300 comissionados em única sala?
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Conhece a história dos trezentos
guerreiros valentes, comandados por Gedeão, capítulo 11 de Juízes, na Bíblia?
Vale a pena montar analógica aventura, bem aqui, numa das salas do Palácio do
Karnak, atolada de lambe-cus, dos que vão só pegar o contracheque. (Desculpem
chulo termo, encontrado no dicionário do Aurélio). Vejamos, primeiramente, a
história de Gedeão.
Camponês,
sobrevivendo à custa de modesto rebanho e rala produção agrícola, Gedeão e seu
povo sofriam e passavam fome, causada pela praga de ladrões madianitas, que
invadiam campos de Israel e levavam toda a produção. Gedeão reclamava ao
Senhor, que, no passado, ajudara seu povo a libertar-se da escravidão do Egito.
Montou uma fogueira e ofereceu sacrifício ao Senhor, que lhe revelou um
segredo: convocar o povo de Israel para uma batalha contra os milhares de
inimigos. “Leva o exército para as margens do Jordão. Põe todo mundo para
beber. Dispense os medrosos e mande-os de volta para casa”. Expressiva multidão
regressou. Observe os que bebem como cães, lambendo a lâmina d’água, sem ajuda
das mãos. Estes é que irão batalhar. Gedeão cumpriu a ordem. Só foram lutar
trezentos guerreiros, que venceram a batalha contra milhares de assaltantes das
riquezas de Israel, e a prosperidade voltou.
A
administração pública vive assaltada por ladrões, como madianitas bíblicos, e
não surge líder Gedeão para acender fogueira santa de bravos patriotas. Buscam
soluções para os rombos e roubos, mas à custa de pesados cortes nos salários e
verbas para educação e saúde, especialmente. A carga tributária, tão perversa,
que lembra o tempo da nobreza francesa: quanto mais gastava, mais aumentava
impostos. A solução veio com a multidão nas ruas em infernal revolução.
Voltemos ao
Karnak, em cuja única sala funciona a Secretaria do Governo. Fazer o quê?
Agendar festas e eventos, cuidar da casa, enfim. Média de duzentos
comissionados, ano passado, “em serviço”. Em 2015, passa dos trezentos. À
proporção que o governo pifa, acrescentam-se mais comissionados: ex-deputado,
ex-vereador, cabos eleitorais, professor de português do Enem, um ex-secretário
da Educação residindo em Brasília. Secretaria que paga entre 4 mil a 8 mil
reais a centenas de lagartas, digo madianitas, para o beija-cu, subserviência,
foguetório de defesa. Louvar aeroporto “internacional”, onde urubus e bimotores
sobrevoam. O “internacional” de Parnaíba não seduz um boeing, desde a
inauguração. Nem com edênicas praias, Luís Correia de belas mansões, hotéis,
empreendimentos estrangeiros, decantado Delta e Lençóis maranhenses. Obras
faraônicas, o melhor caminho das minas para madianitas assaltantes.
Brasil dos 24
mil comissionados para a presidente deitar e rolar. Estados Unidos, 4 mil.
Reino Unido, 300. Alemanha e França, apenas 500. Assembleia Legislativa do
Piauí, paraíso de aproximadamente 3 mil.
O fim do
nepotismo só ocorrerá com o corte no elevado número de cargos comissionados.
Pelo menos, diminuíssem o tamanho das contratações. Só falta um Gedeão para
acender a chama da bravura.
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