O rato comeu. Cadê o rato?
José Maria Vasconcelos
cronista,
josemaria001@hotmail.com
Ultimamente, o mundo político vive de
cantarolar parlendas com a opinião pública, brincando de esconde-esconde a
roubalheira. Lembra-se das folclóricas historinhas infantis repassadas pelas
tias e educadoras? Eram parlendas. Entre dezenas, escolhi a dos ladrõezinhos
dissimulados: “Cadê o queijo que deixei aqui? / O rato comeu. / Cadê o rato? /
O gato comeu...” E assim os malandros tentam sabotar “a verdade conhecida como
tal”, um pecado contra o Espírito Santo.
A mais recente malandragem de
esconde-esconde ocorreu no Congresso: Projeto de Anistia para Caixa Dois, que
livraria a cúpula do Poder sob a mira da Lava Jato.
Ninguém viu o presidente do
Congresso no comando da sessão. Escafedeu-se. Seu vice o substituiu. O Projeto
entrou em pauta pelos fundos da falta de vergonha e seria aprovado em final de
sessão (noturna!). Até o momento, ainda não se sabe o autor da marmelada! Só se
sabe que fora apresentada por líderes dos partidos, gatos e ratos que se
misturam no cinismo do esconderijo, com vergonha de serem identificados. O
autor, mesmo, seja descoberto nos próximos dias.
Graças aos parlamentares do bem,
que ainda resistem às tentações do queijo roubado, e se encontravam na sessão,
berraram e conseguiram retirar o despacho maligno da pauta. E há, ainda,
políticos e gestores do bem? Há, sim, o atual governador do Rio Grande do Sul,
que cortou dez secretarias de governo, convocou prestadoras de serviços para
redução das cobranças, que dispensa viagens aéreas, que botou na rua centenas
de comissionados. Há, sim, o ministro da Saúde, que, em quatro meses, já
economizou quase um bilhão de reais tomando as mesmas medidas.
O Projeto de Anistia para Caixa
Dois visava anular investigações e processos em andamento, que vão julgar o
pagamento de propinas pelas empreiteiras aos políticos. Alguns compõem alto
comando dos governos Temer, Lula e Dilma, além do presidente do senado, vários
deputados federais, senadores, governadores, diretores de estatais. Embora as
investigações da “Operação Lava Jato” tenha avançado para outras organizações
criminosas, o nome inicial se consagrou. Só o rombo da Petrobras mostra que em
dez anos quatro organizações criminosas de gatunos empanzinaram-se de queijo,
reduzindo o valor da estatal, cuja ação beirava os 100 reais, para menos de 10.
Explica-se como a ratazana conseguia eleger-se, reeleger-se, levando a tiracolo
a esposa, filhos, sobrinhos, gatos, cobras e lagartos. E se fazem de vítima até
de um juiz federal.
Neste último domingo, os textos
bíblicos tratavam da corrupção com o dinheiro dos pobres, no tempo do profeta
Amós. No evangelho, a parábola do gestor desonesto, capaz de falsificar recibos
para agradar o patrão. O celebrante da missa, Padre Tony Batista, bateu forte
na desavergonhada conduta da classe política. E resumiu: “Eles se fazem de
descartáveis, tudo naturalmente, como se não houvesse crime”. Só faltou contar
uma parlenda, daquelas do rato e do gato.
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