terça-feira, 5 de abril de 2016

COINCIDÊNCIAS

Alcenor visto pelo chargista Fernando di Castro
Prédio da Caixeiral, recentemente reformado pelo SESC-PI



COINCIDÊNCIAS

Alcenor Candeira Filho


I.             COINCIDÊNCIAS  IRRELEVANTES

Depois da publicação de O CRIME DA PRAÇA DA GRAÇA, em 2008, livro que focaliza o assassinato de Alcenor Rodrigues Candeira, no dia 11 de outubro de 1959, na Praça da Graça, em Parnaíba, praticado covardemente pela família Cavalcante (Clodoveu Felipe Cavalcante, Jamacy Guterres Cavalcante, Clodoveu  Felipe Cavalcante Filho e Veudacy Guterres Cavalcante),  constatei  em suas páginas e em documentos consultados durante  a pesquisa para a realização da obra estranhas e curiosas coincidências,  umas relevantes pelo teor ocultista, outras nem tanto.
Exemplo de coincidência destituída de qualquer apelo cabalístico está estampado no diploma expedido pela Escola Técnica de Comércio da União Caixeiral, em 08 de dezembro de 1954, conferindo a Alcenor  “o título de Técnico em Contabilidade de que trata  o Decreto-Lei nº 6.141, de 28 de dezembro de 1943”, com a assinatura do diplomado e as de seus algozes Jamacy Guterres Cavalcante como secretária e Clodoveu Felipe Cavalcante como diretor.
A sociedade civil União Caixeiral  foi   fundada em 28 de abril de 1918 por 122 comerciários, dentre os quais (ver o jornal O BEMBEM, edição nº 89, de 21.05.2015)  Lívio Ferreira Castelo Branco (n. em Barras – Pi:1876/f. em Parnaíba – Pi : 1929),  Francisco Ferreira Castelo Branco (n. em União – Pi:1897 / f. em Parnaíba – Pi: 1961)  e Fenelon Santana Castelo Branco (n. em União:  1897 / f. no Rio de Janeiro: 1978),  todos parentes próximos (bisavô, tio e avô, respectivamente).
O prédio da Caixeiral foi recentemente adquirido, reformado e transformado pelo SESC no Centro Cultural João Paulo dos Reis Velloso.  Estive presente na festa de inauguração, em 18.04.2015, e até esse dia, como declarei ao jornal O BEMBEM, edição nº 90,  eu não sabia que o estabelecimento de ensino onde meu pai Alcenor Rodrigues Candeira fez o curso técnico em contabilidade, concluído em 1954,  e onde iniciei a carreira de professor  (1971/1976)  tivesse tido, dentre os fundadores, a participação de meu bisavô, de meu tio e de meu avô.
E mais: a data  – 11.10.39  -  relacionada com a fotografia em que aparece Alcenor e seu automóvel,  inserida em O CRIME DA PRAÇA DA GRAÇA,  corresponde exatamente a vinte anos que antecedem o assassinato (11.10.59).
Sem pretensão de ser enfadonho registro ainda a coincidência de eu ter sido no Ginásio Parnaibano aluno dos Clodoveus  - pai e filho -  no ano do crime, como meu pai havia sido no início dos anos 50 na Caixeiral. Ambas as escolas funcionavam em majestosos prédios (tombados pelo IPHAN) situados na avenida Presidente Vargas, onde residiram as personagens centrais do crime da Praça da Graça  -  agressores e agredido –e onde ficava a sede da Prefeitura Municipal de Parnaíba, palco das primeiras desavenças entre a família Cavalcante e a vítima.
Na avenida Presidente Vargas, no imóvel em que era sediada a Capitania dos Portos do Estado do Piauí, a um quarteirão da casa de meu pai, estiveram presos por pouco tempo, logo após o crime, os assassinos detentores de curso superior: Clodoveu e Clodoveu Filho.
Antes de falar de coincidências magnetizadoras, que mais parecem verdadeiras  comunicações do além, desejo  consignar as que houve entre os versos (citados por M. Paulo Nunes na pág. 27 de O  CRIME DA PRAÇA DA GRAÇA) do famoso poema “Llanto por Ignacio Sanchez Mejias”, de  Federico García Lorca, em que o poeta, envolvido na guerra civil espanhola e fuzilado em Granada pelos insurretos falangistas , chora a morte do toureiro IgnacioMejias, seu amigo, - e os versos do meu poema “Marcas do Trauma”:
                                       “Lasheridasquemaban como soles
                                       a  las  cinco de la tarde,
                                       y el gentio rompia las ventanas
                                       a las cinco de la tarde!
Ay que terribles cinco de la tarde!
Eranlas cinco em todos los relógios!
Eranlas cinco  em sombra de la tarde!”

           (LLANTO POR IGNACIO SANCHEZ MEJIAS)


                                        “nove balas certeiras
                                                    seis punhaladas traiçoeiras
                                                               coronhadas ceifeiras...


                                        e por volta das cinco da tarde
                                        de outubro onze de cinquenta e novembro
                                        magro corpo massacrado morto
                                        no silêncio dos sinos da praça.”

                                                           ( MARCAS  DO  TRAUMA)

II.            COINCIDÊNCIAS  RELEVANTES

Agora passo a escrever sobre coincidências, digamos, de arrepiar
Como primeiro exemplo de ocorrência que, por acaso, parece ter conexão com outra, reporto-me ao poema elegíaco de minha autoria “Passando em Revista”, cujo esboço ficou na gaveta durante vários anos,  à espera da estrofe final que um dia desabrochou espontaneamente, na forma como eu queria.
Segundo o poeta Elmar Carvalho, essa composição significou para o autor uma forma de “catarse”  e se refere ao assassinato de Alcenor Rodrigues Candeira  em 11 de outubro de 1959, em Parnaíba, na Praça  da Graça. A derradeira estrofe faz alusão ao feriado municipal de 11 de outubro, data consagrada a Nossa Senhora da Graça, a Padroeira da cidade:
                                                  “Foi no dia 11 de outubro,
                                                  fim de tarde , a chacina.
                                                  Os sinos à procissão
                                                  deram toque de silêncio,
    enquanto o sangue na esquina
                                                  pintava todo de rubro
                                                  o mais triste mês de outubro
                                                  que já  vi em minha vida.”


Vários anos depois de ter escrito esse poema, captei com enorme surpresa na segunda estrofe  (“Foi em Parnaíba/na Praça da Graça/ali por onde passa/o povo que passa/que meu pai ao passar/passou”)  o som macabro dos nove tiros que mataram meu pai, provocado pelo uso reiterado da consoante oclusiva/bilabial/explosiva “p”   com efeito de harmonia imitativa ou de onomatopeia.
Embora o recurso sonoro presente na estrofe tenha sido instaurado de propósito, e não por acaso, - o acaso, no caso, decorre do fato de que a letra “p” foi empregada nove vezes de forma não intencional, mas coincidindo com os nove tiros  que, segundo o exame de corpo de delito mencionado em O CRIME DA PRAÇA DA GRAÇA, atingiram a vítima. O poema “Marcas do Trauma”, já transcrito acima  faz  expressa  referência aos nove disparos fatais.
Ainda como exemplo de eventos que, por acaso, parecem ter algumas conexões entre si, lembro os episódios referentes à mudança do Dia da Padroeira da Parnaíba, onde Alcenor Candeira  residiu e foi  assassinado, antecipado de 11 de outubro para 08 de setembro a partir de 1992,  e  à troca da imagem da Padroeira de Santa Quitéria (Maranhão), sua vila/cidade natal, pela da Padroeira da vila)cidade homônima localizada no Ceará. O episódio da troca das imagens foi  evidenciado, conforme transcrição nas páginas 28/29 de O CRIME DA PRAÇA DA GRAÇA,  no romance  A ILHA ENCANTADA, de Renato Castelo Branco:


“Alcenor continuaria rio acima, até alcançar Santa Quitéria.  Santa Quitéria era conhecida como ‘a Vila da Padroeira Trocada’.  Ocorreu  quea vila do Maranhão tinha uma homônima no Ceará. Ambas encomendaram, ao mesmo tempo, imagens de suas respectivas padroeiras a santeiros de Portugal A da primeira era Nossa Senhora dos Aflitos; a da segunda, Nossa Senhora do Carmo. Algum tempo depois de entregues    e entronizadas as imagens, descobriu-se que houvera uma troca. Mas  os devotos de ambas as vilas recusaram-se a permutá-las.  E a Nossa Senhora do Carmo permaneceu no Maranhão, como Nossa Senhora dos Aflitos. E a Nossa Senhora dos Aflitos permaneceu no Ceará, como Nossa Senhora do Carmo.A troca  de nome não arrefeceu, entretanto, a devoção dos fiéis.E anualmente, no dia da Padroeira de Santa Quitéria do Maranhão,  vinha gente das vilas vizinhas de São Bernardo, de Brejo de Anapurus, de Luzilândia participar dos estrondosos festejos de Nossa Senhora dos Aflitos que culminavam em bailes famosos no palacete do coronel Raimundo Candeira, pai de Alcenor.”

               (CASTELO BRANCO, Renato Pires. “A Ilha Encantada”. 
                           São Paulo, T. A. Queiroz, 1992, p. 82/83)


III.          CONCLUSÃO

Diante das coincidências aqui assinaladas, quero concluir com a declaração de que  -  embora nunca tenha sido dado às coisas do além, do mistério, da magia, da cabala, enfim do esotérico  -  me sinto doravante fortemente inclinado a mergulhar nas ciências ocultas.

                                                                    Parnaíba, Abril de 2016.    

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