sábado, 15 de setembro de 2012

EM BRASÍLIA, MUDANDO DE RUMO




Antonio Reinaldo Soares Filho


 No ano de1969 concluí o curso científico no Colégio Marista do Recife. Em seguida prestei vestibular para medicina na Faculdade das Ciências Médicas e fiz 149 pontos, perdi. Foram classificados os que alcançaram a partir de 150 pontos, ficando, portanto como primeiro suplente. Mesmo assim, sem comentários. Não quis retornar ao Recife. Naquele final de ano o Francisco Martins Portela e Wartene Portela Lopes, que eram estudantes de medicina em Brasília, informaram que as Faculdades do Centro Universitário de Brasília – CEUB se encontravam com as inscrições abertas. Só que seus cursos eram da área de humanidades. Inscreveram-me para o vestibular de Economia. No dia 4 de janeiro de 1970 tomei um ônibus da empresa Aparecida, juntamente com Antônio de Alencar Freitas Neto e Lino Wagner Portela Lopes e seguimos para Brasília via São Paulo. O coletivo fez parada na Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Mesmo ainda por concluir, a magnitude daquele Santuário impressionou a todos. De São Paulo prosseguimos para a cidade de Leme, depois Ribeirão Preto e finalmente chegando à nova Capital. O que se via e o que impressionou.

Aproximamos da Capital Federal em uma madrugada friorenta e enevoada pelo Núcleo Bandeirante (antes Cidade Livre). Aquela cidade satélite era toda de barracos de madeira. Lembrei-me dos filmes de faroestes italianos - foi à primeira apresentação.



A parada final foi na plataforma rodoviária – traço de união e convergência daquele povo - aonde chegavam e partiam os ônibus urbanos, intermunicipais e interestaduais. Voltei os olhos para a esplanada e contei dezessete ministérios, o teatro nacional e a catedral somente com seus arcos de concreto apontando para os céus. Ao longe, as conchas invertidas da Câmara e do Senado, triangulando com o anexo central do Congresso (em forma de um H), ladeadas pelos palácios Itamaraty e da Justiça. Beleza indescritível.

Brasília, polo geográfico reafirmando a interiorização do povo brasileiro, interligando o planalto central a todas as regiões do país através de uma rede de novas estradas. A Belém-Brasília marco épico da integração norte sul da nação. Essa BR-010 encaminhou o nordeste para a nova capital, por onde passaram levas de migrantes que ajudaram a viabilizar o sonho do Presidente Juscelino Kubitschek – o maior dos brasileiros.
Brasília Fevereiro de 1970. O que eu vi


Com apenas nove anos de existência a população em Brasília, chamada de pioneiros (as) ou candangos (as), era constituída predominantemente por homens. A cidade por terminar, com outra concepção urbanística, sem esquinas, viadutos subterrâneos no eixão permitindo acesso aos eixinhos, passagens subterrâneas, tesouras eliminando cruzamentos, largas avenidas sem azáfama, quase desertas. O Eixo Monumental com as praças dos Três Poderes e a do Buriti como concebidos por Lúcio Costa e aprovado por JK. Não havia sinais de trânsito. Cada setor tinha seu gabarito estabelecido. Nas superquadras as crianças brincavam livremente por entre flamboyants, tulipas-da-África, ipês e sibipirunas, sazonalmente empestadas de cigarras. Por entre elas pouco viveu a inocente Ana Lídia, estupidamente sacrificada pelo cancro das drogas. Uma superquadra era um espaço aberto composto por onze blocos sobre pilotis com livre circulação para pedestres. Os edifícios com gabarito máximo de seis andares. Esse era o limite auditivo para uma pessoa ser ouvida sendo convidada para descer ou subir. Quatro superquadras formavam uma unidade de vizinhança. Existia pouca opção de lazer e os pontos de encontros eram debaixo dos blocos. A poeira se alternando com a lama ou muito frio intercalado com calor e baixíssima umidade relativa do ar. O povo se agasalhando. A solidão do planalto central, na monotonia da vegetação do cerrado por sobre uma superfície aplainada, ondulada a suavemente ondulada, cortada por veredas e ravinas recobertas com mata de galeria. A vastidão admirável da paisagem desabitada. A arquitetura inovadora foi impactante aos olhos provincianos.

Nos dias iniciais pelo apartamento do Sivamar e Norito Machado quase desisti. Agradeço a Francisco Praça por ter me arrumado uma vaga para dormir, no apartamento de Antônio Mousinho na SQN 406. Por lá encontrei Paulo Kanemoto, João Valentim Bin, Vicente, Manoel Peres de Poconé e Flávio de Araraquara.
Da esquerda para a direita: Kanemoto, Bim, Manoel Peres, Reinaldo e Geraldo
Da esquerda para a direita: Manoel, Geraldo, Kanemoto, Jesus e Reinaldo


Sem tardança comprei uma cama dobrável de campanha com colchonete “probel”, fácil de ser transportada, que me acompanhou por todos os meus dias de Brasília. Não existia pensão no plano piloto. Os PC`s, porões de condomínios dos blocos já se encontravam ocupados ou estavam lacrados para não serem invadidos. O prato feito mais barato, na base do cozidão ou mão de vaca, era encontrado nas cantinas das obras, para os candangos que edificavam a cidade. Como consequência, provocava uma azia irritante e prolongada a tarde inteira. De fato, o modus vivendi na capital do país era singular. Os que não tiveram resiliência pouco demoraram naquele Planalto Central. Naquelas circunstâncias, para um estudante o importante era sobreviver. Fui aprovado no vestibular de Economia, cursei o primeiro semestre e tranquei a matrícula. A primeira vitória. Naquele primeiro ano da década de setenta, o Centro Educacional Elefante Branco, primeiro colégio de ensino público de Brasília, acolhia muito piauiense concluindo o terceiro ano científico. Havia dois cursinhos preparatórios para o vestibular: o Guelman na W3 511 Sul bloco A n0 43, e o Pré-Universitário na W3 504 Sul. O “Pré” se encontrava instalado em salas do primeiro andar da loja Ponto Frio, cujo gerente era o oeirense Luís da Silva Ramos – um pioneiro candango.

Voltei-me para os livros. Fiz da biblioteca central da UnB o meu endereço. O vestibular aconteceu em dezembro de 1970. Na noite do natal de 1970, sem ter mais o que fazer, fui assistir o filme “Guerrilheiros Pilantras” mostrado no cine Karim. Depois da exibição saí caminhando pela W3 sul até a rodoviária – naquele tempo não existia nenhum perigo. As pessoas iam e vinham com tranqüilidade. Andei pela W3 fazendo hora para que o dia amanhecesse. Estava sem sono, me atormentava a saudade do aconchego da casa de meus pais, e da festa que deveria estar acontecendo no Oeiras Clube. Devagar, olhando as vitrines das principais lojas, parando em algumas tais como a BIBABÔ onde exibiam as roupas tão desejadas e impossíveis para o meu poder aquisitivo. Assim fui vencendo aquela longa avenida de pouco gás neon. Quando cheguei à rodoviária, pelo nascente os raios de sol rasgavam a negritude daquela noite de natal no planalto central. Ali tomei um caldo de cana, comi dois pastéis, afinal era Natal e já dia claro. Tomei o TCB circular e fui dormir o resto daquela manhã. E recolhido, continuei a esperar.

Em uma madrugada dos primeiros dias de janeiro de 1971 o resultado foi publicado. Fui acordado com a alvissareira notícia, anunciada por João Costa, Ximenes e Nonato Ferraz, também aprovados. A lista classificatória estava fixada na entrada sul do minhocão e deu também no rádio. Fomos conferir, o meu nome constava como admitido para o curso de Geologia na Universidade de Brasília. Li aquilo uma dezena de vezes e me veio o receio de poder existir um homônimo meu. No local, a cada instante ouviam-se brados de vitória dos aprovados. Cena inesquecível, um clima de imensurável alegria dos que lograram êxito, não dava para acreditar. Havíamos conquistado uma vaga na UnB. Juntei-me com João Costa, Nonato Ferraz e Ximenes e fomos comemorar na rodoviária onde encontramos outros recém-calouros naquele único local público disponível. Saímos dali ao raiar do dia e retornamos para o campus da UnB. Nos dias seguintes, felizes, providenciamos a documentação exigida e fizemos nossa matrícula. Sentimentos do dever cumprido.

Era janeiro de 1971. De férias e vitoriosos retornamos ao Piauí. De Brasília para Val Paraíso de Goiás, Luziânia, Cristalina, Paracatu, João Pinheiro MG, Três Marias circundando parte da represa e Curvelo, pela BR 040. Dali pegando a BR 259 passando por Diamantina, Salinas, Araçaí até Itaobim na margem da Rio-Bahia. Naquela cidade tomamos a BR 116 e seguimos por Pedra Azul, Vitória da Conquista, Jequié e Feira de Santana onde rumamos para Juazeiro da Bahia via Capim Grosso e Senhor do Bonfim. E daí para Petrolina, indo para Picos desci no Gaturiano e por final, Oeiras. Temporada maravilhosa.

As primeiras viagens Brasília/Teresina/Brasília foram pela Bahia e Minas Gerais como passageiro da empresa de ônibus Taguatur. Outra opção de percurso era pelo Maranhão, via Santa Inês/Buriticupu, passando pelo café sem troco, chegando a Açailândia onde se tomava a Belém Brasília, ainda com piso de piçarra. Perigosa no tempo das chuvas.
Belém Brasília, primeiras viagens


Era uma aventura, três dias dentro de um coletivo submetido ao ensurdecedor barulho do motor precariamente vedado. Descendo e subindo em atoleiros, rampas íngremes e escorregadias, aterros cortados. Às vezes os caminhões não tinham espaço para embalar nem força suficiente para subir os aclives. Nessas ocasiões, quando já quase alcançando o topo o motor morria, só restava aos motoristas aprumar e descer de marcha ré, ladeira a baixo. Aquela manobra ficava por conta da perícia dos bons motoristas e da proteção de Deus. No verão era uma buraqueira só e, muita poeira. A estrada cortando a floresta ainda fechada e exuberante. Suas grandes árvores de troncos monstruosos beirando as margens, ensombrando-a, inutilmente tentando recuperar a abertura, mostrando-se por derradeira aos caminheiros. Seus predadores, incentivados pela ganância internacional, aguardavam ávidos e impacientes para exterminá-la, pô-la abaixo. Quando a BR 010 ficou toda asfaltada a movimentação se fixou por ela até a minha última viagem como estudante. Quando o trajeto era rumo à casa de nossos pais, a alegria e a ansiedade invadiam nosso ser, sonhava-se acordado com a felicidade por acontecer, contávamos regressivamente as cidades restantes. O inverso era doído. Foram assim, inúmeras vezes.

No ano de 1971 alguns prédios da universidade ainda estavam por ser concluídos. Nas áreas abertas do cerrado que circunda o Campus, os redemoinhos (apelidados de lacerdinhas) levantavam imensas nuvens de poeira fina e avermelhada. Deslumbrados, passamos os primeiros semestres de UnB ocupado com o curso básico de ciências exatas, ampliando conhecimentos e relacionando com mais piauienses. Uma nova vida, outros objetivos. Agora, finalmente frequentando o RU com toda moral e satisfação. Naquele ano estudei muito mais do que quando vestibulando, orientado, tinha que começar na UnB com uma Média Geral Acumulada – MGA, a mais elevada possível.

A UnB, centro de excelência e de pesquisa aplicada onde o mérito era a prioridade, viesse de onde viesse. O ICC - Instituto Central de Ciências (minhocão), com 800 metros de comprimento, tem duas entradas principais e duas laterais (norte e sul) e um jardim suspenso na área central, o restaurante universitário RU, a biblioteca central, a agência dos correios com suas caixas-postais, o centro olímpico, a OCA, o teatro de arena, a quadra com alambrado, o cine Dois Candangos com entrada gratuita, os vastos espaços abertos e jardins gramados do campus - pontos de encontro. Existia na parte norte do campus, próximo da Colina, dois blocos paralelos com doze alojamentos em cada um, apelidados de casinhas. Eles eram destinados para acomodar alunos da UnB, teoricamente cada unidade comportava quatro universitários. Mas, sempre havia clandestinos ampliando essa limitação. Por lá residiram Carlos Alberto Matão Lemos, José Maria de Carvalho Freitas, Cláudio Ferreira Filho, Constantino Pereira Filho, Paulo de Tarso Trindade Carvalho, Edemir Veras, José William Trindade de Carvalho... No balão detrás do antigo RU sempre havia estudantes pedindo uma carona e era tranquilo.
Balão das caronas. Da esquerda para a direita: Geraldo, Bim, Reinaldo e Manoel Peres


O primeiro RU funcionava em uma estrutura de madeira, como a maioria das construções de Brasília. Por lá havia um fiscal conhecido por Paixão. Ele foi um terror para os que não eram matriculados na universidade. A figura impedia que jovens esfomeados, se preparando para o vestibular, saciassem a fome a um preço somenos. Parecia um cão farejador, olhava nos olhos e identificava um incauto. Diziam ser ele um policial civil aposentado. A vítima só ultrapassaria aquela barreira quando conquistasse seu ingresso na UnB, com carteira na mão para ele conferir. Entretanto, traziam-se pães com carne para os barrados que solicitavam. Havia solidariedade entre seus frequentadores. Quando alguém se encontrava sem dinheiro quase sempre recebia doação de uma ficha para o bandejão. Prazeres, um maranhense estudante de geologia e sargento da aeronáutica, nunca negou uma ficha para um necessitado. O farto cardápio do restaurante era conhecido: tinha o dia do cozidão, da meia sola, da língua de gado, do peixe, do frango, do bife a milanesa, das almondegas “a lá Lavoisier, onde nada se perdia tudo se transformava”. No sábado a inigualável feijoada. Na sobremesa suco e gelatina ou barra de doce de goiaba. Aos domingos só serviam o almoço. Nesse dia levávamos pedaços de carnes em copos plásticos e com uma broa de milho, completava-se a refeição noturna. Era muito bom.

Ao redor do RU entre onze e quatorze horas e das dezessete as dezenove circulava um cachorro. Seu apelido era neurótico, todas as vezes que se pronunciava seu nome ele correspondia latindo, não era agressivo, tinha o corpo deformado. Com efeito, ele havia passado pela mesa de estudo de anatomia e sobreviveu. Virou mascote dos estudantes, fazendo do campus sua morada. Todos o alimentavam e só aceitava comer carne. Como o RU desativava suas atividades nos períodos das férias, o mesmo foi morto ao tentar atravessar a L2 em busca de uma lata para virar.

Exceto nos períodos das férias escolares a biblioteca nunca fechava suas portas, estava aberta 24 horas. Durante todo o tempo de universidade, as manhãs e tardes eram ocupadas com as aulas e a noite procurava-se a biblioteca para estudar, não deixar atrasar a revisão diária e repassar as matérias. Nos períodos das provas a noite ficava pequena. A média geral acumulada MGA, a grande fantasma, obrigava os alunos virar noites sobre os livros. Ao término de todo semestre escolar o computador somava as notas finais das cadeiras cursadas e estabelecia a média semestral. O resultado gerado da média semestral era acrescentado às médias anteriores acumuladas. O boletim que não alcançasse a média geral mínima de 3,2 por três semestres, consecutivos ou não, o aluno estava “jubilado”, excluído da UnB. Todos se achavam submetidos a essa regra pétrea. Concluí o curso com MGA 3,5 (média geral de sete) sem nunca ter sido baixada. Não foi fácil.

Mas, a vida foi boa naqueles dias, quantas noitadas sem prazo para terminar pelos botecos fedorentos da entrequadra 405 Norte, voltados para a L2. Naquele espaço havia os bares Intelectual, Zebrinha, o Gluton era o mais chique, um posto da SAB (Sociedade de Abastecimento de Brasília), supermercado popular onde comprávamos merendas e biscoitos de preços em conta. Naqueles dias, na mesma comercial, uma família de Suzano - São Paulo abriu uma padaria onde vendia uma insuperável broa de milho. Um hambúrguer tinha preço elevado para um estudante. As prioridades eram outras.

Nos finais de semana, uma opção disponível era a rodoviária central com os seus box’s a vender caldo de cana com pão doce ou pastel, os bares mal cuidados e restaurantes populares. As mulheres que faziam ponto no local não davam trelas para estudante universitário. Elas se encantavam com os descendentes de europeus que estavam servindo como militares no batalhão dos dragões da guarda presidencial que se concentravam naquela edificação. Por vezes conseguíamos entrar em uma boate que ficava no porão do prédio da NOVACAP, início da Asa Norte. Quando um casal se descuidava bebíamos seus uísques de uma só talagada. Aprendi com os outros, mas o risco era enorme. Quando um casal se descuidava bebíamos seus uísques de uma só talagada. Aprendi com os outros, mas o risco era enorme.

No por concluir Conjunto Venâncio, localizado do lado sul da plataforma rodoviária, permaneceu por muitos anos uma placa da construtora pernambucana CONIC. O edifício tinha apenas uma galeria aberta ao público, abrigando algumas lojinhas, butiques e a boate Buraco. E, por algum tempo funcionou na torre de televisão, um animado forró nos finais de semana.

Frequentávamos os cines: Karim na 110 Sul, Atlântida no CONIC ou Venâncio (Setor de Diversões Sul), Brasília na 507 Sul. Os cines Bruni 1, 2 e 3 no setor bancário norte, naquele tempo um amplo espaço deserto. Na W3 507 Sul existiu o Cine Cultura onde durante os anos sessenta exibia filmes de arte, passando na década seguinte para faroeste italiano e pornochanchadas. E, o Espacial, esse em forma circular e com telas ao centro – ocupava espaço no centro comercial Gilberto Salomão, perto do aeroporto.

Na W3 Sul Quadra 508, principal avenida comercial, existiu a loja chique BiBaBo. Em suas vitrines encontravam-se expostas as mais belas e caras camisas, inalcançáveis para muitos. O sonho era comprar pelo menos uma para estrear nas férias seguintes. Os jovens, principalmente, gostam de vestirem-se na moda e com elegância, é o tempo de ter a beleza.

Por trás do ICC, se estendendo até o lago Paranoá, era só cerrado. Toda orla do lago Paranoá correspondente aos domínios do campus foi - nos finais de semana dos primeiros anos da UnB - aproveitada como lazer pelos estudantes para pescar ou tomar banho. Fui uma vez até o lago e não me recomendaram retornar, um colega chamado Sabará havia se afogado. Suas águas paradas eram pesadas. Em alguns domingos íamos passear no Parque da Água Mineral. Por lá encontrávamos com colegas da universidade aproveitando o tempo de calor para tomar um banho saudável naquelas águas límpidas e cristalinas. São nascentes de água mineral que formam piscinas em contínua renovação.
Da esquerda para a direita: João Batista Ramos, Reinaldo Soares, Osvaldo Moreira Lima e Almério França. Foto de Almério França


Quando sentíamos necessidade assistíamos a missa na Igrejinha da Asa Sul ou no magnífico santuário Dom Bosco. Na L2 norte havia o centro espírita, frequentado pela turma.

Quando se queria ver garotas em maior quantidade tinha-se que ir para Taguatinga, onde residiam muitas famílias de nordestinos e já se formava uma colônia de piauienses.

Na cidade Satélite do Guará, Hélio Portela promovia nos finais de semana churrascos dançantes para seus convidados. De tão animados, começavam no sábado pela manhã e adentrava a madrugada do domingo. Naquela cidade também ainda mora José Wilson Martins Maranhão, Pedro Amador Ferreira Maranhão e sua irmã Maria Conceição Maranhão Silva. Ele possuía uma vespa e com ela fizemos boas farras sem deixar de levar algumas escorregadas pelo solo molhado e escorregadio do Planalto Central.

As festas dos Estados aconteciam durante uma semana de cada ano, próxima a Torre de Televisão. Tempo de rever e conhecer os novos conterrâneos estabelecidos no Distrito Federal. Contava-se com divertimento e aventura certa.

Foi costume dos estudantes oeirenses, nos finais de semana, visitar os conterrâneos. Nessas ocasiões se procurava chegar próximo da hora das refeições visando mesmo participar de um bom jantar. Sempre fui bem recebido nos apartamentos de Elisabeto Ribeiro Gonçalves e Márcia, Antônio Amorim Guida e Jacira e o de Armando Ferraz Nunes e Teresa.

Por volta de 1972 foi inaugurado o CNB-Conjunto Nacional de Brasília, primeiro Shopping da Capital Federal, situado do lado norte da rodoviária. No local se instalaram as lojas Americanas, Pão de Açúcar, sala de cinema (Cine Márcia), livrarias, pizzarias, restaurantes, doceterias e outros comércios sofisticados. Nas folgas e feriados a estudantada da UnB se fez presente naquele novo e deslumbrante local. Noutras fizemos viagens para assistir as cavalhadas de Pirenópolis. Retornei a essa cidade com o Zé Luís Mendonça, quando ele ganhou um fusca e necessitou se habilitar com uma carteira de motorista.

Não havia violência nem assaltos, ficava-se na rodoviária até a madrugada e depois, despreocupados, se tomava os carreiros rumo aos apartamentos funcionais das SQN 402 a 406, por detrás e por diante só se via a mata do cerrado.

Assistimos a construção do novo RU, a transferência da biblioteca e da reitoria para seus prédios definitivos, na parte leste do campus. No final do terceiro ano de universidade as manhãs de domingo passaram a ser na recém-inaugurada piscina do Centro Olímpico. Foi a nossa alegria.

Os estudantes: Cada aluno tinha sua matrícula formada por um número representativo da ordem alfabética do seu nome, mais uma barra e o ano de ingresso na UnB. Identificava-se cada turma pelo ano do seu acesso. A minha foi a de barra setenta e um, fui o 110/71.

Entre nossa turma encontrava-se alunos barra setenta e barra setenta e dois, por serem retardatários ou por anteciparem seus tempos de faculdade. Durante o curso fizemos trabalhos de campo em Cristalina de Goiás, São João da Aliança, Alto Paraíso e Hidrolândia. Não gostava daquele tipo de atividade, provocava um tremendo mal humor.

Fomos para o trabalho de campo de petrologia Ígnea. São João da Aliança naqueles dias me pareceu uma cidade parada no tempo. O casario construído em estilo colonial, caracterizado por grandes beirais, porta e janelas com soleiras de madeira pintadas em cores berrantes. Tudo típico da arquitetura do interior goiano. Suas ruas desertas e tortas, sem piso, apenas a superfície natural coberta por gramíneas. Um ou outro animal amarrado às portas das casas. A igrejinha solitária, toda pintada de branco, ficava em meio a uma ampla praça sem urbanização, sem árvores nem bancos. O ar de local esquecido me encheu de melancolia. De alguma porta saíam sons de um rádio que transmitia a "Ave-Maria de Gou­nod". Já se haviam idos os últimos raios de sol. Até hoje aquele cenário continua gravado em mim. Associei aquele instante com a Oeiras de minha infância, e continuei sozinho a perambular por aquelas bucólicas ruelas ainda puras, desimpedidas de automóveis, de deso­cupados, de vendedores ambulantes, quiosques, sujeiras... , até o anoitecer. Foi ali uma das piores acomodações. Ficamos hospedados em uma velha casa de adobe, dormindo em colchões úmidos e bolorentos. Aconteceu até um episódio durante um jantar. Encontravam-se sentados próximos, Osvaldo Moreira Lima, Fernando Latorraca, eu e Ximenes, todos com muita fome. Tão logo posta à mesa peguei as espécies que eram oferecidas e misturei tudo o que cabia em meu prato. O Ximenes virou-se e falou que aquilo estava parecendo uma lavagem de porco e eu confirmei com convicção em alto e bom som. O dono da espelunca ouviu, não gostou se dirigiu ao Professor Bascara Rao comunicando que não iria mais fornecer alimentação para a turma. Estava criado um sério problema de resultados imprevisíveis. Quanta inconsequência. Mas, como o doutor Bascara era um diplomata educadíssimo, compreensivo, amado e respeitado pelos alunos, a questão foi contornada. Fui educadamente chamado para explicações e orientado quanto a comentários. Durante a viagem de volta em uma Kombi, o Ribamar Constâncio sentado no último banco, insistia em permutar algumas peças da mochila de uma colega, com outra próxima. Ela, atenta àquela travessura, não permitia que se tocasse em seus pertences, mas foi distraída e o Ribamar realizou seu intento.

Em Alto Paraíso fizemos os trabalhos de campo de estrutural e estratigrafia. A equipe era formada por Bosco, Thompson, eu e Alexandre. Fiquei dormindo em uma barraca com o Thompson, o Alexandre preferiu dormir no hotelzinho. A nossa área era no topo de um platô. Para alcançá-la tínhamos de escalar uma íngreme encosta. De suas escarpas dava para avistar a pequena cidade bem longe.
Em Alto Paraíso, turma das barracas. Da esquerda para a direita: Reinaldo, Virgilio (gatão), Iran, Wilson (Prego), Alexandre. Acocorados: Luís Ronaldo (Delega), Paulo Camargo (moita) e um mateiro


Eu e o Alexandre ficamos com a parte da estratigrafia enquanto que o Bosco e o Thompson foram responsáveis pela estrutural. Dessa viagem ficou a lembrança dos banhos nas águas geladas em um rio que corre por entre extensas rochas retrabalhadas e desnudas, formando panelões, por vezes com pontas alongadas e afinadas. Parecia paisagem extraterrestre. Em todos os inícios de noite o dono de um boteco ao lado de onde estávamos, ficava com uma pequena radiola a repetir a mesma música “Adios pampa mia”. Não dá para esquecer as noites e manhãzinhas geladas da alta Chapada.

Na cadeira de geologia econômica o professor Bascara Rao nos levou para fazer o trabalho de campo em uma mina de cromita, entre os municípios de Hidrolânda e Cromínia. Ficamos hospedados em Goiânia. Fiz equipe com Ximenes e Armando Neiva.
Em Goiânia, turma de Geologia Econômica com o Professor Bascara Rao


O cotidiano. Pelas salas de aulas, nos microscópios aprendendo a identificar minerais pleocróicos, um universo multicolorido. Debruçado sobre amostras de rochas, determinando suas origens, composições, características e nomenclatura. Estudando geração de depósitos minerais, métodos de prospecção, o movimento das águas. Elaborando mapas estruturais, buscando ver as representações cartográficas em três dimensões. Treinando visualização, separando texturas, dobras e falhas em fotos aéreas, interpretando eventos pretéritos e se habilitando a descrevê-los. Melhorando a qualquer custo a arte de redigir... Pelo corredor das geociências, por fim, na sala dos formandos estávamos sempre nos encontrando.
Sala de formandos: Da esquerda para a direita: Alexandre, Bosco, Emiliano Jacaré, Reinaldo, Homero, Alfredo e Gaspar (de costas)


No término do curso não participei da colação de grau, minha mãe teve de ser operada com risco de vida. Regressei a Oeiras após a última prova do semestre. Fui colega de: Alexandre Victor Schultz Filho (alemão), Adão Sousa Cruz (preguiça), Ananélia Marques Alves, Antônio Eustáquio Rabelo, Antônio Carlos Ribeiro, Carlos José de Sousa Alvarenga (adolescente), Daltro Pinto Lobo, Fernando Latorraca, Francisco de Assis Ximenes de Sousa, Gedson Marques Vilela, Homero Lacerda, Iran Garcia da Costa, João Batista Ramos (pisca), José Ribamar Constâncio da Silva, Luís Ronaldo Guimarães (delega), Rivadávia Barbosa E. Silva, Thompson Sobreira Rolim, Wilson Febolt, Armando da Silva Neiva, Amauri Freire da Costa (borracha), José Eduardo do Amaral, Osvaldo Barbosa Ferreira Filho, Vera Lúcia Ayres Aquino, Alex Vinicius Bernardi, Alfredo José C. Poli, Almério Barros França, Antônio de Assis Moraes (Toin veloz), Bernardo Cristóvão C. da Cunha (Viet), Carlos Horácio Bertoni, Edísio Rodrigues Rocha, Etiene Mauricie Henri Gontier, Emiliano Ferreira de Resende (Jacaré), Evandro Carele Matos, Hugo de Araújo Pontes, Jad Salomão Neto, João Batista Pontes (João coragem), João Bosco Monteiro Rodarte, José Carlos Gaspar, José Luís Galvão de Mendonça, Milton Garcia Baleeiro (Mimi), Neuza Batista da Silva, Omar Ferreira Lopes, Osvaldo Moreira Lima (Django), Paulo Roberto Camargo, Pedro Moura de Macedo, Sevan Naves, Sílvio Costa Matos (garrafa), Virgílio de Paula Guimarães, Wilson Leão de Sá, Márcio Reinaldo de Sousa.... Por algum tempo esteve entre nós um aluno apelidado de Polanski, era meio disturbado.

Alexandre Schultz, fã incondicional dos filmes de Sam Peckinpah (aquele que popularizou cenas de violência em câmara lenta), com quem eu dividia uma assinatura da revista Veja, foi amigo de todos. Gostava de relatar as suas inverossímeis conquistas amorosas e nós as ouvíamos dando-lhe crédito. Dizia estar sempre sendo paquerado pelas mais belas estudantes. Ele, filho de alemães, caucasiano, de porte alto, educado, manso, risonho. Elas, as mais belas se concentravam nos cursos de arquitetura e no de letras. Depois, soubemos ter ele falecido precocemente logo após sua graduação, trabalhando na selva amazônica.

Pelo sim pelo não, vivia-se sempre mudando de endereço, os proprietários e locatários não toleravam bagunças. Depois que foi desfeita a república no apartamento do Mousinho, passei a morar em companhia com Raimundo Nonato Nunes Ferraz e João Costa e Castro, pelos apartamentos nos blocos das SQN 402 a 406. Ano seguinte Sebastião Nunes Ferraz se juntou a nós. Certa feita, esse quarteto havia sido convocado para desocupar um quarto alugado e procurar outro local. Após achar e pagar adiantado o novo aluguel, saímos para comemorar o feriado na base da coca cola com rum Montilla. Quando se deram por satisfeitos, retornaram. Ocorreu que somente ao chegar ao novo endereço é que veio a vontade incontida do vômito. Espalhamo-lo pelas escadas, corredores, hall, a sala do apartamento, enfim borramos o sanitário alheio. Caímos na cama e adormecemos. Na manhãzinha do dia seguinte fomos despertados pela esposa do proprietário. Disse ter reparado a limpeza, que seu marido tinha ido ao açougue e que ao retornar, se ainda estivéssemos por lá, ele jogaria nossos pertences pela janela. Soubemos que o homem era tido e havido no bloco como ignorante e valentão. Reunimos forças e descemos para os pilotis do bloco, armamos nossas camas e voltamos a dormir o sono reparador. Pelo meio dia o Ximenes passa procurando um local para almoçar e ao ver a cena, se ofereceu para, juntamente com o Ferraz, procurar um quarto vago para morarmos. Fomos parar no apartamento do Lindório, na SQN 404 bloco.
L2 Norte e a Esplanada dos Ministérios vistos da SQN 403 


Ao nos reinstalar, o João ainda convidou para nova comemoração, mas a ressaca foi mais convincente. Nesse local pouco foi aprontado, moramos ali por um bom tempo. Entretanto, fomos convidados a desocupar o quarto. Acredita-se que tenha havido suspeitas de ciúmes. Assim, cada um tomou um rumo. Fiquei por alguns dias como clandestino no C.O., até ser solicitado para me retirar. Depois andei pernoitando pelo Cruzeiro (Gavião) no apartamento dos meus primos Abílio Soares Mendes, Abderaman Soares Mendes, Maria do Socorro Soares Mendes, Maria de Carvalho Mendes e Madeirinha. Por um semestre fiz parte de uma república constituída por Helvídio de Aguiar Ferraz Filho, Álvaro Mendes Ferraz, Alcides Martins Nunes Filho, Jório Mendes Lima, Dalvanice Soares Loureiro, Maria de Lourdes Carvalho Borges (Hude), Bernadete Maria Freire Rocha, Maria Lúcia Freire Rocha, Ana Maria Freire Rocha, Lenimar (que veio a se casar com Helvídio) e Joraci Mendes Lima, no final da W3 norte, próximo da Slaviero (uma revendedora de automóveis). E por mais tempo, até o último dia como estudante, no bloco 69 da SQN 406, no apartamento de dona Lourdes, uma senhora muito educada, de fino trato e tolerante. Responsabilidade mesmo, só com os estudos.
Foto da SQN 406 em 1972


Foi expressiva a comunidade de jovens piauienses no DF trabalhando e ou estudando pelas três universidades instaladas naqueles anos (UnB, CEUB e UDF). Podem ser lembrados: Raimundo Nonato Nunes Ferraz, Sebastião Nunes Ferraz, João Costa e Castro, Humberto Costa e Castro, Manoel de Castro Dias, Juscelino de Castro Dias, Ronald Belo, Lourenço Belo, Cícero Ferraz, Francisco Ferraz de Castro, Francisco Oliveira da Silva Barros, Manoel Leitão de Melo Neto. Hermenegildo Mousinho, Evandro Mousinho, Antônio de Alencar Freitas Neto, Lino Wagner Portela Lopes, Francisco das Chagas Learth Filho, Francisco José Patrício Franco, Marcilio Machado. Tertuliano Milton Brandão Sobrinho. Pedro Carvalho Borges. Kleber Dantas Eulálio, Antônio da Silva Macêdo, José Maria Correia Lima e Silva, Francisco Martins Portela, Wartene Portela Lopes, Jeremias Reis Pereira. Socorro Cordeiro, Lúcia Andrade, Socorro, Rosalina Santos, Karenina Dantas Eulálio. Hude, Mary Francis do Carmo Batista, Maria das Graças Amorim Guida, Gardênia Portela Lopes, Antonieta de Jesus Carvalho, Francisca Teresa de Jesus Carvalho. José Maria de Carvalho Freitas, Edemir Veras de Carvalho, Carlos Alberto Matão Lemos, Geraldo Amâncio Guedes, Joaquim Gomes Costa Filho, Aldir Soares Pessoa, Odmilson Soares Queirós (Borora) e Flávio Soares do Nascimento. Francisco de Assis Ximenes de Sousa, José Ribeiro de Araújo Filho (Zeim). Edson de Moura Sampaio Melo e Antônio de Pádua Sampaio Melo. João Batista dos Santos (Batistinha), José Francisco de Sousa Filho. Os irmãos: José Arimathéia de Almeida, Antônio de Pádua Almeida e Franco Almeida. Murilo Antônio Paes Landim, Antônio Carlos Ferreira, Carlos Augusto, Valter Luís de Sousa, Evandro da Costa Ataíde, Charles Camilo da Silveira, Petrônio Portela Nunes Filho, Vicente Ribeiro Gonçalves Filho, Leonel José Silveira Madeira Campos, Francisco de Assis Ribeiro Madeira Campos Filho, Ricardo Augusto Silveira Madeira Campos, Paulo de Tarso de Morais Trindade de Carvalho, Ítalo Robert de Morais Trindade de Carvalho, Francisco das Chagas Lages Correia Filho, Elias Ximenes do Prado Júnior, Fernando Aniceto de Oliveira Lima, Hermes Renato Soares Viana e Paulo Soares Viana. Carlos Aluísio Ribeiro, Guilherme Cavalcante de Melo, Durvalino Couto Filho, Paulo José Cunha, Plínio Campos Carvalho. Armando Ferraz Nunes, Jesuíno Barbosa Nunes Filho, Luís Ferraz Nunes, Olavo Brás Barbosa Nunes Filho, Alberto José Bona Andrade (Bezé), Marcilio Bona Andrade, Carlos Borromeu do Vale, José Ribamar Constâncio da Silva, Teodoro Sobral Neto, José Horácio de Matos Gualberto, Benjamin Kalume, Adolfo Uchoa Neto, Alcino Rodrigues Queirós. Queirós, Alberoni, Teobaldo, Carlos Alberto, Raimundo do BRB, Paracy de Regeneração, Moraes de São José do Peixe. Esdras Augusto Nogueira. Antônio Fernando Firmino de Andrade Portela (Tote Portela), Jean Rosa Peixoto de Oliveira, Roberto Cerqueira Dantas (Manteiga), José Marcondes Oliveira Machado, e Lucimar Oliveira Machado. Vagner Ferrate da Silva Oliveira, Francisco Inácio Milanez, Odilon de Medeiros Parente, José do Patrocínio Paes Landim. Elísio Vieira de Sá, Francisco Mendes Mesquita. Acilino Martins Portela, Pedro Roosevelt Martins Portela. Paulo James Andrade, Napoleão Azevedo, Turenne Ribeiro Júnior, Antônio Ribeiro, Paulo César de Sousa Ribeiro. Gerardo Eulálio Martins. Álvaro Mendes Ferraz. José Joaquim Gomes da Costa, Egídio Portela Soares, João de Deus Soares Filho, Paulo de Tarso Ribeiro Gonçalves Neto, e mais outros tantos. Cada um com suas histórias e situações.

Em 1974 consegui um trabalho no CNP e passei a ganhar três salários mínimos – senti-me rico. Tinha alcançado um emprego no MME. Passei a conhecer o Pamonhão Kalu, tomei umas cervejinhas no Beirute, jantei uma vez no Amarelinho e frequentei algumas pizzarias. Até fiz a primeira viagem de avião para Teresina. Por esse tempo, João Costa ganhou de seu pai um fusquinha de cor azul claro e o Nonato Ferraz um corcel verde – aí então algumas farras passaram a ser motorizadas. Transformávamos.

Em junho de 1975 o doutor Wartene comprou o seu primeiro carro, um Volkswagen 1300 de cor verde. E com ele aprendeu a dirigir. Ele afoito, em alta velocidade, desafiando a sorte pelas grandes avenidas do plano piloto, com Francisco M. Portela e eu dentro daquele carro, sem temer as consequências.

Nesses cinco anos a mudança da cidade foi marcante, a deserta rodoviária já apresentava movimentação crescente de pessoas. Em 1970 ainda havia muitas superquadras por serem ocupadas e a asa norte constituía um imenso cerrado. No meu último ano de Brasília a asa sul estava semi-completa. A construção civil mostrava-se intensa, despontando prédios ao longo de toda asa norte, mas com muitas superquadras ainda “virgens” sem nenhuma construção. Brasília já era a cidade amada, havia me tornado um candango, sentindo-me um quase pioneiro. Contudo, minha festa acabou em 1975.

Capitulo do livro “Aquarelas de um Tempo”

9 comentários:

  1. Relato interessantíssimo, principalmente para quem viveu este momento.

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  2. Gostei do que li e senti saudades, pois naquele tempo também estudava na UnB.

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    1. Comunico e convido aos leitores desse capítulo do livro Aquarelas de um Tempo que essa obra será lançada dia 23 de março próximo - uma quarta feira - na livraria ENTRELIVROS na avenida Dom Severino ao lado da fazendaria próximo da farmácia BigBem, às 7 horas da noite. Convido a todos e aos que assim porcederem. Abraço e até por lá. Antonio Reinaldo Soares Filho

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  3. Comunico e convido aos leitores desse capítulo do livro Aquarelas de um Tempo que essa obra será lançada dia 23 de março próximo - uma quarta feira - na livraria ENTRELIVROS na avenida Dom Severino ao lado da fazendaria próximo da farmácia BigBem, às 7 horas da noite. Convido a todos e aos que assim porcederem. Abraço e até por lá. Antonio Reinaldo Soares Filho

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  4. Que legal, tem o nome do meu pai ai na sua turma! Sucesso

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  5. Quem escreveu esse artigo foi Antonio Reinaldo Soares Filho, geólogo.

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  6. Quem escreveu esse artigo foi Antonio Reinaldo Soares Filho, geólogo.

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  7. Que bom, amigo Soares. Uma verdadeira História, recheada de muitas Estórias do Mossoró Bom tempo de UnB e de Brasília. Interessante também, além dos fatos, é você lembrar ainda do nome de cada personagem. Um grade abraço. Nonato Ferraz.

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