Redação, 25 escorregadas no ENEM
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Nos últimos
dias, atendi a vários convites para ministrar revisão de português e redação à
galera do ENEM. Dois verbetes se ouvem em momentos assim de tensão emocional e
insegurança: dicas, bizus. Infelizmente, estudantes, em geral, só levam a sério
exames classificatórios, inclusive as provas de final de ano letivo, nos
últimos dias ou horas que antecedem os testes. Em se tratando da redação, um
martírio.
Redação enxuta, rica em conteúdo e
gramaticalmente correta exige longo treinamento. Em vésperas de concurso,
estudante habituado a leiturinhas de insossas revistas, tipo Capricho e
similares, ou a devaneios esportivos, novelas e programas de auditório
abastecerão o repertório de conhecimentos. É preciso habituar-se a leituras de
consagrados autores, colunistas e formadores de opinião. Estes provocam
imitação de estilo e ideias, que enriquecem o repertório vocabular, a
construção da frase. Milagre ocorre, quando se imitam redatores de talento.
Também leva
tempo o aprendizado da frase bem construída, obedecendo à sintaxe e normas
padronizadas do idioma. Refiro-me a unidades importantes da gramática, a
começar pela análise sintática, sem a qual dificilmente se exercita regência
verbo-nominal, concordância verbo-nominal ou de tratamento, colocação
pronominal (próclise, ênclise, mesóclise), pontuação, uso correto da conjugação
verbal, especialmente, dos irregulares. A alma do texto resplandece pela
criatividade. Criar não é fazer, mas ser diferente, artístico. Uma frase
popular pode carregar dotes artísticos.
Numa sala de
revisão para o ENEM, distribuí cópias de uma redação cobrada em vestibular de
São Paulo. Exigia-se que o vestibulando corrigisse o texto de uma carta eivada
de erros gramaticais. Ultrapassa 25 escorregadas, em que aparecem palavras até
com duas incorreções. O texto incorpora falhas de concordância, acentuação,
regência, conjugação verbal, virgulação, ortografia, colocação pronominal,
tratamento. Coloco o texto da carta à disposição dos estudantes e interessados
num debate sadio:
“Presado Juca
Aqui vai um bilhete afim de pô-lo a par dos problemas que me
referi em nossa conversa telefônica. De início, quero lembrar-lhe de que
assistí todas as discursões e cheguei a seguinte conclusão: por hora é preciso
prudência. Mas vê se você dá um jeito de escrever logo, para mim poder dar-lhes
uma resposta definitiva. É preferível decidirmos-nos logo do que aguardarmos
para outra ocasião. Há um elemento do grupo que simpatizei desde o primeiro
momento que lhe vi e parece que nos ajudará. Custo a acreditar que ajam
dificuldades. De qualquer modo, observo de que convém considerarmos todas as
questões que temos dúvidas antes de chegarmos à uma conclusão final. Pensa bem
e não demores em me responder.
Abraça-o o amigo que muito lhe quer,
Pedro.”
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