As “Aquarelas” de Soares Bolão
Dagoberto Carvalho Jr.
Da Academia Piauiense de Letras
Antes de mais nada fica esclarecido que o livro a comentar
neste espaço de jornal, é “Aquarelas de um tempo”, do escritor oeirense Antônio
Reinaldo Soares Filho que, bondosamente, também, atende pelo heterônimo que só
faltava ser literário, para - ecianamente - completar-se. Já não me lembro
desde quando e o porquê da associação de nomes tão ilustres; um deles, até
curioso. Alguma coisa com Azevedo Bolão? Nem eu mais me lembro da origem da
homenagem, se é que o foi. Certo mesmo, é que ele atende e, até, agradece
honras que lhe prestem, também, ao segundo nome, mais para português, de
Portugal, mesmo. Mas, acaba tendo mais a ver é com o de um líder baiano que fez
história como republicano, no vizinho Ceará dos tempos distantes de Tristão
Gonçalves. Personagem histórico, portanto e, assim, mais ligado a ele pelas
pesquisas de arquivos; onde, decerto, ter-se-ão encontrado.
Vencido o alegre preâmbulo da apresentação, é bom que se
registrem os títulos de estreia do escritor que, em “Aquarelas de um tempo”
firma-se como cronista de sua cidade do nascimento e da memória. Apresentou-se,
ele, em “Oeiras Municipal” (1992), verdadeiro arrolamento das testemunhas de
nossa história vivida na primitiva povoação dos “Sertões de Dentro do Piauhy”,
depois Vila da Mocha. Pelos seus olhos e sua escrita passaram todos os
construtores da grandeza piauiense. E, para não abandonar seus personagens, aos
cuidados apenas do tempo, logo tratou de dar-lhes os endereços que a própria
história estabelece e quer documentados. Assim, competentemente, ele os situa e
personifica em “Oeiras, Geografia Urbana” (1994).
Partem, portanto, dessa sólida base de dados reais, suas
novas experiências – de resto, já exercitadas nas páginas de muitos jornais de
Teresina –, agora definitivamente associadas à memorialística mafrense, nunca
esquecidos (os seus leitores) que os oeirenses, de todos os séculos, assim –
sempre o quiseram, e adotaram o termo, quase como patronímico. Vem de um de
nossos colonizadores, Domingos Afonso, da freguesia portuguesa de Mafra, onde
se eterniza o palácio-convento de Dom João V e do ouro das brasileiras Minas
Gerais.
Temos, agora, em nossas mãos e para os nossos olhos e
lembranças, tão ciosos do passado que a cada um nos foi dado viver, as
“aquarelas” do bom pintor de memórias oeirenses que Reinaldo Soares acaba de se
relevar. Gratificante, sobretudo, para os seus companheiros de geração e, até,
os contemporâneos que lhe conheceram e admiraram os juvenis arroubos de menino
“de qualquer peraltice capaz”, como dito pelo poeta pernambucano Mauro Mota, em
seu belo “Soneto muito passadista na
Ponte da Madalena”.
“Last but not least”, as muitas e ricas ilustrações das
crônicas que o realismo das descrições elevou à categoria de boas memórias.
Elas, como quê, complementam as estórias contadas, enriquecendo-as pela força
documental que se reservam à arte da fotografia, à pintura, ao desenho. No
livro comentado, texto e “traços” interagem e completam-se como guardiões da
memória que a tudo e todos impregna e magnetiza.
Em tempo: O livro será lançado na Livraria “Entrelivros”,
Teresina, quarta-feira, 23 de março de 2016, às 19 horas.
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