AS MOÇAS DE ANGICAL
Elmar Carvalho
Em virtude de o conserto de meu carro não haver sido concluído no dia anterior, vim para Regeneração de ônibus. Na parada, enquanto o aguardava, travei conversação com um rapaz que não conhecia. A conversa prosseguiu no interior do veículo. Falei que havia conhecido Demerval Lobão, Lagoa do Piauí e Regeneração, ainda em minha adolescência, durante curto período de minhas férias escolares. Como o jovem me dissesse ser filho de Angical do Piauí, falei-lhe de várias pessoas ligadas a essa cidade, que eu conhecia.
Entre várias outras, citei os nomes de Nileide Soares, Alcione Pessoa Lima, Clegivaldo, Elias, Hamilton Sousa, e sem dúvida me referi aos cantores e compositores Clésio, Clodo e Climério, que integravam o excelente grupo musical São Piauí. Ele conhecia, ainda que apenas de nome, todas ou quase todas as pessoas que mencionei. Disse-me ele que uma sua prima criara um site, para divulgação de notícias e cultura do município, e que por isso ela entrevistara o Climério Ferreira, que além de músico é também um poeta de mérito. Na prática, ao recordar que o São Piauí cantava uma música que falava nas moças de Angical, disse ao meu interlocutor que sua cidade tinha a desvanecedora fama de, em termos proporcionais, ter o mais belo plantel de mulheres do Piauí. Ele concordou, dizendo que sua terra tinha mesmo belas moças.
Não pude deixar de me lembrar de um fato ocorrido, aproximadamente, vinte anos atrás. Eu fora a um evento cultural em Amarante, terra a que sou ligado afetiva e liricamente, tendo ali participado de várias solenidades literárias, e tendo escrito vários textos, em prosa e versos, em que lhe exaltei o encantamento dos rios e das serras azuis do poeta. Entre outras, nela realizei, quando presidi a União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE/PI, um Encontro Lítero-Musical; nela lancei o meu livro Lira dos Cinqüentanos, dentro da parte cultural da Festa do Divino, com o apoio do professor Marcelino Leal Barroso de Carvalho, no casarão do juiz Eudóxio Vieira, e tomei posse de minha cadeira na Academia de Letras do Médio Parnaíba, numa bela noite cultural, em que foi exaltado o nome de Da Costa e Silva, através da memória prodigiosa do médico Francisco Almeida (Tatá), que lhe sabe de cor a biografia circunstanciada e detalhada, além de ter participado de outros eventos a convite do poeta e amigo Virgílio Queiroz.
Como ia dizendo, vinte anos atrás fui participar de evento literário em Amarante. Se não me trai a memória, recitei, nessa ocasião, o poema Amarante, que eu havia escrito fazia pouco tempo. O dr. Helcias Lira, então prefeito, decorou alguns trechos do poema, que, de vez em quando, recitava, quando já estávamos na parte etilicogastronômica do evento. No dia seguinte, à tarde, retornei a Teresina, num ônibus procedente de Floriano. Ao chegarmos a Angical, vários estudantes tomaram esse “busu”. O decrépito veículo como que iluminou-se e floriu com a entrada das belas angicalenses em flor, que lhe deram um colorido todo especial e festivo. Foi nessa ocasião que descobri que a lenda das belas moças de Angical não era lenda, porém uma esplêndida realidade. E que a linda melodia cantada por Clésio, Clodo e Climério não é uma mera exaltação graciosa, no sentido de gratuita, mas graciosa no sentido de tecer graças e louvores à beleza feminil angicalense, que existe de verdade, e não somente em versos ufanistas de algum caquético bardo.
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