quinta-feira, 14 de abril de 2016

HISTÓRIAS DE ÉVORA - Capítulo I

Foto meramente ilustrativa

HISTÓRIAS DE ÉVORA
Este romance será publicado neste sítio internético de forma seriada (semanalmente), à medida que os capítulos foram sendo escritos.

Capítulo I

O TRIÂNGULO ENCANTADO

Elmar Carvalho

            Eram duas horas da madrugada quando Marcos Azevedo acordou, com sede. Dirigiu-se à cozinha, onde ficava a geladeira. No percurso, notou que o quarto das irmãs estava com a porta entreaberta e com a lâmpada elétrica ligada.

Retrocedeu um pouco, para melhor olhar. Viu, então, expostas na rede, as roliças e rijas coxas de Neuza, a empregada, entreabertas. Eram brancas, grossas, firmes, e deviam ser macias. Uma tenra, quase transparente e dourada penugem as recobria.

Imaginou que deveriam ser suaves e agradáveis ao tato, principalmente se tocadas com as pontas dos dedos. Desceu o olhar em direção aos pés, em que não viu nada de especial. As panturrilhas, contudo, eram proporcionais às coxas, roliças, rijas e torneadas com esmero.

Em seguida, com o coração em disparada, com medo de que Neuza ou alguma das irmãs acordasse, abriu a porta um pouco mais, para olhar o que estava acima das coxas; ou o encaixe destas, como gostava de dizer um seu amigo. E viu o que procurava, com tanta ansiedade e medo.

A calcinha branca e simples mal cobria o grande, altaneiro e vertiginoso vértice. O púbis castanho, sem dúvida bem rebaixado, ornava a borda da sumária peça íntima. Entreviu o sopé e parte da encosta dos carnudos e protuberantes grandes lábios. Marcos sentiu uma tontura, quase como se fosse desmaiar. Mesmo assim viu a depressão em que se fendia a genitália, como um pequenino regato, que parecia morder o vinco central da calcinha. Era um bem esculpido delta, desde o monte de Vênus até a curvatura em direção ao períneo.

Sua vontade de tocá-lo era enorme. Espalmar-lhe a mão, e tê-lo em sua concavidade. Parecia um animal, que tivesse vida própria e palpitasse. Fez um esforço muito grande para se conter. Sua timidez e natural retraimento tentavam conter o ímpeto de sua mal desabrochada adolescência. Foi então que a moça abriu os olhos. Marcos temeu gritos escandalosos, estridentes, e saiu em passos de felino para a cozinha. Ficou aliviado com o silêncio. Ficou com medo de que ela lhe viesse ao encontro, para exigir explicações. Mas isso também não aconteceu. Tampouco no dia seguinte ela denunciou o fato aos seus pais.

Sentiu que ela tivera a exata compreensão do que acontecera, e lhe perdoara, ou mesmo se sentira envaidecida daquela silenciosa, inerte e contida contemplação fortuita. Foi a primeira vez que vira uma mulher (quase) desnuda. Pela primeira vez enxergara de tão perto e com tanta nitidez uma cona aureolada gloriosamente pelos esquálidos e pálidos pelos pubianos. Foi o marco inicial e inesquecível de seu adolescer.

Como um símbolo incandescente ficou em sua memória para sempre aquele triângulo encantado, que jamais veria novamente. Como no poema de Manuel Bandeira, foi o seu alumbramento, a sua visão do paraíso na terra e da terra.   

4 comentários:

  1. Meu amigo Poeta,
    Começaste maravilhosamente bem o seu primeiro livro ficcional. À maneira dos grandes autores, cunhaste esse primeiro capítulo que enseja uma belíssima história que acompanharei com avidez e expectativa. Somente com essas primeiras linhas, já posso afirmar que o texto, à maneira dos bons romances, atraiu-me para o centro da narrativa com a força de ímã de inesgotável força,e me fez mergulhar e incorporar-me nela como se presente estivesse à doce visão do protagonista. Ótimo começo! Agora você não pode mais escapar do destino que te espera! Teus personagens não permitirão isso.

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  2. Caro amigo JP Araújo,
    Só desejo que os seus bons augúrios se concretizem.
    E que o nobre amigo seja tão bom profeta quanto é como escritor e historiador.
    Muito obrigado pela "força".

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  3. "Histórias de Évora". Esse é o título de um livro de ficção no gênero romance, conforme o próprio autor anuncia, nesse espaço de seu conhecido blog, esse novo trabalho de sua vida de escritor.
    Não é sua estreia de ficcionista, visto que anteriormente, a espaços, já escrevera textos que eu poderia rotular de ficção. Foram mini-contos, ou mesmo coçtos mais longos.
    O título faz pensar em um série de contos, mas creio ser apenas um modo de referir-se à forma contínua de uma unidade de textos que avancem em direção a uma estrutura de maior fôlego com a intenção de amoldar-se ao gênero do romance, de resto, já declarado pelo próprio autor: "Este romance será publicado..." [...]
    Seguindo o costume de outros autores, cada capítulo terá um título alusivo a episódios específicos desenvolvidos na trama.
    "Triângulos encantado" é um desse episódios.Já nele surgem alguns elementos estruturais da narrativa que, pelo menos nessa parte, dá um andamento no qual se percebem o interior e o exterior de uma personagem de nome Marcos, uma adolescente em seus primeiros anos e em toda a sua força da libido, irrefreável no alvorecer da puberdade.
    Neuza é o pivô desse vendaval de sensualidade sexualidade.
    Espaço e tempo são delineados: o jovem está em sua própria casa.Tem irmãs, tem seus pais. e tem a empregada, Neuza, o fruto proibido que é preciso desvendar.
    Entretanto, ao fixar a vista para uma porta entreaberta, numa madrugada silenciosa, defronta-se com uma espécie de visão do paraíso carnal, numa cena eletrizante, enlouquecedora.
    À sua frente seus olhos se detêm na parte mais sensível de seu arroubo juvenil.
    O "triângulo encantado" é um sintgma que marca para sempre a imagem do sexo feminino num momento de quietude corporal e de êxtase, misturado ao desejo incontido mas refreado pelos interditos ou códigos de honra familiar e medo de reações tanto decorrente do objeto cobiçado quanto do medo de transgredir padrões arraigados na conduta familiar, sobretudo por ocorrer no recesso sagrado do lar.
    Aquele objeto proibido provoca o frêmito da posse quanto ao sentimento abortado de mais uma vez repetir-se aquela cena em fogo.
    Marcos se surpreende com o despertar de Neuza ao flagrar o adolescente fruindo a antecipação orgástica.
    Ele teve a certeza de que não seria recriminado por ela diante de seus pais. Ficaria entre os dois apenas aquele instante de êxtase secreto em início de uma cena viva de nudez.
    A descrição visual é perfeita nos seus traços firmes do desenho geométrico expresso pela metáfora do sexo.
    ´É nesse ponto que o jogo da linguagem se torna um componente primordial da descrição com seu potencial de sensualidade e volúpia.
    Repare-se que nesse capítulo não há diálogo explicito. Tudo se constrói na base da visualidade voltada para o centro deflagrador da cena inesquecível e jamais fisicamente apagada da memória do adolescente posto que misturada com a frustração da vontade não satisfeita.
    A linguagem opera no texto, sem descambar para o grotesco e o pornográfico rasteiro, como se fora uma tomada de uma cena fílmica, em close focando toda uma região do corpo feminino que a masculinidade não se cansa
    de cultuar com a obsessão e a curiosidade desde tempos imemoriais, seja na pintura, na escultura, seja na fotografia, seja no cinema ou teatro.
    O triângulo encantado" é o fetiche supremo da masculinidade ou até mesmo para as cultivadoras do lesbianismo.
    Volto ao título e fico a atinar: por que Évora? Ao que tudo indica , será um nome de lugar. Agora, me lembro, não sei por quê, de Eça de Queirós, assim com da cidade de Évora, em Portugal. Há alguma ligação intersemiótica com o espaço físico do romance de Elmar Carvalho? Só saberei quado ler os próximos capítulos.
    Esse início já me aponta para um boa narrativa. Esperemos que o seja.
    Cunha e Silva Filho

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  4. Caro Cunha,
    Mais uma vez, com a sua percuciência e acuidade, vc matou a charada. O amigo analisou de modo pertinente esse primeiro capítulo, e suas especulações são corretas. Évora é a minha cidade fictícia, fundada por um português, em algum lugar do nordeste. Espero em Deus ter força e motivação para dar sequência a esse projeto literário.

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