sábado, 24 de maio de 2014

Desista, professor!


Desista, professor!

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

          A comida foi posta sobre a mesa. Quer comer? Coma. Se não, retire-se, mas não fale mal do alimento. Mais fácil criticar  comida do que ir para a cozinha, limpar panelas, preparar cozido. Especialmente no serviço público, descobre-se quem quer lambuzar, em vez de colaborar.
          Neste momento, parcela dos professores da rede pública municipal articula mais uma greve, para aporrinhar, especialmente as famílias dos estudantes. Essa gente entende mais de greve do que ministrar aula. Comandados por uma trinca de oportunistas, quase sempre prevalecem interesses pessoais, visando naco na gestão pública ou um voo na política. Em se tratando de laços familiares implantados na trincheira da greve, a fim de prejudicar o gestor, pode-se concluir a dimensão do barulho. Pior, quando secretário da pasta atraca, com unhas e dentes, a causa educacional do município e demonstra patriótico esforço pela educação das crianças menos privilegiadas. Inveja e interesses resvalam para a irracionalidade, em especial quando veem câmera da TV. Falam bonito, sapecam bordões surrados, porém, no fundo, no fundo mesmo, barganham uma futura candidatura política ou carguinho público.
          Essa história não vem de agora. Se se observarem alguns figurões envergando mandato político ou cargos administrativos, eram, antes, barraqueiros e berreiros defensores de classes trabalhadoras. Frente a câmeras de TV e microfones das rádios, eles exibiam, nas veias e na lábia apaixonada, o amor coletivo. Hoje, isolados e montados no bem-bom, curtem, de longe, indiferentes, o clamor da classe que defendiam. Cadê os professores de antanho, frente a escolas e grevistas, pregando melhores salários e educação de qualidade? Cadê eles ocupando programa sindical da rádio, início da manhã, esbravejando ataques aos patrões? Hoje, comandam outra causa, a própria, a do sossegado contracheque em repartição pública.
          Expressiva parcela do magistérioi não ministra mais aulas. Apenas copiam na lousa. Acham-se atemorizados, porque alunos não lhes obedecem. Sugiro-lhes imediata desistência da profissão, enquanto é tempo. Educação e Saúde, neste país, valem medalhas de ouro aos heróis.
          Exemplo heroico na rede pública vem de escola da modesta Cocal dos Alves-PI, celebrizada, nacionalmente, por único segredo: comunhão de esforços de professores, estudantes e pais. Substituíram insatisfações e greves pela conscientização coletiva, inclusive da família. No princípio das dores, faltava tudo, até papel higiênico na escola. A liderança de uma diretora, repassada aos professores e estudantes, multiplicou pães e peixes do sucesso. Atenção, interesses políticos saíram pela descarga dos banheiros lavados.
          Tenho ministrado palestras em escolas públicas, abordando temas sobre idealismo e vocação. Em alguns estabelecimentos, descubro a falta de uma Cocal dos Alves. Aí me recordo do episódio evangélico: Cristo pregava sobre o alimento de sua carne. O público se escandalizou. Evadiu-se. O Mestre virou-se e desafiou os apóstolos: “Vocês também querem debandar!” É que a Educação exige elevada vocação, como atender convite para nobre banquete. Quem quer, come. Se não, cai fora. Não fica a reclamar. A grevar.     

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