Engajamento ou alienação política?
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Há tempos,
observo, desencantado, o comportamento alienado de expressiva parcela dos
jovens, inclusive de universitários. A galera, ou patota, como se dizia no
passado, não “se liga nos 30 segundos” para exibir habilidades políticas ou
conceitos quaisquer de filosofia política. O que não é bom. A moçada parece
contentar-se somente com a conquista do diploma superior, para enfrentar
concursos públicos, acomodar-se ao emprego, arranjar-se financeiramente. Só.
Associada aos estudos, encolhe-se a uma pilha de cds com músicas de péssima
qualidade, para embalar momentos de lazer.
Engajado ou
alienado? Dois verbetes exaustivamente utilizados, no passado, em círculos
universitários, nos sermões, nos discursos inflamados da esquerda política
contra o regime militar. Engajados exibiam a marca do protesto panfletário, dos
“aparelhos” clandestinos de guerrilha urbana, reuniões secretas, decorebas de
bordões fabricados na Rússia e Cuba para implantação do regime comunista no
Brasil. Contestar significava inteligência. Exaltavam-se músicos ativistas do
Geraldo Vandré, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque de Holanda, que
seduziam estudantes engajados às letras primorosas e ricas de metáforas ousadas
de contestação, sob a mira das baionetas militares. As inteligências detestavam
Roberto Carlos e a turma do iê, iê, iê e Jovem Guarda. Só tratavam de temas
românticos, portanto do time dos alienados. Engajados enchiam ginásios com
canções de protesto. Alienados seduziam o povão, pouco interessado nos temas
nacionais.
Engajados sustentavam temas polêmicos contra o sistema de
desigualdades sociais. Alienados, todos aqueles que se afastavam dos
compromissos sociais e se encastelavam nos benefícios pessoais. Os dois termos,
que serviram de contraponto entre o capitalismo e o socialismo, caíram de moda,
depois da queda do Muro de Berlim.
No Brasil, não
se fala mais em engajamento ou alienação política. Todavia alguns extremistas
da surrada esquerda bolchevista cubana continuam repetindo velhos e surrados
bordões de antanho, mas sem respaldo popular.
O atual momento político do Brasil está mais para interesses
pessoais de enriquecimento ilícito do que pela construção social. Talvez se
explique a alienação e desinteresse dos jovens pelas questões nacionais. Basta
curta conversa com estudantes de nível médio e superior: “Como você vê a atual
elite política brasileira”. Respostas monossilábicas: “esculhambação!” Ou mais
incisiva: “Bando de ladrões!”
Os jovens brasileiros de hoje são alienados, não possuem
senso crítico, e setores da imprensa também alienantes, bem como o processo
educacional atual. Poucos programas de televisão oferecem educação para jovens,
exceto em horários pouco habituais ao interesse estudantil. Os jovens não
acompanham e não gostam de política. Quando têm interesse político, tendem a
acompanhar a posição de seus pais, conservadora.
Os jovens brasileiros precisam tirar lições políticas da
juventude argentina, que gosta mais de ler e de acompanhar as questões de
interesse nacional, apartidários, e, melhor, sem quebra-quebra. Sonho ver
jovens politizados e patriotas. Talvez esta geração me cure desse sentimento
desencantado.
foda-se
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