segunda-feira, 16 de maio de 2016

INVERSÃO DE PRIORIDADES


INVERSÃO DE PRIORIDADES

Jacob Fortes

A Tocha Olímpica, símbolo dos Jogos Olímpicos, percorre várias cidades do Brasil. Porém, algumas prefeituras (Ipatinga, Betim, MG), movidas pela escassez severa de recursos, desistiram de recepcionar o dispendioso evento.

Enquanto a Tocha, cheia de distinção e glamour, percorre, aparatosamente, as cidades brasileiras, as escolas municipais de Bom Jardim, MA, sucumbem. Exibindo trapagem que deprime, desonra o Brasil, e humilha maranhenses, uma delas (reportagem de Alex Barbosa da Rede Globo), se destaca pelo cenário trágico, próprio de escombro: um barracão taipado, teto de palha e piso de chão batido onde o lampião a gás, no papel de energia elétrica, se esforça, debalde, para clarear a sala. Os alunos noturnos são instados a fazerem-se acompanhar das suas lamparinas ou lanternas.  As duas únicas salas são divididas apenas por uma lona. Sem banheiro, os alunos recorrem a um buraco, insólito, nas proximidades escuras, cuja orla orbicular é protegida por uma cerca feita de palha. Toda essa indignidade, metida em cabresto, ou dignidade confiscada, (denúncia do Jornal Nacional) refletem os efeitos nocentes da corrupção.  A ex-prefeita, Lidiane Leite, depois de pompear abundantes sinais de riqueza, fora presa por haver furtado o dinheiro da educação; já se encontra em liberdade, porém encobrindo a simbologia do crime: uma tornozeleira eletrônica. À parte a corrupção, a Tocha Olímpica testifica que o Brasil ainda não se libertou inteiramente da cegueira que enevoa as lentes do seu horizonte ao permitir que o acessório prepondere sobre o essencial. A bem dizer, os dispêndios com a Tocha Olímpica deveriam ocorrer somente quando o País eliminasse os “educandários” alumiados à moda colonial, isto é, por luz de lampião ou lamparina. A inversão de prioridade constitui ultraje à “pátria educadora”.     

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