Desista,
professor!
José
Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
A
comida foi posta sobre a mesa. Quer comer? Coma. Se não, retire-se,
mas não fale mal do alimento. Mais fácil criticar comida
do que ir para a cozinha, limpar panelas, preparar cozido.
Especialmente no serviço público, descobre-se quem quer lambuzar,
em vez de colaborar.
Neste
momento, parcela dos professores da rede pública municipal articula
mais uma greve, para aporrinhar, especialmente as famílias dos
estudantes. Essa gente entende mais de greve do que ministrar aula.
Comandados por uma trinca de oportunistas, quase sempre prevalecem
interesses pessoais, visando naco na gestão pública ou um voo na
política. Em se tratando de laços familiares implantados na
trincheira da greve, a fim de prejudicar o gestor, pode-se concluir a
dimensão do barulho. Pior, quando secretário da pasta atraca, com
unhas e dentes, a causa educacional do município e demonstra
patriótico esforço pela educação das crianças menos
privilegiadas. Inveja e interesses resvalam para a irracionalidade,
em especial quando veem câmera da TV. Falam bonito, sapecam bordões
surrados, porém, no fundo, no fundo mesmo, barganham uma futura
candidatura política ou carguinho público.
Essa
história não vem de agora. Se se observarem alguns figurões
envergando mandato político ou cargos administrativos, eram, antes,
barraqueiros e berreiros defensores de classes trabalhadoras. Frente
a câmeras de TV e microfones das rádios, eles exibiam, nas veias e
na lábia apaixonada, o amor coletivo. Hoje, isolados e montados no
bem-bom, curtem, de longe, indiferentes, o clamor da classe que
defendiam. Cadê os professores de antanho, frente a escolas e
grevistas, pregando melhores salários e educação de qualidade?
Cadê eles ocupando programa sindical da rádio, início da manhã,
esbravejando ataques aos patrões? Hoje, comandam outra causa, a
própria, a do sossegado contracheque em repartição pública.
Expressiva
parcela do magistérioi não ministra mais aulas. Apenas copiam na
lousa. Acham-se atemorizados, porque alunos não lhes obedecem.
Sugiro-lhes imediata desistência da profissão, enquanto é tempo.
Educação e Saúde, neste país, valem medalhas de ouro aos heróis.
Exemplo
heroico na rede pública vem de escola da modesta Cocal dos Alves-PI,
celebrizada, nacionalmente, por único segredo: comunhão de esforços
de professores, estudantes e pais. Substituíram insatisfações e
greves pela conscientização coletiva, inclusive da família. No
princípio das dores, faltava tudo, até papel higiênico na escola.
A liderança de uma diretora, repassada aos professores e estudantes,
multiplicou pães e peixes do sucesso. Atenção, interesses
políticos saíram pela descarga dos banheiros lavados.
Tenho
ministrado palestras em escolas públicas, abordando temas sobre
idealismo e vocação. Em alguns estabelecimentos, descubro a falta
de uma Cocal dos Alves. Aí me recordo do episódio evangélico:
Cristo pregava sobre o alimento de sua carne. O público se
escandalizou. Evadiu-se. O Mestre virou-se e desafiou os apóstolos:
“Vocês também querem debandar!” É que a Educação exige
elevada vocação, como atender convite para nobre banquete. Quem
quer, come. Se não, cai fora. Não fica a reclamar. A grevar.
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