Fonte da foto: Mural da Vila |
LANÇAMENTO DO LIVRO: “ESTAÇÃO SAUDADE” DE DAGOBERTO CARVALHO EM OEIRAS
Moises Reis
Caros
amigos! Este é um momento de vívida e intensa emoção, próprio para ser
conduzido, sobretudo, por alguém que, como dizia Cervantes, faz da pena a
língua da alma: o escritor, o poeta. Sim, são eles os únicos capazes de
interpretar, com fidelidade, a alegria e o prazer de outro escritor e poeta.
Estes últimos, os poetas, são profundos filósofos e somente eles são
dimensionados para sentir as emanações prazerosas do esforço poético do outro.
Como
veremos, “Estação Saudade”, um misto de artigos, crônicas, discursos
acadêmicos, atinge a sublimação com as poesias ali colacionadas, que o autor
chama de “Canto da lembrança da Província”. Valerá a pena seguir o voo das
ideias, para, certamente, ouvir a melodia interior das palavras e sentimentos
expressados do âmago do coração do autor. Ao final o leitor haverá de concluir
que “Estação Saudade” nada mais é do que a revelação de um estado de
existência, desnudando segredos, denunciando acendrado amor telúrico e
confirmando a preocupação do autor com a proteção da memória de sua terra, do
seu povo.
De
indiscutível razão a assertiva do grande vate francês, Vitor Hugo: “os poetas
possuem em si um condensador, a emoção. Daí os grandes feixes luminosos que
saem de seu cérebro e que vão brilhar para sempre sobre a tenebrosa muralha
humana”.
Sem
os dotes apropriados, e sem talento para tanto,
reconheço a ousadia de aceitar o encargo de apresentar esta obra literária produzida por este oeirense,
cujo telurismo é o distintivo maior de sua personalidade.
Moveu-me,
no entanto, para investir-me na missão delegada pelo autor de “Estação Saudade”
um sentimento maior e único, qual seja o de que é possível adquirir a condição
de escritor e poeta, na medida em que sejamos idealistas e sonhadores.
E
foi exatamente com esta sensação e compenetrado de um só ideal, o de servir
sempre que possa às boas causas, que resolvi estar aqui nesta Terra tão querida
de todos nós.
De
fato. Não escondo desta distinta platéia que também o fato de poder estar em
Oeiras, foi outro motivo encorajador de exercer, nesta noite engalanada em que
se respira ar de profundo civismo pelo dia de amanhã, 24 de Janeiro, o papel de
analista da alma do Autor que, tal qual rouxinol solitário, com grande
sensibilidade e poético saudosismo, canta sua terra e seu povo defendendo a
preservação da cultura local.
Senhoras
e Senhores,
Mesmo
abrigando tanto seres humanos, marcados pela volúpia do querer mais, do ter
mais o mundo continuará reservando um lugar especial para os escritores e poetas.
É que a necessidade de usar da pena para exprimir sentimentos, de escrever para
posteridade; a necessidade do recolhimento, do voltar-se para si mesmo, de
abrigar-se na sua interioridade é mais forte no homem do que a busca do ter e
do poder. É assim o Autor.
É
vital para o cidadão separar o mundo exterior, onde se sobressai o indivíduo,
do mundo interior, onde reina o fluxo espontâneo de poderosos sentimentos. É a
sensibilidade interior, de quem não guarda para si os seus tesouros que dá vida
e alma ao ofício de quem, como o Autor, escreve para o mundo.
Com
razão e perfeitamente justificada a presença distinta dos poetas neste mundo
globalizado, marcado, cada vez mais, pela violência, e pela simples busca do
poder pelo poder. É que a vida não se limita a isto. É preciso também sonhar. O
homem há que, de quando em vez, sair por aí a contar estrelas, revivendo tempos
passados, como fazem os poetas. Como fez Dagoberto nesta obra.
Não
é sem razão que devemos nos apressar em agradecer ao Dagoberto por mais esta
contribuição em favor da cultura piauiense e especialmente pelas manifestações
e defesa dos valores culturais de nossa cidade, “vivendo o presente, não de
costas para o passado – mas tendo-o como inspiração para novas conquistas e de
frente para o futuro”, com está dito por ele em documento registrado neste
livro, apresentado no 8º Festival de Cultura de Oeiras.
Cantemos
em uníssono, nesta noite, cantando em sincero canto, uma ode à criação do
escritor\historiador e também poeta que não fez da poesia um caminho para a
eloqüência e a retórica. É verdade! Os poemas do Conde de Oeiras, no dizer de
Nilo Pereira, são de evocação e saudade. Sejamos percucientes na leitura e
descobrir-se-á cântico de saudades; de esperança; de anseios vagos, desejos
inexprimíveis, como nestes versos pinçados do poema:
“ INSONIA”
“Madrugada insone de lembranças e
desejos;
Acorda a noite secular da Praça;
O Riacho, a ponte;
Os fantasmas do “Sobrado”.
Procissão do tempo,
Flores do “Passo” e de saudade”
“Estação
Saudade” é mais uma das inúmeras contribuições literárias do historiador em
homenagem aos cem anos da Academia Piauiense de Letras. A rigor, a obra não
precisaria de apresentação. Discípulo do grande mestre português, Eça de
Queiroz, tanto tem sido marcante sua presença no mundo da intelectualidade, que
seus livros são recebidos com a certeza de conteúdo rico de boa prosa, daquela
que eleva o espírito e inspira sentimentos nobres.
Bem
disse outro poeta da Academia Piauiense de Letras, autor do célebre poema “Noturno de Oeiras”, Elmar Carvalho, ao referir-se à obra: “As crônicas e os
poemas são entranhados de suave saudosismo telúrico e lirismo. Ele é um mestre
da prosa bem trabalhada, e nos faz lembrar os mestres do classicismo português,
porém, como não poderia deixar de ser, temperada de contemporâneas “especiarias”.
Senhores!
Os livros são os abençoados clorofórmios do espírito, especialmente quando são
feitos com alegria e prazer. E as obras
escritas com prazer, são quase sempre as melhores, assim como os filhos do amor
são os mais belos.
Todos
já nos acostumamos à leitura dos livros de Dagoberto. São obras literárias
merecedoras de indiscutíveis encômios. Sua preocupação, como de outras vezes,
com a cidade mafrensina, desejoso de assegurar aos pósteros em registro de
suave pena, a verdade histórica da Primeira Capital do Piauí, mais uma vez se
repete neste livro. Dagoberto tomou boa nota da lição de Eça de Queiroz,
segundo a qual “só um livro é capaz de fazer a eternidade de um povo” E este
“chão glorioso, encravado em sertão bruto, onde jazem heróis verdadeiros, no
dizer de Arimatea Tito, necessita ter sua história resguardada.
Consciente
dessa verdade é um obstinado por contribuir, através de seu lirismo, de suas
emoções, para que fiquem nos anais da história, os feitos e passagens da
“capital perene das tradições do Piauí”.
John
Ruskin, britânico, crítico de arte, poeta e desenhista, realçava a verdade de que “Os livros
dividem-se em duas classes: livro do momento e o livro de todo momento. Aqueles
podem ser lidos ora na sala ora na cozinha; já os livros de todo momento, como
verdadeira prova de seu valor, são lidos tanto na sala quanto na cozinha”.
Não
titubeio em afirmar, categórico, que esta obra certamente merecerá de todos nós
que a leiamos pela casa inteira, porque se trata de um bom livro, mais um
legado precioso que Dagoberto deixará para a posteridade.
Na
primeira parte da obra estão os artigos e ensaios, em que o historiador explora
temas diversos, com o seu já conhecido estilo, próprio, perfeito, definido e
sempre denunciador do sentimento de “filho extremado e amante da terra em que
nasceu”.
Os
Discursos Acadêmicos emolduram a obra com o refinamento intelectual de seus
conteúdos. De sua vez, as “Crônicas Reencontradas”, pinceladas com as cores
vivas do respeito a piauienses de escol e a notáveis oeirenses – Possidônio Queiroz, Costa Machado, Balduíno
Barbosa – é resultado da inspiração do Autor ao prestar homenagens à memória de
pessoas que muito serviram ao Piauí e especialmente a Oeiras.
Extremamente
engenhoso na arte de versejar, o livro se completa coroado pelos poemas em o
que autor explorando sutilmente a natureza, o telúrico, a angústia existencial
do homem moderno e recordações pessoais, divaga saudosamente, como neste poema:
NATAL
Alegres noites de dezembro
Demoram-me na lembrança
Que não passa
Natal de outros natais.
Promessas de vida nas luzes da
festa,
Reflexos de sonhos nas cores da
praça.
Parabéns
ao amigo oeirense, Dagoberto Carvalho, por mais este presente que dá a Oeiras e
ao Piauí. Sob a inspiração do mestre Paulo Nunes, digo que a “Estação Saudade”
não é obra para ser lida, apenas, mas para ser degustada.
Oeiras, invicta, 23 de Janeiro de
2015.
Ler Moisés Reis é um deleite para a alma. Ele lega a língua portuguesa a sublime arte lapidar das belas letras. Fiquei encantado como sempre me encanta ler os seus escritos. Muito bom, boníssimo. Soarinho
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