ALCENOR CANDEIRA FILHO
Grande mangueira do meu lar primeiro
A cuja sombra, sozinho, sonhei
Os sonhos puros da mais pura infância
Em que ora eu era escravo, ora era rei!
(A.C. F.)
No,
-- onde nasci brinquei sonhei
e donde só saí crescido
mala barba bigode
para lá longe para o Rio de Janeiro
apartamento materno dos avós Lourdes e Fenelon
com retorno anos seis depois
para a amada cidade amiga
a Parnaíba onde ainda estou
feliz envelhecendo à espera da
inevitável fera essa bacante fúnebre
que me espreita a mim como a outros
a toda hora de qualquer instante --,
casarão da rua Grande
com jardim de belas flores
dália
lírio
rosa
regadas por minha avó
com água do fundo poço
em balde puxado por corda
muitas árvores no quintal
manga
goiaba
banana
cajá
sapoti
maracujá
e em volta do casarão em suas paredes
janelas várias pó duas ruas
uma estreita outra mais larga
duas portas duas calçadas
sem contar com o portão que dava
direto para o quintal adentro
morada paterna de meus avós Raimundo e Gracita
e de meus pais até morrerem
e de um irmão e de duas irmãs
que por casarem os três
os três de lá saíram para suas casas novas
como igualmente assim também comigo
casado com casa na Costa Fernandes agora
e por isso tudo
do que abrigou família e pertences dela
nos perfumados ares de priscas eras
geladeira
fogão
mesa
poltrona
rádio
vitrola
e assim em frente
porque todo se perdeu
sumiu desapareceu
sobramos só os irmãos nós
casados os quatro em suas casas novas
em verdade já um pouco velhas
sem a velhice remota e verdadeira
do velho casarão nosso
do qual como dizia nada mais existe
que tudo tombou sem tombamento
despensa
dormitório
varanda
banheiro
corredor
copa
cozinha
jardim
porão
quintal
a não ser
erigido sobre os escombros
na área tombada agora
um centro comercial
por onde às vezes ando
para pequenas compras
como em véspera de natal.
2011
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