Agrônomo Francisco Parentes
Reginaldo Miranda
Foi o pioneiro da agronomia
no Piauí, o primeiro piauiense que venceu os obstáculos e conseguiu a formação
acadêmica em Engenharia Agronômica, para isto tendo de buscar uma escola
francesa no terceiro quartel do século XIX. Mas recuemos um pouco e
acompanhemos sua vida desde o berço materno.
Ele veio ao mundo em 10 de junho
de 1839, na vila de Barras do Marataoan, norte do Piauí, num período de grande
agitação política e social, em plena guerra da Balaiada e seu pai fora um dos
que se alistara nas tropas legalistas de combate aos rebeldes, razão pela qual
não assistiu ao nascimento da criança. Estava em combate.
Era um dos quatro filhos de
Raimundo de Araújo Parentes e dona Maria Joaquina da Silva Parentes. Foram seus
irmãos Honório Parentes, autor de interessante diário, Ângela, falecida pequena
e Joaquina, que chegou à idade adulta.
Com o fim da insurreição política
e o apaziguamento do Meio-Norte brasileiro, buscando novas oportunidades seus
pais mudam para a povoação de Buriti de Inácia Vaz, do outro lado do Parnaíba,
hoje cidade de Buriti, no Maranhão. Ali o esperançoso jovem barrense iniciou as
primeiras letras até concluir o ensino primário.
Com esse pequeno cabedal de
conhecimento, em busca de novos horizontes, o jovem barrense mudou-se para a
cidade de Teresina, que acabara de seu fundada e de receber os foros de Capital
do Piauí. E para manter-se empregou-se como caixeiro de um armazém, cujo
trabalho lhe absorvia todo o tempo impedindo-o de continuar nos estudos, o que
era objeto de preocupação do jovem, que viera para estudar. Foi, então que
arranjou uma colocação no serviço administrativo do Liceu Piauiense, passando
depois a secretário do tradicional estabelecimento de ensino. Pôde, então,
prosseguir nos estudos almejando dias melhores.
Em 1857, dar mais um passo em sua
caminhada assumindo o cargo de secretário da Câmara Municipal de Teresina, cuja
remuneração era melhor.
Porém, em 6 de março de 1862, foi
nomeado 4.º Escriturário do Tesouro Nacional, o que lhe abria novas perspectivas
na vida. No ano seguinte, em função desse emprego mudou-se para a cidade do Rio
de Janeiro, já no firme propósito de formar-se em Agronomia. Ali pôde aprimorar
seus conhecimentos, cursando preparatórios, mas ainda não existia escola
agronômica. Foi, então, que se firmou no propósito de cursá-lo na França, mas
para isto teria de vencer dois obstáculos: o financeiro, vez que seus pais não
tinham condições de mantê-lo estudando no estrangeiro, aliás, desde muito que
ele ganhava o próprio sustento; e a barreira do idioma, sendo então renitente
monoglota. Ademais, conturbavam-se os ventos políticos, iniciando o conflito na
Bacia do Prata, conhecido como Guerra do Paraguai.
Mas para os grandes espíritos não
há obstáculos, só os fracos se abatem antes do combate. Concebida a ideia era
preciso lançar-se à luta e vencer as dificuldades. Assim, depois de noites
indormidas maturando seu sonho, pediu breve licença do emprego, pegou seu
ordenado, comprou passagens e veio ao Piauí pedir à Assembleia Legislativa uma
subvenção em forma de bolsa. A sua fala branda e firmeza de propósitos sensibilizou o deputado Antônio
José Almendra, que abraçou a causa e convencendo seus pares, apresentou projeto
e conseguiu aprovar a lei concessiva do pleito. Todavia, em face de revés
político seu protetor rompe com o presidente da província, Dr. Franklin Américo
de Meneses Dória que, para vingar-se do parlamentar veta a indicada lei,
trazendo, assim, transtorno ao estudante piauiense, que mais uma vez não se
deixou abater. Era de uma fortaleza inquebrantável e o seu sonho o embalava,
fazendo-o partir para outra alternativa, a busca de ajuda entre os
particulares. Sobre esse assunto, é interessante a informação colhida por
Monsenhor Chaves, seu biógrafo, que assim se reporta ao assunto:
“Francisco, porém, não era homem
para esmorecer. Não podendo contar com o Governo, apelou para os particulares.
Abriu-se uma subscrição. Três apenas a assinaram: o Dr. Almendra, que lhe
garantiu uma mensalidade de 80$000, o pai de Francisco, que subscreveu 20$000,
e o irmão, Honório Parentes, que começava a vida, mas mesmo assim lhe garantiu
10$000 por mês. Claro que 110$000 não dariam. Mas eram alguma coisa.
‘Àquela altura, a tenacidade, a
humanidade e o entusiasmo de Francisco já haviam contagiado outras pessoas, que
se dispuseram a ajudá-lo sob outra forma, sob a forma de empréstimo.
Juntaram-se o Vigário do Amparo, Pe. Mamede Antônio de Lima, José F. Alves
Pacheco, Antônio José Araújo Bacelar, José Ferreira de Vasconcelos. Entre eles
levantaram uma importância bem alta e a colocaram à sua disposição. Agora o
problema financeiro estava resolvido” (CHAVES, Mons. Joaquim. Obra Completa.
2.ª Ed. Teresina: FCMC, 2013. P. 474).
Assim, vencido esse primeiro
obstáculo, Francisco Parentes embarca para a França em 7 de março de 1864, aos
25 anos de idade. Ainda era tempo de realizar seu sonho e conseguir a formação
acadêmica no curso que desejava. Mas outro obstáculo se lhe antepunha:
enfrentar e vencer o idioma francês, pois ainda nada sabia. Procurou então a Embaixada
do Brasil, onde foi bem recebido e iniciado na língua de Victor Hugo,
aprendendo as noções rudimentares, o suficiente para matricular-se no Instituto
Neully, de Paris, onde concluiu com êxito os preparatórios.
Por fim, depois de mostrar a si
próprio e aos que o acompanhavam e o ajudavam, de que contra a força de vontade
não há obstáculo que resista, em princípio de 1866 matriculou-se na Escola de
Agricultura de Grand Joyan, onde cursou com êxito as mais diversas disciplinas.
Porém, em 1870, quando estava prestes a concluir o tão sonhado curso de
Engenharia Agronômica, rebenta guerra na Europa e as tropas alemãs invadem e
rendem a França em 2 de setembro, fechando as escolas. Então, o estudante
Francisco Parentes, que cursava as últimas disciplinas do curso e nada tinha a
ver com aquele conflito, “foge para a Bélgica e lá consegue sobreviver com a
ajuda de um grego, seu colega” (op. cit.).
Com o fim do conflito retorna à
França, mas não consegue prosseguir nos estudos, em face da guerra civil que
sucedeu. Por fim, voltando os tempos de paz e reabrindo as escolas, Francisco
Parentes consegue estudar as últimas disciplinas, completar a grade curricular
e concluir o curso de Agronomia, recebendo o diploma em 19 de junho de 1871,
poucos dias depois do aniversário de 32 anos de idade. Estava realizado o
sonho, era hora de retornar à pátria e lançar-se ao trabalho. Porém, não havia
recursos para a passagem de volta, tendo de recorrer a um empréstimo no valor
de 1.405 francos ao patrício Francisco Marques Rodrigues, que morava em Paris.
Desta forma, em 10 de agosto do
indicado ano de 1871, o Dr. Francisco Parentes está de volta a Teresina, onde
já estavam mortos seu pai e o velho protetor, Dr. Almendra, cujos herdeiros, de
forma magnâmica, se recusaram a receber qualquer reembolso.
A essa altura, o jovem agrônomo
piauiense não tinha tempo a perder. Procura então a presidência da província,
ocupada pelo Dr. Manoel do Rego Barros Sousa Leão e lhe expõe ambicioso projeto
a ser executado nas Fazendas Nacionais, que no século passado haviam sido
confiscadas aos jesuítas. Ele tinha conhecimento de que as mesmas só traziam
prejuízos à Coroa, em face da inaptidão dos diversos administradores, embora
grande parte fosse constituída de terras férteis, onde pastava imenso rebanho
bovino, também da Coroa. Então, idealizou nelas implantar uma colônia agrícola
com escola de agricultura prática voltada para os filhos de escravos libertos,
onde se apresentavam duas vantagens para o Estado, a saber: desonerá-lo das
despesas com a manutenção das fazendas, que pouco produziam e, por outro lado,
facilitaria o emprego de libertos e a educação de seus filhos, no contexto da
Lei do Ventre Livre, que libertara os nascituros e regular a manumissão dos
cativos atribuindo ao estado a obrigação de cuidar dos ingênuos com idade
superior a oito anos. Dessa forma, foi um projeto singular, extraordinário e
com ampla visão social. E existiam no Piauí 24 fazendas do Real Fisco, com
excelentes terras, abundância de gado, tendo nelas perto de 800 negros
libertos, inclusive 300 menores e cerca de 100 inválidos. Era, portanto, campo
propício à ação governamental, onde repercutiu positivamente o discurso do
Agrônomo Parentes.
O presidente da província o ouviu
com atenção e interesse e o encaminhou com carta de recomendação ao Presidente
do Conselho de Ministros, José Maria da Silva Paranhos, visconde do Rio Branco,
no Rio de Janeiro. Depois de parlamentar com este, foi encaminhado para
entender-se como ministro da Agricultura, conselheiro Teodoro Machado Freire
Pereira da Silva que, encampa seu projeto e o contrata para aprofundar os
estudos, percebendo uma remuneração de 300$000 e uma ajuda de custo de
1:000$000. Conforme o Aviso expedido em 11 de janeiro de 1872, deveria
Francisco Parentes vir ao Piauí escolher o local, levantar as plantas e orçar a
instalação de uma colônia que teria o nome de Estabelecimento Rural de São
Pedro de Alcântara, em homenagem ao imperador.
Retornando a Teresina, agora a
soldo do governo imperial, lança-se em ação dirigindo-se imediatamente ao
território das Fazendas Nacionais. Depois de algumas andanças, à margem do rio
Parnaíba, em pequena eminência denominada Chapada da Onça, elege por sede da
nova colônia agrícola. Faz então os estudos iniciais, levantamentos topográficos
e questões orçamentárias que sem demora os apresenta ao ministro da
Agricultura, no Rio, onde volta a apresentar-se. Depois de aprovados os
projetos é o mesmo agrônomo definitivamente contratado para, no período de 15
anos, fundar e dirigir o novo estabelecimento rural brasileiro em território da
Inspeção de Nazaré das fazendas Nacionais, no Piauí, que haviam sido
sequestradas aos jesuítas e, mais remotamente, fora do conquistador Domingos
Afonso Sertão. O Estabelecimento Rural São Pedro de Alcântara foi oficialmente
criado pelo decreto imperial n.º 5.392, de 10 de setembro de 1873.
De conformidade com o referido
decreto, que autorizou o contrato do Ministério da Agricultura, Comércio e
Obras Públicas com o agrônomo Francisco Parentes para a fundação de um
estabelecimento rural na província do Piauí, compreendendo as fazendas
nacionais denominadas Guaribas, Serrinhas, Matos, Algodões, e Olho d'Agua,
todas pertencentes ao departamento de Nazareth, obrigar-se-ia o contratante,
assim é designado o agrônomo Parentes, às seguintes condições: 1. Fundar, à
margem do rio Parnaíba, na Província de Piauí, um estabelecimento de
agricultura prática, empregando como trabalhadores os libertos da nação,
existentes nas fazendas do Estado, que fossem aptos para o trabalho e não
estivessem empregados por conta do Governo; podendo também contratar na
Província ou fora dela trabalhadores que não fossem libertos da nação, se o
número destes fosse insuficiente ou não fossem aptos para o serviço; 2. Educar
física, moral e religiosamente os libertos das ditas fazendas, que forem
menores, e os filhos das libertas nascidos depois da promulgação da Lei de 28
de Setembro de 1871, não podendo, porém, os menores ser separados da companhia
de suas mães, nem entrar para o estabelecimento, antes de completarem cinco
anos de idade, salvo os órfãos de pai e mãe; provendo, outrossim, à educação
moral e religiosa dos adultos; 3. Prestar os necessários socorros e alimento,
vestuário e habitação aos libertos das ditas fazendas, que forem inválidos e
quiserem se asilar no estabelecimento, sujeitos ao regulamento e polícia do
mesmo; 4. Estabelecer lavouras de algodão, de cana de açúcar, de cereais e
quaisquer outras que forem próprias do clima e do solo; fábricas de queijos e
de sabão, charqueadas e curtume em que se empreguem os processos mais
aperfeiçoados e compatíveis com os recursos do estabelecimento; 5. Construir
prédio de residência, casa de oração, enfermaria, aula, cemitério, edifícios
com proporções para as fábricas e curtume, para depósitos, para engenho de
açúcar e suas dependências, para prensa e descaroço do algodão e para quartel
das praças encarregadas da policia do estabelecimento e fazendas de gado,
devendo também preparar um campo para estudos agronômicos; 6. Construir
currais, cercados e estábulos apropriados para o melhoramento e aperfeiçoamento
das raças de gado; formar açudes e prados artificiais e fazer aplicação do
sistema de cruzamento ou do de seleção, segundo a espécie de gado e os
resultados de um ou de outro sistema.
Para o bom êxito da empreitada, o
estabelecimento contaria com o seguinte pessoal: um diretor, que seria o
contratante acima referido, um escriturário, um sacerdote, um professor, uma
professora, uma diretora dos trabalhos domésticos, um carpina, um ferreiro, um
enfermeiro, uma enfermeira, seis criados, trinta trabalhadores para a lavoura
da cana de açúcar, trinta ditos para a do algodão, quatro ditos para o curtume,
quatro para as charqueadas, quatro para a fábrica de queijos, dois para a de
sabão, seis encarregados da direção das indústrias, cinco vaqueiros e os
fábricas necessários, seis praças e um sargento, e, finalmente, todos os
menores e inválidos já referidos. No entanto, além do número fixado, deveriam
ser admitidos, como trabalhadores, todos os libertos da nação que fossem aptos
para o serviço rural e outros a que se destina o estabelecimento.
Eram amplas as atribuições do
diretor, competindo-lhe admitir e despedir livremente todo o pessoal do
estabelecimento e fixar-lhe os respectivos vencimentos e salários, salvo,
porém, o escriturário, que era nomeado pelo presidente da província; organizar
e sujeitar à aprovação do Governo o regulamento interno do estabelecimento, no
qual poderia impor penas correcionais; fazer todas as despesas necessárias às
construções, regime e bom serviço do mesmo estabelecimento; vender todos os
produtos naturais e industriais deste, compreendidos os bois de talho das cinco
fazendas que ficam sob sua direção; e remeter à Tesouraria de Fazenda, no fim
de cada trimestre, os saldos líquidos existentes, depois de deduzidas as
mencionadas despesas.
Também, durante os cinco
primeiros anos, em que o contratante teria de receber consignações do Governo,
seriam encontradas nestas as quantias líquidas que pudessem existir em seu
poder, produto do estabelecimento, constantes dos balancetes trimestrais.
A escrituração da receita e
despesa do estabelecimento ficaria a cargo do escriturário respectivo.
O diretor remeteria
trimestralmente à Tesouraria da Fazenda balancetes explicados e os documentos
da sua receita e despesa, que as comprovarem, para que a mesma Tesouraria
pudesse exercer a fiscalização que lhe competisse. À vista desses balancetes se
faria também a escrituração devida naquela repartição, de modo que no fim de
cada exercício, apresentado o balanço anual do estabelecimento, se pudesse
tomar a conta da diretoria e dar-se-lhe quitação. Na liquidação das contas e
nos balanços anuais e trimestrais se discriminaria a renda do estabelecimento e
a despesa própria da fundação, bem como a do custeio. A Tesouraria daria conta
ao Ministério da Agricultura dos resultados da liquidação das contas anuais.
Todavia, o diretor poderia fazer
no estabelecimento todas as modificações que julgasse necessárias, quer
aumentando ou reduzindo o pessoal, sempre com atenção às normas indicadas, quer
alterando a distribuição dos diversos serviços, sem acréscimo, porém, das
consignações convencionadas com o Governo.
Quanto ao início dos trabalhos,
deveria o diretor dar princípio às mesmas no prazo de seis meses, contados do
dia em que recebesse as fazendas do Estado, sendo-lhe, porém, entregue dentro
de três meses, da data do recebimento das ditas fazendas, a primeira prestação
para as despesas da indicada fundação. E deveria concluí-los e iniciar o
regular funcionamento das fábricas industriais no prazo de cinco anos, uma vez
que por parte do Governo lhes fossem entregues nas épocas estipuladas as
prestações pecuniárias devidas. No entanto, deveria concluir antecipadamente
algumas etapas, sendo dentro de dois anos a construção de edifícios e a fábrica
de queijos; no terceiro ano fazer funcionar as charqueadas, o curtume e a
fábrica de sabão, e nos últimos anos as lavouras de algodão e de cana.
Deveria ainda o agrônomo
contratante, prestar fiança idônea da quantia de 10$000 na Tesouraria de
Fazenda da Província do Piauí, não só para receber as consignações contratadas,
como para garantir a arrecadação da renda do estabelecimento, que tem de
recolher trimestralmente à mesma Tesouraria. No que se referia à prestação de
contas, sempre que o contratado apresentasse a sua conta documentada das
despesas feitas, e fossem estas julgadas regulares pela Tesouraria,
considerar-se-ia desonerado da importância delas e habilitado para receber nova
consignação, prevalecendo a dita fiança. No entanto, se verificar-se a
existência do saldo em seu poder, a mesma Tesouraria lhe entregaria somente a
soma que, reunida a esse saldo, perfizesse a prestação pedida. Todos esses
prazos e condições deveriam ser observadas, sob pena de rescisão do contrato
com audiência prévia do diretor.
É importante ressaltar que o
estabelecimento ficaria sujeito à inspeção imediata do Ministério da
Agricultura, Comércio e Obras Publicas ou do Presidente da Província, sempre
que necessário.
O Ministério da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas obrigou-se a mandar entregar por meio de inventário,
que se processaria pela Tesouraria da Fazenda, ao contratante diretor do
estabelecimento as fazendas denominadas Guaribas, Serrinhas, Algodões, Mattos e
Olho d'Agua, pertencentes ao Estado no departamento de Nazareth, Província do
Piauí, as quais foram concedidas pelo Ministério da Fazenda por Aviso de 10 de
junho do referido ano para fazerem parte do estabelecimento, com todo o gado
nelas existente, e as casas, utensílios, terras, currais e logradouros; da
mesma forma, a entregar-lhe os libertos da nação precisos para os trabalhos do
estabelecimento, e todos os menores e inválidos, os quais deveriam ser
conservados nos lugares em que se achavam, até que pudessem ser transferidos
para o estabelecimento; o que se entenderia até que fosse concluído o prédio
destinado a asilá-los, que deveria ter preferência a qualquer outra construção,
no prazo máximo de um ano. Os inválidos que precisassem de prontos socorros e
os órfãos de pai e mãe seriam imediatamente transferidos para as cinco
mencionadas fazendas a fim de receberem os auxílios de que necessitassem.
Obrigou-se ainda o órgão
governamental a fornecer ao contratante, para a fundação do estabelecimento, no
primeiro ano a quantia de 30:000$000 em quatro prestações iguais de três em
três meses; no segundo a quantia de 20:000$000 pela mesma forma, e 30:000$000
em prestações, à proporção que fossem requisitadas pelo mesmo até completar o
prazo de cinco anos. Porém, enquanto o estabelecimento não produzisse renda
suficiente, as despesas de seu custeio correriam por conta das consignações
convencionadas.
A fim de garantir a transparência
na execução e administração do empreendimento, toda a sua receita e despesa,
quer relativa às consignações recebidas do Governo, quer à renda do mesmo
estabelecimento, seria escriturada em livros abertos, rubricados e encerrados
por empregados da Tesouraria, que seriam recolhidos anualmente à mesma
Tesouraria para a tomada das contas. Além desses livros, haveria um destinado à
entrada e saída de gêneros, incluídos os bois de talho e outros objetos que fossem
do uso e serviço do estabelecimento.
Por fim, o contratante perceberia
o honorário anual de 6:000$ durante os cinco anos iniciais, e daí em diante,
anualmente, o de 5:000$ e uma porcentagem, deduzida do rendimento líquido do
estabelecimento, a qual seria marcada pela Presidência de acordo com o
contratante, com tanto que a sua importância não fosse superior a 3:000$, não
sendo também menor de 1:000$000. O contra tinha vigência de quinze anos, não
podendo o contratante nesse período, exercer nenhum ramo de indústria ou de
comércio por conta própria ou de terceiro.
Então, com o contrato em mãos o
primeiro agrônomo do Piauí, o jovem barrense que venceu contra todas as
circunstancias desfavoráveis, iria mostrar a que veio. Lançou-se então
incansavelmente ao trabalho, à execução do projeto por ele concebido. Segue em
vapor pelo rio Parnaíba até a Chapada da Onça, onde abre a clareira das
primeiras edificações. E quase um ano depois, em 10 de agosto de 1874, o novo
estabelecimento rural é oficialmente inaugurado pelo presidente da província,
Dr. Adolfo Lamenha Lins, que ali chegara com numerosa comitiva. A viagem fora
feita no vapor “Piauí”, que havia partido de Teresina seis dias antes, em 4 do
indicado mês. Foi então lançada a pedra fundamental do edifício principal, cuja
inscrição trazia os seguintes dizeres: “São Pedro de Alcântara. Estabelecimento
Rural. Fundado por Decreto n.º 5.392. Pelo Agrônomo Piauiense, Dr. Francisco
Parentes. Na presidência do Exmo. Sr. Dr. Adolfo Lamenha Lins, 1874”.
Desde então continuou o Agrônomo
Parentes no seu afã de servir à pátria, levando a efeito todas as construções
necessárias, desde o edifício principal que serviria de sede até as instalações
mais simples. Era incansável em seu trabalho e vontade de servir.
No entanto, a cruel parca veio
ceifar-lhe a vida ainda em seu alvorecer, quando muito ainda poderia realizar.
Parece uma ironia do destino, pois o jovem que tanto lutara para fazer-se
agrônomo e para implantar um grande empreendimento agrícola em sua terra,
desapareceria antes de ver a sua realização, embora prestes a concluí-la. É que
foi acometido por uma febre de mau caráter, sendo transportado às pressas para
a cidade de Amarante, rio abaixo, em busca de recursos médicos. Todavia, ali
vem a falecer em 16 de junho de 1876, seis dias depois do aniversário de 37
anos de idade e três dias antes de completar cinco anos de formado. Mas a sua
obra perdura para sempre. E a conclusão das instalações foi continuada por seu
auxiliar Juvêncio Tavares Sarmento da Silva. O governo teve a intenção de
transformá-lo em um instituto de zootecnia, mas não houve sucesso, sobretudo em
razão da falta de seu idealizador. Porém, o estabelecimento rural por ele
fundado é hoje a cidade de Floriano, uma das mais prósperas do Estado. E a Escola
Agrônomo Parentes, que ali funciona é um testemunho da reverência daquele povo
ao fundador da cidade. E enquanto soar o nome desta cidade também soará o nome
do Agrônomo Francisco Parentes, o pioneiro de sua profissão em terras
mafrenses, figurando nessa galeria pelo pioneirismo, pela tenacidade, pelo
trabalho, pela visão de futuro e pelo amor ao Piauí.
Prezado Reginaldo Miranda. Seu artigo é uma preciosidade para a categoria Agronômica piauiense. Há muito tempo procurava informações mais precisas do Agrônomo Parentes que encontrei no seu artigo. Como Diretor Técnico Científico da Associação dos Engenheiros Agrônomos do Piauí, gostaria de parabenizá-lo pelo trabalho. Caso possua mais informações ou referências gostaria de receber.Saudacoes
ResponderExcluirEssa louvável iniciativa de Francisco Parentes que deu origem à futura cidade de Floriano teve vida efêmera como escola, pois já pouco tempo antes da proclamação da República a escola não mais funcionava.
ResponderExcluirEsse projeto do governo imperial das escolas agrícolas fracassou em todas as escolas fundadas com essa finalidade, seja a de Floriano, Pernambuco, Rio e Goiás.
Desejamos parabenizar, o ilustre escritor e pesquisador, Reginaldo Miranda, pela belíssima e oportuna biografia, envolvendo o nome do Dr. Francisco Parente, Engenheiro Agrônomo, que foi o pioneiro na implantação das Escolas de Agronomia, além de fundador da cidade de Floriano, nas terras piauienses.
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