28 de novembro
UM NOVO BARÃO DE MÜNCHHAUSEN
Elmar Carvalho
No sábado, dia 17, eu, a Fátima, o Canindé Correia e
o Vicente de Paula (Potência) fomos a Barra Grande, em demanda da
Maison Fontenele, que passou por uma ampla e radical reforma, que lhe
aumentou bastante o tamanho, e lhe deu uma beleza aparentemente
rústica, mas na verdade com todo o conforto da modernidade. Lá,
entre outros, já estavam o Jonas Filho Fontenele de Carvalho e sua
mulher Dulce, irmã do De Paula, Marília, filha dos anfitriões, e
Zezé Araújo, irmão da dona da Maison, além de outras pessoas,
vindas de Brasília, que não conhecia.
A área da “Diretoria” passou por uma reforma, e
agora se destina mais aos serviços gastronômicos, de modo que
preferimos ficar debaixo das árvores do quintal, onde tínhamos a
maciez da areia, sombra e o frescor do microclima. Como eu lamentasse
a falta do cantinho dos “diretores”, o Jonas nos informou que já
estava sendo providenciado um outro espaço, no local que nos
indicou. Acrescentou que pretende ilustrá-lo com uma grande charge
dos membros natos e fundadores da “Diretoria”.
O Zezé, logo ao chegarmos, contou-nos que o Porfírio
Fontenele de Carvalho, ao saber que eu viria visitar o seu irmão
Jonas, anunciou que pretende ainda me contar o segundo tempo de um
jogo mítico de futebol, que presenciou em sua infância. A parte que
ele já narrou era cheia de detalhes folclóricos e inusitados.
Recordo que ele encerrou seu relato lendário com o relato de um
forte chute para o firmamento, em que a bola foi tão para o alto e
tão para longe que deixou de ser vista ao se aproximar das nuvens.
Diante disso, eu pensava que o jogo havia terminado, com
a bola tomando o caminho do infinito, onde poderia ser atraída pela
gravidade de algum astro colossal, ou mesmo sendo sugada por algum
buraco negro. Fica uma grande interrogação sobre quando e onde a
bola caiu, e sobre como teria terminado essa disputa tão cheia de
peripécias exóticas e estapafúrdias.
Acaso, sem nenhuma malícia de minha parte pergunto:
seria o Porfírio o nosso Barão de Münchhausen da atualidade ou o
próprio Trancoso redivivo, a contar novas estórias/histórias? Foi
um dia agradabilíssimo, mas que não pudemos encompridar, porque o
Jonas e sua família iriam participar de uma festa de casamento da
filha de um amigo, o ilustre advogado Antônio Cajubá de Britto
Neto, membro de uma notável estirpe de causídicos parnaibanos.
No dia seguinte, em Parnaíba, antes de retornar a
Teresina, fui tomar um caldo reforçado na lanchonete do senhor José
dos Santos, situada na frente do Mercado de Fátima. Esse
estabelecimento é frequentado por valorosa plêiade de boêmios,
conversadores e contadores de “causos”; muitos dos quais eram
fregueses do saudoso Dom Augusto da Munguba, proprietário do bar
Recanto da Saudade, também de saudosa memória, posto que veio
abaixo, um pouco depois da morte de seu dono. O Augusto não teve
sucessor, infelizmente, e o bar parecia moldado para a sua
personalidade ímpar de bonachão, mas bonachão que sabia impor
ordem e respeito nas libações etílicas de seus fregueses.
Na lanchonete, depois de prévia consulta sobre seu
interesse, entreguei ao Marcos, filho do proprietário, um banner,
com uma bela charge do Augusto e do Dourado, que já partiram para
outra dimensão do espaço-tempo. A arte, executada pelo grande
artista plástico Gervásio Castro, irmão do não menos notável
Fernando di Castro, ilustrava um poema de minha autoria, feito em
homenagem ao Augusto e ao seu legendário e inimitável boteco.
O banner fora posto numa moldura digna, em sinal de meu
respeito pelo chargista e pelos dois homenageados. Já na
segunda-feira, por telefone, o Canindé Correia me informava que o
Marcos dos Santos estava entusiasmado com o quadro, que disse ter
valor histórico e artístico, e que iria afixá-lo em lugar de
destaque. Com efeito, creio que ele tem razão, afinal o Dourado e o
Augusto são duas figuras populares, que ficarão na memória de
quantos o conheceram, e a ilustração do Gervásio tem um valor
artístico inestimável.
Mestre Elmar,
ResponderExcluiracabo de ler sua crônica e, embora não me considere merecedor, me sinto orgulhoso pelos elogios recebidos porque sei que vêm do fundo do seu coração. Muito obrigado, amigo. Quis postar esse comentário no seu blog, mas não consegui. Me sinto um troglodita quando tento executar essas tarefas modernas.
Se o artista ainda não foi escolhido, me candidato a ter a honra de fazer a charge que irá ilustrar, na Maison Fontenele, o espaço reservado aos membros natos e fundadores da "Diretoria".
Abraço,
Gervásio