23 de julho Diário Incontínuo
GENEALOGIA, HISTÓRIA E
ECOLOGIA EM ESPERANTINA
II PARTE
Logo após o término do
panegírico, o Valdemir Miranda, coadjuvado pelo professor Assis Fortes, passou
à segunda parte da solenidade, ou seja, à fundação do Instituto Histórico,
Geográfico e Genealógico “Leonardo Castelo Branco”. Vários historiadores,
genealogistas e intelectuais presentes (todos já referidos na I Parte), foram considerados
sócios fundadores, e assinaram a ata lavrada e lida por Assis Fortes. Esses
membros eram naturais de diferentes municípios do Vale do Longá, ou ao menos
neles radicados.
Ato contínuo a assembleia
passou a deliberar sobre a primeira diretoria da entidade, que foi eleita por
aclamação unânime. Para presidente e secretário foram eleitos o Valdemir e
Assis Fortes, idealizadores do Instituto. Foi aprovado o brasão criado por
mestre Assis, que também é o autor da bandeira, do brasão e do hino de Esperantina.
Valdemir comprometeu-se a realizar sessões do Instituto em diferentes cidades
do Vale do Longá, naturalmente observando as datas magnas dessas urbes.
Após o lauto almoço,
fomos conhecer a antiga casa-grande da Fazenda Olho d’Água (dos Negros ou dos
Pires, se o leitor desejar algum desses acréscimos). Do notável e volumoso
livro Enlaces de Família, de Valdemir Miranda de Castro, na página 82, colho a
seguinte informação: “Fundada por Mariano de Carvalho Castelo Branco, em 1847,
tombada como Patrimônio Histórico Estadual e desapropriada pela Prefeitura
Municipal de Esperantina (...). O território que a cerca é um assentamento
Quilombola. A casa-grande, hoje em ruínas, vem sendo depredada pelos
remanescentes agregados da fazenda, e visitantes.”
Na mesma página, consta
a fotografia de uma telha, com autógrafo de Mariano, na qual ele registrou a
data de seu nascimento: “Hoje quarta-fª, 8 de dezembro de 1847 ajusto 47 anos
de idade e três meses de idade”. Por conseguinte, nasceu no dia 8 de setembro
de 1800. Essa fotografia, segundo informa Enlaces de Família, foi publicada nos
livros Carnaúba, Terra e Barro na Capitania do Piauhy, p. 16, da autoria de
Olavo Pereira da Silva Filho, que está indicado para integrar o IHGG Leonardo
Castelo Branco, e A Mística do Parentesco – Os Castelo Branco, na 4ª capa, de Edgardo Pires Ferreira. Leonardo era irmão do
fundador do velho solar.
Advirto que se
providências urgentes não forem tomadas a casa-grande, tombada pelo órgão do
Patrimônio Histórico e Arquitetônico Estadual, irá literalmente tombar, como já
caiu a casa solarenga da Fazenda da Limpeza, construída pelo poeta e grande
patriota Leonardo de Carvalho Castelo Branco em 1817, na qual nasceu a maioria
de seus filhos, entre os quais Teodoro de Carvalho e Silva Castelo Branco, o
poeta caçador. É uma construção frágil, uma vez que suas paredes são de adobe.
Com a vinda de chuvas, as inúmeras goteiras completarão a ruína que já se
propaga a olhos vistos.
Os saques já se
alastram. Muitas telhas, janelas e portas já foram removidas. Creio que uma porta,
que se encontrava retorcida e fora dos encaixes, só não fora retirada pelo
gatuno, em virtude de seu enorme peso, pois era lavrada em grossa e maciça
madeira. Seria uma verdadeira cruz e calvário para o larápio que pretendesse
conduzi-la, mesmo peça por peça, após ser desmontada.
Mariano parecia ter
talento pictórico, pois as telhas possuem desenhos da flora e da fauna local,
como macacos, tamanduás, galináceos, jacus, abacaxis, sapucaias, buritis etc.
Havia ainda citações da Bíblia, invocação a santos, além de ser traçado o
perfil da família, com o registro de seus hábitos e costumes, conforme
consignou Valdemir Miranda na página 81 de sua monumental obra genealógica.
Fomos olhar o olho
d’água, de onde se originou o nome da fazenda. Foi circundado por uma parede
rústica de pedras, aparentemente antiga, e ao que tudo indica sem
comprometimento dos veios ou minadouros. Entretanto, a água se apresentava
muito barrenta e escura, como se fora toldada por animais ou ação humana.
Foi-nos informado que
uma construtora utilizara essa fonte de forma predatória ou danosa, de modo que
ela perdera a sua natural limpidez. Fica numa várzea, onde pontificam
imponentes buritizeiros. A mata que se espalha pelas encostas dos morros e pelo
vale ainda se mostra exuberante, viçosa e muito verde.
Foram tiradas várias
fotografias da casa, do entorno, da mata, do olho d’água, do brejo e dos
visitantes. Também foram feitas várias filmagens, de vários locais, uma vez que
o Elias Medeiros Júnior pretende realizar um documentário sobre essa histórica
casa-grande, na qual deve ter estado várias vezes o grande Leonardo, em visita
a seu irmão Mariano. O filme deverá registrar a história da vetusta residência
e mostrar o seu precário estado de conservação, no intuito de fortalecer a luta
em prol de sua restauração, que deverá ser empreendida pelo Instituto.
Elias Medeiros Júnior,
misto de jornalista, radialista, ator, diretor cenográfico, ambientalista etc.,
entrevistou várias pessoas. Fui filmado no quintal da Casa do Olho d’Água, à
sombra refrescante de frondosa árvore. Falei que o prédio se mostrava bastante
arruinado, pela falta de conservação e pela fragilidade do material de que fora
construído. Até invoquei a alma de Leonardo, para que nos transmitisse o seu
espírito guerreiro, para melhor defendermos a restauração e preservação do
solar arruinado.
Entretanto, ressaltei
que o manancial d’água ainda se mostrava perene, e que a floresta e o buritizal
da várzea ainda se apresentavam exuberantes e relativamente bem conservados.
Ante essas considerações, defendi em meu depoimento a ideia de que esse
patrimônio desapropriado pelo Poder Público Municipal fosse transformado num
parque de proteção ambiental, e que a antiga casa solarenga fosse transformada
numa espécie de museu e/ou pousada.
Com essas providências,
estariam salvos a floresta e o buritizal do entorno, a fauna e o patrimônio
arquitetônico já tombado. Quando eu concluía meu depoimento, ao entardecer, o
canto mavioso e inaudito de um pássaro, que não identificamos, nos encantou em
verdadeiro alumbramento auditivo, como um arremate sinfônico de tudo que
expusemos. Talvez essa ave canora estivesse estampada numa das telhas da
casa-grande.
Resta-me torcer para
que os órgãos governamentais a serem contatados não transformem a justa
reivindicação em “abacaxi”, através de embaraços burocráticos, e nem os
oportunistas da má política demagógica nos deem abraços de tamanduá, conforme
Mariano de Carvalho Castelo Branco desenhou nas telhas do vetusto e decrépito
solar. Decrépito, mas que ainda pode e deve ser restaurado.
Como tive a oportunidade de te falar, conheci a casa grande do Olho D'água dos Pires ainda em ótimo estado de conservação em 1996, quando ainda pertencia a uma descendente direta dos fundadores da fazenda, cujo primeiro nome não consigo recordar, mas terminava como Pires Rebelo. De certa idade, era solteira, e vivia para preservar a herança histórica recebida dos seus. O olho d'agua ainda estava em perfeitas condições de preservação.
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