PROPOSIÇÃO
POÉTICA
V. de
Araújo (1950)
Se tu ainda não escreveste um poema,
tenta,
escreve, escreve ao menos um verso,
um verso
que não agrade a todos,
um verso
que perturbe os hipócritas,
um
verso... mesmo que ele seja imoral,
um verso
SUJO como o POEMA de Gullar;
um verso
audaz que irrite os santos,
que
provoque insônia e afugente as FERAS,
um verso
perfuro-contundente como o trauma,
e que
descortine, de uma vez, as farisaicas aparências.
Se tu
ainda não escreveste um poema,
tenta,
escreve, escreve ao menos um verso,
um verso
que por causa dele te critiquem,
um verso
que machuque os covardes,
um
verso... mesmo paranoico ou desarticulado,
um verso
letífero como a faca de dois gumes,
um verso
insolente que triture as convenções,
que seja
lúbrico e desvirgine as verdades escondidas,
um verso
etéreo que se desfaça num segundo,
mesmo que
ele seja sem rima, sem rima e sem cadência.
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