30 de abril Diário Incontínuo
POSSE
DE SEBASTIÃO FIRMINO NA ALMAPI (Parte I)
Elmar Carvalho
Na tarde de
sexta-feira, dia 24, o escritor Herculano Moraes me telefonou para me dar a
notícia de que o magistrado Sebastião Firmino Lima Filho tomaria posse de sua
cadeira na Academia de Letras da Magistratura Piauiense, cuja solenidade,
presidida pelo des. Luiz Gonzaga Brandão de Carvalho, aconteceria a partir das
19 horas, e acrescentou que eu seria o orador de sua recepção. Informou-me, a
meu pedido, que o patrono da cadeira era o desembargador Robert Wall de
Carvalho. Ante o fato consumado, tratei de fazer um esquema mnemônico de meu
improviso.
Sabia que o último
ocupante da cadeira fora o desembargador Tomaz Gomes Campelo, que eu conhecera
há mais de 17 anos, quando ele já era inativo e eu me encontrava prestes a
ingressar na magistratura. Conhecia-lhe os principais fatos de sua biografia.
Por conseguinte, não teria dificuldade de me pronunciar sobre ele.
Com relação ao colega
Sebastião Firmino, também não teria obstáculos em falar sobre ele, uma vez que
já o conhecia há mais de uma dezena de anos. Após o telefonema de Herculano,
recebi um e-mail do juiz Edison Rogério me recomendando não deixasse de falar sobre
os dotes artísticos e esportivos do novel acadêmico. Segui a boa orientação, e
não lhe regateei elogios nessas duas atividades.
Pesquisei dados sobre o
patrono da cadeira. Vali-me dos monumentais Dicionário Histórico e Geográfico
do Estado do Piauí, de Cláudio Bastos, que levou mais de 30 anos em sua
elaboração, e Dicionário Enciclopédico Piauiense Ilustrado, de Wilson Carvalho
Gonçalves, meu amigo e confrade na Academia Piauiense de Letras. Tive a honra e
satisfação de contribuir para a publicação do primeiro, quando eu era
presidente do Conselho Editorial da Fundação Cultural Monsenhor Chaves.
A seguir, farei um
apertado resumo do que disse em meu pronunciamento.
O desembargador Robert
Wall de Carvalho nasceu em Caxias, em 1918, e faleceu em Teresina, em 1984.
Figura emblemática da magistratura piauiense, é dela também um verdadeiro
paradigma, pelas suas virtudes, capacidade administrativa e dotes intelectuais.
Foi jornalista, professor, presidente e corregedor-geral do Tribunal de
Justiça, membro da Academia Piauiense de Letras e do Instituto Histórico e
Geográfico do Piauí. Exerceu cargos hoje correspondentes a secretário de
Estado. Um dos fundadores da Universidade Federal do Piauí, foi seu primeiro
reitor.
Era filho de Cromwell
Barbosa de Carvalho, de estirpes amarantinas e oeirenses, que exerceu quase
todos os cargos exercidos pelo filho, entre os quais os de presidente do TJPI,
secretário de Estado, jornalista, membro da APL e diretor da velha Faculdade de
Direito do Piauí. Pelo lado materno descendia de industriais caxienses,
inclusive dos Dias Carneiro, que instalaram famosa indústria têxtil em Caxias,
no final do século 19.
Francisco Dias
Carneiro, poeta e capitão de indústria, tem seu busto afixado no Pantheon
caxiense, ao lado dos poetas e escritores Gonçalves Dias, Coelho Neto e
Vespasiano Ramos. Segundo informação oral, que não tive condição de confirmar,
o poeta Francisco Dias Carneiro fora casado com uma senhora do Rio de Janeiro,
que teria falecido ainda jovem. O filho do casal teria sido criado pela família
da mãe, na então capital federal.
Sobre essa ilustre
família, da qual descendia Robert, já tive o ensejo de dizer: “No meu périplo
caxiense, encontrei o prédio de extinta fábrica têxtil, que outrora fora símbolo
de poder e de orgulho, com os seus operários e administradores na azáfama do
dia a dia. Como os engenhos do romance de José Lins do Rego, o seu fogo de há
muito já era morto. Todavia, um penacho de nuvem por detrás da alta e soberba
chaminé, que, como uma torre de Babel, parecia querer desafiar o céu,
provocou-me uma ilusão de ótica, dando-me a impressão de que ainda soltava as
suas últimas baforadas de fumaça, e eu tive a ilusão de que os operários ainda
teciam as peças de pano, e que os teares ainda se movimentavam com seus dedos
de fiandeiras mecânicas. // Contudo, as plantas que nasciam na boca da chaminé
me trouxeram de volta à triste realidade, e eu tive a nítida certeza de que o
facho de vida da fábrica já estava morto e emborcado.”
Posteriormente, em
conversas, soube que Robert Wall de Carvalho fora um exímio professor. Dava
suas aulas sem anotações e sem necessidade de compulsar livros. Tinha boa
dicção e postura muito ereta. De denso e aprimorado conteúdo, suas aulas eram
quase conferências, em que o mestre se excedia em esmero e dedicação.
Aposentou-se voluntariamente do cargo de desembargador em 1967, com apenas 49
anos de idade, como a lei da época permitia, não sei se por desapego a cargo
público, ou se por ter pretensão política, ou se por outro motivo de foro
íntimo.
De qualquer forma, como
já disse, para além de ser uma personalidade emblemática da magistratura
piauiense, é uma figura paradigmática, que lhe orna, de forma destacada, a
galeria mais seleta e rigorosa.
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