Senhores
e senhoras.
I.
IMORTALIDADE ACADÊMICA
Segundo Heródoto –
considerado o pai da História, o numeroso exército persa possuía
uma tropa de infantaria pesada composta por dez mil homens, que
avançava à frente, nos combates. Essa formação era permanente, de
forma que durante as batalhas, cada membro morto ou gravemente ferido
era imediatamente recolhido pelos companheiros e substituído por
outro, entre os que estavam na retaguarda. Então, essa tropa de
elite sempre avançava em combate com o mesmo número inicial. Dessa
forma, se morresse um combatente era substituído por outro
combatente; se morressem dois combatentes eram esses substituídos
por outros dois combatentes, e assim, sucessivamente, de forma que a
infantaria persa nunca tinha mais, nem menos de dez mil integrantes.
Daí ganharam a fama de imortais, ou imorredouros, na tradução
literal do grego, porque o inimigo tinha a sensação de que
realmente o eram, vez que nunca diminuíam.
Assim, também, são as
academias de letras. Fundadas no modelo francês têm a formação
permanente de quarenta membros. E toda vez que falece um, sua vaga é
preenchida por outro. Dessa forma, nunca aumentam nem diminuem. Pelas
mesmas razões da infantaria persa, também seus membros são
cognominados de imortais. Imortais na permanente composição da
casa, na lembrança dos pósteros e na perenidade da obra, é o que
se deseja.
A imortalidade foi
sempre objeto de fascínio do homem, desde o começo dos tempos,
constituindo-se num dos mais profundos desejos humanos. No fabrico do
elixir da longa vida se bateram os mais antigos e ousados alquimistas
do passado. Na busca pela fonte da juventude os homens foram capazes
de lutas sangrentas e de proezas mirabolantes. Tudo em vão, pois já
trazemos ao nascer a certeza da morte: morte física, biológica.
Dizia com ironia o
argentino Jorge Luís Borges: “Todos
os caminhos levam à morte. Perca-se”.
Para o velho bardo
Manuel Bandeira: “Duas
vezes se morre: primeiro na carne, depois no nome”.
Os mais conscientes
dessa condição humana, conformaram-se com a entrega do corpo à
terra e foram buscar a imortalidade da alma. Daí nasceram as
religiões, pregando a vida eterna depois dessa passagem terrena.
A imortalidade acadêmica
tem sentido diverso. Quando se diz que os acadêmicos são imortais,
evidentemente, não se está dizendo que são imorríveis ou
imorredouros, o que seria até interessante. Mas que possuem
vitaliciedade e que serão lembrados para sempre, na forma
regimental, pelos futuros ocupantes de sua cadeira; que tiveram o
reconhecimento público de sua obra pelos contemporâneos e que terão
as suas efemérides lembradas pelos demais acadêmicos; enfim, que
foram pessoas úteis à sua comunidade e cujos nomes merecem ser
lembrado pelos pósteros.
II.
AS ACADEMIAS
Mas para que servem as
academias? Essa é uma indagação que, vez ou outra se ouve. Existem
aqueles que são acadêmicos até demais e, às vezes, se tornam
inconvenientes, se insinuando em vaga inexistente. Outros, que de tão
antiacadêmicos, vivem desfazendo das academias.
Na verdade, o fato de
ser acadêmico não faz ninguém escrever melhor. Todavia, entre o
critério de escolha dos novos acadêmicos está o de se eleger
aqueles que bem escrevem. E em assim sendo, as academias são em si
um conjunto de intelectuais que prezam a arte do bem escrever. Na
verdade, se as academias não tivessem outra utilidade, justificaria
a sua existência a reunião de escritores e a troca de informações.
É um ambiente propício à discussão intelectual e geração de
ideias, à divulgação das letras e ao desenvolvimento da literatura
e da historiografia.
III.
A APL
A nossa academia,
fundada há quase um século, tem primado pelo cultivo do idioma
pátrio e pelo desenvolvimento da literatura piauiense. Fundada por
uma geração brilhante, cujo pensamento intelectual plasmado na
Escola do Recife, foi alimentado pelo idealismo positivista de
Augusto Comte(1798 – 1857), pela pregação agnóstica e pelo
cientificismo positivista de Haeckel(1834 – 1919) e Spencer(1820 –
1903). Foram líderes dessa geração, entre outros, Anísio de
Abreu, grande tribuno parlamentar, Abdias Neves, Clodoaldo Freitas e
Higino Cunha: o primeiro faleceu antes da fundação da Academia,
sendo eleito patrono de uma Cadeira, e o segundo não está entre os
dez fundadores porque se encontrava no Rio de Janeiro, no exercício
do mandato de senador da República, mas aderiu à mesma
imediatamente, tomando posse na Cadeira 11.
Durante todos esses anos
a academia nunca se afastou dos ideais de seus fundadores, pugnando
diuturnamente pelo desenvolvimento da literatura e da historiografia
piauiense. Nenhum grande projeto intelectual, projeto de qualidade,
foi desenvolvido no Piauí, sem a participação efetiva da Academia
Piauiense de Letras. Se voltarmos as vistas para o passado e
verificarmos a fundação da velha Faculdade de Direito do Piauí, da
Faculdade de Filosofia, de Odontologia, de Medicina e, mesmo da
Universidade Federal do Piauí, vamos ver a participação efetiva de
muitos acadêmicos.
Na produção literária
piauiense, mercê da carência de recursos financeiros, a Academia
foi sempre estrela de primeira grandeza, para isso contando com
importantes parceiros, que os concitou a grandes empreendimentos. Com
o Governo do Estado editou importantes obras; o mesmo ocorreu, em
épocas diversas, com o Município de Teresina, com o Senado Federal,
com a Universidade Federal do Piauí, com o Banco do Brasil e com o
Banco do Nordeste, para lembrar apenas as parcerias mais expressivas.
É importante ressaltar
o memorável Plano Editorial do Piauí, que notabilizou o primeiro
governo de Alberto Silva, no início da década de setenta,
promovendo o resgate de importantes obras e divulgando outras novas.
Foram 37 publicações, numa época em que era difícil publicar um
livro. Pois, à frente desse grande empreendimento literário
brilharam os nomes de Arimatéa Tito Filho, estimado e saudoso
presidente da Casa de Lucídio Freitas; de Deoclécio Dantas e
Armando Madeira Basto, mais tarde e em homenagem à sua determinação
nesse empreendimento, também fizeram-se membros, ao lado do próprio
governador Alberto Silva, de nossa agremiação literária.
Outro grande momento
literário, um como sucedâneo do outro, representando, ambos, em seu
conjunto, uma verdadeira revolução intelectual no Piauí, foi o
Projeto Petrônio Portella, no início da década de oitenta, no
governo Hugo Napoleão. Mais uma vez brilhou a estrela de Arimatéa
Tito Filho, ao lado do secretário de cultura Jesualdo Cavalcanti,
que o concebeu, do médico Clidenor Freitas Santos, do professor
Benjamim do Rego Monteiro Neto e do governador Hugo Napoleão, todos
integrantes da Casa de Lucídio Freitas. Portanto, esses nomes devem
ser guardados pelo povo do Piauí.
A Academia mantém,
desde sua fundação, a sua revista literária, já na 70ª edição.
Desde que assumimos a direção do Sodalício demos especial atenção
à atualização dessa revista, já tendo publicado sete edições e
encontrando-se com mais duas em fase de preparo, para fechar esse
ciclo com a edição relativa ao corrente ano, de forma que
publicaremos dez edições, atualizando, assim, essa importante
revista literária piauiense.
Recentemente, em
parceria com o Governo do Estado, a Academia deu à estampa a Coleção
“Grandes Textos”, divulgando nove importantes obras de cunho
histórico e literário. Publicou algumas obras avulsas e deu início
a uma importante coleção literária. Trata-se da Coleção
“Centenário”, visando comemorar o primeiro século de fundação
da Academia. Foram publicados os três primeiros números, dois em
convênio com o Senado Federal e um com a Universidade Federal do
Piauí. Dando prosseguimento a essa iniciativa, mais seis obras
literárias se encontram no prelo, duas em preparo e doze foram,
recentemente, aprovadas pelo Conselho do Sistema de Incentivo
Estadual à Cultura(SIEC). É nossa intenção que esse seja o maior
empreendimento literário do Estado do Piauí, superando os dois
anteriores, com a edição de mais de sessenta obras que forem
julgadas importantes para a compreensão da realidade piauiense. Será
o ponto culminante dos festejos com que a intelectualidade piauiense
comemorará o centenário de fundação da Academia. Para isso
desejamos contar com o apoio das instituições públicas e da
iniciativa privada.
IV.
OS CASTELO BRANCO
Na
Academia, para o bom êxito deste trabalho teremos de contar com o
apoio e a colaboração de todos os acadêmicos. Nesse aspecto, a
eleição de Homero Ferreira Castelo Branco Neto é um alento, pois
se trata de um escritor admirável e um intelectual engajado e muito
determinado em seus afazeres. Homero costuma dar tudo de si em cada
coisa que faz, por mais que pareçam pequenas. Nesse aspecto segue à
risca a lição do bardo Fernando Pessoa:
“Para
ser grande, sê inteiro: nada
Teu
exagera ou exclui.
Sê
todo em cada coisa.
Põe
quanto és
No
mínimo que fazes.
Assim
em cada lago a lua toda
Brilha,
porque alta vive”.
Aliás,
eu não diria que Homero chega tarde, mas chega na hora certa. “Tudo
neste mundo tem seu tempo; cada coisa tem sua ocasião”. Está
no Eclesiastes(31-8). Para Homero ainda é tempo de plantar, de
construir, de se alegrar, de abraçar e de amar. A sua eleição foi
consagradora, por unanimidade, dizendo, assim, a Casa, da satisfação
em recebê-lo.
Meu caro Homero, esta
Casa é vossa, seus familiares ajudaram a construí-la. A família
Castelo Branco tem profunda ligação com a assim cognominada “Casa
de Lucídio Freitas”, ele próprio aparentado aos Castelo Branco. A
sua família deu uma enorme contribuição à literatura piauiense.
Foram patronos de
cadeiras na Academia Piauiense de Letras: Hermínio de Carvalho
Castelo Branco(2), Joaquim Sampaio Castelo Branco(3), Teodoro de
Carvalho e Silva Castelo Branco(6), Antônio Borges Leal Castelo
Branco(15), Miguel de Souza Borges Leal Castelo Branco(22), Simplício
Coelho de Resende(26) e Heitor Castelo Branco(37). A grande ausência
foi Leonardo de Nossa Senhora das Dores Castelo Branco, autor de
O ímpio confundido(1837)
e A
criação universal(1836).
Tiveram ou têm assento
nas diversas cadeiras da Academia: Fenelon Ferreira Castelo Branco,
um dos fundadores(3), Cristino Castelo Branco(15), Carlos Castelo
Branco(15), Renato Pires Castelo Branco(19), Emília Castelo Branco
de Carvalho(37), Emília Leite Castelo Branco(37), e na atualidade,
Maria Nerina Pessoa Castelo Branco(35) e Heitor Castelo Branco
Filho(37), para mencionar apenas aqueles que trazem consigo o nome da
família.
A Academia ainda abrigou
ou abriga outros descendentes de Dom Francisco da Cunha Castelo
Branco, tais como: João Pinheiro(2), Breno Pinheiro(8), Celso
Pinheiro(10), Celso Pinheiro Filho(8), Benedito Martins Napoleão do
Rego(11), Aluízio Napoleão de Freitas Rego(11), Benjamin do Rego
Monteiro Neto(15), Jacob Manoel Gayoso e Almendra(20), Gerardo Majela
Fortes Vasconcelos(22), José de Arimatéa Tito(29), José de
Arimatéa Tito Filho(22), Hugo Napoleão do Rêgo Neto (9), Alcenor
Rodrigues Candeira Filho (19), Magno Pires Alves Filho(26) e Afonso
Ligório Pires de Carvalho(29), para citar apenas os descendentes em
linha direta.
Portanto, meu caro
Homero, a sua família é quase dona da Casa de Lucídio Freitas. E
isto ocorreu porque sempre prezaram o estudo e cultivaram as boas
letras.
V.
O NOVO ACADÊMICO
V.a.
NASCIMENTO
O novel acadêmico
Homero Ferreira Castelo Branco Neto, entrou pela vida na cidade de
Amarante, barrancas do Parnaíba, terra de grandes paladinos, entre
os quais Da Costa e Silva e Odilon Nunes, ilustrados membros de nossa
Casa. Foram seus pais, dona Hosana Pontes Castelo Branco e Herbert de
Marathaoan Castelo Branco, que ali exercia o cargo de promotor de
Justiça, depois sendo juiz de Direito e desembargador do Tribunal de
Justiça do Ceará. Sobre essa época, mais tarde se reportaria o
velho pai:
“Foi justamente em
Amarante, este recanto admirável do Piauí, encravado na confluência
dos rios Parnaíba e Canindé, que veio ao mundo, no ano de 1943, meu
filho Homero”
(Mensagem ao povo de Amarante, 1978).
V.b.
FORMAÇÃO
Cedo, porém, Homero
deixa a bucólica cidade de Amarante, do “velho monge”, atravessa
a Serra da Ibiapaba, das missões jesuíticas, e depois de breve
período no interior cearense, vai ter-se na “capital alencarina”,
defronte aos verdes mares bravios. Ali cursa, com êxito, as diversas
séries dos ensinos Ginasial e Médio, para ingressar no Curso de
Economia da Faculdade de Ciências Econômicas e Contábeis da
Universidade Federal do Ceará, onde se forma no ano de 1967.
Desejando aprimorar os conhecimentos, fez especializações em
Monterrey, no México e em Atlanta, nos Estados Unidos da América.
V.c.
VIDA PROFISSIONAL
Então, a convite do
Prof. Raimundo Nonato Monteiro de Santana, ilustre membro de nossa
Casa, regressa ao Piauí, fixando-se na cidade de Teresina, onde se
emprega na extinta CODESE(Coordenação de Desenvolvimento Econômico
do Piauí), instituição que antecedeu a Fundação Centro de
Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí (CEPRO) e como professor no
Liceu Industrial e na Escola Técnica “Leão XIII”. Ainda no
campo profissional, exerceu os cargos de diretor do Departamento de
Assistência aos Municípios, secretário de Planejamento do
Município de Teresina, onde também, por breve período, exerceu o
cargo de Prefeito Municipal; em nível estadual, exerceu ainda os de
subsecretário de Planejamento, secretário de Administração, de
Fazenda e do Trabalho e Ação social.
V.d.
FAMÍLIA
Homero Ferreira Castelo
Branco Neto é casado com dona Hilma Martins Castelo Branco, de
tradicional família sul-piauiense, com quem tem três filhos:
Geraldo (administrador), Verônica(contadora) e Hosana
Karinne(médica); o casal tem, também, três netos: Stelios, Stella
Hilma e Nícolas.
V.e.
O POLITICO
Com vocação política,
Homero Castelo Branco ingressou no movimento estudantil ao tempo dos
estudos no Ceará, sendo eleito e assumindo os cargos de presidente
do Diretório Acadêmico “Nogueira de Paula”, da Faculdade de
Ciências Econômicas, e presidente do Diretório Central dos
Estudantes da Universidade Federal do Ceará(DCE/UFCE).
Portanto, com essa
imensa vontade de servir, não tardaria a ingressar na política
partidária. Disputou seu primeiro mandato de deputado estadual no
pleito travado em 1974, integrando a Assembleia Legislativa do Piauí,
onde permanece, com breves interregnos, até fevereiro de 2007.
Político ativo e irrequieto, durante esses sucessivos mandatos
parlamentares, ocupou os cargos de vice-presidente e secretário da
mesa diretora, presidente de comissão técnica e relator de várias
matérias de interesse do Estado, além de cofundador de partido
político e líder de bancada(PFL).
Homero Castelo Branco
colocou sempre seus mandatos a serviço do povo, pugnando pelas
grandes causas. Por essa razão, teve o reconhecimento popular,
consubstanciado nas sucessivas reeleições, e das diversas
organizações e instituições estaduais, nacionais e até
internacionais. A cidadania honorária lhe foi outorgada pelo povo,
através de seus representantes, em 36 municípios piauienses e em
Monterrey, no México. Foi condecorado em Nova Leon, no México, e em
Amarante, cidade homônima e patrona de sua terra natal, em Portugal.
E o reconhecimento
público não pára por aí. Tem as seguintes medalhas: do Mérito
Legislativo, outorgada pela Assembleia Legislativa do Piauí; do
Mérito Municipalista, pela Associação Piauiense de Municípios; de
Honra ao Mérito “Heróis do Jenipapo”, pela municipalidade de
Campo Maior; do Mérito “Conselheiro José Antônio Saraiva”,
pela Prefeitura Municipal de Teresina; do Mérito Legislativo, pela
Câmara Municipal de Teresina; além de várias outras condecorações
outorgadas por instituições culturais e lojas maçônicas, todas em
forma de reconhecimento ao seu trabalho em benefício das comunidades
e das instituições que representou.
E toda essa atividade
política, meu caro Homero? “Valeu a pena?”.
“..................?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena” –
responde Fernando Pessoa, acrescentando:
“Quem quer passar além
do Bojador
Tem que passar além da dor”.
Ouçamos o experiente
Homero Castelo Branco, político tarimbado, que foi muito além do
Bojador:
“Cedo me deixei
dominar pela mais exigente e absorvedora das amantes que o homem pode
portar: a política. (...).
‘A política tenho
como dona de minha cabeça. Chegou como festa – paixão e como
paixão sempre recomeço. (...).
‘Hoje ando devagar.
Tive pressa. Chorei demais por tantas topadas. Mas a política
continua-me seduzindo, apesar de ter a certeza de que muito pouco sei
dessa divindade. Ela é muito sedutora e nunca a esquecerei. Digo e
ela não acredita. É minha amada e amante de todos. Ela é bonita
demais. Aprendi a amá-la. Agora pressinto que vai abandonando-me.
Meu Deus, logo agora! Ela é parte de minha vida, de minha alma, de
meus nervos e de meu sangue!” (CASTELO
BRANCO, Homero. Sentimentos embalsamados. Teresina: Gráfica do Povo,
2013. p.43/44).
Portanto, valeu a pena.
V.f.
O INTELECTUAL
Mas o que justifica a
eleição consagradora de Homero Ferreira Castelo Branco Neto, para a
Academia Piauiense de Letras? Sem sombra de dúvidas, é a sua
intensa atividade intelectual. De fato, a sua atuação parlamentar
esteve também a serviço da cultura. Concomitante à militância
política andou publicando alguns trabalhos interessantes, o que se
intensificou depois dos mandatos parlamentares. Podemos dizer assim,
que o Piauí perdeu um parlamentar atuante e ganhou um escritor
produtivo. Em face dessa intensa produção intelectual, pertence ao
Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e a quatro academias
regionais.
Homero Castelo Branco é
autor das seguintes obras: Histórias
do velho Homero,
onde relembra a personalidade de seu avô paterno; Auta
Rosa,
resgatando uma personagem mítica de Amarante, a sempre lembrada
terra natal, cujo laço nunca se quebrou; Padre
Marcos,
estudo biográfico, o melhor que até aqui se produziu, sobre um dos
principias personagens do Piauí na primeira metade do século XIX, o
famoso Padre Marcos de Araújo Costa, da Boa Esperança, religioso
exemplar e um educador de grandes méritos; e, Alcides
– o primeiro filósofo e o último coronel de Barras,
tomando por tema o político barrense Alcides do Rego Lages; com
saborosas crônicas e uma pitada de humor, traça um painel da cidade
de Barras, sua história, suas contendas políticas, enfim, é Barras
que surge, além de trazer à baila o fazer político sertanejo.
A divulgação de suas
ideias, a análise da conjuntura política, as teses defendidas nos
palanques populares e na tribuna parlamentar, ele as resumiu em:
Temas
de uma intensa vida parlamentar; Planejamento familiar e aborto: uma
discussão sem hipocrisia;
100
dias sem rumo;
Agente
do desenvolvimento;
João
Paulo II;
Do
Planalto a Guaribas;
Voz do
ontem;
Grandes
civilizações americanas;
2004 –
do sonho ao pesadelo;
Acredito;
Conversas
soltas ao vento;
Amor &
outros males;
Anjo ou
demônio;
Prevenção
da cegueira;
Ventos
imprevisíveis;
e, Quando
a porca torce o rabo,
este último um conjunto de saborosas crônicas
De sua vasta obra
desejamos destacar: Sentimentos
embalsamados
e Ecos
de Amarante.
O primeiro é também o
mais recente livro do novo acadêmico: Sentimentos
embalsamados.
Lançado em abril, em comemoração aos seus setenta anos de vida, é
um livro que veio para ficar, porque o autor desnudou a sua alma,
falando francamente sobre suas forças e suas fraquezas. São livros
como esse que ficam, porque acrescentam ao leitor, conforme as
mostras delineadas nessa fala. Alguns escrevem memórias, mas poucas,
porém, ficam porque a maioria dos escritores esconde os sentimentos,
o que não foi o caso de Homero. Sua franqueza e estilo lembram as
Memórias,
de Humberto de Campos; Minha
formação,
de Joaquim Nabuco; ou, Confiteor,
de Paulo Setúbal. Modesto, Homero Castelo Branco nega ter pretensões
literárias, chegando mesmo a afirmar não ser escritor, no que não
concordamos. Sentimentos
embalsamados
é mais do que o desnudamento de uma alma, do que a história viva e
empolgante de uma pessoa, resgatando a própria história de uma
geração, as impressões de um povo, o drama da alma humana. Homero
Castelo Branco é um piauiense genuíno, que ama a sua terra com
intensidade, daí os seus sentimentos serem os sentimentos de todos
os piauienses. É, também, um observador perspicaz e abalizado
protagonista da cena política, razão pela qual suas observações
servem de suporte para os historiadores da época contemporânea.
Enfim, com olhar percuciente penetra fundo na alma humana, fazendo de
suas conclusões um suporte seguro a todas as pessoas inteligentes.
Ecos de Amarante
é um belo livro sobre sua cidade e os personagens que a fizeram. É
a história romanceada de Amarante, recheada de personagens fictícios
e reais, onde a principal protagonista é a própria cidade. De suas
páginas pululam políticos, coronéis, fazendeiros, comerciantes,
gente simples, pessoas do povo, numa trama entremeada de ficção e
realidade, onde vão aparecendo a paisagem local, as ruas, os becos,
as praças, os morros, os rios, as fazendas, os sítios, o modo de
falar, de ser, as estórias e as histórias do lugar; o resgate dos
costumes, das lendas, das cantorias, das modinhas, da dança, das
rezas, das “incelenças”, das festas juninas, do folclore, enfim,
de personagens esquecidos e da vida política, econômica e social da
cidade. O livro traz um vasto painel da Amarante antiga. Aliás,
Homero e Amarante sempre protagonizaram uma história de amor. Nas
inúmeras campanhas políticas o povo daquela cidade viu nele um
intérprete de seus sentimentos e a transformaram em sua base
eleitoral.
Juscelino Kubitschek,
ex-presidente da República, anotou em um livro de memórias, Meu
caminho para Brasília,
que nos momentos mais difíceis, quando muitas eram as provações,
retornava à sua Diamantina natal e ali, no reencontro com as suas
origens, recobrava as energias e retornava mais forte à arena de
luta. Parece-me que Homero Castelo Branco pode dizer a mesma coisa
com relação à sua Amarante. Pode até cantar com o conterrâneo
ilustre, Da Costa e Silva:
“A minha terra é
um céu, se há um céu sobre a Terra:
É um céu sob outro
céu, tão límpido e tão brando,
Que eterno sonho azul
parece estar sonhando
Sobre o vale natal,
que o seio à luz descerra.”
Ou pode dizer com
Fernando Pessoa:
“Da
minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por
isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque
eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da
minha altura... “.
Ele mesmo mesmo diz:
“Viajei por muitos
países. Conheço uma dúzia de mar. (...).
‘Vi gruta,
nevoeiro, vi tanta coisa bela e doida neste mundo incerto, mas nunca
sai de meu coração, Amarante, meu berço, este pedaço de terra no
Piauí, feito de esperança, que guarda história, lenda e cantiga.
Cidade feita de azul que não desbota, cidade de todos os amantes, de
todos os poetas, que ouve queixa e não conta as suas. Que ouve
cantiga, viola, prece, desejo e voto. Cidade que festeja iemanjá”
(CASTELO BRANCO, Homero. Sentimentos embalsamados. Teresina: Gráfica
do Povo, 2013. P.36).
Assim é o amor de
Homero por sua Amarante.
Com essas observações,
não temos dúvida em afirmar que Homero Ferreira Castelo Branco Neto
é um bom escritor, de linguagem simples, concisa, precisa, elegante.
É, também, um
conversador admirável, lhano de trato, um gentleman.
Por esses relevos de
personalidade, é uma boa aquisição que faz a Casa de Lucídio
Freitas. E com muita honra é que o recebo nesta solenidade.
Sede, pois, bem vindo
Senhor Homero Castelo Branco, à nossa casa. Ela agora também é
vossa.
Muito obrigado.
(*) Discurso de recepção ao Acadêmico Homero Ferreira Castelo Branco Neto, na Cadeira 31 da Academia Piauiense de Letras, proferido pelo acadêmico Reginaldo Miranda, atual presidente da Academia Piauiense de Letras, em 20 de junho de 2013, às vinte horas, no Auditório da OAB/PI.