Universo na ponta de uma agulha
(tema oportuno para levar aos jovens)
José Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Minha neta Luizinha já se surpreende
com os mistérios das coisas minúsculas, quase invisíveis. Correu para me
mostrar uma florzinha branca, miudinha que um grão de arroz, colhida na beira
da calçada: “Vô, olha que coisinha tão linda!” E aí me acendeu a crônica.
Luizinha, só quatro aninhos, ainda não
sabe o significado da palavra NANICO ou ANÃO, termos tão familiares ao
cotidiano. Ou de seres e coisas infinitamente miúdas como caroço de arroz,
moléculas e átomos, um mundo de infinitos mistérios quanto o universo sideral.
Luizinha vai demorar anos de
estudos para entender a etimologia do radical grego, NANNOS, que, a partir de
1959, gerou o neologismo pouco conhecido, NANOTECNOLOGIA. A garotada, mesmo
desconhecendo fascinantes princípios e descobertas, já desfruta, até mais que
muitos adultos, os benefícios da NANOTECNOLOGIA. Basta observá-los manuseando
computador, pendrive ou crivando um chip no celular.
O termo NANOTECNOLOGIA foi
adotado 1974, na Universidade Científica de Tóquio, quando cientistas
pesquisavam instrumentos tão minúsculos quanto promissores. Para entender um
pouco desses mistérios científicos, basta olhar a evolução das gravações
musicais: há 60 anos, botava-se um disco de cera, 78 rotações, na vitrola, que
só concentrava uma música de cada lado, com imperfeições e ruídos. Final dos
anos 50, a revolução do disco de vinil, 33 rotações, som estéreo, seis músicas
de cada lado. De 2000 para cá, o nanico pendrive arquiva centenas de músicas ou
uma biblioteca de toda a literatura brasileira. E lembrar que tudo começou com
a ciência espacial: quando o homem pisou na Lua, o computador da Nasa ocupava
uma sala inteira.
A NANOTECNOLOGIA é como reduzir a Lua numa
moeda. A vida por um chip vasculhando nossas esferas cerebrais, coração,
primeiras batidas cardíacas no útero. Aparelhos médicos sofisticados para
detectar doenças mais estranhas, que outra exame não corresponderia.
A florzinha encanta a Luizinha,
com razões que a vã ciência nanotecnológica está a anos luz de descobrir. Porque
os gênios se acham mais inteligentes que a inteligência divina. Nem precisa
olhar pros céus, se na ponda do nariz existe um mistério. Basta observar o
salto de uma pulga: enquanto atletas conquistam glórias e ouro com salto de
três ou quatro metros, a pulga salta centenas de vezes seu peso e altura. A
formiga carrega uma presa dezenas de vezes mais pesada, e o homem se esfola para levantar uma barra de
ferro de seu peso. A formiguinha vem de longe, sobe a perna da mesa e descobre
partículas de alimento, por faro inimaginável nos humanos.
Confesso que não me seduzo com os
assombros científicos, mesmo em minúsculas nanografias. Parece-me que quanto
mais nos entupimos de remédios ou nos armamos de aparelhos, falta-nos a
inocência e sabedoria de Luizinha: “Vô, olha que coisinha tão linda!” O reino
dos céus começa por uma florzinha ou uma semente de mostarda. Não existe maior
milagre do que a fé, “a certeza na esperança do impossível acontecer” – não é,
Paulo apóstolo?
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