Na Livraria Entrelivros, vendo-se: Dílson Lages, Homero Castelo Branco, Elmar Carvalho, Reinaldo Torres e Antenor Rego Filho |
Fragmentos do cotidiano de um escritor
Cunha e Silva
Filho
1. Nunca duvidei de
que, na vida intelectual, exista
uma distância enorme entre a pessoa do escritor e a obra que produz, embora tenha a certeza de que, pelo menos para mim, torna-se
quase impossível poder admirar integralmente um autor
quando, por experiência direta ou
indireta, percebo que este não constitui uma
unidade harmoniosa entre o caráter e sua
obra, quer de escritores menores, quer de médios ou grandes
escritores. Julgo até que
este ponto de vista meu não se cinge somente aos dias
que atravessamos mas há muito tempo tem sido uma realidade na vida literária brasileira. Que o digam Humberto de Campos,
Monteiro Lobato, Brito
Broca, Afrânio Coutinho e Álvaro
Lins, servindo estes nomes apenas de meros exemplos
para ilustrar este tópico de vida literária.
2. Ontem, fiz mais um
ano de idade. Um pequeno almoço, para
convidados bem escolhidos, me leva
a esta reflexão: chega um tempo em que
as velinhas não mais nos
interessam, nem discurso nem respostas a discurso. O que fica mesmo
são as alegrias de convidados separados
por mesas, falando de tudo :política, vida a alheia, literatura, projetos de vida concluídos, enfim, em cada mesa composta de convidados tudo é festa Constato também
que a comida, a bebida, a sobremesa,
com álcool ou sem ele,
completam integralmente o
ritmo da comemoração. O
melhor, contudo, para mim,
numa simples festinha entre
amigos, é o meu
hábito de conversar com
todos os convidados, mas, ao fazer isso,
há uma falta de habilidade minha
imperdoável: verifico que
converso mais com alguns do que
com outros. Por que será que a
festa é assim? Outra falha minha: sou
sempre o que menos come porque –
é explicável - fico o tempo todo
dando atenção aos convidados. E o pior é que foi sempre assim quando
o assunto é a comemoração do
meu aniversário.
3. Estou deveras preocupado:
há uma pilha crescente de livros
que tenho o dever
de ler e, se possível, comentar,
seja em
resenha, seja num artigo-ensaio
mais denso.
4. O meu hobby é o
seguinte: colecionar livros
didáticos de matérias do meu
tempo de ginasiano e de aluno do curso científico em Teresina, Piauí, que mais me
interessam. Enquanto não completo a coleção
de um autor, não sossego. Este hobby me
traz alguns percalços e o espaço físico
do meu apartamento é o nó górdio
da questão.Como não sou um Mindlin, fica
mais problemática a solução
dessa questão.
4. Fico chateado quando deixo de comprar jornais (são dois apenas, leitores)
que sempre leio cada semana. Mas, pensando bem, se não
li aquele exemplar que deveria
comprar, isso não é o fim do mundo, uma vez que não costumo ler um
jornal inteiro no mesmo dia.
5. Por que, numa Academia (traduza-se: de Letras)
que não vou aqui nomear ( não
vou dar esse gosto aos intrigantes e fofoqueiros ) há ,
segundo um informante,
quatro grupos divergentes ?
Descubro, além disso, que não é
só numa Academia que existem redes de
intrigas, grupos que querem ver os outros pelas costas. O mal é geral e se alastra
insidiosamente em outros setores, públicos
ou privados.
6. Fato curioso: Mário
Quintana tentou entrar para a Academia Brasileira de Letras por mais de um vez, ao passo que Ferreira Gullar, que não
era chegado a essa possibilidade, para o Petit Trianon, foi
convidado, tendo uma vitória
quase cem por cento
na contagem de votos. Só um não
votou nele. Quem seria?
6. Renan Calheiros, a
quem todo mundo conhece de priscas eras colloridas,
desrespeitou um pequeno grupo
que estava nas galerias
do Senado protestando contra a
aprovação um projeto de lei relativo à gastança
sem limites da dinheirama do Erário Público. O referido político, sem
educação parlamentar à altura do cargo,
chamou o pequeno grupo de indignados
das galerias de “assalariados” sem
nenhuma importância diante das
decisões do Congresso
Nacional. Reduziu, assim, por
metonímia, a pó o eleitorado brasileiro.
Esse é o pensamento elitista, cínico e
ao mesmo tempo tacanha de
politicagem coronelista deste país. Uma vergonha a mais
para a imagem já moralmente destroçada de nossos
políticos.
7.Com a
globalização e a crescente
inter-comunicação dos
povos, subiu enormemente a produção
editorial de livros para
aprendizagem de idiomas, sobretudo do inglês.
8. O Piauí, no que tange
ao mundo editorial, está dando
mostras de crescente vitalidade,
produzindo localmente, seus
livros, com o surgimento de
muitos escritores de vários genros literários ou não, de
novas livrarias bem equipadas, com
sucessivas noites de autógrafos.
O escritor, professor e editor Dílson Lages Monteiro, com outros companheiros, estão
concorrendo significativamente para que
o Piauí se faça conhecido
pelo país afora. Dílson Lages é um
operoso e jovem intelectual que
faz questão de estar
levando a produção dele e de outros
autores piauienses ao
conhecimento de leitores de outros lugares
do país, através de participação de
Feiras de Livros, de entrevistas com
autores piauienses. É um
escritor antenado, sem
quaisquer ranços de
provincianismo ao lidar com a
produção sua e de
outros escritores do seu estado. Além disso, Dílson Lages, como diretor de um
já respeitado site
de literatura, o
Entretextos, abriu, assim, no Piauí, mais uma canal de divulgação de autores
piauienses. Seu trabalho, fruto
de sua vocação para a vida cultural,
merece o respeito dos piauienses
e o seu mencionado site constitui um
amplo espaço virtual, um verdadeiro fórum aberto a discussões de
questões e a reflexões
multifacetadas sobre literatura e outros temas culturais gerais graças à qualidade
de seus colaboradores. O objetivo
primacial do Entretextos, pelo menos
para este colunista, visa a disseminar o conhecimento e a propiciar
mais visibilidade da produção literária brasileira de forma democrática ..
Nenhum comentário:
Postar um comentário