sexta-feira, 4 de maio de 2018

Teresina não neblina mais

Fonte:Teresina Antiga/Google

Teresina não neblina mais

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

          Neste período de maio e junho, o Nordeste experimenta clima e paisagem primaveris. Vão-se as chuvas, deixando o verde e flores em abundância. Temperatura agradável nas manhãs e noites. Mistura-se o calor do dia às camadas frias e úmidas da noite. Raramente chove, mas, na aurora, imenso manto de neblina cobre as matas e campos por duas horas. Quem não entende o belo o fenômeno conclui que vem chova por aí. E não é. Ao contrário, um recado de que se aproxima tempo quente.

         Na minha infância, Teresina enchia-se de neblina. Eu estudava o antigo Primário no Colégio Domingos Jorge Velho. Manhãzinha, saía da Piçarra, chegava à escola com os cabelos úmidos e mãozinhas geladas, magricela, tremendo. Dona Teresinha, minha professora, passava as mão sobre os cabelos: “Olha, gente, a neblina quase me deixa molhada, quando atravesso a avenida Frei Serafim, a pé!”

         Noites de fogueira junina. Acordava-me cedo, aquecia-me em redor do que restara de fogo. Na minha modesta casa, na rua Odilon Araújo, Piçarra, dormíamos sem ventilador, e fazia frio. Éramos 6 irmãos e redes.

         Teresina, sim, era-me Cidade Verde: o Monte Castelo, e Catarina (hoje, Conjunto Emílio Falcão, Cristo Rei e adjacências) vestiam-se de floresta densa, dominada por macacos barulhentos nas palmeiras, e bichos silvestres. A garotada fartava-se de frutas silvestres e captura de pássaros. A floresta dominava a região, hoje, do Bairro São João, o Macacal antigo, devido à gritaria dos símios. Em época de defesa dos animais, que tal voltar ao Macacal, em vez de São João?

         Ao leste de Teresina (Jóquei e prolongamentos), da floresta emanava temperatura a menos de 18 graus, à noite. Sítios de abastados abundavam na região, devido ao clima. Do Aeroporto ao Encontro do Poti com o Parnaíba, quase tudo era verde e ocupado por humildes e poucas residências. Explica-se Teresina tão molhadinha ao amanhecer, como criança envolta em cueiros, mas de neblina.

         Hoje, tadinha da minha Cidade Verde, não tão verde, nem tão criança, porém morna que só adolescente menstruada e acendida de paixões. Hoje, frescor só descendo a Ladeira do Uruguai e BR-343 cobertas de neblina. Conjuntos habitacionais, porém, já começam a avançar rumo a Altos, arrastando o santuário verde.

         Imagino Teresina tentando juntar o calor que emana do asfalto, das lâmpadas acesas, dos prédios de concreto, da combustãoão dos veículos, fogões a gás, panificadoras, queimadas irresponsáveis, enfim, do inferno da modernidade. Juntando tudo, uma gigantesca fogueira subiria aos céus da capital. Só para acender a memória: há duas décadas, as escolas de Teresina, inclusive as mais ricas, só dispunham de ventiladores. Ar refrigerado somente nas salas de cursinhos.

         Desfrutemos este tempo primaveril, edênico. Talvez, em breve, tenhamos a Teresina que se despiu da neblina, para mergulhar mergulhar no caldeirão de B-R-O-BRÓ. Ano inteiro.         

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