quinta-feira, 28 de julho de 2011

DIÁRIO INCONTÍNUO

28 de julho

O JARDIM DOS POETAS

Elmar Carvalho

No domingo, fui ao mercado central com a Fátima, com o objetivo de que o Didi e a sua mulher comprassem roupa de banho, pois iríamos à praia de Pedra do Sal. Como sei que essas compras sempre demoram um pouco, para passar o tempo fui visitar o Jardim dos Poetas, e dessa forma rever a placa com o meu poema, que ali existia. Era um poema integrante dos PoeMitos da Parnaíba, em que eu homenageava a Luse, que eu conheci, quando morei na Praça da Graça, no apartamento dos Correios. Era ela uma figura interessante, alegre, algo extrovertida, que gostava de usar umas saias com belas estampas florais. Era professora de piano. Apesar de um tanto gorda, curiosamente, segundo depoimento de um amigo meu, dançava com muita leveza, graça e elegância. É falecida há vários anos.

O Jardim dos Poetas foi construído na gestão do prefeito Paulo Eudes, idealizado pelo teatrólogo e escritor Benjamim Santos, quando este era o secretário municipal da Cultura. Era na verdade, em síntese, uma espécie de antologia em concreto da poesia e dos poetas parnaibanos, natos ou não. Ali estavam, nas quase duas dezenas de placas metálicas verdes, afixadas em pedestais, que imitavam uma espécie de tribuna, poemas dos vates consagrados pelas antologias, pelos críticos e pela história da literatura parnaibana. No painel central (uma grande coluna retangular) estavam expostos, em grandes letras em relevo, os imortais versos de Alcenor Candeira Filho e Luíza Amélia de Queiroz. Numa placa metálica azul foram colocados, da forma mais exaustiva possível, os nomes de quase todos os poetas parnaibanos, tantos os nascidos no município, como os que ali se radicaram ou se vincularam radicalmente à literatura local.

Quando o jardim estava sendo planejado e construído, despertou muita espectativa e curiosidade entre os poetas, inclusive quanto à inclusão ou exclusão de nomes. O local da obra foi visitado por vários literatos, inclusive de Teresina. Eu mesmo, em companhia de outros poetas, visitei o local e achei que fosse uma grande homenagem aos bardos, mormente numa época de tanto hedonismo, em que a música e os audiovisuais imperam de forma avassaladora; numa época em que a poesia se queda como “a mais discreta das artes”, no dizer de Eugénio Montale. A sua inauguração foi comemorada com uma série de eventos culturais, inclusive teatralização de poemas, dança, música e palestras. Tive a elevada honra de ser convidado para proferir uma palestra sobre literatura parnaibana, tendo na oportunidade lançado meu opúsculo Aspectos da Literatura Parnaibana, em que faço referência aos principais aedos da cidade, dentro de uma síntese histórica de sua literatura.

Estive recentemente em Caxias, Maranhão, e vi nessa cidade, numa praça central, o poeta Gonçalves Dias, a recitar versos em seu pedestal. Vi também a Praça do Pantheon, na qual foram colocados os bustos dos seus principais poetas e escritores. Ali estavam, esculpidos, os poetas Gonçalves Dias, justamente considerado um dos maiores poetas do Brasil, que tinha orgulho de carregar em suas veias o cadinho de três raças – a índia, a negra e a branca; Coelho Neto, poeta e escritor, considerado um parnasiano da prosa, um dos mais lidos escritores em seu auge; Vespasiano Ramos, um lírico de alto coturno, cujos versos do soneto Samaritana regurgitavam na boca dos sedentos boêmios de outrora; e o poeta e industrial Francisco Dias Carneiro, sobre o qual me reportei da seguinte forma: “Vi apenas um poema desse último vate e capitão de indústria, mas considero que ele cantou belamente os rumores e as ramagens do Itapecuru, em versos sonoros, melodiosos, refertos de imagens e sentimentos”. Essa viagem foi registrada neste mesmo Diário Incontínuo, sob o título de “O Pantheon de Caxias”, cujo texto foi lançado aos mares internéticos.

Pois bem, falei na Praça do Pantheon porque ela me fizera lembrar o Jardim dos Poetas. Contudo, ao adentrar este último logradouro senti o seu estado de abandono. Lixo e ervas daninhas infestavam o local. Foi em vão que procurei a placa do meu poema, que homenageava a Luse. Ela e quase todas as demais haviam sido retiradas dos pedestais em que foram postas. As letras do painel central, a que me referi, haviam caído. Só restavam duas ou três placas, mas deterioradas e ilegíveis. Não posso omitir que fiquei triste. Todavia, não quero, aqui, criticar ninguém; desejo apenas apresentar uma sugestão, para um problema que está posto. Inicialmente, faço uma pergunta, já que alguém disse que o local não seria adequado: será se as suas peças em concreto, mormente os pedestais e as componentes dos caramanchões, não poderiam ser levadas para outro local, que fosse considerado mais apropriado?

Creio que a Secretaria de Cultura poderia discutir a restauração do Jardim dos Poetas, seja no local em que se encontra, seja em outro que fosse considerado mais atraente, com a Academia Parnaibana de Letras, com o Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba, com a Fundação Cultural Assis Brasil e com a “sociedade dos poetas” vivos. Obviamente, outros equipamentos, peças e poemas poderiam ser acrescidos ao projeto original. Placas maiores, mais vistosas e modernas, talvez até com ilustrações de pintores locais, poderiam dar um novo brilho a essa antologia poética “impressa” em concreto. Acredito que prejuízo maior é o logradouro/monumento permanecer do jeito que está, pois, sem os poemas expostos em suas placas, o Jardim dos Poetas terá perdido todo o seu sentido e finalidade.

2 comentários:

  1. Caro Elmar. Via e-mail, eu me reportei sobre o Jardim dos Poetas, das lutas que travamos p/melhorar a situação em que o Jardim vive e das incompreensões que encontramos. A esperança estava no ar. Entretanto, a falta de interesse foi maior do que o desejo de fazer algo de bom pelo Jardim, que contemplava os anseios dos poetas de Parnaíba, dando-lhe o destque que merecem como homens de letras que elevam a cultura da cidade. Sua sugestão tem tudo a ver, o que não tem a ver é descuido das autoridades, que no sofá de prata espalitam os dentes, enquanto as pessoas que querem fazer algo são tripudiadas como se vagabundo fossem. Anônimo

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  2. É uma pena que não valorizamos a nossa cultura, uma cidade que diz turística, não preserva sua cultura a praça dos poetas é um exemplo deste descaso não só dos governantes mas de nós moradores desta cidade.

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