JERUMENHA: 300 ANOS
Reginaldo Miranda
Da Academia Piauiense
de Letras
A
cidade de Jerumenha, no vale do Gurgueia, assenta suas raízes no antigo Arraial
dos Àvila, sendo esse um fato tido e havido como certo, sem qualquer
contestação. Entretanto, a data de sua fundação tem desafiado os historiadores
brasileiros que se interessaram pelo assunto, entre esses: José Martins Pereira
de Alencastre, Francisco Augusto Pereira da Costa, pioneiros na historiografia
piauiense, e Luiz Alberto Muniz Bandeira, historiador da Casa da Torre.
Sobre
esse assunto já nos debruçamos em algumas análises, divulgadas pela imprensa
piauiense e posteriormente, reunidas em volume denominado Piauí em foco, já em segunda edição. Todavia, parece que agora
chegamos à data precisa. É o coronel Garcia d’Ávila Pereira, em petição dirigida
ao rei de Portugal no ano de 1721, quem vai esclarecer os fatos.
Diz
o Senhor da Casa da Torre que mandara fundar o arraial no contexto do levante
geral dos índios, que sabemos ter iniciado em 1712, sob o comando de Mandu
Ladino e não no contexto do devassamento e
conquista do Gurgueia, como queriam os citados historiadores. Essa
perspectiva muda toda a conjuntura de análise.
Foi
no governo do “capitão general do Estado do Brasil, Pedro de Vasconcelos e Souza
– diz o coronel Garcia d’Ávila Pereira –
[que] começou o gentio bravo a invadir a Capitania do Piagoí, destruindo
as fazendas de gado, que nelas se achavam e descuidando-se os Oficiais da
Ordenança e moradores da mesma Capitania de se oporem como devido nestes
insultos (...) se resolveu a fazê-la à sua custa [o peticionário Garcia d’Ávila
Pereira] por fazer serviço a V. Majestade; e defender as ditas suas terras, o
que aprovou-a o dito governador e capitão general, dando-lhe para isso as
ordens necessárias, e o mesmo fez o Marquês de Angeja, e os mais seus
sucessores, e com as ditas ordens fez ir os índios do rio de S. Francisco com o
Mataroa seu governador, e outra muita gente com seu cabo, que foram assentar
arraial na dita Capitania, e nela se acham há mais de seis anos; sendo
governados pelo dito cabo, que é o Sargento-mor Francisco Xavier de Britto,
fazendo a dita conquista, assim pelas ordens dos governadores gerais e
vice-reis do Estado, com a aprovação dos governadores do Maranhão, cujos dês...
pertence a dita Capitania”(AHU – Cx. 1 – Doc. 27).
Portanto,
esclarece o coronel Garcia d’Ávila Pereira que foi autorizado a fundar o
arraial pelo governador Pedro de Vasconcelos e Souza, cujo governo transcorreu
de 14.10.1711 a 14.10.1714. Mas como saber a data precisa? Ora, o levante geral
dos índios teve início somente em 1712, porém, ele esperou a reação dos oficiais
e moradores do Piauí, que não ocorreu como ele esperava. E mesmo entrando em
cena no ano seguinte, é fácil se supor que somente em 1714, pôde ele fundar o
arraial, depois de obter autorização e preparar a tropa e mantimentos para
viajar no período de verão, como então se fazia.
E
nessas circunstâncias, com 340 homens, entre índios e brancos, desce Gurgueia
abaixo até o local em que acharam estratégico para dar combate entre os sertões
do Piauí e dos Pastos Bons, no sudeste do Maranhão, onde também tinham
fazendas, chegando a 13 de junho, dia de Santo Antônio, quando abrem a clareira
das rancharias e assentam as bases do arraial. Era costume português dar às
novas localidades o nome do santo do dia, daí terem invocado Santo Antônio de
Pádua, padroeiro do novo arraial. Arraial de Santo Antônio, também conhecido
como Arraial dos Ávila ou Arraial do Gurgueia.
Em
princípio de agosto de 1714, os moradores do novo arraial já entravam em choque
com o mestre-de-campo Bernardo de Carvalho e Aguiar, que os submete ao seu
comando na conquista dos índios Jaicós(Mello, Pe. Cláudio. Bernardo de
Carvalho. Teresina: UFPI, 1988, págs. 38/40). Segundo Maia da Gama, em
princípio de 1718, o governador-geral Alexandre de Sousa quer fazer Francisco
Xavier de Brito por mestre-de-campo da conquista(op. cit, pag. 47).
E
segue o conflito dos arraialados com o mestre-de-campo Bernardo de Carvalho e
Aguiar. Em janeiro de 1721, este informa ao rei sobre a situação dos índios e
ações do sargento-mor Francisco Xaver de Brito. Em 24 de maio do mesmo ano, por
instâncias deste, o governador do Maranhão o notifica a cessar a guerra contra
o elemento indígena, a tempo que este se encontrava com 300 homens e 500 bois
para o seu sustento. É em resposta a esta notificação que o coronel Garcia
d’Ávila Pereira remete a citada petição ao rei, cujo trecho supra foi
transcrito.
Para
o momento é o que interessa dizer e provar, de que o arraial dos Ávila, em cuja
base se assenta a cidade de Jerumenha, foi fundado em 13 de junho de 1714, com
340 moradores, entre índios do rio São Francisco e cavalarianos, por Francisco
Xavier de Brito, sob ordens de Garcia d’Ávila Pereira, com autorização dos governadores
gerais do Brasil e Maranhão. Portanto, no último dia 13 de junho a cidade de
Jerumenha completou 300 anos de fundação, constituindo-se numa das mais velhas
comunas do Piauí. Em outra oportunidade analisaremos novos aspectos da formação
política, econômica e social do lugar.
Regressa do Piauí para o Maranhão o mestre-de-campo Bernardo Car-
ResponderExcluirvalho de Aguiar, passando o comando das tropas da conquista dos índios
a Francisco Xavier de Brito, que tinha a seu cargo a direção do arraial de
Garcia de Ávila, criado nas margens do rio Gurguéia pelo sargento-mor
Miguel de Abreu Sepúlveda.
PELO QUE ENTENDI FOI MIGUEL SEPÚLVEDA...FONTE PADRE CLÁDIO MELO.NOVAS AVENTURAS DE UMA SESMARIA. EDICÃO 1992
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