Foto antiga de Regeneração
6 de julho
O POETA E AS NASCENTES DO MULATO
Elmar Carvalho
Estive conversando, ontem, aqui em Regeneração, com o professor, poeta e escritor José Teixeira. Andava ele em companhia do professor Alexandre Costa. Disse-me que continua a escrever a biografia de sua parenta, Emília Paixão, que nasceu nesta cidade, mas radicou-se na vizinha Amarante, da qual foi operosa prefeita, em cuja gestão construiu parte do passeio ajardinado do rio Parnaíba. É defensora e divulgadora da cultura amarantina, principalmente da poesia de Da Costa e Silva. O professor José Teixeira, nos períodos que passa em Regeneração, tem se dedicado à contação de estórias para os jovens da cidade, tendo ele mesmo publicado alguns opúsculos com pequenas narrativas de sua autoria. Falou-me que pretende construir, num terreno que adquiriu, uma biblioteca, que será aberta ao público em geral. Segundo me disse, está se dedicando agora a interpretar monólogo, de sorte que é também um ator.
Hoje, recebi a rápida visita do poeta popular João Carlos, que me veio ofertar o seu livro Revivendo os velhos tempos. Na contracapa do livro, colho a informação de que ele nasceu em Água Branca, em 04/11/1937, filho de Zacarias Moraes do Rego e Joana Moraes de Souza. Casado, tem sete filhos e seis neto. Reside em Regeneração, desde os dez anos de idade. O livro tem 182 páginas. Como ele próprio informa na capa, sua poética é popular. Os poemas têm as mais diferentes temáticas. São divididos em estrofes, todas ou quase todas sextilhas, com rimas alternadas, nos segundos, quartos e sextos versos. Um dos poemas mostra as diferenças entre o poeta repentista e o “poeta escritor”. Devo ressaltar que o cordelista é também chamado de poeta de gabinete, ou seja, é um “poeta escritor”. O repentista faz os seus versos ao sabor do improviso, geralmente apresentando-se em dupla, quando ocorrem os chamados desafios, em que as estrofes e respostas vão sendo dadas de acordo com a cantoria do antecessor, enquanto o cordelista escreve os seus versos meditadamente, no tempo que desejar, podendo corrigi-los, ou emendá-los, acrescentando ou suprimindo palavras e expressões.
Como o título sugere, os poemas de Revivendo os velhos tempos são de caráter saudosista, relembrando as coisas, os fatos e os costumes, que já não existem. Predominantemente, cantam a natureza e as coisas do campo. Celebram as aves, os engenhos de madeira, o poeta caboclo, o vaqueiro, o carro de boi, em toadas melancólicas ou alegres, conforme o desenrolar da temática. No decorrer da conversa, falamos no patrimônio arquitetônico da cidade, que já quase não ostenta os velhos casarões de antigamente, em sua fachada primitiva e íntegra. Disse ao poeta que, desde que assumi minhas funções aqui, venho alertando para a importância das retomadas das rodas de São Gonçalo, uma vez que esta é uma terra gonçalvina; que esse folguedo seria o grande diferencial folclórico e cultural do município, uma vez que a dança do boi ainda, felizmente, é praticada em vários rincões do Piauí, inclusive na capital. Fiz questão de ressaltar que o professor Alexandre Costa e as irmãs missionárias, através de projeto e do “ponto de cultura” local, conseguiram criar um grupo de dança de São Gonçalo, que, segundo dizem, era um santo alegre, a tocar a sua viola, donde a sua ligação com música e dança.
Por último, o poeta me falou que muitas das vertentes d' água de Regeneração desapareceram ou estão moribundas. Calcula ele que o rio Mulato perdeu 70 por cento de sua vazão. Parafraseando outro poeta, diria que hoje o rio é apenas um quase fio d' água, um rio apenas tatuado na memória. Lembramos, na conversa, que o professor Alexandre vem envidando esforço pessoal no sentido de conscientizar as pessoas para que preservem e protejam as nascentes do Mulato. Creio que haja a necessidade de participação do poder público municipal, estadual e federal, numa soma de esforços, para que essas belas nascentes sejam preservadas, inclusive com a colocação de placas educativas, coletores de lixo e criação de uma guarda ambiental. É um lindo patrimônio ecológico, que bem merece ser preservado e protegido, para deleite e desfrute das gerações vindouras. Urgem serem tomadas as providências e medidas agora, enquanto ainda é tempo, e não quando já for demasiado tarde.
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