quinta-feira, 30 de abril de 2015

POSSE DE SEBASTIÃO FIRMINO NA ALMAPI (Parte I)


30 de abril   Diário Incontínuo

POSSE DE SEBASTIÃO FIRMINO NA ALMAPI (Parte I) 

Elmar Carvalho

Na tarde de sexta-feira, dia 24, o escritor Herculano Moraes me telefonou para me dar a notícia de que o magistrado Sebastião Firmino Lima Filho tomaria posse de sua cadeira na Academia de Letras da Magistratura Piauiense, cuja solenidade, presidida pelo des. Luiz Gonzaga Brandão de Carvalho, aconteceria a partir das 19 horas, e acrescentou que eu seria o orador de sua recepção. Informou-me, a meu pedido, que o patrono da cadeira era o desembargador Robert Wall de Carvalho. Ante o fato consumado, tratei de fazer um esquema mnemônico de meu improviso.

Sabia que o último ocupante da cadeira fora o desembargador Tomaz Gomes Campelo, que eu conhecera há mais de 17 anos, quando ele já era inativo e eu me encontrava prestes a ingressar na magistratura. Conhecia-lhe os principais fatos de sua biografia. Por conseguinte, não teria dificuldade de me pronunciar sobre ele.

Com relação ao colega Sebastião Firmino, também não teria obstáculos em falar sobre ele, uma vez que já o conhecia há mais de uma dezena de anos. Após o telefonema de Herculano, recebi um e-mail do juiz Edison Rogério me recomendando não deixasse de falar sobre os dotes artísticos e esportivos do novel acadêmico. Segui a boa orientação, e não lhe regateei elogios nessas duas atividades.

Pesquisei dados sobre o patrono da cadeira. Vali-me dos monumentais Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí, de Cláudio Bastos, que levou mais de 30 anos em sua elaboração, e Dicionário Enciclopédico Piauiense Ilustrado, de Wilson Carvalho Gonçalves, meu amigo e confrade na Academia Piauiense de Letras. Tive a honra e satisfação de contribuir para a publicação do primeiro, quando eu era presidente do Conselho Editorial da Fundação Cultural Monsenhor Chaves.

A seguir, farei um apertado resumo do que disse em meu pronunciamento.

O desembargador Robert Wall de Carvalho nasceu em Caxias, em 1918, e faleceu em Teresina, em 1984. Figura emblemática da magistratura piauiense, é dela também um verdadeiro paradigma, pelas suas virtudes, capacidade administrativa e dotes intelectuais. Foi jornalista, professor, presidente e corregedor-geral do Tribunal de Justiça, membro da Academia Piauiense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí. Exerceu cargos hoje correspondentes a secretário de Estado. Um dos fundadores da Universidade Federal do Piauí, foi seu primeiro reitor.

Era filho de Cromwell Barbosa de Carvalho, de estirpes amarantinas e oeirenses, que exerceu quase todos os cargos exercidos pelo filho, entre os quais os de presidente do TJPI, secretário de Estado, jornalista, membro da APL e diretor da velha Faculdade de Direito do Piauí. Pelo lado materno descendia de industriais caxienses, inclusive dos Dias Carneiro, que instalaram famosa indústria têxtil em Caxias, no final do século 19.

Francisco Dias Carneiro, poeta e capitão de indústria, tem seu busto afixado no Pantheon caxiense, ao lado dos poetas e escritores Gonçalves Dias, Coelho Neto e Vespasiano Ramos. Segundo informação oral, que não tive condição de confirmar, o poeta Francisco Dias Carneiro fora casado com uma senhora do Rio de Janeiro, que teria falecido ainda jovem. O filho do casal teria sido criado pela família da mãe, na então capital federal.

Sobre essa ilustre família, da qual descendia Robert, já tive o ensejo de dizer: “No meu périplo caxiense, encontrei o prédio de extinta fábrica têxtil, que outrora fora símbolo de poder e de orgulho, com os seus operários e administradores na azáfama do dia a dia. Como os engenhos do romance de José Lins do Rego, o seu fogo de há muito já era morto. Todavia, um penacho de nuvem por detrás da alta e soberba chaminé, que, como uma torre de Babel, parecia querer desafiar o céu, provocou-me uma ilusão de ótica, dando-me a impressão de que ainda soltava as suas últimas baforadas de fumaça, e eu tive a ilusão de que os operários ainda teciam as peças de pano, e que os teares ainda se movimentavam com seus dedos de fiandeiras mecânicas. // Contudo, as plantas que nasciam na boca da chaminé me trouxeram de volta à triste realidade, e eu tive a nítida certeza de que o facho de vida da fábrica já estava morto e emborcado.”

Posteriormente, em conversas, soube que Robert Wall de Carvalho fora um exímio professor. Dava suas aulas sem anotações e sem necessidade de compulsar livros. Tinha boa dicção e postura muito ereta. De denso e aprimorado conteúdo, suas aulas eram quase conferências, em que o mestre se excedia em esmero e dedicação. Aposentou-se voluntariamente do cargo de desembargador em 1967, com apenas 49 anos de idade, como a lei da época permitia, não sei se por desapego a cargo público, ou se por ter pretensão política, ou se por outro motivo de foro íntimo.


De qualquer forma, como já disse, para além de ser uma personalidade emblemática da magistratura piauiense, é uma figura paradigmática, que lhe orna, de forma destacada, a galeria mais seleta e rigorosa. 

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