Foto meramente ilustrativa |
HISTÓRIAS DE ÉVORA
Este romance será publicado neste
sítio internético de forma seriada (semanalmente), à medida que os capítulos
foram sendo escritos.
Capítulo I
O TRIÂNGULO ENCANTADO
Elmar Carvalho
Eram duas
horas da madrugada quando Marcos Azevedo acordou, com sede. Dirigiu-se à
cozinha, onde ficava a geladeira. No percurso, notou que o quarto das irmãs
estava com a porta entreaberta e com a lâmpada elétrica ligada.
Retrocedeu
um pouco, para melhor olhar. Viu, então, expostas na rede, as roliças e rijas
coxas de Neuza, a empregada, entreabertas. Eram brancas, grossas, firmes, e
deviam ser macias. Uma tenra, quase transparente e dourada penugem as recobria.
Imaginou que deveriam ser suaves e
agradáveis ao tato, principalmente se tocadas com as pontas dos dedos. Desceu o
olhar em direção aos pés, em que não viu nada de especial. As panturrilhas,
contudo, eram proporcionais às coxas, roliças, rijas e torneadas com esmero.
Em seguida, com o coração em
disparada, com medo de que Neuza ou alguma das irmãs acordasse, abriu a porta
um pouco mais, para olhar o que estava acima das coxas; ou o encaixe destas,
como gostava de dizer um seu amigo. E viu o que procurava, com tanta ansiedade
e medo.
A calcinha branca e simples mal
cobria o grande, altaneiro e vertiginoso vértice. O púbis castanho, sem dúvida
bem rebaixado, ornava a borda da sumária peça íntima. Entreviu o sopé e parte
da encosta dos carnudos e protuberantes grandes lábios. Marcos sentiu uma
tontura, quase como se fosse desmaiar. Mesmo assim viu a depressão em que se
fendia a genitália, como um pequenino regato, que parecia morder o vinco
central da calcinha. Era um bem esculpido delta, desde o monte de Vênus até a
curvatura em direção ao períneo.
Sua vontade de tocá-lo era enorme.
Espalmar-lhe a mão, e tê-lo em sua concavidade. Parecia um animal, que tivesse
vida própria e palpitasse. Fez um esforço muito grande para se conter. Sua
timidez e natural retraimento tentavam conter o ímpeto de sua mal desabrochada
adolescência. Foi então que a moça abriu os olhos. Marcos temeu gritos
escandalosos, estridentes, e saiu em passos de felino para a cozinha. Ficou
aliviado com o silêncio. Ficou com medo de que ela lhe viesse ao encontro, para
exigir explicações. Mas isso também não aconteceu. Tampouco no dia seguinte ela
denunciou o fato aos seus pais.
Sentiu que ela tivera a exata
compreensão do que acontecera, e lhe perdoara, ou mesmo se sentira envaidecida
daquela silenciosa, inerte e contida contemplação fortuita. Foi a primeira vez
que vira uma mulher (quase) desnuda. Pela primeira vez enxergara de tão perto e
com tanta nitidez uma cona aureolada gloriosamente pelos esquálidos e pálidos
pelos pubianos. Foi o marco inicial e inesquecível de seu adolescer.
Como um símbolo incandescente ficou
em sua memória para sempre aquele triângulo encantado, que jamais veria
novamente. Como no poema de Manuel Bandeira, foi o seu alumbramento, a sua
visão do paraíso na terra e da terra.
Meu amigo Poeta,
ResponderExcluirComeçaste maravilhosamente bem o seu primeiro livro ficcional. À maneira dos grandes autores, cunhaste esse primeiro capítulo que enseja uma belíssima história que acompanharei com avidez e expectativa. Somente com essas primeiras linhas, já posso afirmar que o texto, à maneira dos bons romances, atraiu-me para o centro da narrativa com a força de ímã de inesgotável força,e me fez mergulhar e incorporar-me nela como se presente estivesse à doce visão do protagonista. Ótimo começo! Agora você não pode mais escapar do destino que te espera! Teus personagens não permitirão isso.
Caro amigo JP Araújo,
ResponderExcluirSó desejo que os seus bons augúrios se concretizem.
E que o nobre amigo seja tão bom profeta quanto é como escritor e historiador.
Muito obrigado pela "força".
"Histórias de Évora". Esse é o título de um livro de ficção no gênero romance, conforme o próprio autor anuncia, nesse espaço de seu conhecido blog, esse novo trabalho de sua vida de escritor.
ResponderExcluirNão é sua estreia de ficcionista, visto que anteriormente, a espaços, já escrevera textos que eu poderia rotular de ficção. Foram mini-contos, ou mesmo coçtos mais longos.
O título faz pensar em um série de contos, mas creio ser apenas um modo de referir-se à forma contínua de uma unidade de textos que avancem em direção a uma estrutura de maior fôlego com a intenção de amoldar-se ao gênero do romance, de resto, já declarado pelo próprio autor: "Este romance será publicado..." [...]
Seguindo o costume de outros autores, cada capítulo terá um título alusivo a episódios específicos desenvolvidos na trama.
"Triângulos encantado" é um desse episódios.Já nele surgem alguns elementos estruturais da narrativa que, pelo menos nessa parte, dá um andamento no qual se percebem o interior e o exterior de uma personagem de nome Marcos, uma adolescente em seus primeiros anos e em toda a sua força da libido, irrefreável no alvorecer da puberdade.
Neuza é o pivô desse vendaval de sensualidade sexualidade.
Espaço e tempo são delineados: o jovem está em sua própria casa.Tem irmãs, tem seus pais. e tem a empregada, Neuza, o fruto proibido que é preciso desvendar.
Entretanto, ao fixar a vista para uma porta entreaberta, numa madrugada silenciosa, defronta-se com uma espécie de visão do paraíso carnal, numa cena eletrizante, enlouquecedora.
À sua frente seus olhos se detêm na parte mais sensível de seu arroubo juvenil.
O "triângulo encantado" é um sintgma que marca para sempre a imagem do sexo feminino num momento de quietude corporal e de êxtase, misturado ao desejo incontido mas refreado pelos interditos ou códigos de honra familiar e medo de reações tanto decorrente do objeto cobiçado quanto do medo de transgredir padrões arraigados na conduta familiar, sobretudo por ocorrer no recesso sagrado do lar.
Aquele objeto proibido provoca o frêmito da posse quanto ao sentimento abortado de mais uma vez repetir-se aquela cena em fogo.
Marcos se surpreende com o despertar de Neuza ao flagrar o adolescente fruindo a antecipação orgástica.
Ele teve a certeza de que não seria recriminado por ela diante de seus pais. Ficaria entre os dois apenas aquele instante de êxtase secreto em início de uma cena viva de nudez.
A descrição visual é perfeita nos seus traços firmes do desenho geométrico expresso pela metáfora do sexo.
´É nesse ponto que o jogo da linguagem se torna um componente primordial da descrição com seu potencial de sensualidade e volúpia.
Repare-se que nesse capítulo não há diálogo explicito. Tudo se constrói na base da visualidade voltada para o centro deflagrador da cena inesquecível e jamais fisicamente apagada da memória do adolescente posto que misturada com a frustração da vontade não satisfeita.
A linguagem opera no texto, sem descambar para o grotesco e o pornográfico rasteiro, como se fora uma tomada de uma cena fílmica, em close focando toda uma região do corpo feminino que a masculinidade não se cansa
de cultuar com a obsessão e a curiosidade desde tempos imemoriais, seja na pintura, na escultura, seja na fotografia, seja no cinema ou teatro.
O triângulo encantado" é o fetiche supremo da masculinidade ou até mesmo para as cultivadoras do lesbianismo.
Volto ao título e fico a atinar: por que Évora? Ao que tudo indica , será um nome de lugar. Agora, me lembro, não sei por quê, de Eça de Queirós, assim com da cidade de Évora, em Portugal. Há alguma ligação intersemiótica com o espaço físico do romance de Elmar Carvalho? Só saberei quado ler os próximos capítulos.
Esse início já me aponta para um boa narrativa. Esperemos que o seja.
Cunha e Silva Filho
Caro Cunha,
ResponderExcluirMais uma vez, com a sua percuciência e acuidade, vc matou a charada. O amigo analisou de modo pertinente esse primeiro capítulo, e suas especulações são corretas. Évora é a minha cidade fictícia, fundada por um português, em algum lugar do nordeste. Espero em Deus ter força e motivação para dar sequência a esse projeto literário.