Fotos extraídas do facebook de Wellington Soares |
13 de novembro Diário Incontínuo
CAFÉ LITERÁRIO
Elmar Carvalho
Fui convidado pelo
professor e escritor Wellington Soares para participar do Café Literário, que
seria apresentado na livraria Anchieta, na quarta-feira, dia cinco de novembro,
na condição de homenageado, ao lado do grande romancista e memorialista
Graciliano Ramos. Não preciso dizer que me senti honrado e lisonjeado com esse
convite, que para mim tem muito mais valor que certas medalhas e diplomas.
Pediu-me o organizador
do espetáculo artístico que lhe enviasse quinze poemas, o que fiz, mediante
e-mail. Esses textos, juntamente com alguns pequenos enxertos de Graciliano
Ramos, foram enfeixados em folhetos, que foram cuidadosamente dispostos sobre
todas as mesas.
Com persistência
invejável, o Wellington Soares vem apresentando esse importante sarau
lítero-musical há três anos, mês após mês, o que não é uma tarefa fácil. Esse
tipo de evento já existiu em Teresina, sobretudo na primeira metade do século
passado, quando as famílias mais proeminentes se reuniam, com os seus convidados
e amigos, com o objetivo de declamarem poemas, e executarem e cantarem músicas.
Também, outrora, havia
o romântico costume das serenatas, em que rapazes entoavam belas melodias, com
letras que eram na verdade bonitos poemas, ao pé da janela da amada, mormente
nas noites de plenilúnio. Depois, as serenatas se mecanizaram, com o advento
das radiolas portáteis e gravadores, até a sua extinção total, com os tempos
apressados e perigosos de hoje, e com o surgimento de certas músicas
deploráveis, que jamais poderiam integrar uma seresta. Muitas letras são
toscas, com palavras de baixo calão, e frases de duplo sentido (ou mesmo sem
sentido), que nos embotam o sentido.
Como sei que o público
que comparece a eventos literários é sempre pequeno, e José Saramago reconhece
isso em seus registros nos Cadernos de Lanzarote, mesmo na civilizada Europa,
anotei a estrofe inicial do poema Recital da Autora, da polonesa Wislawa
Szymborska, para quando eu fizesse minha saudação preambular. Os versos da
poetisa dizem: “Musa, não ser um boxeador é literalmente não existir. / Nos
recusaste a multidão ululante. / Uma dúzia de pessoas na sala, / já é hora de
começar a fala. / Metade veio porque está chovendo. / O resto é parente. Ó
Musa.”
Contudo, a estrofe
perdeu o seu desiderato de me servir de mote, uma vez que havia no aconchegante
espaço destinado ao Café Literário um público quantitativamente razoável e
qualitativamente seleto, com pessoas interessadas e atentas. Era, efetivamente,
um respeitável público, como dizia o refrão circense de antigamente. O
professor Wellington fez as suas considerações iniciais, e me chamou ao
microfone. Após minha breve saudação, falei que passaria a “bola” ao ator
Bonifácio Lima, para que ele marcasse um golaço.
O Bonifácio entoou,
então, o meu Noturno de Oeiras. Com sua voz marcante, de boa dicção,
interpretou o poema, com a modulação perfeita da voz, que se harmonizava com os
diferentes “climas” sentimentais e psicológicos do texto, sem descurar da
caracterização gestual e corporal, com que parecia dar vida aos versos. Além do
Noturno, o Bonifácio recitou, com a mesma maestria e magia, outros poemas de
minha lavra.
No final do evento,
quando voltei a falar, relembrei que quando presidi a União Brasileira de
Escritores do Piauí – UBE-PI, consegui, com o apoio de minha Diretoria,
inclusive com a utilização de abaixo-assinado, e sobretudo com o inestimável
interesse do deputado Humberto Reis da Silveira, relator-geral da Constituição
Estadual de 1989, que o estudo de Literatura Piauiense fosse inscrito no artigo
226 de nossa Carta Magna, como disciplina obrigatória.
E protestei contra o
fato de que, passados mais de 25 anos, esse dispositivo constitucional ainda
não tenha sido executado e cumprido pelo governo estadual, restando como
verdadeira letra morta, e prova do descaso que os governantes têm pela arte e
pela cultura.
Além de meu pai, de
minha mulher, de minha filha e de outros parentes, inclusive meu irmão César
Carvalho, compareçam alguns amigos, entre os quais ressalto os juízes
aposentados Raimundo Lima e João Batista Rios, e o Valdenor, amante da arte, da
música e do esporte.
O poeta João Carvalho
Fontes, médico humanitário, que vem se destacando em fustigar, através da
ciência, o abominável alemão Alzheimer, também se fez presente e disse um poema
de minha autoria, que calou fundo em meu peito. João, com muito esforço e com
dinheiro de seu próprio bolso, com uma ou outra eventual ajuda, mantém o sarau
bimestral Ágora e o jornal cultural de mesmo nome, os quais divulgam os poetas
piauienses e oeirenses, até mesmo os mais jovens.
Outros escritores e
poetas divulgaram seus livros e seus textos. Tive a satisfação de ter alguns de
meus textos recitados ou entoados por alguns desses artistas. Os textos
literários eram intercalados por belíssimas músicas, cujas letras eram notáveis
poemas, sob a responsabilidade de Dimas Bezerra e Alfredo Werney. Dimas
pertence a uma família de artistas e intelectuais, de longa cabotagem e alta
voltagem cultural. Com o seu carisma e simpatia, interagiu com o público, que
lhe aplaudiu com muita ênfase e alegria.
Enfim, foi uma
agradável noite de arte e sortilégio, a que não faltou sequer uma esplêndida
lua cheia – lua de poetas, de loucos e de lobos – que nos iluminou a todos com
os seus raios prateados.
Elmar, estive no Café Lierário, organizado eplo escritor Wellington Soares e participo quando posso do Sarau do Cineas.
ResponderExcluirSão momentos em que a cultura, a poesia e arte, são redescoberta em nosso tão pobre estado. Pobre também de iniciativas como essas de Wellington e Cineas. Sua presença engrandece muito estes encontros.
Estamos observano nas principais cidades do Estado, movimentos: SALIPA(Parnaiba) e FLOR (Floriano) e outros.
Parabéns
José Itamar Abreu Costa