhado e sobre as poças que se formaram. Sempre gostei de contemplar a natureza. Nas várias viagens que fiz, em minha juventude, no percurso Teresina – Parnaíba – Teresina, ficava a observar a paisagem da janela do ônibus da antiga empresa Marimbá. Devo dizer que essas contemplações me inspiraram vários textos literários, sobretudo poemas e crônicas. Em minhas funções de fiscal e magistrado, conheci várias paragens da hinterlândia piauiense. Quando estou dirigindo meu carro, procuro não atropelar os animais silvestres, seja freando ou desviando o veículo. Já ouvi falar de pessoas de bom coração, que chegam a estacionar o automóvel para retirar da pista de rolamento alguma preguiça, que anda sempre no compasso de sua lentidão metabólica, talvez a nos ensinar a sermos mais pacientes e menos açodados. O simpático bicho parece transmitir bonomia, em sua lentidão de quem não deseja competir com ninguém, muito menos contra alguém; até o piscar de seus olhos puxados parece visto em câmera lenta. De dentro de seus olhos a bondade parece nos espreitar.

Tenho visto nas revistas e nos noticiários da televisão, que, com o desmatamento desenfreado que o homem vem promovendo, grandes e pequenos animais estão a entrar nas cidades, ou pelo menos rondam as regiões periféricas das metrópoles, na luta pela sobrevivência, ante as florestas devastadas. Comoveu-me bastante a história de uma preguiça. Esse lentíssimo animal, por causa dessas mazelas contra o seu habitat, chegou a uma cidade. Não encontrando as ervas, os capins, os arbustos e as grandes árvores, que lhe servem de alimento, proteção e moradia, foi escalar um poste da rede elétrica. Sem dúvida, foi a coisa mais semelhante a uma árvore que encontrou, perto do local onde chegara. Estranha e desnuda árvore, feita somente de um rígido caule, sem casca e sem seiva, sem galhos, sem folhas, sem flores e sem frutos. A paciente e pachorrenta preguiça, em sua inocência animal, talvez procurasse pousada e proteção, ou mesmo algum fruto perdido nas alturas dos fios elétricos, que podem ter sido confundidos com esquisitos e esqueléticos ramos e galhos.

A preguiça, em sua inglória escalada, colheu apenas uma forte descarga elétrica, que lhe mutilou a pata e a garra, tão essenciais para a sua sobrevivência na floresta, para subir nas árvores, em busca de proteção, repouso ou alimentos. O pobre animal deve ter ficado perplexo, com árvore tão traiçoeira, mais intratável que o cacto do poema de Manuel Bandeira. O caso dessa preguiça deve ficar como uma emblemática e contundente denúncia do que o homem vem perpetrando contra a fauna e a flora de nosso espoliado planeta. Extintos os animais e extirpadas as florestas, de que o homem irá sobreviver?