terça-feira, 22 de março de 2016

As “Aquarelas” de Soares Bolão


As “Aquarelas” de Soares Bolão

Dagoberto Carvalho Jr.
Da Academia Piauiense de Letras

Antes de mais nada fica esclarecido que o livro a comentar neste espaço de jornal, é “Aquarelas de um tempo”, do escritor oeirense Antônio Reinaldo Soares Filho que, bondosamente, também, atende pelo heterônimo que só faltava ser literário, para - ecianamente - completar-se. Já não me lembro desde quando e o porquê da associação de nomes tão ilustres; um deles, até curioso. Alguma coisa com Azevedo Bolão? Nem eu mais me lembro da origem da homenagem, se é que o foi. Certo mesmo, é que ele atende e, até, agradece honras que lhe prestem, também, ao segundo nome, mais para português, de Portugal, mesmo. Mas, acaba tendo mais a ver é com o de um líder baiano que fez história como republicano, no vizinho Ceará dos tempos distantes de Tristão Gonçalves. Personagem histórico, portanto e, assim, mais ligado a ele pelas pesquisas de arquivos; onde, decerto, ter-se-ão encontrado.

Vencido o alegre preâmbulo da apresentação, é bom que se registrem os títulos de estreia do escritor que, em “Aquarelas de um tempo” firma-se como cronista de sua cidade do nascimento e da memória. Apresentou-se, ele, em “Oeiras Municipal” (1992), verdadeiro arrolamento das testemunhas de nossa história vivida na primitiva povoação dos “Sertões de Dentro do Piauhy”, depois Vila da Mocha. Pelos seus olhos e sua escrita passaram todos os construtores da grandeza piauiense. E, para não abandonar seus personagens, aos cuidados apenas do tempo, logo tratou de dar-lhes os endereços que a própria história estabelece e quer documentados. Assim, competentemente, ele os situa e personifica em “Oeiras, Geografia Urbana” (1994).

Partem, portanto, dessa sólida base de dados reais, suas novas experiências – de resto, já exercitadas nas páginas de muitos jornais de Teresina –, agora definitivamente associadas à memorialística mafrense, nunca esquecidos (os seus leitores) que os oeirenses, de todos os séculos, assim – sempre o quiseram, e adotaram o termo, quase como patronímico. Vem de um de nossos colonizadores, Domingos Afonso, da freguesia portuguesa de Mafra, onde se eterniza o palácio-convento de Dom João V e do ouro das brasileiras Minas Gerais.

Temos, agora, em nossas mãos e para os nossos olhos e lembranças, tão ciosos do passado que a cada um nos foi dado viver, as “aquarelas” do bom pintor de memórias oeirenses que Reinaldo Soares acaba de se relevar. Gratificante, sobretudo, para os seus companheiros de geração e, até, os contemporâneos que lhe conheceram e admiraram os juvenis arroubos de menino “de qualquer peraltice capaz”, como dito pelo poeta pernambucano Mauro Mota, em seu  belo “Soneto muito passadista na Ponte da Madalena”.

“Last but not least”, as muitas e ricas ilustrações das crônicas que o realismo das descrições elevou à categoria de boas memórias. Elas, como quê, complementam as estórias contadas, enriquecendo-as pela força documental que se reservam à arte da fotografia, à pintura, ao desenho. No livro comentado, texto e “traços” interagem e completam-se como guardiões da memória que a tudo e todos impregna e magnetiza.

Em tempo: O livro será lançado na Livraria “Entrelivros”, Teresina, quarta-feira, 23 de março de 2016, às 19 horas.   

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