INVERSÃO DE PRIORIDADES
Jacob Fortes
A Tocha Olímpica, símbolo dos Jogos Olímpicos, percorre
várias cidades do Brasil. Porém, algumas prefeituras (Ipatinga, Betim, MG),
movidas pela escassez severa de recursos, desistiram de recepcionar o
dispendioso evento.
Enquanto a Tocha, cheia de distinção e glamour, percorre,
aparatosamente, as cidades brasileiras, as escolas municipais de Bom Jardim,
MA, sucumbem. Exibindo trapagem que deprime, desonra o Brasil, e humilha
maranhenses, uma delas (reportagem de Alex Barbosa da Rede Globo), se destaca
pelo cenário trágico, próprio de escombro: um barracão taipado, teto de palha e
piso de chão batido onde o lampião a gás, no papel de energia elétrica, se
esforça, debalde, para clarear a sala. Os alunos noturnos são instados a
fazerem-se acompanhar das suas lamparinas ou lanternas. As duas únicas salas são divididas apenas por
uma lona. Sem banheiro, os alunos recorrem a um buraco, insólito, nas
proximidades escuras, cuja orla orbicular é protegida por uma cerca feita de
palha. Toda essa indignidade, metida em cabresto, ou dignidade confiscada,
(denúncia do Jornal Nacional) refletem os efeitos nocentes da corrupção. A ex-prefeita, Lidiane Leite, depois de
pompear abundantes sinais de riqueza, fora presa por haver furtado o dinheiro
da educação; já se encontra em liberdade, porém encobrindo a simbologia do
crime: uma tornozeleira eletrônica. À parte a corrupção, a Tocha Olímpica
testifica que o Brasil ainda não se libertou inteiramente da cegueira que
enevoa as lentes do seu horizonte ao permitir que o acessório prepondere sobre
o essencial. A bem dizer, os dispêndios com a Tocha Olímpica deveriam ocorrer
somente quando o País eliminasse os “educandários” alumiados à moda colonial,
isto é, por luz de lampião ou lamparina. A inversão de prioridade constitui ultraje
à “pátria educadora”.
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