José
Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Grito
de gol, explosão de alegria ou de ódio, canções de arrepiar no
culto religioso ou no show da banda. Estresse no trânsito, batida de
carro, assalto, ameaça de morte, inocente assassinado, aventuras
amorosas descartáveis, apresentador de programa policial, exaltado e
dramático: “Mostra as imagens, mostra, minha filha!” O cotidiano
das pessoas anda, como nunca, sobrecarregado de fortes emoções, em
prejuízo à saúde e aos sentimentos. Afinal, o que distingue emoção
do sentimento? Qual das duas atitudes é mais saudável ao corpo e ao
espírito?
As
emoções resultam de reações do psiquismo humano, inclusive dos
animais, em forma de prazer ou dor, aflição ou medo, aversão ou
desejo. Os animais são, naturalmente, movidos pelos instintos. Não
entendem por quais razões existem ou reagem. Suas faculdades mentais
limitam-se a certa dosagem de memória, inteligência e imaginação.
Ao contrário dos seres humanos, apesar de instintivos, distinguem-se
com duas mais: razão e vontade, que só se manifestam anos após o
nascimento. As crianças, naturalmente, são mais sensíveis ao
entusiasmo, à alegria ou à dor, porque ainda não desenvolveram a
razão e a vontade.
A
razão é a faculdade que questiona os porquês, causas e efeitos das
nossas atitudes e do conhecimento do mundo. A vontade decide entre o
sim ou o não. A educação exerce papel imenso na disciplina e
desenvolvimento das faculdades mentais, no controle das emoções,
quase sempre indomáveis e instintivas. A educação da razão e da
vontade começa por simples hábitos disciplinares do cotidiano, como
falar, comer, sentar-se, chegar, sair, discutir, escolher amizades,
namorar, brincar, estudar, trabalhar, decidir, chorar, zangar-se,
relacionar-se com adversários. Sem nunca resvalar para exageros
emocionais. Muita gente paga caro por decisões tomadas por instinto
emocional, sem controle da razão e da vontade.
Filósofos
estoicos e educadores medievais ensinavam o domínio completo sobre
as emoções do prazer e da dor. Para Santo Agostinho, é saudável,
todavia, experimentar fortes emoções, enquanto vivemos neste mundo
de miséria, com moções de entusiasmo ou de grande dureza, mas não
permitir que o espírito se entorpeça.
Somos
produtos de experiências de grandeza, prazer, e desejamos sempre
mais, aí descobrimos, também, nossos limites e pequenez. Somente os
educados nas sábias lições de espiritualidade e virtudes conseguem
viver felizes e equilibrados.
Emoções
nascem dos instintos. Educando-as sob o cabresto da razão e das
nobres virtudes, conseguem-se sentimentos nobres. O filósofo
Descartes afirma: “A força da alma consiste em dominar as emoções
e reter os movimentos do corpo.” Criou um bordão para os
apaixonados: “As razões do coração que a razão desconhece”.
Em
momento tão delicado por que atravessa o mundo, especialmente o
Brasil, é hora de se destacarem sentimentos do bem, em vez da
exacerbada exploração emocional em novelas, Big Brother e
pirotecnias, que só servem para alienar nobres ideais. Sonhos e
emoções exageradas viram pesadelos no mundo real.
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