21 de maio Diário Incontínuo
CELSO BARROS – TEMPO E
MEMÓRIAS POLÍTICAS
Elmar Carvalho
Não pude comparecer à
solenidade de lançamento do livro Política – Tempo e Memória, da autoria de
Celso Barros Coelho, ocorrida no dia 8 de maio, a partir das 19:30 horas, como
muito gostaria, em virtude de que na mesma data e horário foi lançado o meu
livro Confissões de um juiz, em Parnaíba, em evento organizado pelo SESC-PI, ao
qual sou grato. Soube, no entanto, que foi uma grandiosa festa literária, abrilhantada
pelos discursos do autor da obra, do jornalista e escritor Zózimo Tavares e do
empresário e ex-deputado federal Jesus Elias Tajra. Os dois últimos fizeram a
apresentação e o prefácio, que ornam e enriquecem essas notáveis memórias.
Conheço o Dr. Celso
desde o meado da década de 1980, quando eu exercia o cargo de fiscal da extinta
Sunab, que funcionava no prédio da Delegacia do Ministério da Fazenda, e,
portanto, ficava perto de seu escritório, que na época era instalado em prédio
situado na rua Álvaro Mendes, por detrás das Lojas Pernambucanas. Depois
amiudamos nossa amizade e convivência, quando passei a integrar os quadros da
Academia Piauiense de Letras, a partir do dia 19 de novembro de 2008. Foi ele
quem nela me recebeu com belíssimo discurso, enfeixado no opúsculo A casa no
tempo, de nossa autoria, minha e dele.
Em 19 de maio de 2006,
na mesma solenidade em que recebi o honroso título de Cidadão Parnaibano,
através de projeto de autoria do vereador João Batista Veras, então presidente
da Augusta Câmara Municipal de Parnaíba, lancei o meu livro Lira dos
Cinqüentanos, comemorativo, como o nome indica, de meu meio século de vida,
cujo discurso de apresentação foi proferido por Celso Barros Coelho, a meu ver
o maior orador vivo e o melhor que já conheci, em todos os aspectos, inclusive,
voz, entonação, postura e conteúdo. Infelizmente, essa cintilante peça da
retórica literária piauiense terminou se perdendo no meio dos papéis de seu
autor, o que até hoje lastimo. Almejo que algum dia ela venha a ser encontrada,
e assim possa ser publicada.
Ao retornar de
Parnaíba, logo na segunda-feira, dia 11, pela manhã, tratei de ir ao escritório
do Dr. Celso para adquirir o seu livro. Portanto, no corrente ano, já foram
entregues ao público piauiense três livros de memórias: o dele, o do
romancista, contista e advogado Ribamar Garcia, titulado “E depois, o trem”, e
o deste cronista. Sem a menor sombra de dúvida, os dois primeiros são obras da
mais alta relevância literária, e podem ser colocados entre os melhores desse
gênero.
Política – Tempo e
Memória, além de narrar os principais fatos e atos de sua rica trajetória
política, também termina por expor outros episódios notáveis ou interessantes
de sua vida, alguns remontando à sua meninice e juventude. Além de ter muito
que contar, soube fazê-lo em diamantino e lapidar estilo, de frases elegantes,
contudo concisas e claras, em que a beleza muitas vezes se reveste de genuína
simplicidade.
O livro me revelou o
que eu já aquilatava de sua personalidade, através de nossas conversas e da
leitura de outros textos de sua lavra. Transparecem em suas páginas a ética e a
cidadania do memorialista. Mesmo diante de perseguições e percalços, manteve a
sua coerência e os seus princípios morais, sem se curvar às injunções circunstanciais
da baixa política e sem lançar mão de oportunismos, que o momento ditatorial
poderia ensejar ou suscitar.
Eventualmente traído
por correligionários e “amigos”, que fraquejaram nos primeiros acenos da
adversidade, optou por não conspurcar o seu mandato de deputado estadual,
preferindo vê-lo cassado no dia 8 de maio de 1964, a ver manchada a sua
biografia de homem público e de cidadão. Preferiu manter-se fiel a si mesmo e
ao seu ideário de democracia e de liberdade, e à sua opção pelos mais pobres e
mais humildes.
Em seus dois mandatos
de deputado federal, que veio a exercer, participou de várias e importantes
comissões, sobretudo as que tratavam de assuntos jurídicos e culturais. Teve a
oportunidade de prestar relevantes serviços à legislação pátria, na condição de
relator de importantes projetos, que se converteram em paradigmáticos diplomas
legais, que lhe imortalizaram como jurista e legislador. Mesmo não tendo sido
parlamentar constituinte, prestou notável contribuição à Constituição Federal
de 1988, através de participação nos debates de convocação da Constituinte.
Em suas memórias,
elucida e ilumina fatos e atos (e até mesmo omissões), da história do Piauí,
sobretudo do início da década de 1960 a esta parte. Conquanto de forma
sintética, delineia os perfis de importantes figuras políticas do Brasil e do
nosso estado, registrando-lhes não apenas fatos e dados biográficos, mas
traçando-lhes o retrato espiritual, fixando-lhes as ideias e virtudes, e
eventualmente as fraquezas, ainda que circunstanciais ou momentâneas. Alguns
desses perfis são antológicos, pela emoção e pela beleza que transmitem, pela
captação do momento solar dessas personalidades.
Celso Barros Coelho
poderia ter mantido o seu mandato de deputado estadual, injustamente cassado
pela ditadura militar. Acenaram-lhe com essa possibilidade. Mas, como dito, ele
preferiu não corromper o seu mandato. Optou por ser um legítimo "ficha
limpa", guardião da democracia, da liberdade e da cidadania. Não vendeu os
correligionários, e nem tampouco se vendeu. Não expôs o seu mandato, que lhe
foi outorgado pelo povo, em balcões de negócios espúrios.
Teve a “loucura” de se
manter fiel a si mesmo e a seu ideário político e humanista. Buscou a grandeza
da Política com P maiúsculo, e não as bijuterias, benesses e ouropéis da
politicanalhice, sabedor, como o poeta Fernando Pessoa, de que “Sem a loucura
que é o homem / Mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria?”
Caro Elmar:
ResponderExcluirLeio, agora, o que escreveu sobre Celso Barros Coelho, a propósito do lançamento, há muito esperado e ansiado pelos leitores, e aqui me incluo entre eles, do grande piauiense que, sem nenhuma necessidade de ser amável com ele, é figura da primeira plana da vida intelectual piauiense de todos os tempos. Me lembro , agora, de uma conferência que ele pronunciou sobre a vida e a obra de Deolindo Couto, na Academia Brasileira de Letras, com o auditório da Casa de Machado de Assis apinhado de gente ilustre da vida cultural brasileira,
Seu texto está impecável, na medida justa da síntese em que consegue, com grande habilidade de expressar o muito pelo pouco mas onde se pode ter da leitura que fez uma ideias geral, abrangente da totalidade da obra do jurista Celso Barros, que conheci , primeiro, pelos artigos dele, memoráveis, que li adolescente publicados em destacados jornais de Teresina dos anos de 1960, depois, quando eu, já adulto, revendo Teresina e, numa carona dada por Celso Barros a meu pai, na Avenida Frei Serafim, pude conhecer um pouco da pessoa dele, da sua educação e fidalguia e da sua estatura intelectual.
O lançamento das memórias de Celso Barros Coelho bem imagino, deve ter sido uma evento grandioso. O Piauí se honra com esse feito.
Parabéns por sua bela resenha falando desse evento histórico na vida cultural do Piauí e sobretudo por seus finos comentários acerca de mais esta obra do ilustre escritor maranhense/piauiense. .
Cunha e Silva Filho
O acadêmico Celso Barros Coelho é como um Vinho: quanto mais velho melhor, o vinho envelhecido em barril de carvalho, Celso rejuvenecendo a cada dia que passa pela vontade de escrever e pelo belo discurso e a firmeza em seus pronunciamentos. Somos felizes por estar vivenciado e participando no dia-a-dia deste monstro sagrado da nossa literatura e deste homem de grande saber jurídico.
ResponderExcluirUm abraço Itamar Costa