terça-feira, 3 de novembro de 2015

300 comissionados em única sala?


300 comissionados em única sala?

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

          Conhece a história dos trezentos guerreiros valentes, comandados por Gedeão, capítulo 11 de Juízes, na Bíblia? Vale a pena montar analógica aventura, bem aqui, numa das salas do Palácio do Karnak, atolada de lambe-cus, dos que vão só pegar o contracheque. (Desculpem chulo termo, encontrado no dicionário do Aurélio). Vejamos, primeiramente, a história de Gedeão.

         Camponês, sobrevivendo à custa de modesto rebanho e rala produção agrícola, Gedeão e seu povo sofriam e passavam fome, causada pela praga de ladrões madianitas, que invadiam campos de Israel e levavam toda a produção. Gedeão reclamava ao Senhor, que, no passado, ajudara seu povo a libertar-se da escravidão do Egito. Montou uma fogueira e ofereceu sacrifício ao Senhor, que lhe revelou um segredo: convocar o povo de Israel para uma batalha contra os milhares de inimigos. “Leva o exército para as margens do Jordão. Põe todo mundo para beber. Dispense os medrosos e mande-os de volta para casa”. Expressiva multidão regressou. Observe os que bebem como cães, lambendo a lâmina d’água, sem ajuda das mãos. Estes é que irão batalhar. Gedeão cumpriu a ordem. Só foram lutar trezentos guerreiros, que venceram a batalha contra milhares de assaltantes das riquezas de Israel, e a prosperidade voltou.

         A administração pública vive assaltada por ladrões, como madianitas bíblicos, e não surge líder Gedeão para acender fogueira santa de bravos patriotas. Buscam soluções para os rombos e roubos, mas à custa de pesados cortes nos salários e verbas para educação e saúde, especialmente. A carga tributária, tão perversa, que lembra o tempo da nobreza francesa: quanto mais gastava, mais aumentava impostos. A solução veio com a multidão nas ruas em infernal revolução.

         Voltemos ao Karnak, em cuja única sala funciona a Secretaria do Governo. Fazer o quê? Agendar festas e eventos, cuidar da casa, enfim. Média de duzentos comissionados, ano passado, “em serviço”. Em 2015, passa dos trezentos. À proporção que o governo pifa, acrescentam-se mais comissionados: ex-deputado, ex-vereador, cabos eleitorais, professor de português do Enem, um ex-secretário da Educação residindo em Brasília. Secretaria que paga entre 4 mil a 8 mil reais a centenas de lagartas, digo madianitas, para o beija-cu, subserviência, foguetório de defesa. Louvar aeroporto “internacional”, onde urubus e bimotores sobrevoam. O “internacional” de Parnaíba não seduz um boeing, desde a inauguração. Nem com edênicas praias, Luís Correia de belas mansões, hotéis, empreendimentos estrangeiros, decantado Delta e Lençóis maranhenses. Obras faraônicas, o melhor caminho das minas para madianitas assaltantes.

         Brasil dos 24 mil comissionados para a presidente deitar e rolar. Estados Unidos, 4 mil. Reino Unido, 300. Alemanha e França, apenas 500. Assembleia Legislativa do Piauí, paraíso de aproximadamente 3 mil.

           O fim do nepotismo só ocorrerá com o corte no elevado número de cargos comissionados. Pelo menos, diminuíssem o tamanho das contratações. Só falta um Gedeão para acender a chama da bravura.     

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