quinta-feira, 6 de setembro de 2012

UMA CARTA INTERNÉTICA



Trata-se de um comentário, enviado por e-mail, versando minha crônica sobre o Evandro da Cunha e Silva, mas que para mim teve o sabor de uma carta postal, digna dos grandes missivistas de antigamente, como Monteiro Lobato e Godofredo Rangel, que bem merece ser coligida em livro. 
E. C.

Estimado Elmar Carvalho:

Abro o computador no seu valioso blog e nele encontro uma crônica que, antes de tudo, primeiro me emociona, segundo me lava a alma diante das verdades e da sinceridade de suas palavras que suavizam as tristeza e as dores da ausência.
Já escrevi alhures que, quando ia a Teresina, era Evandro o único interlocutor no domínio intelectual entre os membros da minha família. Se fosse citar um segundo, seria a Sônia.

Seu diário cresce e aparece, acompanha fatos, incidentes, eventos e tudo que sua privilegiada capacidade de observação pode filtrar à semelhança do que aos poetas ocorre insuflado por uma inelutável motivação ao ato da criatividade.

Suas palavras, em belo estilo cristalino, fluente e elegante num cuidado e carinho sempre dispensados ao enunciado em língua portuguesa, me foram confortadoras.
O seu texto em prosa ainda tem uma vantagem: na condição de diário ou de memorialismo, nele destaco a precisão no desenho de perfis e na escolha criteriosa da seleção para levar o leitor a formar uma ideia bastante lúcida do que seja a descrição de um fato, a narração de um evento e a exposição do seu pensamento e do que julga indispensável ao texto construído. Memória apurada, lembrança fiel e segura do passado transposto pela exigência do presente do memorialista.
Não há diário sem todos esses atributos mencionados.

O perfil de meu irmão Evandro está aí em seu texto combinando a suavidade com o rigor analítico de uma personalidade que viveu mais na sua potencialidade.
O resultado desta forma de sua escrita literária dá peso e qualidade ao escritor.
Meu irmão sai engrandecido com o que Você dele diz, afirma, relembra e adverte. Por isso tudo, é que saio comovido, mais leve, menos angustiado.

Esta página do seu diário sai da simples biografia e penetra com brilho a singularidade do valor mental e espiritual do meu irmão. E entre o mental e o espiritual sobrepõe-se o último, o que vai ao encontro das realidades simbólicas, as quais se situam acima das contingências e limitações da matéria do ser finito.
A passagem para o intemporal, feito de lembranças de Evandro, de palavras dele recuperadas pela memória, de imagens físicas, de lugares de encontros, da voz ouvida, dos gestos fisionômicos, da captação de todos esses fenômenos da existência, é a via segura que só texto bem pensado possibilita no ato da leitura.

Seu condão de recuperar o tempo vivido como dado fenomenológico é a melhor prova de que a leitura eterniza o ser sempre que o leitor ao texto regressa para o encontro renovado, e por esta razão atualizado na sua existência como linguagem manifestada na sua perenidade. A linguagem é uma forma de resistência à natureza mortal do homem. Só a linguagem eterniza os seres a quem admiramos. E Evandro, no seu belíssimo texto, revivido está nos nossos corações

Um forte abraço e a gratidão do

Cunha e Silva Filho
5 de setembro de 2012 14:59

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