28 de maio Diário Incontínuo
REVISITANDO A VELHA
CASA (I)
Elmar Carvalho
Ainda nos meus
primeiros anos de fiscal da extinta SUNAB, adquiri, no final de 1984 ou início
de 1985, uma casa no conjunto residencial Memorare, no bairro de igual nome, a
seis quilômetros do centro de Teresina. Na época a Rua Castelo do Piauí ainda
era de terra nua, e na época das chuvas havia um trecho alagadiço. Minha rua
era muito pequena, e tinha somente cinco casas, todas desse residencial. Era
pequena, mas tinha um nome grande; chamava-se Dr. Alboíno Alves de Meneses. Era
apenas, na verdade, um beco, do tamanho de um quarteirão.
Para o lado esquerdo havia um enorme terreno,
dentro do qual havia a casa do morador e vigia, e um campo de futebol, no qual
nunca joguei. Na frente, existia outro terreno baldio, onde posteriormente, no
governo Freitas Neto, foi construído o Escolão Professor James Azevedo. Cada
casa do conjunto tinha a fachada com leves diferenças, inclusive quanto à cor.
Todas tinham uma varanda e uma mureta na parte frontal. Depois, todas foram
reformadas pelos proprietários, e a mureta alteada, de modo a se transformar em
muro.
Antes da reforma e da
construção do colégio, de seu alpendre eu gostava de contemplar as árvores do
terreno baldio e a pequena e exuberante floresta do convento Memorare, das
irmãs Catarina de Sena, que administravam o tradicional Colégio das Irmãs,
situado na Avenida Frei Serafim, no qual estudaram meus filhos. Desse meu posto
de observação eu via as torres gêmeas da bela igreja de N. S. da Vitória,
surgindo por detrás das folhagens e do outeiro, sobre o qual fora construído o
lindo convento que lhe ficava contíguo, com suas longas e largas varandas.
Do meu alpendre eu via
umas bananeiras e umas casas, que escalavam o morro. Ao vento, as grandes
folhas tremulavam e me pareciam acenar, como grandes flâmulas de esmeralda
farfalhando ao vento. Dali eu contemplava as nuvens e as chuvas. Sentia a
natureza e lhe contemplava o belo cenário, pontilhado de intervenções humanas.
Escrevi alguns poemas sobre o que eu via. Alguns se perderam, seja por
negligência, seja porque não os considerei dignos de publicação. Mas é certo
que os escrevi em momento de emoção e embevecimento.
Fui morar no
residencial Memorare no começo de 1985. Tinha 29 anos de idade, e ainda era
solteiro. Foi morar comigo meu irmão Antônio José, que permaneceu na casa até o
seu casamento. Eram meus vizinhos de rua o Batista Vasconcelos, funcionário da
Cepisa, o professor Marcos Augusto Moreira Oliveira, Valter Matão, servidor do
Banco do Brasil, e o empresário Francisco Carlos. Todos foram bons vizinhos dos
quais não tenho nenhuma queixa. O Marcos já partiu para o reino infinito e o
Chico Carlos foi morar em outro bairro. Nossos filhos, muitos nascidos nessa
época, foram amigos e nunca houve desavenças entre eles; pelo menos, se houve,
delas não guardo lembrança.
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