Júlio César de Mello e Souza fantasiado de Malba Tahan |
9 de agosto Diário Incontínuo
AS HISTÓRIA DE MALBA TAHAN
Elmar Carvalho
Como estudante, sempre tive certo pavor da matemática.
Poucas vezes faço contas. E de muito tempo a esta parte, sempre que
preciso calcular alguma coisa, o faço através de uma dessas
calculadoras que são vendidas em toda parte, no comércio formal e
informal, muitas delas por uma ninharia. Ainda hoje, em sonhos um
tanto repetitivos, por vezes acordo preocupado, pensando ter ficado
reprovado nessa disciplina.
Embora saiba de sua importância, confesso que que essa
ciência não me tem feito muita falta até hoje, porquanto minha
mais profunda afinidade foi sempre com a área de humanidades e
letras, apesar de ter grande grande interesse pela astrofísica e
pela física quântica, mas somente na parte teórica, avesso que sou
a cálculos, por mais simples que sejam.
Mas quando, meses atrás, vi O homem que calculava,
exposto numa das lojas da Livraria Universitária, tive logo o
impulso de adquiri-lo, e o fiz imediatamente. Conquanto seja avesso a
cálculos, o seu autor, Malba Tahan, em contos avulsos, encantou-me
em minha meninice e juventude.
Quis reencontrar o fascínio dessas leituras de meus
tempos juvenis, embora sabendo que certas releituras, na idade
adulta, tragam o travo amargo da decepção, quando confrontadas com
o prazer proporcionado na juventude. Essa obra entrou na minha fila
de leitura, visto que pretendia concluir leituras já iniciadas, e
iniciar a de outros livros que comprara anteriormente.
Concluída recentemente a leitura do Diário Secreto de
Humberto de Campos, conforme registrei na nota de ontem, passei a
ler, com muita voracidade e atenção, O homem que calculava. Posso
dizer que não me decepcionei. Seu autor tem o dom de cativar a
atenção do leitor. Sua linguagem é simples, porém fluida, solta,
elegante, sem atavios, sem palavras desnecessárias, e sem
rebuscamento de estilo.
Tendo sido o ficcionista um professor de matemática,
parece ter feito uso dessa disciplina, para construir as frases de
forma exata e perfeita, sem as gorduras da prolixidade e sem as
saliências ósseas da anorexia. Quase diria que a obra é um misto
de romance e contos, visto que existe um fio condutor interligando os
contos, mas de tal maneira que cada unidade pode ser lida de forma
independente, sem necessidade de remissão obrigatória a capítulos
anteriores.
Não me foi possível esquecer que Humberto de Campos,
em seu Diário, disse, no registro do dia 28 de junho de 1934, que
Malba Tahan lhe fora um amigo solícito, admirador entusiasta de sua
literatura até os primeiros dias desse ano. Acrescentou que esse
escritor frequentava sua casa, e lhe levava o filho para passear e
para assistir a circo e cinema. Por causa dessas gentilezas, o
diarista resolvera escrever um longo estudo sobre o contista,
publicado no Correio da Manhã, e mais tarde recolhido no livro
Crítica (1ª série). Escreveu ainda uma crônica sobre o seu volume
de Matemática.
Confessa Humberto de Campos que, por solicitação de
Assis Chateaubriand, escreveu um conto oriental, e depois mais outro.
Aduz que a partir desses contos as visitas do contista começaram a
minguar, e que, quando cessaram os contos, Malba Tahan o teria
criticado, “fazendo-me sentir que eu não dava para aquilo”. Por
solicitação de José Olympio, seu editor, organizou um volume com
essas “narrativas despretensiosas”, que recebeu o título de À
sombra das tamareiras.
Acrescenta que com a publicação do livro, o contista
desapareceu de vez de sua casa. Mesmo tendo ficado doente, sido
operado, e continuado enfermo, Júlio César de Mello e Souza (o nome
verdadeiro do grande ficcionista) não mais o visitou, e sequer pediu
notícias suas por telefone. Encerra a nota a que me referi da
seguinte forma: “Por que me não preveniu ele de que havia tirado
patente como produtor de contos orientais? A inveja roubou o meu
amigo. Que Alá o conserve longe de mim...”
Será se Malba Tahan também não teria sentido certa
inveja por parte de Humberto, e por isso teria se afastado? Não é
fora de propósito lembrar que certas pessoas têm verdadeiro pavor
de supostos ou verdadeiros invejosos. Ele bem poderia ter
interpretado, com ou sem razão, a elaboração dos contos e depois a
publicação de À sombra das tamareiras como fruto desse mesquinho
sentimento. A inveja é um sentimento triste, que faz o admirador
sofrer por causa dos dons e do talento do ídolo a quem tanto admira.
Quantos matemáticos,físicos e químicos não gostariam de ter o dom da escrita, de ter na precisão de seus cálculos a precisão do termo correto para um sentimento por eles vivido. Poeta, o senhor é neste mundo um sortudo pela sua capacidade de se expressar tão sublime. Fica aqui minha admiração pelo arranjo do tema supracitado.
ResponderExcluirFelisado.
Caro amigo Elmar:
ResponderExcluirCuriosas, elucidativa e úteis as suas obsrvações feitas acerca do "desentendimento" entre Malba Tahan e Humberto de Campos. Esse tipo de reação de naturea despeitada ou narcisisita que um escritor manifesta diante do talento de outro escritor, diria que mais do que comum na história literária não só do Brasil como tambaém de ooutros países.
Houve um tempo em que se dizia ser Humberto Campos um escritor que, e suas memórias, foi muito duro com alguns amigos, a pnto de ser muito criticado por muita gente. Me parece que isso tudo está no seu livr o "Sombras que sofrem".
Não li essa obra de Humberto, e por isso n ão tenho certeza quanto à crítica que se fez contra ele.Aind penso em ler ta obra pra confirmar ou não essa opkinião negatiava cntra o grande memorialista, que li na juventude aí em Teresina, em exempolaar de meu pai.Sua crônica me parece proçveitosa e rica de possibilidades para pesquisas soçbre a vida literária brasileira.
Um granade abaço do
Cunha e Silva Filho