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AUSÊNCIA DE UM POETA
Valério Chaves
Des. inativo TJPI
Foi com tristeza que recebi a
notícia da morte do amigo, acadêmico, intelectual, poeta, jornalista,
radialista, político, redator e editor dos principais veículos de comunicação
do Piauí, Herculano Moraes, ocorrida em Teresina , dia 17 de maio.
Trata-se de um amigo de convivência
profissional durante longo tempo, a partir dos anos 60, militando no rádio em
Teresina e em quase todos os veículos de comunicação do Piauí. Um pesquisador e
divulgador da literatura piauiense, enfim, um amigo que foi embora sem avisar a
hora levando consigo um pouco da gente.
Mas a vida nos é dada por comodato
estabelecendo condições de vigência. A concessão dada à vida de Herculano
chegou ao fim sem conter nenhuma cláusula de renovação contratual.
Partiu cedo, deixando contribuições
profissionais e pessoais, porquanto sempre foi exemplo de companheirismo,
valorização da ética, do conhecimento e da cultura piauiense.
Sua esposa, suas crianças, seus
amigos, seus confrades de academias, não o tiveram ontem, não o terão amanhã,
não o terão nunca mais para ajudá-lo a apagar as velas do bolo dourado da vida.
Vida que ele construiu com trabalho intelectual retratando a literatura piauiense
através seus poemas e poesias inesquecíveis. Em Seca, Enchente, Solidão
revela-se um poeta telúrico sentindo na carne os sofrimentos de sua gente:
"Órfão de tudo, de minha pátria
e do mundo,
tenho lutado contra seca e contra
enchente
comido o pão que o diabo amassou!
E não tenho vergonha nunca de
falar de minha origem
Pois o ferro do qual sou feito
de tão rijo e tão perfeito
não terá, jamais, fuligem"
(p.9)
Todos, porém, entendem o choro da
sua ausência porque o choro, como disse alguém mais entendido, é companheiro
constante e voz antiga da dor que, por sua vez, é a teimosa mensageira da
morte.
Pobres mortais, só nos resta dizer
ao mundo com a voz que Deus empresta aos inocentes: Aos olhos dos descrentes,
parece ter morrido. Ele, porém, está em paz.
Essa condição ele mesmo revela:
"Se me perguntarem outra vez
por que sou tão silencioso e triste, responderei:
-Deixem-me em paz". (p.77)
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