22 de julho
HERMES E AFRODITE
Elmar Carvalho
Outro dia, um conhecido meu me contou que um seu parente, tido e havido como rapaz, inclusive porque era namorador e gostava de jogar futebol, estava se transformando numa moça, com o corpo se enchendo de curvas e botando seios, cujos bicos pareciam querer espetar a camisa ou blusa. Acrescentou que esse (ex) rapaz já não se interessava mais por moças, mas, sim, por outros rapazes. Contudo, não me soube explicar se o caso seria de hermafroditismo ou se o jovem tomara hormônio, para conseguir o arredondamento feminil das formas. Contei-lhe, então, dois casos, que aqui vão resumidamente.
Um conhecido meu, que tinha grande intimidade com o pai, narrou-me o que seu velho lhe contara. Na cidade em que ele morava, existia uma prostituta muito bonita, mas que parecia encerrar algum mistério, pois raramente os homens a procuravam por mais de uma vez, e nunca se ouviu algum deles comentar qualquer coisa sobre sua intimidade. Ante tamanha beleza, o pai desse meu conhecido resolveu marcar um encontro com a moça, no local em que ela recebia os seus clientes. Na hora marcada, adentrou a alcova. A mulher era de fato muito bela, tanto de rosto, como de corpo. Ela foi se desnudando aos poucos, ficando apenas de calcinha, sempre na penumbra, sem que nenhum defeito lhe fosse percebido.
Todavia, quando o pai do meu colega conseguiu fazer com que ela retirasse essa peça, pode perceber que ela tinha o clitóris bem avantajado, quase como se fosse um pequeno pênis. O velho, algo chocado, desistiu do que viera fazer, e bateu em retirada. É de se supor que a mulher tenha se sentido humilhada, ante a rejeição repentina, e que essa proeminência de sua anatomia lhe trouxesse alguns constrangimentos, ainda mais diante do fato de ser uma prostituta. Também é de se imaginar que alguns aceitassem essa anomalia, senão ela não poderia exercer a “profissão” que exercia. O fato é que todos silenciavam quanto a isso, seja para evitar comentários, seja para que outros caíssem na mesma “armadilha”.
No início de minha juventude, vi, algumas vezes, uma parenta de um amigo meu, de acentuado buço. Feia de rosto, de corpo desengonçado e sem curvas, vivia metida num vestido de chita, que lhe descia escorrido pelo corpo magro e linheiro. Tinha uns modos esquisitos, arredios e ariscos, e não me recordo de ter ouvido sua voz. Era uma moça completamente feia e sem nenhum atrativo, cuja penugem labial provocava mesmo certa repulsa, embora ela não tivesse nenhuma culpa por ser tão desprovida de dotes físicos. Morava ela na zona rural, com seus pais; poucas vezes a vi, e apenas quando fui a sua casa, em companhia de meu amigo.
Fui embora dessa cidade, que não desejo identificar, e por mais de 20 anos não tive notícia desse ser tão desprovido de graça e encanto, até reencontrar o meu amigo, que também fora morar em outros lugares. Ao recordarmos certas aventuras de nosso tempo de mocidade, perguntei-lhe por sua prima. A sua resposta foi direta e chocante:
- Virou homem, e agora vive traçando tudo quanto é mulher que encontra pela frente!
Decerto, havia certa dose de humor e evidente exagero em suas palavras. O parente passou a vestir-se como homem, com calça e camisa, e não mais com vestido, como antigamente. Passou a nutrir forte atração por mulheres. Meu amigo não sabia detalhes sobre sua anatomia. Mas, pelo visto, nada tinha de Afrodite, senão de Hermes. Fico na suposição de que sua genitália fosse a de um hermafrodita, porém com predominância masculina, inclusive na parte espiritual e psicológica. Talvez um exame médico tivesse resolvido todas as dúvidas. Entretanto, por preconceito e ignorância, os pais a criaram e vestiram como mulher, até que o apelo e a força do sexo fizeram com que esse ser tolhido em sua sexualidade pudesse se libertar, e seguir o seu próprio caminho.
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