CELSO BARROS COELHO
Para Carlos Said
Foi-me dada a oportunidade de estar presente à solene inauguração do Estádio do Maracanã, na abertura da Copa de 1950, no Rio de Janeiro. Assisti ao jogo de abertura, entre o Brasil e México, com a vitória do Brasil por 4 a 0. Tinha, então, 28 anos de idade.
Se a próxima Copa de 2014 me alcançar vivo, e espero que sim, terei sido um dos raros brasileiros com mais de 92 anos que assistiu às duas Copas com sede no Brasil.
Passei no Rio de Janeiro todo o período de realização da competição, pois dava assistência a um irmão que fora operado no Hospital de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE), sofrendo a ablação de uma perna afetada de câncer. Na companhia dele, que veio a falecer meses depois, regressei a Teresina, no mesmo dia do encerramento da Copa, ansiosamente aguardado, com o jogo entre o Brasil e o Uruguai.
A esperança na vitória do Brasil contagiou todo o país, embalado no êxito das partidas anteriores que o apontavam como favorito. Bastaria o empate para ser campeão.
Pelo rádio, acompanhei o jogo em Teresina, momentos após minha chegada. Tarde fatídica. À medida que seguia a narração do jogo, o ataque dos uruguaios se fortalecia, até que o valente Ghiggia apagou, no peito dos brasileiros, a chama do entusiasmo que os jogos anteriores acenderam. Segundo a imprensa, é ele o único jogador daquela partida ainda vivo.
O silêncio dominou o país. As esperanças transformaram-se em frustração e pesadelo.
Outras copas vieram ao longo desses 60 anos. O Brasil segue à frente como pentacampeão. O que nos espera na próxima, em que o futebol se aperfeiçoa técnica e taticamente, e quando uma nova geração de craques passa indiferente às glórias dos ídolos do passado?
O resultado da última e recente Copa América, da qual o Brasil foi eliminado com uma péssima lição na cobrança dos pênaltis, não é animador, mesmo que o próximo gramado seja nosso e o patriotismo esteja vivo no sentimento de amor à camisa verde-amarela.
Farei o possível para de novo lançar os olhos sobre o gramado do Maracanã, e sentir a vibração de uma nação que tem no futebol uma das fontes reveladoras de suas energias físicas e morais. Estarei, então, vivendo novamente os dias inesquecíveis da mocidade. E aguardando que passem outras copas.
Ofereço esta crônica ao amigo Carlos Said, um dos mais antigos e consagrados comentaristas esportivos, convidando-o a ir comigo ao Maracanã em 2014, para vermos o Brasil erguer mais uma taça, sagrando-se hexacampeão.
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