A noite é uma
criança
Gutemberg Rocha (do
Instituto Histórico de Oeiras)
Café Oeiras,
sexta-feira, 13 de setembro de 2013. A noite cobre a Velha Capital.
A lua quarto crescente já vai alta quando os convidados começam a
chegar à praça para prestigiar o lançamento da segunda edição de
Sonetos & Retalhos, obra póstuma do poeta e cronista oeirense
Gerson Campos, publicada pela Fundação Nogueira Tapety – FNT,
presidida por Carlos Rubem, sobrinho do autor. Devagarzinho o espaço
vai sendo ocupado. O Passeio Leônidas Melo resplandece resplendente.
Multiplicam-se os sorrisos e abraços das pessoas se encontrando sob
o fundo musical de clássicos da Bossa Nova e valsas possidonianas.
Músicos de Teresina
– Davi ao violino – executam antigas canções dedicadas a dona
Amália Campos, irmã de Gerson, pelos seus noventa anos de vida.
Fascinação,
Marina,
Deus abençoe as
crianças... A
homenagem é reforçada por demonstrações de carinho de crianças e
professoras, muitas destas suas ex-alunas. Flores, bolo, parabéns!
Confundem-se as homenagens à matriarca dos Campos e ao seu irmão
poeta, falecido há quatro décadas, aos trinta e nove anos de idade.
Mas ele está aqui, nos poemas, nas cantigas e no coração das
pessoas. Amigos e admiradores de se perder a conta. Pedro, Paulo e
João, Socorro, Celina e Conceição, Antônio, José, Geraldo e
Sebastião, Teresa, Bernadete, Benedito, Francisco e... não sei,
não... Não dá pra enumerar. A praça parece um chão
de estrelas.
As falas são poucas
e breves. Fazem uso da palavra este escriba, como editor, Wellington
Dias, como apresentador do livro, e Rita Campos, em nome da família
dos homenageados. O clima não está para discursos. É hora de
poesia, de música, de descontração, de relembranças. A
cerimonialista Cassi Neiva, mui digna presidente da Confraria
Eça-Dagobertiana, conduz com maestria o evento. A professora Elimar
Barros declama o soneto Pesadelo
atroz, de Nogueira
Tapety (1890-1918), patrono da FNT e tio de Gerson Campos. O ator
Bonifácio Lima veio da capital para recitar, em delirante
performance, Monólogo
de uma rosa, poema até
então inédito de Gerson.
Os Beletristas de
Oeiras são pura harmonia. Chico, Vanda e Rodrigo, do clã Queiroz, e
mais Vinícius e Felipe, compõem a constelação à qual se integra
a exímia bandolinista Petinha Amorim. O repertório é impecável:
Linda Morena
(de Raimundo e Chico Queiroz), Olhos
Verdes (de Gerson
Campos e Levi Carmo), Pensando
em Ti (de Possidônio
Queiroz) e outras maravilhas do gênero. Olhos
verdes nos reserva uma
grata surpresa: a interpretação de Ferrer Freitas, em dueto com
Vanda Queiroz.
E eis que vem
chegando a madrugada. É a hora da Serenata do Adeus, é a vez de
Wilker Marques. Acompanha-o uma banda composta basicamente por
integrantes da Orquestra Sinfônica de Teresina. O show nos faz
viajar no tempo, e o vento que sopra traz a recordação daquela
fatídica tarde de 11 de fevereiro de 1973, quando o coração de
Gerson Campos sucumbiu às emoções de uma partida de futebol. Neste
momento, uma voz entoa os versos de Balada
nº 7 (Mané Garrincha),
composição de Alberto Luiz imortalizada por Moacyr Franco: Sua
ilusão entra em campo no estádio vazio / Uma torcida de sonhos
aplaude talvez...
Não nos resta, então, nada a fazer, a não ser matar
a saudade no peito e driblar a emoção.
E aproveitar a festa, porque a noite é uma criança.
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